domingo, 18 de junho de 2023

Cidade de Deus

Eu assisti Cidade de Deus de novo. E nada é mais poético do que a morte do Cabeleira. Nada mais triste e mais sofredor. Aquela corrida… o cinema tem essa mania de captar toda a dor e a potencializar. Quem não soube de uma corrida dessas não sabe o que é sofrimento. Quem não ouviu os prantos. Não importa de qual lado for. Quem não viu essas mães chorando. Embora para os negros pobres seja pior. O Cartola com a música do Candeia ao fundo que dilacera a alma, clichê. E o que dá revolta é que de Deus e o Diabo na Terra do Sol para Pixote o Brasil não mudou nada. E de Pixote para Cidade de Deus também não. E de Cidade de Deus… pelo contrário, até piorou. O estado e os bandidos ficaram mais violentos. Basta olhar os números de chacinas. A primeira vez que vi o filme eu fui ao cinema num dia em que os bandidos de dentro do presídio haviam mandado “fechar tudo”. Coisas nossas. Mas ali, eu olhei para aquilo, mesmo tendo nascido na Baixada e vivido na Zona-Norte. Não sei como é. Coisa de favela. Não moro lá dentro. Só vou lá. Mas quando eu assisti ontem novamente o filme me causou um impacto diferente. Eu lembrei daquelas corridas… de quem correu para viver. Aquelas corridas são tristes que dói. Se essas pessoas estavam erradas ou não, elas deveriam ser julgadas e não condenadas à morte. Mesmo os assassinos psicopatas que se escondem no meio dessas gangs. Só assim a justiça funciona. Tem muita gente que vira a cara para o filme. Mas como ouvi um português dizer: “Isso está bem conseguido.” E não me vem com história de que tem de ser assim. Nem em todo o lugar é assim. Se fosse regra seria em todo lugar. O filme mostra nossa realidade, infelizmente. Aquelas corridas tristes…