ele pedala pela rua principal do centro da cidade. o centro da cidade todo é esta rua. é uma cidade pequena do interior. uma dessas cidades que crescem em volta de alguma fábrica. a única diferença é que onde ele vive tem cachoeira, e faz frio. pois fica no alto da serra. enquanto o Garoto da Bicicleta pedala passando o canivete nas portas das lojas que estão fechadas, pensa que se o Gordo estivesse por perto eles poderiam jogar videogame. ou quem sabe andar de moto com o Cérebro e o Cabeça. Mas não. foi todo mundo para o litoral atrás daquelas praias. e daquela balbúrdia. todos eles atrás dessa festa idiota. só ele não foi. e mesmo o Velho Comandante estava fora com os netos. o Garoto adorava parar na barbearia para ouvir aquelas histórias de marinha. ele deu meia volta com a bicicleta. parou na esquina, e imaginou que talvez deveria tentar ler um daqueles livros que a sua mãe mantinha na estante contra a vontade de seu pai. a mãe dizia: as palavras ficam! e o pai: são apenas um monte de palavras empoeiradas... quando foi visitar a avó na capital, ele entrou numa livraria enorme com a mãe, e chegou a conclusão de que existiam muitos escritores. e que se a mãe insistia tanto para que ele lesse, e se todos aqueles caras e aquelas mulheres também perdiam tanto tempo a escrever, devia ter alguma importância naqueles livros. ele ia deixar de preguiça. e iria tentar ler um livro pela primeira vez. pedalou de volte em direção de casa.
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