eu vejo as palavras sumirem após a digitação. então viro para olhar o caminhão de lixo que faz barulho próximo à minha janela. depois que leio, lixo extraordinário, as palavras somem. de repente ao olhar o boné que descansa no braço do sofá, percebo que o nome impresso em sua aba desaparece. não é um bloqueio criativo. não é como sentir a angústia de viver num país onde se lê pouco. não é como estar cego, ou de mãos atadas. não é como escrever algo, e depois não gostar. e não é como não entender o que está sendo dito. não existem mais as palavras. acabou. as pessoas falam. você vê os seus lábios em movimentos, mas não ouve o que elas dizem. as palavras pulam como pipoca na sua frente, e desaparecem como bolha de sabão, e não importam mais os erros ou os clichês. é como se diminuíssem o volume suficientemente para não se ouvir mais nada do que o outro diz. é o fim das palavras. e isso é pior do que o medo do livro eletrônico. talvez a gente volte a tradição oral. antes se sabia onde armazenar conhecimento. mas, agora, com o fim das palavras...
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