quando eu era adolescente um moleque tinha um vinil antigo do Chico Buarque. aquele que tem o Pedro Pedreira e A Banda. A Banda tocava duzentas mil vezes por dia. eu estou nessa ouvindo os primeiros discos dele. não sou especialista de porra nenhuma. mas aquela música Até Pensei, ou a gravação, é de um lirismo absurdo, e esmagador. que nos joga numa época de um Brasil onírico. de um Brasil pacato e de um subúrbio com casas de varanda e cadeiras no portão, como está descrito em Gente Humilde. era o Brasil que talvez Getúlio Vargas (não xingue a mãe do rapaz), sonhava. e que vivia na nossa imaginação através das chanchadas e dos artistas da nossa era do rádio. esse é o subúrbio que eu como suburbano queria, lírico. chegar em casa com o pão da tarde embaixo do braço, e ainda ter tempo de assistir o jornal com Cid Moreira e a novela das 8 com a família. hoje isso é irreal. achei a música Subúrbio do disco Carioca extremamente triste para o subúrbio real que eu conheço, e que é mais cocainômano do que a zona-sul. isso, sem nem tocar nas favelas localizadas na ZN. e não me digam que o Chico Buarque é classe média pois eu sei disso. só que o alter ego dele, é de um homem preto e pobre que se transfigura numa mulher de mesma origem. pois quando eu ouço Quem Te Viu Quem Te Vê, eu me pergunto como ele sabe daquilo? e como ele sabe que a mulher espera o homem no portão, como a minha mãe esperava o meu pai? não nego que tenho alguns preconceitos. e pensar que isso pode ser mostrado até numa novela. talvez. talvez o porteiro tenha dito a ele... ele frequentar o subúrbio acho difícil. independente disso tudo tem de se ter uma sagacidade muito grande para se falar de algo que não viveu de maneira convincente. eu li em algum livro que quando ele era criança dizia querer cantar samba como os pretos do morro. parabéns. você conseguiu Chico Buarque.
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