sexta-feira, 19 de julho de 2013

Whisky Nacional é Cachaça!

tem um vândalo no meu portão. tenho andando com medo dos vândalos, doutor. não consigo mais sair de casa, doutor. tenho medo de quebra-quebra. a televisão me diz que os vândalos estão chegando, doutor. o Brasil é um país pacífico... o estado não vai permitir que esses vândalos tomem conta da cidade. atos de vandalismos não serão tolerados. o cidadão comum, sabe que esses não são manifestantes e sim, bandidos. criminosos. tem um vândalo em cima da árvore. um vândalo depredou o patrimônio público, doutor. um vândalo foi acusado de apropriação indébita. o patrimônio público não pode ser depredado. o nosso país é um país livre, doutor. os vândalos tiram o nosso direito de ir, e vir. um vândalo matou... não, doutor, um vândalo não matou. mas é de matar. tem um vândalo sentado na praça comendo pipoca. tenho pesadelos com vândalos, doutor. eles descem de helicópteros. saem dos esgotos. tem um vândalo com uma camisa do Papa. quem sabe um vândalo peregrino. os baderneiros e os vândalos estão provocando arruaças. tento dormir. não consigo. ouço aquela voz vinda debaixo da minha cama. vândalos... vândalos... e aí coloco o meu travesseiro na cabeça. teremos uma comissão para cuidar dos atos de vandalismos. tem um vândalo mascarado no meu espelho. o vândalo mascarado fumando charuto, dá um trago no Whisky, cospe e diz: eca, nossa, Whisky nacional é cachaça!

A Molecada do Lava a Jato...

...sempre tem um sofá e um sonzinho rolando ao fundo. na maioria rola Racionais, ou Arlindo Cruz de leve para não contrariar ninguém. ah, às vezes, funk. mas dependendo do dono rola até uma Plebe Rude, Black Alien, eu já ouvi. encosta a tua bike, senta naquele sofá e fica a tarde inteira. depois do almoço, é claro. olha pro valão em frente, e sente aquela fedentina, olha para a parede em frente, e diz: que merda. de vez em quando alguém fala: me empresta a bike que eu vou dar um pulo na farmácia. some na esquina. e você apenas balança a cabeça. as vezes a rapaziada do lava a jato mergulha num silêncio prolongadíssimo. as vezes depois da rodada de domingo todo mundo dana a falar. as vezes no final de semana rola um churrasco. uma churrasqueira, e um isoporzinho. as vezes cola até algum velho que fica jogando buraco na praça. algum velho que não conseguiu entrar na internet. como dizem. mas a molecada do lava a jato está sempre ali. naquele sofá, faça chuva, ou faça sol. me empresta a bike aí que eu vou lá no meu primo pegar a máquina de cortar cabelo!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eu Sei que Eles Sabem que Eu Existo!

eu pergunto a minha mina. você viu um furgão lá fora? digo olhando pelo canto da cortina. ela diz: deve ser a CIA atrás de você... ela abre a janela, que calor aqui... que cheiro ruim! tudo fechado. eu me jogo no chão e ponho a mão em frente a boca como fazem os jogadores tentando evitar a leitura labial. falo por sussurros. devem existir escutas por toda a casa.... ponho o telefone no ouvido e ouço um chiado ao fundo. ela me diz: você tá delirando! eu digo: tô cercado! os meus companheiros me abandonaram... ela diz: é impressão sua, amor. eles me boicotaram. disseram que eu sou um dissidente. entrei para a lista de traidores. ou será que eu sou apenas um capital dissidente? não sei! não rolou nem um sentimento de classe. consideração racial ou algo que o valha. disseram que sou uma ameaça. falo por códigos. sinais. driblo. não posso ser muito explícito para que não me descubram. passo na rua. alguém diz: esse cara com essa mulher de cabelo vermelho, não sei não! eu me escondo no supermercado. a câmera do supermercado me persegue. eles sabem que envio mensagens secretas. sou censurado. torturado. quero ir exilado para a França, Estados Unidos, Inglaterra. eles vigiam os meus passos. o meu vizinho me espreita do olho mágico na madrugada. alguém diz: é um artista do bairro que sequelou. outro diz: incapaz de fazer mal a uma formiga! alguém diz: tem de se relacionar. eu digo: sou tímido. o rapaz que recolhe o lixo faz sinal para alguém quando eu passo. o mesmo acontece com o cara falando no orelhão. o entregador de flores parece me apontar. mas um passarinho me traz notícias de campo da fronte. do campo de batalha. onde sempre há algo novo. ele me diz: você foi citado. eu digo: sério? ele diz: sério, num relatório da ONU! Obama tá na tua cola, malandro! eu digo: mentira! ele diz: eu lá sou homem de jogar conversa fora, rapaz!? tem caroço neste angu.... e eu vou descobrir o que é. ele reforça: aí, tem! eu digo: já avisaste ao Joaquim Barbosa? ele diz: sim. mas não mija fora do penico, não, rapaz, se não a coisa esquenta pro teu lado! vai sobrar pra mim, e não há quem te tire de lá! eu pergunto: batata? ele diz: batatíssima! eu digo: você vai me ajudar. ele diz: eu sou bem relacionado no jet set, como você sabe. vou ver o que posso fazer por você. mas não prometo nada! ele pigarreia, e diz: mas por enquanto segura a tua onda, que a tua batata tá assando! a minha mina diz: elas têm alucinações. e amigos imaginários. (e inimigos também, ela pensa). eu digo: amor, é verdade, o meu amigo intelectual, ele não cresce! ele nunca cresce! permanece do mesmo tamanho. com a mesma idade, desde que eu o conheci!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Caçador de Androides - Philip K. Dick

eu li o caçador de androides. e gostei da caixa de empatia. do Mercerismo. ou seria Cristianismo, Budismo, ou Islamismo... são metáforas do livro. e o teste Voight-Kampf para detectar os androides que ao que me parece são psicopatas, assim com a maioria de nós, que assim como psicopatas, nós homens da sociedade moderna somos mais inteligentes. e o preconceito contra os especias, que ao que me parece tem uma especie de esquizofrenia. assim como a maioria de nós. eu sei disso porque me observo. e o observo os outros. ainda existem homens "santos" que conseguem suportar todo esse estresse de viver numa grande cidade, competitiva, perigosa e veloz. as vezes corremos sem saber porquê. e na maioria das vezes nossa correria não nos leva a nada. ao invés de desejar mais, desejar menos, cada vez, menos. mas com a mídia nos aplicando um tratamento de choque, em que logo depois caímos numa Síndrome de Estocolmo amando aos nossos inimigos. mas na maioria das vezes, reagimos de maneira violenta. temos uma crise dos nervos, entramos numa escola atirando, temos um enfarto, ou esganamos o pescoço mais próximo. a gente segue comendo mais, bebendo mais, fantasiando mais, se drogando mais, trepando mais, consumindo mais, rezando mais, fazendo cada vez mais festa, e se entediando cada vez mais com todo o excesso. pois ninguém pode ser tão feliz. a nossa caixa de empatia é a nossa caixa de remédio tarja preta. é só engolir uma pílula. assim que funciona a caixa. é só apertar um botão. até a nossa tristeza normal, por causa do nosso vazio que a certeza da morte causa, estamos tratando com remédio. seja ele, sexo, cerveja, videogame, antidepressivo, ou esporte radical. para um tratamento com menos drogas é preciso tempo. e tempo é tudo o que nós não temos. pois somos uma sociedade dedicada ao prazer imediato. você pode até trepar com uma androide como fez Rick Deckard. não, é verdade? quantas pessoas acordam todos os dias ao lado de androides. androides com botox, bombas, enchimentos, silicones, recauchutadas, reinventadas, plásticas. bonecas infláveis. assim como no Mercerismo nos ligamos a todos. todos estamos conectados a internet que funciona como uma espécie de inconsciente coletivo. virtual. física quântica. androides incapazes de formular um raciocínio assim como os nossos analfabetos funcionais que acreditam no que o repórter, ou o pastor diz  a eles. que tem como exemplo de vida o empresário boçal. que teme os vândalos, e os quebra-quebras. o que eu mais gosto é da depressão do Rick Deckard, e de sua esposa Iran. e a falta de autoestima que é curada com a compra do animal de estimação. será que Deckard desejaria tanto qualquer animal de estimação, se eles não estivessem extintos? é parecido com nosso consumismo que paga por exclusividade. que diz que não sei o que é uma pedra preciosa só porque é rara. e a nossa incapacidade de lidar com outros seres humanos, e com outras culturas, descarregando todo nosso amor aos nossos animai de estimação. mesmo estando conectados com outros seres humanos 23 horas por dia. o que leva Rick Deckard a entrar em crise, é justamente uma trepadinha como uma androide. ah, nossos escândalos sexuais, e quem nunca pecou que atire a primeira pedra! como aquelas atiradas, Wilbur Mercer. que talvez seja uma fraude. um bufão. apesar de muito coerente em algumas colocações insatisfatórias. a polícia cobra a Rick Deckard que ele não sinta empatia por androides, para que isso não atrapalhe o seu trabalho. será por isso que amamos essas lutas em que se dá porrada no outro, e que o deixa retardado para o resto da vida, assim como ficou John Isidore. Buster Friendly que é o comediante que fica vinte e três horas por dia no ar, e que é a pessoa pública mais importante do mundo, declarou que a terra morreria debaixo de uma camada, não de pó radioativo. mas de traste. não duvido nada!

sábado, 13 de julho de 2013

Franz Kafka e Albert Camus

li O Estrangeiro de Albert Camus numa tarde, fiquei chapado, e desde então tive vontade de ler algo parecido com aquilo. fui ler mais Camus. peguei O Mito de Sísifo que é um ensaio filosófico maravilhoso. no final fui presenteado com um ensaio sobre Franz Kafka. talvez por aí eu conseguisse alguma coisa. em minha cabeça, ou na realidade, Camus foi influenciado por Kafka. numa tarde, deitei no mesmo sofá, e da mesma forma que aconteceu quando li O Estrangeiro de Camus, fui hipnotizado por aquela metamorfose de Kafka, não consegui me levantar enquanto não finalizei, o livro. não quero dar a minha interpretação da história. até porque esse negócio de achar que um livro tem uma interpretação é coisa de religião ou de intelectuais. e não quero que aquela pessoa feliz, que ainda não leu A Metamorfose, ou O Estrangeiro, seja poupada de qualquer novidade. mas no meu caso, o primor de Kafka, o que ele conseguiu fazer com este leitor ignorante, foi o seguinte, além de me levar a pensar sobre a profundidade do que foi abordado, é claro. ele me conduziu aquele quarto. até hoje os olhos de Gregor me perseguem. consigo descrever Grete. o senhor Samsa. conheço o cheiro das suas roupas. conheço as cores. e a voz de cada um deles. estive naquele quarto. posso jurar que estive lá  observando os durante algum tempo. até a sensação de sufocamento que a sociedade nos dá, senti com mais intensidade durante a leitura. consigo debruçar sobre aquela janela, e ver um sol que ilumina o mundo de maneira infinita. como num sonho. o livro caiu da minha mão. fiquei exausto.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Banheiro e a Leitura...

quando o meu livro foi lançado uma prima lembrou que na casa da minha avó eu lia no banheiro. morando numa casa cheia de gente, o banheiro torna-se o porto seguro para a leitura. na madrugada é a única luz que pode ficar acesa sem incomodar aos outros. ainda leio no banheiro. mais para não perder uma oportunidade de leitura, do que por necessidade. embora não sei porque sempre a sua luz do banheiro parece ser melhor. a batida do violão da bossa nova foi inventada dentro de um banheiro. pois João Gilberto gostava da  acústica do mesmo. caso queira ler em voz alta para melhor absorção da leitura, é uma boa pedida. dizem que o banheiro era o único lugar onde os Beatles não eram incomodados. hoje a leitura deixou de ser prioridade, assim como a verba para a cultura é a menor, a leitura é a última opção de passatempo, ou o que quer seja, para a maior parte das pessoas. com a chegada do livro eletrônico, em países como o Brasil, em que se lê pouquíssimo, a leitura tende a perder espaço. quanto mais se entulha músicas em um equipamento eletrônico, menos se ouve música realmente. poucas pessoas ouvem os discos completos. a maioria vive de sucessos. o chavão do conceito de trabalho parece ter se perdido. no caso da música, talvez o ideal fosse que os artistas lançassem apenas compactos. como acontecia na época da Carmen Miranda. pois hoje, uma música de um ano atrás, é velha para a maioria dos adolescentes, e das pessoas em geral. são raros os artistas que conseguem manter alguma resistência, e lançam o disco no tempo em que acredita ser necessário. por causa desse processo de banalização que estamos vivendo. embora saiba que alguns artistas sentem necessidade de criar mais. mas é bom que isso seja uma opção. durante algum tempo acreditei que o artista deveria tentar negociar com esse modelo que aí se encontra. eu mesmo, quando comecei a escrever para este blog tentei evitar textos longos. hoje não temo mais os caudalosos. é bom ter tempo para ler e pensar um Marcel Proust, que é eterno, ou um Mario Vargas. mas é preciso tempo para isto. e tempo é tudo o que nós não temos hoje. então o tempo passa a ser mais importante que o dinheiro. sempre foi. desisti de acompanhar a evolução tecnológica. não há mais para aonde se evoluir. não duvido mais de nada. temos que resistir um pouco, para que as coisas do espírito não se percam por aí. para que a hegemonia da falta de tempo cesse. quem só tem tempo para responsabilidades pode se considerar morto. pois como diz o filósofo, o ócio também é necessário. principalmente para a observação com a qual se aprende muito. enquanto o mundo, ou seja, nós mesmos, nos faz acreditar que não temos tempo nem para cuidar do próprio umbigo. o tempo investido em uma boa leitura, ou num bom disco, dizem que isso é um conceito relativo, mesmo para os seus criadores, tem um retorno inestimável. que nesta correria, nós não vamos conseguir perceber. mas ler um bom livro, e caminhar numa manhã de sol pensando nas questões que foram abordadas por ele, continua sendo um dos melhores refrigérios para a alma.

domingo, 19 de maio de 2013

Black Alien Se Retrata...

desde que assisti a este documentário sobre o Black Alien que não consigo parar de ouvir o Babylon By Gus. sou parte do pessoal da minha geração que era Racionais-Nação-Planet, e Rappa. vi o Black Alien ao vivo com o Planet, e, em dupla com o falecido Speed. sei que assim como o Sabotage, e o samba, que é preto na poesia, ele é um mestre. tem levadas, interpretações, e presença de palco infinita. seu estilo se aproxima do noir. de um trhiller-psicológico. ou de um filme pós-apocalíptico. cineasta, mostra cenas em suas letras que conseguimos visualizar com facilidade. pena não ter conseguido compreendê-lo de imediato. hoje entendo porque, porque ele desconstrói a linguagem. embaralha tudo. é um artista sem cerimônia. sem máscara. não é fanático em suas ideologias musicais, ou políticas. a sua cultura é caótica. assim como a sua cabeça. é um Itamar Assunção fluminense. é um cabeça de liquidificador. Black Alien é cru em sua entrevista. lava roupa suja em público, como poucos artistas, e assume a parte que lhe cabe. um dos melhores momentos do documentário em minha opinião, é quando ele diz que gastou muito dinheiro com mulheres e drogas na época do Planet. discorre sobre o "business" em sua palavras. fala sobre aquelas músicas que desaparecem nas mãos de produtores. espalhar coisas por aí é ao que me parece, é uma característica de quem produz muito. ele torna o improviso a regra. mas o que ele faz no improviso dentro do estúdio, são músicas antológicas. tenho a impressão de que ele solta frases no ar. volta e meia eu pego alguma. mas tem que estar concentrado, e saber que o que a primeira impressão parece uma verborragia, no final tem um significado profundo. pega essa: eu tive lá. mas não te vi lá. no documentário você vê o Black Alien gravando com o DJ. e reclamando, às vezes. e pessoas reclamando dele também. indo para um show passam umas minas de carro, e o confundem com o Falcão. ele fica puto. Black Alien toca num assunto chato que é o preconceito que um artista preto pode sofrer de "algumas pessoas" ( as aspas são minhas) em determinados segmentos, por não ser miserável. de forma madura diz que não liga mais para isso. ainda rola ele cantando pra dez pessoas no norte fluminense. sem holofotes. e o Black Alien na banda Reggae Bi, que tem o Bi Ribeiro e parte dos músicos do Paralamas. Black Alien nos ensina que a música é criação de um momento. não sei se ele concorda com isso. sem apego. bom filme. e bom disco para você que não conhece. Ele diz numa letra "tirar foto é fácil, quero ver quem se retrata". Black Alien se retrata.

domingo, 5 de maio de 2013

No Programa da Igreja...

...vi mendigo virar empresário. gente começar a andar, ouvir, e enxergar. cadeiras são levantadas no meio da multidão. quem nunca falou destrava a língua. há vinte anos viciada em crack, aparentemente sem nenhuma sequela. é água, óleo, rosa, toalhinha, e outros souvenires que devidamente pagos, auxiliam na cura. Aids. Câncer. besteira, pra gente não vale isso! sem resenha, filhinha, conta o milagre! eu quero saber do milagre... o Deus do senhor me curou! acabei de abrir uma empresa, e fechei um contrato milionário! ganhei uma licitação e aquela causa na justiça. a minha dívida sumiu. o carcereiro disse: pode ir embora. sonhei com o senhor. o senhor olhou para mim. eu me lembro de você! o senhor profetizou que alguém no meio da multidão tinha esse problema. tomei um gole do resto da sua água senhor, e passei a mão no teu suor. a oferta é para não tirar o programa do ar. mas ele subiu para o horário nobre na grade da programação. o representante deixou escapar numa revista, que com 1 culto se paga um mês de tevê. os milagres não podem parar. o que seria de nós sem esse ministério? os hospitais lotados. as clínicas de recuperação... fora o LEPROSO que é curado. e como é apregoado, os milagres da bíblia estão voltando! e se esses milagres são verdadeiros, Jesus voltou, e ninguém foi avisado. pois até médicos indicam a cura para os seus pacientes. como é dito no ar. ontem uma senhora foi ao banheiro, e voltou com pedras enormes na mão, pedras essas que ela havia expelido dos rins. provavelmente maiores que os rins da coitada. pois uma pedrinha minúscula dá uma dor tremenda. eu sei o que é isso. é aposentadoria. aluguel de tevê. pobreza dá dinheiro. que nos digam as ONGs. é rabo preso. é voto. e nós que somos brasileiros, mas não somos otários, vivemos a espera de um milagre!

sexta-feira, 3 de maio de 2013

John Coltrane: O Santo

comecei a ouvir jazz um dia desses. não porque tem selo de bom gosto ou porque sou preto. mas por acaso estava ouvindo ao rádio e gostei de um programa de jazz. já fui a festival de jazz, e tentei ouvir diversas vezes. sempre gostei dos filmes. e das histórias dos músicos. o jazz diferentemente do chorinho, que acredito ser a música instrumental mais agradável do mundo, sempre me soou estranho. da mesma forma a música clássica, ainda hoje, embora ouça quando preciso relaxar. e também goste das histórias de seus compositores. mas o meu ouvido finalmente parece ter cansado um pouco, da sonoridade pop, não que eu tenha deixado de amar, ou ouvir a cultura pop, underground ou alternativa. mas é que nessa nova fase  posso experimentar coisas que antes não conseguia. ou para as quais não tinha ouvidos. acredito que assim como na literatura, na música, passamos por fases em que vamos amadurecendo. há exceções sempre. mas  no geral não adianta pular essas fases. pois sempre dá merda. vejo pessoas que forçam leituras para as quais não estão preparadas, e depois posam de sabichões sem ter entendido bulhufas. com isso se perde a novidade do primeiro contato. talvez acabe o tesão com a descoberta precoce. há livros que leio hoje, que não teria lido antes. então passei a ouvir jazz. não como uma obrigação. ou porque é cult. mas por prazer. estou no início da minha paixão por John Coltrane. ouço John Coltrane todos os dias. o que mais me impressiona em sua música, é que ela se adapta a meu estado de espírito, e o transforma. é a música que não me atrapalha. e não precisa da minha atenção para ser compreendida. ela me pega e me joga na serenidade. mesmo que esteja escrevendo. consigo raciocinar e ouvir John Coltrane. até me ajuda. e tecnicamente não entendo nada de jazz. e se o John é uma música intimista, e de improviso, como acredito ser uma música que pede a proximidade do ouvinte. não sinto nada assistindo jazz na tevê. ou em grandes shows. jazz é música para lugares pequenos. John Coltrane te dá essa sensação. John Coltrane havia dito que a sua música era religiosa. assisti isso num documentário sobre jazz. e nele um cara disse que John Coltrane, um pouco antes de morrer, perguntado o que faria dali para frente, disse que se tornaria santo. e como disse o meu vizinho ao ouvir essa história. ele conseguiu.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Lixo da Cidade...

eu vinha pensando numa música sobre o lixo. mas aí pintou aquele documentário Lixo Extraordinário, e era esse o nome que eu queria. desanimei um pouco. eu via isso escrito nos caminhões e achava sensacional. as ideias estão no ar. no carnaval eu fui ao local do Rio que eu acho mais bonito. o Arpoador. aquela vista, não vi todas, mas na minha opinião é a vista mais linda do mundo. vi o calçadão todo sujo. uma sujeira deprimente. não que eu me importe com aquele discurso enérgico dos moradores de Ipanema. eu quero que eles se explodam! mas me preocupo com a imundície. quem joga lixo no chão é porco e nada mais. mas pessoas insuspeitas são porcas, gringos de países europeus limpíssimos, esses que dizem aproveitar um pouco a liberdade que não tem em seu país, como gostam de apregoar sobre o Brasil. sei o tipo de liberdade em que eles estão interessados... o mesmo... que... ah, deixa pra lá.  cheguei a conclusão de que quem suja essa porra somos nós. de várias maneiras. e me veio o Robert de Niro de Táxi Driver que chama as pessoas de lixo por sua falta de caráter. ou pelo menos pelo que ele acredita ser falta de caráter dentro da moral de alguém que leva uma dama num primeiro encontro para assistir a um filme pornô num inferninho. Isso me inspirou um pouco. na musica falo de como o corpo expele o seu lixo. e que existem lixos sobre determinados pontos de vista. nós somos lixo orgânico. tenho os meus pecados. e se não existe uma merda de um banheiro químico por perto, eu simplesmente não consigo ir contra a minha natureza, senhor prefeito. não que ache isso bonito. é feio. mas fazer o quê, né? quem tem que limpar a sujeira do cachorro é o seu dono! disponibilizei o vídeo com a música em que estou tocando violão. não é uma música para se dançar ou conquistar garotinhas. a questão está na letra. se tiver interesse, dá uma ouvida. o nome da musica é O Lixo da Cidade.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Cena de Filme Nacional...

é um cenário conhecido, uma cena de filme nacional. um bar decadente na rua da zona. num domingo, ou num feriado santo qualquer. três da tarde, aquele sol vespertino, e deprimente. o dono do bar lendo um jornal velho atrás do balcão, com o qual também espanta as moscas. pega a toalhinha que está sobre o balcão e seca o suor da testa. o cheiro de gordura impregna o ar. no boteco adentra um rapaz de outro estado, nordestino, talvez, e que tenta manter algum tipo de raiz com o seu lugar de origem. uma mulher que foge. vai embora com outro. volta para a sua terra. enquanto o rádio ao fundo toca alguma música do Roberto Carlos.

terça-feira, 16 de abril de 2013

A Rua dos Quebra-Molas!

naquela esquina sempre colava uma rapaziada. que fumava um baseado, e que fizesse chuva fizesse sol tava sempre ali no carteado. com o tempo ele mesmos fizeram uma proteção contra a chuva. fizeram bancos mesas, e uma churrasqueira de cimento. sem a ajuda da prefeitura. e alguém arrastou um sofá cortesia de uma tia aposentada. existiam uns que praticamente moravam ali. independente das reclamações de "suas" "mulheres" ou da "polícia", ou dos fofoqueiros da rua. o que eles também eram. mas eram eles também que agitavam os blocos de carnaval e as festinhas juninas. e ainda o campeonato de golzinho. ou seja, eles eram imprescindíveis para a economia, cultura e desenvolvimento local. por isso que todo mundo acabava aturando aquela rapaziada que quando exaltada pelo jogo de buraco, falava mais palavrão que o Kid Palavrão. que era o moleque que mais xingava palavrão nas redondezas. numa manhã de sábado de sol escaldante, e de todo mundo sem um puto no bolso. na sexta feira todo mundo se entocou cedo por falta de grana, tudo que era malandro tava liso. olhando pro tempo naquele sol de onze da manhã. um deles com os olhos perdidos na parede da firma do outro lado da rua, disse: vamos fazer quebra-molas! como assim? lá em casa tá cheio de cimento e de material de construção que sobrou da obra do meu pai. e daí? e daí que a gente passa o caderninho, igual nós fizemos na copa pra pintar a rua. pra poder comprar as coisas pra fazer os quebra-molas. e aí todo mundo vai ficar tocado, e vai querer proteger as criancinhas dos atropelamentos, e vai contribuir nem que for com dez contos. é início de mês, e todo mundo tá com dinheiro. um deles disse: rapa, tu é um gênio! dito e feito. rolou toda aquela encenação de recolher dinheiro, e de ir comprar cimento. e a noite aconteceu o maior churrasco que aquela rua já teve. cortesia do pai do rapaz e dono da obra. pelo aniversário do filho que seria comemorado na semana seguinte. e a rua ficou conhecida como A Rua dos Quebra-Molas.

domingo, 14 de abril de 2013

Pé-Sujo!

ele sempre parava naquele bar que fica próximo ao hospital e funciona 24 horas. e parece não fechar em nenhuma data, seja ela, santa ou pagã. um ambiente frequentado por todo tipo de gente, ou melhor, pelo pior tipo de gente. esse que recebe adjetivos como boteco. caga-sangue. pé-sujo. última-gota. onde se encontra o clássico torresmo, a linguiça frita, e os ovos coloridos. amarelos e cor de rosa. onde a maquininha sempre toca Maluco Beleza. debruçado no balcão o cidadão tomava o seu refrigerante, quando adentrou ao local um bêbado conhecido. ele havia pulado o corpo de outro bêbado da redondeza, que derrotado, jazia na porta do bar. esse bêbado que ainda não chegara as vias de fato, um tipo que balança, mas não cai. ou vaso ruim não quebra. disse: cachaça na veia! e depois de cuspir ao apontar o bêbado caído na porta do bar. balão! e se dirigiu até um dos bolsos do bêbado derrotado, e tirou de lá algumas moedas. pôs no balcão, e ordenou: uma cachaça! o dono do distinto estabelecimento, sem pestanejar, serviu-lhe uma dose. depois de furtar o gole do santo, e jogar toda a maldita goela abaixo, o bêbado se encaminhou ao bêbado derrotado e vistoriou o seu outro bolso. puxou um pacote de biscoitos recheados. pôs no balcão. uma cachaça! o dono do ambiente familiar, não teve dúvidas. pegou o pacote, misturou na prateleira com os outros, e depois de uma que desceu na pancada, o bêbado que estava de pé, cedeu e caiu dormindo numa cadeira. o cidadão que tomava o seu refrigerante apoiado no balcão gritou. Caralho!

domingo, 7 de abril de 2013

Assassinos por Natureza!

nada justifica um assassinato. quando um psicopata empunha uma arma, e todos aqueles que têm armas são psicopatas, sejam eles das forças de paz da ONU, das polícias que foram criadas para nos "proteger", ou soldados que protegem os seus países, ou quem porte uma arma para proteger a sua família, ou o que quer que seja, é um assassino em potencial. mesmo que se apodere dessas imundícies ideológicas que justificam atos violentos. Lao Tsé disse que "a simples existência das instituições é uma prova de declínio do cárater do homem." se você dirige alcoolizado, você é um psicopata que gosta de desafiar a morte, e pôr em risco a tua vida, e a vida dos outros. quando você mata alguém, na verdade, você está matando quem irá ficar vivo. a pior morte que existe é a morte em vida. andar arrastando um corpo morto por aí. antigamente se acreditava que os homens nasciam bons, e que o ambiente os corrompia. hoje, eu acredito, que é o inverso, nascemos tenebrosos, e talvez alguém faça alguma coisa para mudar isto. a maior parte de nós, brasileiros, somos extremamente violentos. assim como a maior parte do povo americano, indiano, mexicano e etc. somos a favor da pena de morte, que já existe, não institucionalizada. Justiça é vingança, como já foi dito. e a maior parte de nós, agora, queremos ter o direito, de se vingar dos marginais ainda mais jovens. alimentando o ciclo de ódio. para se diminuir a violência neste país, será necessário mexer no bolso de muita gente corrupta, e materialista. inclusive de nós, mesmos. nunca o mundo irá viver numa paz eterna. a não ser que a você acredite em estórias da carochinha. sempre irá existir um psicopata trancafiando a filha num porão durante décadas. mesmo num país civilizado. vejo por mim, a minha esposa pintou os cabelos. eu estou barbudo e cabeludo. um verme ficou rindo da gente num supermercado. pois o brasileiro é racista e preconceituoso. mas quem vive com eu vivo, não pode reclamar de chamar a atenção de imbecis no meio da rua. a intenção é esta. pois sou um transgressor, e tudo que faço é lutar contra os preconceitos. mas se eu tivesse um revólver ali, teria matado o desgraçado. ainda bem que pelo menos, aparentemente, sou contra a violência. igual a todos nós. preferiria morrer. do que matar alguém em legítima defesa. ao invés de ficar igual o avô de Garcia Marques. que após voltar de uma guerra em que matou um homem. passou o resto da vida a dizer. caralho, como pesa a morte em minhas costas!

sábado, 23 de março de 2013

Eu Não Sou Cachorro, Não!

o Velho estava deitado ali debaixo daquela passarela que dá para o outro lado da Penha. quando veio uma dessas mulheres que passam Leite de Aveia Davene com um poodle no colo. o quadrupede vestido e calçado. esse deve fazer até ioga! pensei. quando o velho perguntou: pode me ajudar para que eu tome um café? ela não respondeu. e o velho retrucou: eu não sou cachorro não!

sexta-feira, 22 de março de 2013

The Beatles - Please Please Me

o primeiro disco dos Beatles fez 50 anos. dizem que foi gravado numa noite. entre um show e outro. aproveitando a sugestão de George Martin para que conseguissem um baterista melhor pelo menos para gravar. Pete Best entrou para a história como o maior azarado da música. Era o beatle mais famoso entre as garotas do Cavern Club. os Beatles sofreram com os protestos. antes de serem famosos! dizem que Paul e John tinham ciúme de Best que não foi nem avisado por eles de sua saída. Paul fazia o trabalho sujo. John confiava em Paul, e ao mesmo tempo tinha ciúmes do amigo. a recíproca era verdadeira. os dois mantinham uma amizade motivada pela paixão. ao ver alguém pestanejar diante de uma ordem de Paul, John dizia: faz o que ele está mandando! os amigos de John sabiam que ele apoiava Paul. antes de John morrer os Beatles se reuniram numa festa, e tocaram juntos. uma noite John e Paul assistiam à televisão juntos, e foi feita uma proposta milionária para que eles voltassem. olharam um para o outro. E depois, provavelmente John deu a palavra final. mas por Paul, os Beatles se reuniriam novamente. Paul foi chamado atenção por ir a casa dele sem avisar. ele dizia: não estamos mais na época dos Beatles! quando os Beatles voltaram de Hamburgo e Paul arrumou um emprego, John teve uma depressão tão forte que chegou a engatinhar no meio da sala. após o apocalipse quando os Beatles acabaram de verdade, Paul foi com Linda para uma casa no campo abastecido de erva, e numa fase alcoólica pesada, e dessa vez foi ele quentrou em depressão. deixou a barba crescer e dizem as más línguas que mal conseguia se levantar da cama para tomar banho. Yoko já falou sobre o ciúme de John perante os êxitos de Paul. os dois mandavam as suas namoradas se vestirem igual à Brigitte Bardot. Jane Archer a namorada mais sofisticada de Paul, uma atriz de teatro, não conseguia conviver com o seu machismo e ciúme. embora Paul fosse uma pessoa de vanguarda, e acredito que tenha sido o homem que mudou a música pop. pois a maioria daquelas experimentações partiam dele. embora seja óbvio que John e o ofuscado George também tinham as suas pirações. mas John sempre foi mais rock and roll. embora ideologicamente, o John pós Yoko (por influência dela ou não), seja impecável. e como letrista, sempre, é claro. os Beatles surgiram em Hamburgo. eles vinham numa onda de literatura e música beat, que é uma das supostas origem do nome da banda. na Alemanha conheceram um casal de existencialistas. a fotógrafa alemã Astrid Kirchherr e seu namorado. alguns dão a ela os créditos pelo corte de cabelo moptop. outros dizem que é uma referência que John e Paul captaram numa viagem da dupla a França. Na Alemanha eles conheceram as anfetaminas. eles tocavam num bar durante horas. dizem que John frequentava bares de travestis. eles mantinham relações sexuais com prostitutas. os alemães bêbados queriam dançar. não entendiam muito bem John com seu humor sarcástico saudando Hitler. os Beatles ensaiavam o tempo todo.  o alemão dono do bar pedia para que eles acelerassem o ritmo. eles já vinham tocando juntos há tempos.  mas provavelmente daí veio a pegada própria das versões. Paul arrastou George que era um garoto com quem pegava ônibus. o caçula George ia na onda de Paul e John. foi por isso que que Pete Best se fudeu. não participava da farra. já o piadista, narigudo e bonachão Richard Starkey, amigo de camarim, o maior sortudo da história da música. além da habilidade com as baquetas, no convívio era igual aos outros, para os quais Pete Best não passava de um bom moço. quando voltaram de Hamburgo a banda acabou. depois se uniram com mais força. mas é como Ringo diz na Antologia, é a história de quatro rapazes que se amavam nas estradas da vida. Paul disse que depois que John morreu desejou nunca mais brigar com ninguém. quando George foi visitado por Paul, um pouco antes de morrer, sobre isso Paul diria. foi a primeira vez que eu abracei o meu amigo. eu nunca havia abraçado o meu amigo. sobre o disco, é melhor ouvir do que falar.

domingo, 17 de março de 2013

Nabocoviano

a minha esposa diz que eu me deprecio demais como artista. talvez eu seja um megalomaníaco e esteja querendo mostrar uma falsa modéstia. ou quem sabe isso se dê pelo fato de superestimar meus ídolos e pensar que alguns deles não eram de carne osso. de acreditar que nunca poderia tocar num Nelson Rodrigues, ou quem sabe assistir a um show de um dos Beatles, a ponto de declarar que nunca havia sonhado com isso. acredito que uma das maiores provas de que Deus existe, e que por isso a natureza através de suas imperfeições seja perfeita, é a passagem dos Beatles pela terra. hoje eu disse a ela: você acredita que o Nabokov era uma pessoa comum? ela me respondeu: não sei. talvez sim. isso acabou com essa ideia ídolo. ou pelo menos a partir de agora terei vergonha de propaga-la. mas acontece também, que as vezes um artista diz uma coisa querendo dizer outra. excesso de humildade é sinal de prepotência. eu assisto ao décimo terceiro apóstolo na televisão quase todos os dias. adoro quando ele diz que quem faz o milagre é deus e não ele. que ele é só um homem. supondo que ele não acredite em deus. pode pensar, porra nenhuma. porque a igreja do outro de dois canais a frente está vazia? eles bebem da minha água e tocam é, em mim! embora a gente saiba que dentro da visão religiosa, e até mesmo científica, para se ter milagre tem que ter haver fé. talvez a maioria desse pastores de ovelhas, saibam disso. talvez me depreciar seja uma estrategia de marketing, ou de vingança, por ver tanta merda ser tratada como ouro. mas também não deixa de ser uma auto analise por ver tanta gente depois de morto ser tratado como gênio sem nunca ter sido em vida. gente que os seus livros e suas músicas, não me dizem nada e só me provocam enfado e bocejos tediosos. embora reconheça que como dizia um grupo de rap das antigas, de São Paulo, estilo é que nem bunda cada um tem a sua. por isso acredito que não devemos achar que algo é indispensável para todo mundo. algumas pessoas as vezes não são dignas de determinados livros, ou talvez não consigam alcançar o seu raciocínio. mesmo que seja algo momentâneo. num país em que uma das músicas mais tocadas é uma palavra que se repete o tempo todo. é hora de repensar se não temos de agir com mais firmeza e não dar mole para o povo. no sentido de fazer algo sincero e verdadeiro para que eles comecem a repensar determinadas atitudes. em determinado momento de minha vida equivocadamente quis fazer parte do mercado mesmo que para isso tivesse que fazer algumas concessões ao meu trabalho. mesmo que meu trabalho tenha seus erros, pois os artistas também tem o direito de se equivocar. e como eu produzo muito, é aquilo que eu digo, quem fala demais acaba falando merda. recentemente passei a escrever, cantar e viver da maneira que realmente penso, me senti mais útil, "pacífico" e principalmente original. felicidade é algo relativo. independente da atenção que se possa ter. e agora falo sem porra de humildade nenhuma. pois o pouco vira muito. gostei do papa abandonar a igreja por coisas que não acreditava. independente das bobagens em que ele acredita. vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês. como diria Renato Russo.

quinta-feira, 14 de março de 2013

O Dia Nublado...

a cara na janela,
encara o dia nublado
da mesma forma que encararia um dia de sol
e isto é um milagre

O Pastor dos Infernos!

esse pastor dos infernos sabe que nós brasileiros, que temos vontade de passar por cima dele com um caminhão, não votamos e nunca votaremos em pessoas como ele. por isso que o desgraçado não se preocupa. desgraçado, em respeito a senhora mãe do rapaz. pois nós, cristãos, macumbeiros, espíritas, católicas, e evangélicos, nunca sabemos quando Satanás vai dar o ar da graça, e enfurnar um de seus emissários na história. mudando de assunto. até hoje Fernando Collor ri da minha cara que fiz papel de palhaço naquela passeata. pulei o muro da escola, driblei a diretora e o cacete. para depois descobrir que fui manipulado e que igual a mulher do PC perguntou naquela entrevista, porque só o Paulo Cesar. e aqueles empresários que almoçavam na minha casa todo dia? ela disse isso naquela entrevista, lembra? depois passaram o cerol no PC, e montaram aquele crime passional ridículo. e começou a morrer gente. muita gente. inclusive a própria mulher do PC. eu sei que existe uma máfia no Brasil que beira a teoria da conspiração. Tipo... Código da Vinci. graças a deus não tenho como provar, se não obviamente já estaria morto. mas não há dúvida nada que Ulisses, Getúlio, Tancredo, Jango, Lacerda, Juscelino, tenham tudo é rodado no cerol fininho. gente, eu sou do Rio, mas não é só bala que mata gente, não. existem outras formas de assassinato. voltando ao assunto. acredito que gente como esse pastor Marcos Feliciano, não se importe, pois ele sabe que a maioria do povo brasileiro não sabe nem o que é comissão de direitos humanos, e que também não está nem aí para um bando de viados e pretos que "só fazem nos envergonhar". mesmo, nós, pretos, que somos a maioria. por isso homens como esse pastor, não se importam. pois sabem que aquela corriola que se põe a gritar lá fora, é a minoria, e não vai fazer diferença alguma na próxima eleição.

Galinha Pintadinha Volume 3...

como escritor eu sou um fracasso. e como cantor idem. então decidi acumular a função de babá em meio expediente. para ver se consigo ter alguma função social. a primeira cobaia é o meu sobrinho mais velho, de sete meses. espero que a segunda seja o meu sobrinho caçula, de um mês. a minha irmã deixa o moleque e diz. eu trouxe o DVD. ele gosta da Galinha Pintadinha Volume 3! quando me dei conta do tempo, não havia produzido nada. pois passei umas duas horas na sua brincadeira preferida que é pular. mas depois de algum tempo o braço começa a doer. parti para o DVD. o primogênito ficou todo serelepe. batia no carrinho como se fosse uma percussão. e falava uma porção de coisas em sua língua. ao terminar o vídeo, pus algum outro para relembrar a minha infância. tipo, Balão Mágico. logo no início ele não deu muita bola, e virou para o lado. tentei um desenho. nada. talvez ele só goste de vídeos com música, pensei. nada. bocejou. e fez questão de não olhar para a tevê. eu pensei, caraca, o moleque tá bolado! então apelei para o Galinha Pintadinha Volume 1. para que ele não ficasse ouvindo a mesma coisa. a reação de indiferença, foi a mesma. dava para ver o enfado em seu semblante infantil. pulei para o Volume 2. ele me olhou como se eu fosse incapaz de compreender a vontade alheia. não fui na guerra. cedi. e pus a Galinha Pintadinha Volume 3. ele voltou a batucar e sorrir sucessivamente... em apenas dois dias decorei todas as letras do álbum Galinha Pintadinha Volume 3...

terça-feira, 12 de março de 2013

segunda-feira, 11 de março de 2013

A Notícia Que Passou Batida!

não sei nada de política. e muito menos de geografia ou história. pois nos dias dessas aulas normalmente chovia, e eu me sentia impossibilitado de ir a escola. pois ficar embaixo dos lençóis era sempre mais agradável  tenho consciência do meu semianalfalbetismo. embora os noticiários estejam repletos, do pastor racista e homofóbico, da Doutora Morte, e do cadáver do Hugo Chaves, ainda fresco, uma noticia me chamou atenção. aquele presidente, ditador, ou sei lá o quê, de uma das Coreias  que está ameaçando botar tudo pelos ares. e a sua vizinha, a presidenta, ou sei lá o quê da outra Coréia, que ao invés de acalmar os ânimos, disse que se ele vier vai ter briga. os Estados Unidos, por sua vez, que são os "mediadores" de conflitos mundiais, ao invés de colocar panos quentes, foi meter o dedo na cara do Ping não sei das quantas. acredito que seja melhor pedir a ele, pelo amor de deus, que não faça isso. pois nós não sabemos que tipo de maluco está com o dedo no botão. deixei de acreditar que isso só acontece em filme. e temo muito pelo futuro. embora este conflito possa parecer distante, se acontecer alguma coisa lá, vai refletir aqui, provavelmente, e do jeito que os ânimos estão exaltados, vai sobrar para muita gente. e nós não sabemos realmente qual é o poderio desses chefes de estado. penso que mesmo nós aqui, que não apitamos em nada. devemos começar a nos preocupar com o que acontece lá fora no mundo. eu sei que nós aqui já temos nossos problemas. e por falar nisso, qual é o próximo jogo da Libertadores?

sexta-feira, 8 de março de 2013

Feliz Dia das Mulheres...

a produtora na sala conversa com a minha esposa. ela tem dois filhos e tem dez anos de casada. cara, o meu marido ele, é incapaz de trocar uma ideia dessa que nós estamos trocando aqui. a minha esposa ri complacente. a produtora usa óculos, tem cabelos vermelhos, e tatuagens. eu a imagino quando avó. ela diz: ele ficou feliz da vida que conseguiu ler um livro do Paulo Coelho. Coitado, mal sabe ele que os intelectuais são obrigados a odiar o Paulo Coelho. ele disse que leu o Paulo Coelho para todos os meus amigos como se eles achassem o máximo... um dia eu perguntei a ele quem era o seu maior ídolo, sabe o que respondeu? Zico, sim, o homem mais útil da humanidade para ele, é o Zico. como eu ia explicar que o meu é o Nietzsche? coitadinho do bichinho, mas gosto tanto dele. cuida tão bem das crianças... menina tem de ver o amor que ele tem pelos pequenos. é tão carinhoso comigo... o meu marido é o cara! ela sorri. a minha esposa sorri. eu penso. feliz dia das mulheres...

quinta-feira, 7 de março de 2013

Mais Leitura Menos Televisão...

assisti um documentário em que um cara diz que a leitura é a atividade mais criativa dos seres humanos. quando a diretora de uma escola municipal aqui da Penha, que tem uma das avaliações mais altas ao longo da história, foi indagada sobre o aproveitamento dos alunos, ela disse que a diferença é que uma vez por semana durante meia-hora, eles podem escolher o que quiser para ler. é uma tradição da escola. assisti num programa de tevê, um casal que educa seu filho em casa, com ótimo rendimento, dizer que ele não é obrigado a estudar, e sim a ler o que quiser durante meia-hora todos os dias. Machado de Assis. autodidata. Nelson Rodrigues. autodidata. Plínio Marcos. autodidata. e por aí vai... não tenho dúvida que o que fez a diferença na vida desses ídolos foi a leitura, e o convívio com a palavra. mesmo num tempo em que ainda existia educação no Brasil. um dos filhos de outro casal que foi educado em casa, passou no vestibular de medicina (acho), aos doze anos de idade, só de sacanagem, para mostrar que era capaz. e hoje ele, e seu irmão tem uma carreira bem sucedida na área de informática. é lógico que não se trata apenas disso. embora toda obrigação seja um porre. pois o pai do moleque que é obrigado a leitura diária, diz que a escola não educa o alundo para ser humano. é isso que a leitura, sem direcionamento, faz. ela quebra barreiras. preconceitos. abre as portas para o senso crítico e para a criatividade. pois ter habilidade, é diferente, de ter sabedoria. a educação formal, na maioria dos casos, te dá habilidades. mas não sabedoria. um prêmio Nobel pode ser um imbecil com o qual eu não consiga trocar um dedo de prosa na Rio Branco. nesta época de democratização da informação. a busca do conhecimento tende a ser ignorada por todas as facilidades embutidas nela. basta ver o que as pessoas mais procuram na internet. então quem tiver conhecimento, terá tudo. como sempre. leia em pé no ônibus. sentado na privada. ou enquanto espera na fila. sempre há um espaço para a leitura. e por mais insignificante que ele seja, daqui a algum tempo você verá que aquilo que leu naquele livro, irá servir para alguma coisa. televisão não. a televisão explora o sensacionalismo. com rara exceções. e noticiário faz mal ao espírito. evite principalmente os noticiários.

domingo, 3 de março de 2013

Renato Russo, Raul Seixas... (Cultura Pop)

eu não vou usar a minha caneta para danificar a imagem de pessoas que admiro. ainda mais agora que estão "mortas" e não podem se defender. então se você é um analfabeto funcional igual a maior parte da população que não consegue ler um livro por ano,  e nem consegue  interpretar o que lê, por favor, não vá sair por aí dizendo que falei mal deles. mas não deixe de ler para que pegue o hábito. Renato Russo é um letrista de uma classe suntuosa. alcançada por poucos, como Chico Buarque e Cartola Ou Jorge Aragão. uma poesia extrema. já o Raul era a criatividade em pessoa. não acredito em comparações, mas mal comparando, o Renato Russo é uma espécie de Rimbaud para a letra de música. o Raul junto do Caetano e do Gil, foi o artista que talvez mais tenha experimentado estilos musicais. quem vê o Raul como roqueiro não conhece a sua obra. pois ele é roqueiro, também. o Raul é o maior propagador da liberdade na letra de música. assim como Henry Miller para a literatura. o Brasil tem os maiores letristas do mundo. e normalmente os ídolos são superados. eu vi isso com os meus próprios olhos. Gilberto Gil destruiu no show em Copacabana e depois... acontece que nós falamos português. talvez por isso tenhamos os melhores letristas. embora as regras do português sejam idiotas, o português é uma língua com mais recursos. e talvez por tudo que fuja do inglês nossos artistas não tenham um status maior, como tem aqueles que escrevem  nessa língua como Lennon, Shakespeare, Dylan e Marley. você pode ficar puto por não ganhar um Oscar por causa do preconceito. mas também não pode achar que o Oscar seja importante. ou o prêmio Nobel , que ainda não temos. ou o que quer que seja. sei lá, um novo papa. ou santo. mas nós podemos construir um país que não precise de nada disso. embora eu saiba que só um milagre... assisti o documentário sobre o Raul, que é o melhor documentário que assisti sobre um ídolo até agora. gostei que apareceu todo mundo que faz parte da história do Raul. foram entrevistados os familiares. as mulheres americanas e suas filhas, todo mundo. adorei o final com o Caetano dizendo: Raul, as pessoas não morrem! mas o Raul se matou. assim como o Renato Russo. a Amy Winehouse. e o Kurt Cobain. esses se mataram porque queriam virar mártires. outras pessoas como o Cazuza e o Tim Maia não queriam morrer. esses parecem ter feito de tudo para facilitar as coisas. no documentário Rock Brasília tem uma hora em que o Dado diz: quebrar hotel... sabe aquela coisa de biografia... cortar os pulsos (adolescente) e chamar a  mãe... o próprio Renato havia dito que as pessoas gostavam de ver o Kurt Cobain se destruindo. no Rock Brasília mostra como o Renato manipula a sua própria história de ídolo. não julgo quem faz isso. que evidente naquela confusão em Brasília. ele podia ter tocado músicas de andamento menor para esfriar o público. mas ele ataca, vai pra cima. ou pelo menos a edição do documentário dá essa impressão. e tem uma hora em que ele conta uma história em que debocha de um usuário de drogas. debochar de drogas de frente para um público que em boa parte  é por drogados putos que esperaram por mais de duas horas a Legião. as biografias sobre o Renato Russo, e olha que eu já li três delas, talvez as principais. não conseguiram me explicar porque aquilo tudo aconteceu. por isso nunca entendi aquele dia. sempre me perguntava. pô, o público ficou puto com ele? e o Renato ainda chama Brasília de cidade de merda ou coisa parecida. eu posso falar mal da minha cidade, você não. decifrado o enigma. nossos ídolos são de carne osso. eu vi Paul McCartney no Engenhão, o homem que revolucionou a música pop, e que é o Beatle mais vanguarda. tudo indica que fuma maconha até hoje. e mais importante que isso, está vivo. isso para não falar no Chico, Caetano, Dylan... então acredito que para a criatividade não exista uma época. assim como quando surgiu o Nirvana ninguém acreditava que o rock and roll a música dos nossos colonizadores fosse se renovar, e veio o grunge e toda aquela história. e assim eu vi surgir a Amy e lançar um dos melhores discos do mundo. misturando o que ouviu do jazz com o hip-hop. assim como aquele disco da Lauryn Hill, o Chico Science e a Nação Zumbi, os Racionais, e até bandas como o Strokes, que eu, considero tão boa quanto bandas que eles mesmos idolatram. nossos ídolos as vezes são vítimas da nossa própria idolatria. mas nem sempre morrem de overdose. as vezes morrem com cem anos, felizes da vida, e com uma vida toda equilibrada. isso também é atitude. eca.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Nelsonrodrigueano

o rapaz é um casto. um puro. parece um bebê gigante. um bonecão do posto. tem os traços finos e delicados de uma adolescente carola. a secretaria diz: homem nenhum faz mais as unhas... Edgar faz as unhas. as mãos são impecáveis. aparenta ter bem menos idade, diz a copeira. os amigos de infância dizem: Edgar tomou formol! o rapaz é de uma educação finíssima. clássica. um gentleman perdido na selva tropical. trabalha num desses prédios da Presidente Vargas. é funcionário público. a mulher, Clarisse, não destoa em nada do marido. profissão. idade. religião. beleza. e o mesmo temperamento angelical. a mãe diz: nossa, parecem irmãos... Clarisse diz a Edgar que as meninas do trabalho dele são simpáticas. ma algumas delas atacam Edgar quando não há ninguém por perto. ele parece não se importar com a malícia. é como se não existisse. esse aí, não trai mesmo! dizem as destruidoras de lares. os homens exortam. és um pulha, Edgar! ele pensa. fazer o quê? sou assim, ora bolas! não sinto vontade, sei lá! a única coisa que me incomoda é o meu nome. o meu nome é que mata! nome de velho... coisa de mamãe. Edgar entra no restaurante self-service e sua frio ao ver Palhares, um amigo que foi transferido. o outro grita: és um santo, Edgar! és um santo! você devia ser o novo papa! pois foi o único que eu não consegui corromper naquela repartição! e Palhares grita para os outros comensais, que observam Edgar em sua timidez arrasadora... esse homem é um santo! vocês estão diante de um santo... e eu sou a besta do apocalipse! ele não, ele é um santo! Edgar corou. não por causa do que foi dito. e sim pelo nome esfregado em sua cara daquela maneira.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Passeio de Bêbado...

hoje no período da manhã conversei com uma bêbado que não quis se identificar, e ele me contou que de  madrugada dormiu no ônibus. pegou o 355 no ponto final na Praça Tiradentes, foi até o ponto final em Madureira, e depois voltou. e nada de descer na Penha onde era o seu destino. em depoimento perante a esposa, o meliante confessou que não é a primeira vez que isso acontece. e sim a terceira. eu já ouvi aqui na Penha outras histórias com o mesmo final. será que está surgindo uma nova modalidade... passeio de bêbado? 

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Até Pensei, Chico Buarque...

quando eu era adolescente um moleque tinha um vinil antigo do Chico Buarque. aquele que tem o Pedro Pedreira e A Banda. A Banda tocava duzentas mil vezes por dia. eu estou nessa ouvindo os primeiros discos dele. não sou especialista de porra nenhuma. mas aquela música Até Pensei, ou a gravação, é de um lirismo absurdo, e esmagador. que nos joga numa época de um Brasil onírico. de um Brasil pacato e de um subúrbio com casas de varanda e cadeiras no portão, como está descrito em Gente Humilde. era o Brasil que talvez Getúlio Vargas (não xingue a mãe do rapaz), sonhava. e que vivia na nossa imaginação através das chanchadas e dos artistas da nossa era do rádio. esse é o subúrbio que eu como suburbano queria, lírico. chegar em casa com o pão da tarde embaixo do braço, e ainda ter tempo de assistir o jornal com Cid Moreira e a novela das 8 com a família. hoje isso é irreal. achei a música Subúrbio do disco Carioca extremamente triste para o subúrbio real que eu conheço, e que é mais cocainômano do que a zona-sul. isso, sem nem tocar nas favelas localizadas na ZN. e não me digam que o Chico Buarque é classe média pois eu sei disso. só que o alter ego dele, é de um homem preto e pobre que se transfigura numa mulher de mesma origem. pois quando eu ouço Quem Te Viu Quem Te Vê, eu me pergunto como ele sabe daquilo? e como ele sabe que a mulher espera o homem no portão, como a minha mãe esperava o meu pai? não nego que tenho alguns preconceitos. e pensar que isso pode ser mostrado até numa novela. talvez. talvez o porteiro tenha dito a ele... ele frequentar o subúrbio acho difícil. independente disso tudo tem de se ter uma sagacidade muito grande para se falar de algo que não viveu de maneira convincente. eu li em algum livro que quando ele era criança dizia querer cantar samba como os pretos do morro. parabéns. você conseguiu Chico Buarque.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Ser Artista...

eu tava lendo um livro perto da minha janela. tem um preço morar no primeiro andar. eu sou o alvo preferidos dos Testemunhas de Jeová, carteiros, gente desocupada e caras da Light. esse cara com a voz do Azambuja chegou na Janela e me pediu. irmão, desculpe atrapalhar o teu lazer. mas na humilde, fortalece um pão com manteiga e um café com leite. pô, e uma blusa que essa aqui tá fedendo e tá maior calor. fui pra cozinha e preparei um Big-Mac de pobre, e um café com leite. quando eu fui pegar a blusa, a primeira que eu vi foi uma do Sarau de São João de Meriti. Poesia de Botequim. e pensei. vou dar a camisa do evento pro cara. quase não uso porque é quente ("bondade"), depois pensei melhor. eu não vou dar a porra dessa camisa de Poesia de Botequim pro cara senão vão pensar que ele é artista. o cara já tá fudido,  mas se pensarem que é artista ele vai ficar estigmatizado! Vão dizer: tá vendo no quê dá essa vida de artista! o pior dos fracassos para uma família pobre é um filho querer ser artista, aos olhos daqueles cretinos que não perdem um concurso público para ter um lugar onde se encostar antes de morrer. e fazer justamente aquilo que o Raul Seixas dizia não desejar para nenhum ser humano. e passar o resto da vida sem fazer porra nenhuma que preste, mamando nas tetas do nosso governo. vermes! eca... é melhor pensarem que ele é um otário chifrado e que a loura do funk levou tudo dele embora. ou que ele ganhou na loto e torrou tudo com bebidas, pó e putas. mas se disserem que ele é um artista. ele tá fudido. como diria o deus Henry Miller: "na sociedade o artista é menos tolerado do que os ex-presidiários". 

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Manuel Bandeira Disse...

...ali pelos anos 90 eu ia à Lapa encontrar com o pessoal do hip-hop que ficava na praça em frente aos Arcos no escuro fumando maconha, e conversando. de vez em quando apareciam alguns punks. nessa época conheci um poeta. era um coroa branco, barbudo, e um pouco grisalho. ele fazia alguns eventos na Febarj dia de semana, e colocava a gente pra cantar. não dava ninguém. mas o encontro em si, e a troca  de ideias valiam absurdamente. um dia este poeta me disse: para escrever é preciso maturidade! E completou, Manuel Bandeira me disse isso. enquanto ele limpava a barba, eu perguntei: você conheceu o Manuel Bandeira?! não, ele respondeu. eu li! quando terminei o meu primeiro romance me lembrei do que o poeta me disse. pois desde a minha adolescência todas as tentativas de escrever um livro haviam caído num vazio patético. não que a minha vida seja lá muito emocionante... e tenho consciência de que não sou digno da palavra escritor. O ofício sagrado... mas eu acho que quando o Manuel Bandeira me disse isso, ele estiva se referindo ao exercício da escrita...

Eu Matei Um Homem!

eu viajava num desses bancos altos que ficam próximo a saída. quando esse cara surgiu na minha frente e anunciou o assalto. nem entendi o que ele falou, eu estava viajando, ouvindo uma música do Zé Ramalho num desses aparelhos que fazem tudo. mas eu vi o revólver e a expressão de ódio no rosto dele. aconteceu alguma coisa lá na frente. acredito que um velho não tenha dado o relógio. ou uma menina tenha gritado. ele olhou para o seu comparsa, e numa fração de segundos eu peguei o revolver e atirei. Não dei o tiro com medo da retaliação. hoje em penso que podia ter rendido o cabra. e nem disparei porque queria acabar com a vida dele. E sim porque foi um movimento veloz e instintivo. o comparsa fugiu. ele caiu estatelado, morto. um tiro no meio da barriga. os passageiros comemoravam. quinze minutos antes eu era um dos homens mais felizes do mundo. e quinze minutos depois era um assassino. havia tirado uma vida. e iria carregar aquela morte em minhas costas até o último dos meus dias. não importa que as televisões digam que os passageiros me aprovaram, e que os especialistas em segurança me reprovaram dizendo que esse foi apenas um golpe de sorte. e que não se deve reagir nunca. ou que eu vá a programas de auditório e seja tratado como um salvador da pátria. a única coisa que eu sei, é que eu matei um homem... e não queria ter feito isso!

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Menina Branca Até 3 Anos

É a preferência dos casais que decidem adotar crianças no Brasil.

Destino ou Livre-Arbítrio...

entrou por uma rua diferente ao voltar para casa. na excitação ela decidiu não usar a camisinha diante do homem que dizia amar. o menino foi a igreja. a menina resolveu escolher outra matéria. o rapaz esperou a hora do jogo sentado. ele atravessou a rua minutos antes. o outro decidiu comprar um bilhete de loteria para trocar o dinheiro. a senhora preferiu ir no ônibus que vinha atrás. pois o da frente estava lotado.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Num País Que Ninguém Lê...

o que se lê é a placa dos carros. as pichações nas paredes. a propaganda dos outdoors. as legenda dos filmes. as páginas dos esportes dos jornais de meia hora que custam cinquenta centavos. e que dão um resumo da notícia, com uma bunda na frente, sem maiores detalhes sobre ela. é quase um twitter, se quiser saber mais clica no link aí do lado. e dos notícias populares com seus cadáveres banhados a sangue. se lê o obituário. e o diário oficial com a esperança de que o nome esteja classificado no concurso. assim como sê lê a lista de aprovados no vestibular. se lê propaganda nos muros das estações de trem. se lê notas fiscais. se lê o horóscopo. o resumo das novelas, e as revistas de fofocas sobre a vida dos artistas. se lê as bíblias com interpretações dos devidos sacerdotes. E best-sellers. 

A Literatura...

eu não sei mais o quê é realidade e o que é literatura. às vezes caminhando num dia de sol numa das ruas do meu bairro, tenho a impressão de ser o personagem de um livro que ainda será escrito. e às vezes sentado em meu sofá, lendo, e ouvindo os trens na linha férrea, por alguns segundos me transporto para o seculo retrasado. isso é sinal de que eu estou livre, livre! vocês não conseguiram me acorrentar com as suas ideias... ideias essas, que eu ajudo a compor. sei que não importa o que eu faço, sou um um artista. e sei que sou "mais feliz" (felicidade é um conceito complicado) do que a maioria das pessoas que conheço. por fazer o quê nasci para fazer. embora se pudesse voltar num tempo, anterior a este em que vivemos, provavelmente seguiria outra forma de aprendizado, menos doloroso.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Dez Por Cento de Vida!

toda a sua vida passa por sua cabeça. mas dizem que isso acontece quando a pessoa está para morrer. o filho grita enquanto joga. pai, só estou com dez por cento de vida! desde a infância desgraçada. esse sempre foi o percentual que ele teve para acertar. mesmo naquela peneira com uma porção de meninos. talvez com todo mundo seja assim. ele está próximo de se aposentar. sabe que se acertar esse último tiro, tudo pode mudar tremendamente. todas aquelas pessoas vão fazer com que ele se sinta nas nuvens. talvez em retribuição por elas se sentirem assim. é o último minuto, e o último chute do último jogo. o time adversário tem a vantagem do empate. ele caminha até a bola como num ritual e a fixa no chão. toma distância. se acertar será o herói da nação no dia seguinte. se errar vai passar o resto da noite explicando o que não tem explicação. vai dormir com a cabeça quente. talvez tenha que mudar de cidade e clube de novo. tudo o que não deseja. ele pensava que depois que se tornasse profissional, as coisas seriam mais fáceis. ledo engano. elas parecem mais difíceis. assim como no jogo do filho a cada nova fase o jogo se torna ainda mais complicado. ele chegou até ali por ter aceitado esses desafios. olha para a maior torcida do mundo, no maior estádio do mundo, e vê que ela balança as mãos como se enviasse energias positivas para o seu batedor oficial. corre e chuta. fica olhando o trajeto da bola, que em câmera lenta passa por cima da barreira, e em seu trajeto faz uma curva em direção ao gol. o goleiro se estica todo. por um segundo ele consegue ouvir o silêncio. quando percebe que a bola entra, corre desnorteado. não sabe mais para onde correr... todo mundo corre para todo lado... ele está louco de emoção ao ouvir aquele monte de gente gritando. faz a única coisa que vem em sua cabeça. se joga na grama, como se agora pudesse descansar.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

A Mala no Quintal...

a mala cheia de dinheiro estava no quintal da minha casa. jogaram por sobre o meu muro. não tive dúvida, e me encaminhei direto para a delegacia. devolver aquela dinheirama toda. as notas de cem faziam cócegas entre os meus dedos. eu sabia que talvez elas não voltassem para o seu destino de origem. para as mãos que haviam arremessado. o delegado me fez as perguntas de praxe. eu não sabia a procedência da grana. se soubesse talvez não estivesse ali. ele disse que polícia ia investigar o caso. algum alcaguete comunicou a impressa. eles se dirigiram a delegacia, e enfurnaram os microfones na minha boca, como fazem com os políticos envolvidos em escândalos. não disse nada. não engoli muito aquela história de papai noel, de algum rico empresário ajudando pessoas pobres. a falta de uma declaração, foi dada como uma prova da minha integridade, ao recusar os meus cinco minutos de fama pelo meu feito. havia me tornado um exemplo a ser seguido. a honestidade é a exceção. eu estava era fulo da vida por não poder ou não ter coragem de ficar com o dinheiro. fiquei foi com medo que as cédulas pertencessem a ladrões em fuga, que talvez voltassem para buscá-las. sei muito bem que o dinheiro pode ser rastreado pela sua numeração. não queria passar pelo que passou aquela gente da cidadezinha em que caiu um avião recheado de bufunfa. polícia, bandido, tudo foi atrás do faz me rir. não ia dar uma declaração dizendo que não havia ficado com a farpela por causa de meus escrúpulos. pois na situação em que me encontro, não recusaria dez pratas. na capa dos jornais estava escrito, O Homem Honesto. sou honesto sim, mas não pelo motivos apregoados.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

O Garoto da Bicicleta...

ele pedala pela rua principal do centro da cidade. o centro da cidade todo é esta rua. é uma cidade pequena do interior. uma dessas cidades que crescem em volta de alguma fábrica. a única diferença é que onde ele vive tem cachoeira, e faz frio. pois fica no alto da serra. enquanto o Garoto da Bicicleta pedala passando o canivete nas portas das lojas que estão fechadas, pensa que se o Gordo estivesse por perto eles poderiam jogar videogame. ou quem sabe andar de moto com o Cérebro e o Cabeça. Mas não. foi todo mundo para o litoral atrás daquelas praias. e daquela balbúrdia. todos eles atrás dessa festa idiota. só ele não foi. e mesmo o Velho Comandante estava fora com os netos. o Garoto adorava parar na barbearia para ouvir aquelas histórias de marinha. ele deu meia volta com a bicicleta. parou na esquina, e imaginou que talvez deveria tentar ler um daqueles livros que a sua mãe mantinha na estante contra a vontade de seu pai. a mãe dizia: as palavras ficam! e o pai: são apenas um monte de palavras empoeiradas... quando foi visitar a avó na capital, ele entrou numa livraria enorme com a mãe, e chegou a conclusão de que existiam muitos escritores. e que se a mãe insistia tanto para que ele lesse, e se todos aqueles caras e aquelas mulheres também perdiam tanto tempo a escrever, devia ter alguma importância naqueles livros. ele ia deixar de preguiça. e iria tentar ler um livro pela primeira vez. pedalou de volte em direção de casa.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Ele Não Faz Festa...

o menino está sentado na cerca de madeira. ele tem uma bermuda que vai até um pouco abaixo do joelho, e sapatos antiquados. os cabelos desgrenhados e as sardas. ele se chama David ou Miguel. algum nome bíblico. embora a sua família não seja cristã, e o seu pai seja um sacerdote de uma seita, como dizem os crentes. o menino vê a procissão, o cortejo, a passeata, não sabe muito bem o que se aproxima. eles usam máscaras e fazem festa. ele está sentado na cerca que fica na estrada de terra do outro lado da beira do rio. o menino é da roça. roça, não. ele diz. não gosta que chame o lugar onde mora de roça. mas quando eu digo roça, não falo com preconceito. é apenas um jeito carinhoso de lembrar do cheiro de terra, de acordar com o galo, do bolo de milho e da comida no fogão de lenha, que tem um gosto especial. ele olha para a menina que está no entrudo. ela olha para ele. ele pensa que não sabe porque não participa dessa porcaria de festa. ele olha a menina que olha dentro dos seus olhos enquanto a mãe a empurra, e ele pensa que se fosse por ela, ele participaria dessa porcaria de festa. e deus não ia tá nem aí pra isso. ele tem mais o que fazer. mas quando tiver aula a menina vai ser uma das pessoas, que vai espalhar para as outras pessoas, que ele não participa da festa.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O Fim das Palavras...

eu vejo as palavras sumirem após a digitação. então viro para olhar o caminhão de lixo que faz barulho próximo à minha janela. depois que leio, lixo extraordinário, as palavras somem. de repente ao olhar o boné que descansa no braço do sofá, percebo que o nome impresso em sua aba desaparece. não é um bloqueio criativo. não é como sentir a angústia de viver num país onde se lê pouco. não é como estar cego, ou de mãos atadas. não é como escrever algo, e depois não gostar. e não é como não entender o que está sendo dito. não existem mais as palavras. acabou. as pessoas falam. você vê os seus lábios em movimentos, mas não ouve o que elas dizem. as palavras pulam como pipoca na sua frente, e desaparecem como bolha de sabão, e não importam mais os erros ou os clichês. é como se diminuíssem o volume suficientemente para não se ouvir mais nada do que o outro diz. é o fim das palavras. e isso é pior do que o medo do livro eletrônico. talvez a gente volte a tradição oral. antes se sabia onde armazenar conhecimento. mas, agora, com o fim das palavras...

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Trilogia... (Fim)

No último ano ele relutou mais. Ao mesmo tempo sabia que era o seu inconsciente tentando dominá-lo. No dia do lançamento do livro estaria lá. O terceiro. O último da série. Da trilogia. E o último capítulo dessa sua trilogia tresloucada. Era vítima da mesma obsessão acometida por Beatriz a Dante Alighieri. Ouvia o seu interior agitado. Embora pessoalmente fosse um tímido incapaz de pronunciar uma palavra e temeroso até mesmo de abrir a boca. Clichês. Os conselhos suburbanos vinham à tona. Casamento se acaba até na porta da igreja! Filho não segura ninguém! Ele fez o mesmo trajeto sem olhar para o balcão. Pensou novamente que ela podia ter morrido, faltado ou sido mandada embora. Mas não se entreteve com esses pensamentos. Foi até a prateleira com uma nova determinação. Dessa vez, ruim de tudo, estaria livre. No mais, não havia o que temer. O escritor havia dito que esse era o último da série e ponto final. Ele olhou para o caixa. Ela havia cortado e pintado o cabelo. Estava mais bonita e vestia uma jardineira. Ele olhou para ela e o coração deu aquela porrada. Ela olhou para ele e ele sentiu aquele mesmo olhar primário de admiração. O rosto dela se iluminou de maneira que deixasse bem claro o prazer de ver aquela pessoa. Ele pagou. Ela disse: é o último. Sabe aquela esperança ridícula a qual temos de nos agarrar às vezes, então, ele se agarrou a ela. E a menina disse: espero que dessa vez você me convide para tomar um café. Ele disse: sim, claro. Ela disse: chega aqui nesse mesmo horário. É mais ou menos no fim do expediente. Ele disse: até amanhã, então. Ela compreendendo a sua timidez respondeu: até amanhã. Ele saiu veloz para que ela não gritasse o seu nome o chamando de volta. Essa noite um rapaz naquela cidade não iria dormir de tão ansioso que estava.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os Pretos São Temidos No Brasil!

antigamente, antes de falar sobre racismo virar moda, eu vivia preocupado com isso, e via racista até embaixo da minha cama. depois o assunto ficou chato. mas eu continuei a ser preto, e discriminado. mas naquela época eu comecei a reparar que quando entrava no ônibus, sempre era a última opção de "companhia" para os outros passageiros. e passei a praticar esse exercício, para testar se as minhas desconfianças tinham algum fundamento. por esses dias eu andava de cabeça raspada, o que não ajudava muito. hoje ostento um novo black power, o que não ajuda em nada. e apesar de todo o clima de oba-oba olímpico, observei que os passageiros continuam tendo a mesma atitude, e que eu continuo como a última opção ao lado. um motivo aparente é a desconfiança que se tem do jovem homem preto. pois somos vistos, nós, jovens homens pretos, como os maiores agentes da violência. por outro lado, nós, jovens homens pretos, somos as maiores vítimas da violência. inclusive aquela que vem da força bruta do estado. não me importo que você seja azul, amarelo, ou vermelho. pois descobri que a gente é tudo a mesma merda. mas como diria um comediante dos bons, que não se vestia de preto, não me venha com churumelas!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reprises. Apenas Reprises...

jogadores de futebol entram em campo com faixas de apoio. uma comitiva governamental traz palavras de conforto. alguém diz num link ao vivo que o sangue dos nossos bancos são insuficientes. um repórter mostra como fulana de tal era uma menina feliz, alegre, tinha muitos amigos, cheia de planos, estava no melhor ano de sua vida, cursando a faculdade, seguindo os seus sonhos, ajudava a família, sonhava ter um filho, ia se casar, e por isso tudo não merecia morrer dessa forma. sobreviventes relatam o que aconteceu a entrevistadores matinais que se dividem entre eles, e uma nova receita de bolo. especialistas em segurança explicam o que deveria ter sido feito. um pastor dá a sua versão religiosa para o acontecido. os peritos esclarecem porque o acidente ocorreu. o governo decreta luto oficial. fotos e textos em todos os jornais e blogs. palavras de revolta e pêsames nas redes sociais. psicólogos novamente explicam como lidar com grandes traumas. vamos ficar desconfiados durante algum tempo. não querendo frequentar locais parecidos, com medo que aconteça novamente. os telefones da defesa civil não param mais de tocar. mas aos poucos retornaremos as nossas vidinhas. para que feridas abertas nas pessoas próximas possam arder sossegadas. e quando a gente já tiver esquecido o que aconteceu, as famílias irão entrar com uma ação conjunta na justiça. e daqui a um tempo, um representante deles vai ao noticiário falar sobre o descaso com o qual são tratados. e a escassez de informações. alguém vai declarar que só quer justiça, pois nada irá trazer os entes queridos de volta. muito pouco irá realmente mudar para que não aconteça novamente. uma ou outra lei de fachada a espera da poeira baixar. mas novamente a corrupção irá prevalecer. e os mesmos erros serão cometidos. os responsáveis soltos abraçados a seus familiares irão exibir seus sorrisos e dizer que a verdade prevaleceu. não vamos obter aprendizado nenhum com o que aconteceu, ao contrário do que desejam os motivadores profissionais. e quando acontecer de novo, vamos relembrar o fato. ou descobrir que acontece com a gente também. e que não existe fatalidade. e sim escolhas das quais todos somos culpados. e virá aquela frase clichê. eu já vi esse filme antes. mas a nossa vida em sociedade é tão clichê... não é?

sábado, 26 de janeiro de 2013

A Trilogia (Parte-Dois)

ele chegou no primeiro dia novamente. assim como assistiu ao filme na estreia. sentado na primeira fila. se o diretor estivesse lá, provavelmente estaria ao seu lado. caso os diretores não fiquem na última fila. ele passou um ano renovando aquela ansiedade. um ano pensando o que dizer, e nada. um ano para criar coragem. a cada dia pensava que a menina pudesse simplesmente morrer... o grande dia era a última das hipóteses, mas seu inconsciente tinha como a mais provável. ou seja, covardia iria prevalecer novamente. o quê ele diria, oi, vim aqui num dia do ano passado, lembra de mim? não, ela não lembra. não pode lembrar. já naquela época ela podia ter namorado, sabia? ou mesmo ser casada... quando entrou foi direto a prateleira. não quis olhar a caixa da livraria. pegou o livro com o mesmo orgulho. e pensou a mesma coisa de todos os dias. ficar um ano inteiro pensando numa mulher com quem não se teve um contato de mais de cinco minutos é loucura. é uma obsessão. eu sou doente. quando olhou pro caixa ela estava... lá... um pouco mais gordinha... grávida. uma aliança dourada enorme no  dedo anelar. ele se odiou por aquilo. quando ela o viu, o rosto teve a mesma expressão de quando revemos alguém que gostamos depois de muito tempo. ela disse: eu me lembro de você, e aí, gostou do livro. e do filme? o que ele respondeu não importa. foi pra casa chorando. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Trilogia (Primeira-Parte)

o rapaz usa óculos de míope, previsivelmente. compro no primeiro dia, não deixo esquentar a prateleira!  acompanhou a notícia na internet. espera que façam logo um filme. tímido, previsivelmente. ele sabe que para os outros é apenas um nerd que sofreu bullying. e que tem o perfil de um esquizofrênico. se é que esquizofrênico tem perfil. pode ser um psicopata desses que atiram em todo mundo. chega a se compadecer de alguns. motivos é que não faltam para fazer o mesmo. quem sabe seja um tipo suicida. remoeu a hipótese várias vezes. quando olha para os outros na rua, tem a impressão que dizem. esse aí mata alguém... ah, se mata! vai de encontro ao objeto de desejo, como se não tivesse sido informado da existência de outros livros. só consegue enxergar o tijolão de capa colorida. cheio de monstros dentro, magias, sábios compreensivos, e lugares fantásticos. uma boa fuga pra quem não consegue encarar a realidade. se encaminha cegamente pro caixa. quando vê a atendente atrás do balcão vem o pânico. o medo de ter esquecido o dinheiro. ou da menina rir da sua cara por causa do livro que comprou. ou simplesmente de não conseguir pronunciar uma palavra. ela levanta a cabeça. tem todo o perfil de quem não daria um bom dia a ele em outro lugar. alta. olhos claros. tatuagem no braço. postura imponente. ao ver o livro ela diz. que legal! já separei o meu! ele sente alívio. e medo por ter que falar. ga-gue-jan-do, é claro. diz forçosamente. deve ser bom... ela complementa. deve ser ótimo! agora na rua respira com dificuldade. tem que criar coragem para voltar a livraria amanhã. pensa no que ela pensa sobre ele. quer terminar o livro imediatamente. e desde já torce para que a segunda parte seja lançada. continua...

domingo, 20 de janeiro de 2013

A Pílula Do Dia Seguinte (Parte-Final)

o garoto entrou na farmácia atabalhoado, como diriam escritores antigos. dessa vez ele tava muito mais nervoso do que da outra. tinha medo da mãe, do pai, da mãe da menina, e sobretudo do possível filho, ou filha, que deixava todo o mundo mais perigoso. e que agora havia caído como uma bomba em cima dos dois. acabando de vez com todos os seus sonhos de viver intensamente a adolescência a que tinham direito , apenas algumas horas antes, beijando todo mundo e... seriam escorraçados de casa e teriam que trabalhar e abandonar aquelas tardes sem aula em que vagavam pelos shoppings. para o cara da farmácia era a hora da vingança. o moleque perguntou entredentes. tem a pílula do dia seguinte? ele respondeu. antes de pensar em pílula, procure as camisinhas, pra não acabar vindo aqui comprar fraldas. todos ouviram. dessa vez para a desgraça do garoto a farmácia estava cheia. o homem puxou a nota da mão do moleque e a jogou na registradora. o moleque corou. as pílulas foram colocadas em frente a ele. a garota bufou. as bochechas ficaram vermelhas. o moleque respirou aliviado. aquela era a vingança do homem da farmácia. a vingança contra si mesmo. por não ser mais um moleque. por ter uma filha adolescente grávida. e por nunca ter usado uma camisinha.

sábado, 19 de janeiro de 2013

A Pílula do Dia Seguinte - Parte 2

a noite foi maravilhosa como sempre acontece na maioria das primeiras vezes. ele achou que não havia se saído tão bem. e a performance dela também não ajudou muito. mas finalmente havia virado um homem. era isso que importava. e agora poderia falar de igual pra igual com os moleques dos prédios. ele gozou rápido por causa da ansiedade. e a menina não ia contar isso a ninguém. ele contou uma historinha pro seu melhor amigo, que tinha outro melhor amigo, que... e concluiu que iria viver o resto da vida com aquela menina. ela pensou que a mãe só falava merda. ele perguntou se ela havia gostado. ela disse. sim, claro. eu amei. mas no fundo sabia que pouco importava. pois era a sua primeira vez, e ela o amava. simples assim. igual na novela. ele chegou a conclusão de que não podia pegar doença de uma menina que há pouco era virgem. e pensou que seria azar demais se ela ficasse grávida. justamente dessa vez. da próxima vez eles usariam camisinha. foi o clima, o momento, sabe como é. mas ela quebrou o silêncio e disse: fudeu. ele disse: fudeu! continua...

Para Quem Não Gosta De Ler

Sem palavras.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Pílula Do Dia Seguinte

o moleque entrou na farmácia. o frangote não tinha 16 anos. a menina aparentava uns catorze. mas pelo tipo de atitude podia ter mais idade que o pivete. ela havia dito: te espero aqui. e odiava ouvir a voz da mãe na  cabeça dizendo. se fizer isso, vai acabar com a tua vida! a mãe dele dizia. cuidado pra não engravidar a filha dos outros! e o pai: prendam as suas cabritas, que o meu bode tá solto! entra e pede ao cara da farmácia. um pacote de preservativos, por favor. fez uma voz casual como se pedisse chicletes. ensaiou a frase várias vezes mentalmente. o homem jogou a embalagem no balcão. cinco real. mas pensou. até parece que vai comer alguém! o moleque levantou os olhos, e esperou o riso que não veio. perseguiu o cliente com o olhar. quando ganhou a rua na presença da menina, o balconista tentou ver a bunda da garota. não conseguindo se redimiu. saidinho! continua...

Ansiedade

um dia encontrei com ela numa esquina. um médico me disse que a tal senhora normalmente vinha acompanhada da sua amiga depressão, ou vice-versa. depois de algum tempo tomando medicamento, e sendo acompanhado por um profissional, percebo que lutar contra ela é burrice. assim como lutar contra a sua amiga. não penso que devemos nos entregar as duas. mas é bom termos uma convivência pacífica com a tal senhora. podemos dizer, pode entrar, senta, fica aí, toma um chá. você é uma doença como outra qualquer. se eu fosse diabético não teria que conviver com o diabetes? esse vazio que nós sentimos talvez seja necessário, e inerente ao ser humano que não consegue explicar tudo. pelo menos os que não são arrogantes. hoje deixo minha depressão a vontade. só peço a ela que não traga junto o seu amigo stress. em outras palavras, só não me encha o saco! até curto um pouquinho dessa fossa poética. sem remoer nada. apenas acreditando que esse problema é meu. não dá pra ter tudo. não dá pra querer tudo. nem dá pra agradar todo mundo. ou melhor, não dá pra agradar a quase ninguém. e quem disse que devemos agradar alguém? e quem disse que devemos ser legais, felizes, simpáticos, vitoriosos, e ter um milhão de amigos? alto lá! temos sim que seguir em frente e tentar evoluir. porque? eu não sei! mas não devemos carregar todo esse peso. não quero ser um bobo alegre. já percebeu como as pessoas que se dizem felizes parecem histéricas com seus tiques e suas risadas nervosas? o bobo quer descontar toda frustração de uma vida em uma noite. mas logo após, vem a ressaca do dia seguinte. da noite de esbórnia. nem sempre... só na maioria das vezes. é a mesma coisa que tentar lutar contra uma compulsão. o problema é que não é luta. não se luta contra nada. o que tem que se buscar é a compreensão. simplesmente vire as costas e não dê bola. se tentar exterminar o inimigo da noite para o dia irá sempre perder. psicologicamente falando. virá sempre o efeito colateral. tente dar uma ignorada. e dizer a si mesmo que ele não é tão importante quanto parece. não tenho conhecimento científico. li apenas alguns livros de autoajuda. e a minha precipitação em escrever, é apenas mais uma prova da minha ansiedade. olá senhora, seja bem vinda!