No último ano ele
relutou mais. Ao mesmo tempo sabia que era o seu inconsciente tentando
dominá-lo. No dia do lançamento do livro estaria lá. O terceiro. O último da
série. Da trilogia. E o último capítulo dessa sua trilogia tresloucada. Era
vítima da mesma obsessão acometida por Beatriz a Dante Alighieri. Ouvia o seu
interior agitado. Embora pessoalmente fosse um tímido incapaz de pronunciar uma
palavra e temeroso até mesmo de abrir a boca. Clichês. Os conselhos suburbanos
vinham à tona. Casamento se acaba até na porta da igreja! Filho não segura
ninguém! Ele fez o mesmo trajeto sem olhar para o balcão. Pensou novamente que
ela podia ter morrido, faltado ou sido mandada embora. Mas não se entreteve com
esses pensamentos. Foi até a prateleira com uma nova determinação. Dessa vez, ruim
de tudo, estaria livre. No mais, não havia o que temer. O escritor havia dito
que esse era o último da série e ponto final. Ele olhou para o caixa. Ela havia
cortado e pintado o cabelo. Estava mais bonita e vestia uma jardineira. Ele
olhou para ela e o coração deu aquela porrada. Ela olhou para ele e ele sentiu
aquele mesmo olhar primário de admiração. O rosto dela se iluminou de maneira
que deixasse bem claro o prazer de ver aquela pessoa. Ele pagou. Ela disse: é o
último. Sabe aquela esperança ridícula a qual temos de nos agarrar às vezes,
então, ele se agarrou a ela. E a menina disse: espero que dessa vez você me
convide para tomar um café. Ele disse: sim, claro. Ela disse: chega aqui nesse
mesmo horário. É mais ou menos no fim do expediente. Ele disse: até amanhã,
então. Ela compreendendo a sua timidez respondeu: até amanhã. Ele
saiu veloz para que ela não gritasse o seu nome o chamando de volta. Essa noite
um rapaz naquela cidade não iria dormir de tão ansioso que estava.
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