jogadores de futebol entram em campo com faixas de apoio. uma comitiva governamental traz palavras de conforto. alguém diz num link ao vivo que o sangue dos nossos bancos são insuficientes. um repórter mostra como fulana de tal era uma menina feliz, alegre, tinha muitos amigos, cheia de planos, estava no melhor ano de sua vida, cursando a faculdade, seguindo os seus sonhos, ajudava a família, sonhava ter um filho, ia se casar, e por isso tudo não merecia morrer dessa forma. sobreviventes relatam o que aconteceu a entrevistadores matinais que se dividem entre eles, e uma nova receita de bolo. especialistas em segurança explicam o que deveria ter sido feito. um pastor dá a sua versão religiosa para o acontecido. os peritos esclarecem porque o acidente ocorreu. o governo decreta luto oficial. fotos e textos em todos os jornais e blogs. palavras de revolta e pêsames nas redes sociais. psicólogos novamente explicam como lidar com grandes traumas. vamos ficar desconfiados durante algum tempo. não querendo frequentar locais parecidos, com medo que aconteça novamente. os telefones da defesa civil não param mais de tocar. mas aos poucos retornaremos as nossas vidinhas. para que feridas abertas nas pessoas próximas possam arder sossegadas. e quando a gente já tiver esquecido o que aconteceu, as famílias irão entrar com uma ação conjunta na justiça. e daqui a um tempo, um representante deles vai ao noticiário falar sobre o descaso com o qual são tratados. e a escassez de informações. alguém vai declarar que só quer justiça, pois nada irá trazer os entes queridos de volta. muito pouco irá realmente mudar para que não aconteça novamente. uma ou outra lei de fachada a espera da poeira baixar. mas novamente a corrupção irá prevalecer. e os mesmos erros serão cometidos. os responsáveis soltos abraçados a seus familiares irão exibir seus sorrisos e dizer que a verdade prevaleceu. não vamos obter aprendizado nenhum com o que aconteceu, ao contrário do que desejam os motivadores profissionais. e quando acontecer de novo, vamos relembrar o fato. ou descobrir que acontece com a gente também. e que não existe fatalidade. e sim escolhas das quais todos somos culpados. e virá aquela frase clichê. eu já vi esse filme antes. mas a nossa vida em sociedade é tão clichê... não é?
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