sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

As pessoas e as coisas

É preciso respeitar o que veio antes. O mundo não nasceu conosco. O que nós temos como ultrapassado, contribuiu para o que consideramos sofisticado hoje. As pessoas e as coisas têm história.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O Pelé Fez

A seita do politicamente correto que vigia o Chico Buarque, e apaga o Bezerra da Silva, agora volta a sua ferocidade contra o Pelé por causa do que ele fez ou deixou de fazer fora de campo. Longe do relvado prefiro mil vezes figuras tortas e sinceras como o Maradona. Não admirava o silêncio dele em relação às mazelas brasileiras. Mas todo mundo tem o direito de ficar calado se quiser. A maior parte dos cantores que vendem mais atualmente no Brasil não dizem uma palavra e nem por isso são cobrados pelos ditos “progressistas”. Ao contrário, frequentam as suas festas e comícios, diferentes dos artistas engajados em causas sociais que invariavelmente são deixados de lado. Muito dessa revolta contra o Pelé cheira a racismo disfarçado como foi o caso de Wilson Simonal. Vivia bem demais para um negro. E de mais a mais somos seres humanos e sabe como é ser humano… “quem tem o telhado de vidro não joga pedra nos dos outros”. Eu que não quero ver a ficha corrida de quem está arrotando moral na internet, pois temo o que existe lá. De resto é a época das trevas, do puritanismo, de fiéis perseguindo infiéis, são as cruzes queimadas, e ditaduras disfarçadas de liberdades. Se o Pelé pisava na bola fora de campo o problema é dele. Tem gente pisando na bola dentro de campo e não fazendo a única coisa que se propôs fazer bem. O Pelé fez.


Blog

Em alguns dias o meu blog completa 1000 postagens. Sem contar as dezenas de textos que apaguei. Excluo principalmente algumas crônicas que são observações da realidade quando no dia seguinte estou a pensar diferente. Neste tempo as pessoas deixaram de ler blogs; mas o meu está lá, e serve tanto de registro para o que escrevo quanto um exercício para a escrita de textos maiores. Além da leitura... é óbvio. 

Toranja Mecânica

Ponto de ônibus. Velho. 80 anos. Diz: "Vocês são muito novos... para fumar!" Menina de 11 anos. Menino de 12 anos. Dizem: "Foda-se!" Xingam, cospem, e chutam o velho. Ninguém se mete.

Por causa da hora

Ela cantava enquanto batia na guitarra ferozmente. O homem em pé ao seu lado esperava, com paciência. Ao término da canção ainda dava para ouvir o reverberar do último acorde quando ela disse: “Eu não vou mais dormir com ele.” O homem caminhou até a porta e a fechou por causa da hora.

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

O lugar não muda ninguém

Escolhemos as redes sociais de acordo com nossas idades e gostos, e nelas criamos grupos e subgrupos e reproduzimos os mesmos comportamentos de fora delas. O lugar não muda ninguém.

Mártir

Quando um ser humano consegue ir adiante do tempo e da sociedade em que vive; ele sofre com as punições e penitências desse tempo, e depois é transformado num mártir por esta mesma sociedade.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Terapia é um Luxo

Depressão é coisa de pobre. Terapia é coisa de rico. Depressão é barata. Terapia é cara. O rico vai à terapia com medo da "loucura". O pobre não vai à terapia com medo de ser chamado de "louco". O rico toma remédio e cura a loucura. O pobre enche a cara e continua louco.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

A Percepção

Eu ouvi de um colega mais jovem que o melhor disco de todos os tempos foi lançado este ano. Alguém da minha idade pode pensar o contrário. Outro mais velho dirá algo diferente. Se me perguntarem direi que não sei, pois é muito difícil confiar em nossa percepção. Ela faz o passado parecer maravilhoso ou o presente o máximo dependendo da idade que você tenha.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Desistir... Nunca!

Perder o bonde. Perder o trem da história. Atrasar. Tropeçar. Levar porta na cara. Levar torta na cara. Pegar quebranto. Puxada de tapete. Pé na frente. Cair. Capotar. Ganhar não. Ter o currículo jogado para debaixo da pilha. Chegar antes e ser passado para trás. Ver todo mundo se adiantando. Desistir... nunca!

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O Padrão

É preciso manter o padrão. Ser o funcionário do mês. O aluno ideal. O amigo fiel. Sempre seguindo o crivo da maioria da parte à qual você pertence. Pois é proibido ser indivíduo integrante do todo. E dentro da sua casca da gema de ovo aceitar tudo. Excelente, você está pronto e pafronizado. Mas não, livre.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

A Contradição

A contradição faz parte do drama humano. E qualquer esforço para detê-la deve ser encarado como inútil. Pois é da revisão de fatos e opiniões que advém as grandes mudanças tanto no campo social quanto no microcosmo pessoal. Aceitar o contraditório é ser honesto consigo e com os outros. Além de ser a única forma de aperfeiçoamento.

domingo, 18 de dezembro de 2022

A Bolha

 Eu gosto desse conceito de bolha. A pessoa vive em sua religião, orientação política, time ou grupo; só lê, vê, e vive para reforçar àquilo que ela já pensa. Não quer saber nada sobre o outro ao qual crítica. Talvez para não decepcionar os seus pares e sentir a solidão de pensar por si próprio. Ou quem sabe com medo que algo seja diferente do que acredita. Então prefere viver à base do não vi e não gostei. E sendo assim perde a oportunidade de explorar o mundo. E isso acontece tanto com um prêmio Nobel quanto com o seu Zé das Couves.

As Sequelas da Pandemia

A maior parte das pessoas passou incólume à pandemia. E assim tem de ser. Caso contrário a vida não segue. Mas é perceptível, mesmo à distância, que a pandemia deixou um lastro de destruição psicológica na mente de parte dos brasileiros. Para além dos que foram afetados diretamente com a perda de entes queridos. Independente de muitos terem ou não consciência disso. Pessoas idosas por que ficaram confinadas durante muito tempo enquanto assistiam os falecimentos de indivíduos de sua geração, ou jovens em dificuldades com o trabalho, saíram do Covid mais desesperançados do que antes. E isso passa ao largo das torcidas dos políticos. Muitos de ambos os lados apoiaram os seus algozes sem perceberem que eram manipulados por eles em seu jogo. O sofrimento psíquico é silencioso e o ser humano comum tende a menosprezar a sua saúde mental. Mas, é justamente ela que apresenta o dano mais vigoroso e duradouro.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Oito ou Oitenta

O mundo agora é assim, o mundo agora é assado... Ninguém mais faz isso... Quando pensamos assim esquecemos às diferenças. Acreditar que existe um padrão de ser humano ou que a juventude se comporta de determinada forma é duvidoso. Podemos viver no mesmo tempo histórico, mas não com a mesma mentalidade. Existem adolescentes que pensam como suas bisavós. O que muda e deve mudar é a sociedade com suas leis e organização. Os indivíduos seguem o fluxo. Fora as diferenças culturais existem as personalidades que é um assunto complexo. É por isso que se estivermos atentos, veremos um padrão de comportamento na mídia, que os "formadores de opinião" querem impor para "ajudar", e quando observamos diferentes pessoas ao nosso redor, ele não condiz com a nova "regra". A maior parte dos seres humanos: continua sofrendo, sendo feliz, e tendo as mesmas opiniões que os seus ancestrais.

sábado, 10 de dezembro de 2022

Sobrevivemos

Quando se tem 15 anos tudo é para sempre. Tudo é eterno. Até mesmo a mágoa. Depois dos 40 anos, se você é uma pessoa normal, quando encontra o maior oponente às suas quinze primaveras às apalpadelas tenta saber ver se ele é real. E você começa a bradar e a babar abraçado a ele: "Estamos vivos! Sobrevivemos! Sobrevivemos!" Em praça pública...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

A Pestana

Apenas 12 por cento da população brasileira é chegada à leitura… disse um senhor ontem na televisão. Os outros oitenta e oito por cento… não tenho dúvidas de que entre estes existem sábios analfabetos…, mas se a pessoa não é chegada à leitura… logo ao estudo não necessariamente… ou não tem condições de seguir com ele… e se conhecimento é poder… e o poder do povo é o voto numa democracia..., mas se o mesmo povo não está “instrumentalizado” … Por isso que alguns desses indivíduos bocejam diante da política. Pois pensam que o seu voto não faz diferença. E assim ficam apáticos. E quando o assunto é política cochilam… é mesmo, eu vou tirar uma pestana…


quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

Queimadores de pestanas

Caros queimadores de pestanas. Aqui vamos soltar algumas pilulas e aforismos. Gotículas, àtomos, e partículas. Mas, lembre-se, nada substitui a leitura de maior fôlego como diz o clichê. Mantenha a discrição com ela, pois quem lê hoje em dia não é bem-visto. Evite sair sozinho e ande sempre em grupo com outros leitores. Com os devidos cuidados... boa sorte e boa leitura!

Vodafone

Um cara olha para o horizonte de cima de um penhasco. O celular toca às suas costas. Ele atende e uma garota combina com ele de se encontrarem. Ela marca um local. Ele vai até ela e devolve o celular perdido. O cara chega em casa e abraça o pai. Ele ia se matar. A menina não era nada sua. Em segundos uma estória com começo, meio, fim, e um plot foi contada numa propaganda.

A Traça Empoeirada

Ah, a literatura... Esta Akasha visível! Audre Lorde escreveu: "A poesia não é um luxo!" Vargas Llosa disse no Roda Viva que ela tende a se tornar algo exótio. Isso faz com que eu sinta-me estranho como Gregor Samsa que virou uma barata no livro A Metamorfose. Mas, não, eu sou uma traça empoeirada em meio à poeira de Pergunte ao Pó de John Fante.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O lugar impossível

Existe um povo que vive do outro lado da ponte. Quem é daqui diz: "O povo do outro lado..." Quem é de lá diz: "O povo do lado de lá." O povo de cá diz que o povo do outro lado da ponte é estranho. O povo do outro lado da ponte diz que o povo do nosso lado é esquisito. Dependendo do lado da ponte em que esteja você estará sempre do outro lado. E o outro lado é o lugar do outro. E o lugar do outro é impossível.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Estou perto

Nós estamos fazendo de tudo para aparecer. Eu vou meter a minha cara ali no meio. Não funciona. Olho no telão e não sou focalizado pelas câmeras. No palco todo mundo empurra o outro. Os velhos, adolescentes e as crianças, também. Ninguém é bobo  Eu viro para o diretor do espetáculo e digo: "Eu prefiro trabalhar nos bastidores." É mentira. Mas, é uma maneira de garantir um lugar perto daquela coisa que eu gosto que é aparecer. É como ser juiz ou goleiro. Ou crítico de artes, editor, produtor, professor de artes. Somos todos artistas frustrados. Eu garanti o meu lugar. Ao menos estou perto.

Fazer e Esperar

Os sonhos de espuma de cevada e os sorrisos abertos e esmaecidos dos dentes amarelados se esvaíram qual fumaça de nicotina. Não sobrou nem o reflexo no espelho do hotel. Das gargalhadas não ficou o tom. Agora é hora do amarelo da cafeína e de contar as horas, e de fazer, e esperar, fazer, e esperar, o trem, o ônibus,  o chefe, a encomenda. Fazer e esperar

Nowdays

 A vida é viver, se divertir, e ser feliz,

dizem atualmente.

Mas talvez a vida seja:

estudar, trabalhar, e resolver problemas.

Senão fizer essas coisas você não come.

E senão comer,..

você não vive.

"Quanto a vida, hoje eu sei que ela não é nem boa nem ruim.” Henry Miller com mais de 80 anos.

domingo, 4 de dezembro de 2022

Uma garota chamada Pós-modernidade

Ela chegou com o seu telemóvel e sentou à janela. Sem ter o que dizer puxou assunto: "Você gosta de quê?", "Eu gosto de me divertir e ser feliz...", "Eu gosto de cozinhar..." ele completou. "Quando estou com fome eu peço uma pizza." Ela disse. Ele: "E o que você lê?", Ela: "Redes Sociais." Ele: "Gosta de música?" Ela:"Só os refrões das novas. As partes são chatas!". Ele: "Qual é o seu nome?" ele tentou a última vez. "Pos-modernidade." Ela respondeu. Ele desestiu, pois assim como o seu nome era estranho demais para aquela garota.

A crônica de domingo para Mario Vargas Llosa

Escrever hoje é como falar sozinho no passado. É coisa de doido. Pois são raros os que cultivam o bom hábito da leitura em meio a um mundo de estímulos visuais onde a diversão a imposição da felicidade veloz e explosiva. Gosto de escrever uma crônica aos domingos, pois isto lembra algumas famílias que reunidas aos domingos tomam o seu “breakfast” de pão com mortadela e café com leite antes da feira com pastel e caldo de cana, e o jornal ao lado na cadeira sempre à mão. Famílias de classe média ou classe média baixa. No jornal jogado estão as críticas das novelas, e os seus resumos. Do teatro, cinema, crônicas futebolísticas, políticas, quadrinhos e reportagens. Eu fazia sempre à ronda do Segundo Caderno. Ia na casa de quem assinava O Globo e perguntava: “Posso ficar com o segundo caderno de ontem?”, “Ah, sim. Eu ia deixar para forrar o lugar do cachorro, mas tem suficiente ali…” Mas eu ia escrever um crônica sobre literatura. Eu gostaria de indicar os livros de um escritor que amo e que acho incrível. Ele é um peruano. Ganhou um prêmio Nobel e tudo. Eu não quero saber sobre as suas opiniões políticas ou com quem ele é casado. Mas, os livros desse homem são de humanismo e sensibilidade. Em seus romances ele também denuncia os mandos e desmandos de regimes totalitários. Vou nomear alguns publicados em português. Livros magníficos: “A Guerra do Fim do Mundo.”, “Conversa na Catedral.”, “A Festa do Bode”, “Lituma nos Andes”, “Tempos Duros”, “O Paraíso em outra esquina”, “Batismo de Sangue”, “Travessuaras de uma menina má”, “O Sonho do Celta”, “A Casa Verde”, “O Elogio da Madrasta.” Só para citar alguns. Lembrei dele pois estou com um livro dele que vai na metade e se chama “A Sociedade do Espetáculo”. Um livro que analisa a sociedade em que vivemos. Bom domingo e boas leituras para todos.

sábado, 3 de dezembro de 2022

Assédio

Ela sonhava poder explodir a cabeça daqueles homens tarados. Filhos da puta do caralho que não podiam ver um rabo. Estourar o crânio de um deles com a sua 45 e ver os seus restos escorrendo e o sangue salpicando em seu rosto e nas paredes. Desde criança chamou sempre a atenção por suas nádegas duras e arredondadas, e o seu corpo forjado em simetria com um rosto magnético. E agora como policial não era diferente. Ouvia piadinhas dos colegas e dos bandidos das ruas. Logo que passava eles disfaraçavam para olhar a sua bunda. Negra, o seu ódio aumentava por ser olhada mais com desejo do que com temor. O pai sempre dizia: "Ah, minha pretinha linda..." 

Ele era um fracassado de 45 anos. Fazia parte do lixo branco. Desempregado não tinha gasolina para pôr o carro velho a andar. Professor que não havia aprendido a ganhar dinheiro. Só ensinava uma história de merda obsoleta que não dava futuro a ninguém. Quando decidiu topar o desafio de transportar um quilo de pasta base de cocaína. Antes disso havia tentado de tudo, Big-Brother, sorteios, loteria, jogo do bicho, raspadinhas, e nada. Completar seis anos desempregado com a idade que tinha nem fodendo. País de merda.

Ele suava no ponto de ônibus. A maconha deu uma bad e ao invés de viajar na vibe e acalmar ele ficou paranoico e não podia ouvir uma sirene que tomava susto. A policial no ponto de ônibus parecia olhar para ele. Será que ela sabia de algo? Só poderia ser paranoia sua. O ônibus não vinha, o tempo voava, e o suor havia começado a escorrer... Quando a princesa negra sacou da pistola e arremesou o seu tronco em direção ao carro pondo as algemas nele. O macho adulto branco pensou que era uma emboscada. Ela disse: "O senhor está preso por assédio." 

No trajeto à delegacia eles irão pedir a droga, isto foi o que ele pensou. Vão tentar me subornar. Mas, nada disso aconteceu. Ele teve de vender o carro. Dormiu na cadeia e saiu sob fiança. Não tocaram em sua mochila e ele conseguiu devolver a droga ao traficante. Aquela vida de esperto não era para ele. Nem a humilhação de eterno desempregado. Meteu uma bala na cabeça sem precisar da ajuda de ninguém.