a mala cheia de
dinheiro estava no quintal da minha casa. jogaram por sobre o meu muro. não
tive dúvida, e me encaminhei direto para a delegacia. devolver aquela
dinheirama toda. as notas de cem faziam cócegas entre os meus dedos. eu sabia
que talvez elas não voltassem para o seu destino de origem. para as mãos
que haviam arremessado. o delegado me fez as perguntas de praxe. eu não sabia a
procedência da grana. se soubesse talvez não estivesse ali. ele disse que polícia
ia investigar o caso. algum alcaguete comunicou a impressa. eles se dirigiram a
delegacia, e enfurnaram os microfones na minha boca, como fazem com os
políticos envolvidos em escândalos. não disse nada. não engoli muito aquela
história de papai noel, de algum rico empresário ajudando pessoas pobres. a
falta de uma declaração, foi dada como uma prova da minha integridade, ao
recusar os meus cinco minutos de fama pelo meu feito. havia me tornado um
exemplo a ser seguido. a honestidade é a exceção. eu estava era fulo
da vida por não poder ou não ter coragem de ficar com o dinheiro. fiquei foi
com medo que as cédulas pertencessem a ladrões em fuga, que talvez voltassem
para buscá-las. sei muito bem que o dinheiro pode ser rastreado pela sua
numeração. não queria passar pelo que passou aquela gente da cidadezinha em que
caiu um avião recheado de bufunfa. polícia, bandido, tudo foi atrás do faz me
rir. não ia dar uma declaração dizendo que não havia ficado com a farpela por
causa de meus escrúpulos. pois na situação em que me encontro, não recusaria
dez pratas. na capa dos jornais estava escrito, O Homem Honesto. sou honesto
sim, mas não pelo motivos apregoados.
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