quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Henry Miller...

Henry Miller vai para o inferno e arrasta o leitor junto. e depois ele te mostra a luz. talvez por isso o nome de sua trilogia se chame A Crucificação Encarnada. ele mesmo diz que um homem para chegar ao paraíso tem de conhecer o inferno primeiro. sendo ele o narrador, memorialista, até onde é possível, Henry Miller divide o ponto de vista com você. fazendo com que experimente suas vivências. você se vê transladado para os sentimentos de Miller. em algum momento se sente confortável. Henry Miller disse que um homem que nunca sofreu com as suas próprias neuroses, não sabe o quê é sofrer. é isso que ele nos apresenta. as suas neuroses. da mesma forma que o esgoto exposto do Brooklyn em A Primavera Negra. Henry Miller disse que se tivesse lido o Tao Te Ching antes não teria sofrido com todos aqueles conflitos. acredito que no Big Sur ele tenha dito que não guardava mágoa de ninguém do passado. essa é a mesma impressão que se tem ao ler Henry Miller. a insatisfação de não ter lido, ou compreendido Henry Miller antes. Henry Miller é libertário. leia o início de Trópico de Câncer em que ele se diz. não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. ele afirma. sou o mais feliz dos homens vivos! ou aquela passagem de Marússia. em que ele responde ao homem que diz que os americanos são ricos, Henry Miller diz que eles são ricos, sim, ricos de espírito, que ele não tem dinheiro, mas que irá para Atenas, e que vai conseguir o dinheiro para comprar a passagem. Henry Miller ficava feliz por qualquer coisa, pois sabia que não tinha nada. uma passagem de um livro. uma paisagem. o cheiro de uma comida. um rosto de uma mulher. tudo é sublime porque estar vivo é uma sorte. ele destruía o mundo para depois edificá-lo ao máximo. era forte como Walt Whitman, ou Blaise Cendrars, homens que admirava. o seu ponto de vista é sem maquiagem. para Henry Miller não existe gênero, raça, cor, nacionalidade. ele ri de si mesmo. detesta a si mesmo. e ama o ser humano, fingido e patético. ele amava viver. simples. talvez por isso continue vivo em seus livros. clichê. Henry Miller publicou seu primeiro livro depois dos quarenta anos. incentivado por Mona ele foi para a França. havia abandonando tudo para escrever. emprego, família. aprendeu uma nova língua. depois recomeçou a vida em Big Sur. com as dificuldades de se morar em um local isolado, criar crianças, e levar uma vida simples. com a qual se aprende muito. Henry Miller encarou a si próprio para recomeçar. E morreu velho. como morrem os homens sábios.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Rio de Janeiro Lugar Limpo e Pacífico...

você olha a manhã pela janela. faz um dia bonito. você diz. eu vou comprar pão, e aproveitar para pegar um solzinho. os pássaros estão cantando em frente a sua janela. o beija-flor bebe a água que você deixou para ele num daqueles troços de plástico que vende na feira, e que têm flores artificiais em volta. você caminha olhando o céu azul. na esquina da padaria um caminhão arrasta um carro e uma árvore. começa a esquentar. a temperatura. e as pessoas. você vê o trocador do ônibus dizendo ao motorista, que palhaço! o motorista olha para o retrovisor com aquele olhar de gavião. de rabo de olho. ele bufa atrás do volante. parece que vai jogar o ônibus em cima do carro do cara. na entrada da favela você vê os policiais abordarem três moleques pretos. de mão pra parede. eles devem ter entre treze, e quinze anos. o moleque do banco da frente diz. tenso. o senhor está discutindo com três mulheres com uniforme da Claro. ele grita. você não é a gerente! você é a gerente?! a mulher grita ao telefone. manda ele pro inferno, Soraia! os camelôs saem correndo. aconteceu alguma coisa. mais, mas, o quê? você olha as imagens do arrastão na tevê. você está em pé em frente aquele pé-sujo. você olha as pessoas correndo na praia. você diz pra mulher. caralho, anos noventa!

sábado, 19 de setembro de 2015

Fatmagul! 3

Resat Yasaran cospe para o filho. e para o sobrinho. idiotas! nós demos tudo a vocês para quê? para que no final vocês se comportassem como animais! a decoração da sala é suntuosa. Yasaran parece um bicheiro. ele tem relógio e cordões. anda de camisa com o botão de cima aberto. e sempre põe a mão no quadril e a outra para o alto quando dá esporro. o velho de barbicha branca insinua. ele é o dono do vilarejo. ele é o dono da cidade. o playboy de olhos verdes e barbicha serrada, primo de Selim Yasaran, ele não tá nem aí! ele olha para a secretaria. Resat Yasaran é grisalho. magro. Resat tem uma presença imponente. ele é impetuoso. implacável com os inimigos. ele estraçalha. bate na cara do filho. a noiva do filho viu. ele olha para eles, e diz que se eles saírem da linha outra vez, eles não imaginam do quê ele será capaz. de maneira intrínseca insinua de que pode passar por cima do vagabundo miserável. ele seria capaz de matar o próprio filho. é isso que ele quer dizer. o irmão fala no mesmo tom. o primo de Selim olha para a secretaria com olhos de gavião, mal sabe ele que ela é a comidinha de Resat. eles são uma família de mafiosos. o irmão de Resat fala com o filho, e com o sobrinho no mesmo tom. antes de sair da sala eles ficam sabendo que irão trabalhar. e trabalhar. a mãe de Selim sofre tremendamente. o pai da noiva liga para saber que história é aquela nos jornais. é impressionante o diálogo de Selim com o pai. é um pingue-pongue. a mãe de Selim sofre horrores por causa do filho. ela vê o quanto o filho se parece com o marido. o filho só está preocupado em proteger seu casamento e o negócio do pai. e o pai consequentemente. em nenhum momento eles pensam em Kerim ou em Fatmagul. Da mesma forma que Mustafá só se preocupa com a sua honra. que ele diz que está manchada, mas que ele irá limpar com sangue. em nenhum momento se refere ao sofrimento de Fatmagul a mãe morrendo pede que ele jure a ela que não vai fazer nada. mas Mustafá é sangue no olho. só pensa em vingança. ele diz que não pode prometer algo que não vai cumprir. Mustafá queimou a casa em que ele ia morar com Fatmagul. tão grande é seu ódio. a noiva já sabe. sofre. o seu pai liga para Resat. ele quer esclarecimentos. tanto ele quanto o filho negam aquela história. quando uma mulher vai a casa de Fatamagul pegar de volta a aliança, ela diz, não mate o mensageiro! Kerim marcou uma conversa com os playboys. eles estão dentro de um iate. o clima fica tenso como num filme de Hitchcock vira um tríler psicológico. Kerim diz que não suporta ficar perto da garota. que fica olhando para ele. ele não suporta ficar perto dela. ele está atrelado a ela. eles não. ele diz que eles são uns vermes. depois que o Kerim saí e deixa os parasitas sozinhos. eles conversam entre si. nenhum deles tem conseguido dormir. na hora em que Kerim avança a mão para segurar o copo. Fatmagul vê a marca em seu braço. a marca daquela noite. ele puxa a manga da camisa. ela olha para ele com ódio. eles estão naquela pensão em Istambul. Fatmagul está sentada numa cadeira. de costas para janela. é possível ouvir a voz do seu irmão em off. Fatmagul, onde você vai? espera Fatmagul! Mustafá acorda o careca com as duas mãos em seu pescoço. Mustafá diz, você vai me dizer tudinho o quê aconteceu aquela noite. o careca diz para os playboys. idiotas! ele é um advogado de porta de cadeia. será tio de Selim? o careca logo se recompõe, e com a sua frieza leva Mustafá na conversa. a trilha sonora é passional. o cenário da pequena cidade praiana de pescadores, é paradisíaco. idílico. mas eles sofrem. a pressão psicológica é insuportável. o careca diz a Mustafá que não é nada disso. e que Fatmagul é que armou aquela história de estupro. Mustafá leu o jornal. em sua fúria só ele havia dado uma passada na casa de Kerim. ele só não bateu em sua tia. mas quebrou tudo que viu pela frente. e com todo ódio cortou o nome de Kerim escrito na árvore. Fatmagul olha para o canivete em cima da cama. ela pega o canivete. e vai enfiar em Kerim que dorme. ele acorda. e segura a sua mão. saí batendo a porta. logo após, ou antes. Fatmagul se senta de costas para a janela. é tão linda Fatmagul... parece uma menina brasileira de verdade. deve ter uns vinte anos.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Samo Está Morto Basquiat Está Vivo!

Samo is dead. Basquiat está vivo. andando por aí. Basquiat caminha no centro da cidade. anda de um lado para o outro com a pilot na mão. rabisca frases aparentemente desconexas nas paredes. no banco do busão. breath teeth. Basquiat vaga pela cidade. dorme pouco a noite. no sofá de amigos. aqui e ali. mal tem onde dormir. come sanduíches de queijo. anda com roupas folgadas para o seu corpo. o seu cabelo tem um corte peculiar. reconhecível. Basquiat diz que não tem nada diferente para falar. diz que não se lembra do quê sente raiva. Basquiat deu uns pegas na Madonna antes dela ficar famosa. Madonna tem apenas três músicas na época. Basquiat já tem uma obre imensa. sua namorada Vênus, Suzzane, parte pra cima da Madonna na Roxy. Basquiat pinta sobre a briga. Basquiat tem uma banda de jazz. instrumental. e ele quem nomeia as músicas. uma delas se chama Mona Lisa. Basquiat tem uma banda chamada Gray. é um som experimental. será minimalista. não sei. Basquiat caminha sobre os corpos dos viciados em Heroína que infestam o Soho. Basquiat dorme e trabalha no estúdio. vende seus cartões postais com embalagens de bala. Basquiat pinta ouvindo jazz. John Coltrane. escuta David Byrne. pinta ao som da música. faz isso compulsivamente como se fosse a única coisa interessante a ser feita sobre a Terra. Basquiat começa a usar cocaína. fica paranoico. cobre as paredes do estúdio de preto e branco para não ser visto. diz que o serviço secreto está atrás de si. desconfia das pessoas. começa a usar heroína. saí na capa da New York Sunday Times. Basquiat está de terno. mas do mesmo jeito em que podemos encontrá-lo quando pinta. o cara que promove a arte de Basquiat chega ao estúdio. não necessariamente nessa ordem cronológica. Basquiat está chapado de ópio. Suzzane diz que quando Basquiat usa cocaína a sua pintura é mais detalhada e que quando ele está chapado de heroína, a sua pintura é mais expressionista. Ela consegue perceber. Basquiat vende um de seus postcards para Andy Warhol. um desses que valiam dois dólares e que hoje valem uma fortuna. Basquiat decora apartamentos de yuppies de Wall Street viciados em cocaína. que recebem o pó no açucareiro. a sua arte se torna um comodities. Basquiat expõe junto com Andy Warhol. a crítica detona a exposição. Basquiat está deprimido. paranoico. parecendo um velho de oitenta anos. Basquiat morre de overdose. Basquiat morre aos vinte e sete anos. assim como todos os grandes. Jimi Hendrix. Kurt Cobain. Jim Morrison. Janis Joplin. Amy Winehouse...

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A Casa da Família...

a casa vivia cheia. eram muitos filhos. eles se reuniam a noite em volta da televisão. iguais famílias de civilizações antigas se reuniam em volta da fogueira. o pai e a mãe conversavam até tarde. todos os dias. mesmo depois que os filhos já estavam dormindo. durante a manhã era aquele alvoroço. e o batalhão, como dizia a mãe, se arrumava para ir à escola. o pai e a mãe saíam trabalhar. nos finais de semana, aos domingos, eles tomavam o desjejum juntos. o pai ia cedo a padaria comprar pão, a mortadela, o leite, e trazia o jornal. eles sorriam. e juntos faziam aquele almoço suntuoso. depois que a mãe morreu todos foram embora. o pai foi  o último a abandonar a casa. agora eles pouco se vêem. se falam sazonalmente. e se cumprimentam educadamente. é como se fossem estranhos. isso quando não param de se falar. a casa está vazia, mas ela continua respirando. é como se sentisse a falta deles. e ainda é possível ouvir suas vozes. e se deparar com o vulto dos vivos. mas isso já é passado. assim como o início do texto que você acabou de ler.

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cadê Você Meu Querido Henry?

ontem eu me lembrei de você meu amigo Henry. de quando você descia a rua gingando e sempre trazia uma carta na manga. você se virava e me dizia, hei, man! está com sede? eu dizia. estou. você me perguntava. quer tomar Coca-Cola? eu olhava para a cantina da escola, e dizia. mas eu não tenho dinheiro. e você me dizia, eu perguntei se queria beber Coca-Cola. não perguntei se tinha dinheiro. você via alguém sentado no pátio com a Coca as suas costas. alguém cujo pai devia dar mesada, e daqui a pouco você aparecia com uma Coca-Cola. e matava a nossa sede. e a gente dizia, amo muito tudo isso! eu me lembro quando você se deitava no chão se fingindo de morto. enquanto eu e os moleques da rua acendíamos uma vela ao lado do seu corpo. e te cobríamos com jornal. você com os pés para fora do jornal... a gente adorava quando vinha uma daquelas senhoras, olhava e dizia, coitado, que pena dessa mãe! elas acreditavam que era apenas mais um daquela época que havia sido morto. e a gente caia na gargalhada. eu me lembro que quando a aula estava chata, você entrava na secretaria para roubar as carteirinhas, enquanto eu sempre o mais medroso e o mais covarde, apenas vigiava. você pegava de volta, a minha carteirinha e as sua já com a presença carimbada em azul. e a gente caia fora. ou pela porta da frente. ou pulando o muro. e estávamos livres! livres! eu me lembro de quando não havia dinheiro para comprar fichas de fliperama, e você dava um jeito. para tudo que fosse verdadeiramente importante você dava um jeito. eu me lembro de você travando as bolas do totó. ou virando a mesa para que a ficha caísse. ou pegando um pedaço de arame. para tudo você tinha uma solução. até quando aquele cara mais forte que todos nós resolveu nos bater... e você veio com aquela. eu me lembrei de você meu amigo Henry! e me lembrei de como nós éramos inteligentes naquela época, criativos, espontâneos. quando a mentirinha chamada sociedade não conseguia nos ludibriar com a sua aparência sã. mas você sumiu no mundo... e a gente acaba "crescendo", e ganhando essa aparência de "saudável". de sensato. e temos de sufocar tudo aquilo que cala fundo em nosso coração. pois os clichês quase sempre são verdadeiros e temos de fingir que não acreditamos mais em nada daquilo. e que tudo que pensávamos era coisa de gente inocente. como se toda aquela rebeldia utópica não fosse verdadeira. aí nós temos que fingir, que acreditamos em toda essa mentira. em todo esse circo que os homens criaram. para que a gente possa se parecer com os idiotas.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Qual é a Contrapartida do Artista?

o seu trabalho.
o que o artista faz para contribuir com a sociedade?
o seu trabalho.
assim como,
o médico, o professor, o gari...

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O Pai da Menina do Vídeo que Vazou na Internet...

a menina está deitada na cama. ela acabou de descobrir que o seu corpo está exposto por toda a internet. todo mundo acordou podendo ver seu corpo na rede mundial de computadores. em cada parte do globo que existisse um mínimo equipamento que se conectasse a internet poderiam ver seu copo. ele agora era de domínio público. a intimidade que ela tanto tentara preservar, até a sua noite de núpcias com o namorado. como ele, dizia. estava em toda a rede mundial de computadores. ela queria ser descolada como uma daquelas mulheres que exibiam os seus corpos em revista sem o menor constrangimento, talvez não fossem ligar para nada daquilo. ela não era uma mulher posando ganhando milhões para tirar a roupa. não. ela havia tirado a roupa para o namorado. e não ia depois de aquilo dar entrevista, ou subir para a cobertura de um prédio. ela teria de encarar as pessoas no dia a dia. na escola. na rua. os vizinhos. o ataque havia começado. quando ela abriu o seu Facebook, já havia mensagens sobre o seu peitinho. Suzana só tinha uma certeza. ela iria dar um jeito de se matar o mais rápido possível. agora ela não entendia porque o pai viera até ali. porque ele não a deixava sozinha. ela estava com a cabeça embaixo do travesseiro de tanta vergonha que sentia. o pai sentou a cama, e ela sabia que ele iria contemporizar. e tentar dizer alguma coisa que desestimulasse uma atitude mais drástica. Jorge sabia que era jogo perdido tentar chamar atenção da filha. o pior de tudo já havia acontecido. quando ele se dirigiu a ela, e disse, Suzana, ela disse, eu tenho vergonha de você. a voz de Suzana parecia saída de um túmulo. de um buraco muito escuro. Jorge disse, pior do que isso, eu fiz abandonando você ainda criança. Jorge continuou. sabe Suzana, o quê você fez, está feito. e você vai sofrer as consequências do quê fez. agora, eu te pergunto. quem nesse mundo todo, de bilhões de pessoas, que vai assistir a esse vídeo ou a essa foto. quem deles se preocupa verdadeiramente com você. quem deles já te perguntou algum dia, como você estava se sentindo, ou te ofereceu alguma coisa. ou mudou de opinião por algo que você disse ou pensou. você é apenas uma Suzana. existem milhões de Suzana. você vai se matar, por isso? mas e as pessoas da escola da minha família. o pai disse, filha. a gente se muda. faz o que for. mas a vida irá continuar. e a partir de agora esse vídeo faz parte da sua história. não para te lembrar que cometeu um erro. mas sim, que a vida continua. pois ela sempre continua, independente de você.

sábado, 29 de agosto de 2015

Sherazade...

a senhora diz detrás do balcão. vai começar a minha novela, a Sherazade! para de ficar para lá e para cá com esse controle! o velho com o controle na mão diz a Dilma. você foi trabalhar de bicicleta, Dilma? um cliente está encostado num balcão com uma cerveja esquentando a sua frente. num daqueles botecos debaixo do viaduto. o velho continua, ela engarrafou tudo. ela foi de bicicleta. mas levou carros com ela. e ainda atraiu a atenção dos curiosos. o cliente sorri. o velho continua. não vai de Bike, Dilma! não tem ciclovia! alguns presidentes vão trabalhar de metrô porque em seus respectivos países dá pra fazer isso. coitada da Dilma que tem que pedalar num canteiro. cuidado Dilma, para que não apareça o filho do Eike Batista derrapando, e te jogando longe! ou o filho do Pitanguy subindo na calçada de repente numa numa rua tranquila. ou o filho de alguém que nunca vai ser preso porque tem dinheiro. e cuidado para que os ladrões de bicicleta não roubem a sua bike. cuidado com as facadas por todo o país. seja por nosso machismo. ou por nossa agressividade. que não é associada a imagem melíflua que o nosso turismo sexual criou. quem não vai sorrir com uma gorjeta em dólar, ou em euro, Dilma? mesmo depois de ter devorado uma de nossas criancinhas. ou uma de nossas lindas "meninas", e nossos lindos "meninos". o cliente diz para descontrair. mas esse Pitanguy é velho! acho que ele vai substituir o Niemeyer! a mulher diz. a Dilma emagreceu. ah, ele emagreceu sim... emagreceu, e muito! agora se foi por stresse. ou para se manter a forma... é o preço do poder! começa a Sherazade. e todos olham vidrados para a tevê.

Prometeu Acorrentado...

O menino dorme sozinho num dos quartos do segundo andar da casa grande, e branca. dorme é uma forma de dizer. pois aquela noite será tão longa quanto as outras. O menino teme o mico que se encontra preso a árvore. ele ouve o guinchar ensurdecedor do mico durante o dia. o medo agora é a enorme aranha na parede. ou melhor, a sombra enorme da aranha. de manhã, com a chegada da luz do dia. o medo se desvanece.

sábado, 22 de agosto de 2015

A Fita Do Noel...

o maluco do trabalho que havia me emprestado a fita do Cartola, também me emprestou uma fita do Noel. eu pus os pés no ônibus. paguei a passagem. dei boa noite ao cobrador. fiquei no último assento alto. na janela. o maluco que era para me cobrir havia faltado. então tive de ficar até tarde no trabalho. sem ganhar hora extra. puxei o walkman. dei o play. não acreditava que estava ouvindo aquelas raridades na voz do próprio. não havia internet aquela época. subiram dois malucos pela frente. com isopor. como se fossem vender alguma coisa. o quê estava com o isopor puxou um trinta e oito enferrujado lá de dentro. eu ia tirando sorrateiramente a fita. quando ele disse, passa essa porra pra cá! eu ia dizer, amigo... ele fez a aquela cara de filme americano. e disse. eu estouro seus miolos! joguei a fita dentro do isopor. o walkman era emprestado. também.

A Fita do Cartola...

um maluco do trabalho havia me emprestado a fita do Cartola. um maluco que tocava bandolim. branco, e de óculos. infelizmente não lembro o nome dele. alvoraçado eu abri a porta. joguei a mochila no sofá. a minha mãe estava na cozinha. dei um beijo em seu rosto. ela perguntou, vai onde? terraço! subi às pressas a escadinha de ferro em forma de caracol. tateei o interruptor no escuro. na luz, achei a tomada. abri o compartimento da toca fitas. joguei a fita. e quando explodiu a introdução da primeira música, O Mundo É Um Moinho. as lágrimas escorreram com a mesma velocidade com que cheguei. chorei copiosamente. não chorava por nenhum motivo especial. não era por causa da humanidade, que se mantinha firme em seu propósito lento, e gradual de autodestruição. não chorava por nenhum motivo em particular. e sim, porque havia músicas como aquela... ou a dança dos pássaros no céu. de manhã. olhando a janela. durante o primeiro café. sempre conto a mesma história. pois mesmo em silêncio... aquela introdução me vem à cabeça.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Crack!

eu fiquei extremamente sem graça quando ele falou comigo. pois lembrou do meu nome. ele chamou meu nome. levantou o polegar e sorriu. ele estava sujo, e maltrapilho. carregando coisas. dava pra ver que estava no crack. eu não conseguia lembrar quem era de jeito nenhum. até hoje não sei quem falou comigo aquele dia. sei apenas que nós fomos muito íntimos, pois aquela voz me era familiar. ele parecia ter lembrado de bons momentos quando falou comigo. eu sabia que ele estava destruído pelo crack. eu o vi perto da passarela. o outro ia a minha casa. morava na mesma rua. falou comigo. eu estava do outro lado da avenida. os ônibus passavam. ele pôs as mãos no peito demonstrando o quanto gostava de mim. eu imitei o seu gesto. e olhei pra ele como quem diz, que independente daquela merda toda. eu continuava gostando dele. os meus olhos encheram de água. ali eu me emocionei, e perdi toda a sisudez de machão suburbano. presenciei a expressão de um amigo meu, numa cena parecida, e ela parecia de horror. ainda bem que pude ficar feliz perante um amigo que havia ido parar na rua por causa da bebida, e que agora estava todo arrumado, como antigamente. como quando nós éramos moleques. quando nos conhecemos. mas nunca vi ninguém liberto do crack. sempre vejo aquele moleque correndo, para lá. e para cá. e sempre me lembro dele, que está abandonado ali. tendo alucinações. sendo vítima de rituais. de espíritos malignos, segundo alguns. esquizofrênicos, segundo outros. para todo lado que olho vejo mendigo. gente morando na rua. falando sozinha. deitada na calçada. carregando trapo. esmolando. fazendo suas necessidades a luz do dia. morando no meio do lixo. andando nos trilhos.caminhando nas vias expressas. eu vi aquele moleque branco e o pessoal da favela segurando ele que estava tendo uma overdose. não sei se ele sobreviveu. mas apenas ouvi as pessoas gritando, Playboy! Playboy! Volta, Playboy!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O Repórter...

o repórter se indigna com a menina loura que matou os pais. enquanto isso, Romário se equilibra num vagão da SuperVia, ele pergunta, mas o seu nome é Brad Piti por causa do ator? O outro diz. sim. a minha mãe gosta muito dele. o amigo com nome de jogador de futebol sorri. a repórter pega carona de bicicleta. Brad Piti pensa que ela age igual político em campanha. ela diz as pessoas, nós temos de ter força de vontade. Brad Piti não consegue entender. ele pensa, porque eles têm que ter força de vontade, se os políticos são empregados? não entendo! Obviamente que o repórter está indignado porque os pais mataram os filhos. ele não entende como eles são capazes de fazer isso tendo a vida que tem. Romário em sua depressão chega a chorar na do repórter. não existe nada mais triste do quo pais matando filhos. Romário sabe que no canal ao lado, durante a semana é uma carnificina só. jorra sangue. crianças são esquartejadas. bebês são mortos. baleados. pessoas são enterradas vivas. Crianças abusadas. Um horror. mas ninguém está nem aí! diz o cara com o nome em homenagem ao jogador de futebol. vovós são mortas a machadadas nas periferias. a violência brasileira é feia, e triste. e se aquele repórter tivesse lido O Casamento de Nelson Rodrigues, ele saberia que os doentes estão em todas as classes. se é que ele não sabe disso. pensa Romário. a repórter fica feliz com a presença do secretário de obras, que deu o ar da graça depois de tanto tempo. ele apareceu para asfaltar ruas que nunca foram asfaltadas na história. mas que serão asfaltadas agora quando a humanidade começa a pensar em povoar Marte. ele põe a culpa disso nos governos anteriores, asfalta uma rua. e cai fora. as pessoas que moram na rua ficam agradecidas. E ficam pensando em como ele é generoso em ceder parte do tempo para conversar com eles, que vibram quando o secretário diz que vai fazer alguma coisa. Brad Pit diz a Romário. eu estava naquele vagão da SuperVia que passou por cima daquele rapaz. o repórter só falta chorar. ele está indignado com a mulher que matou o marido para ficar com o amante. ele não consegue acreditar que ela possa ter feito isso tendo a vida de rica que tinha. ele só falta dizer a ela que se ao menos ela fosse uma miserável. Brad Pit chora copiosamente. junto ao repórter que chora na tela da televisão. e repete aquela frase clichê. o mundo está perdido.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Sophie Miller...

Sophie Miller é o tipo de menina que tem dois olhinhos pequeninos e brilhantes no fundo dos óculos. Ela ficou com este ar de inteligente depois que começou a usar óculos. Mas antes disso Sophie Miller já dizia, acho tão bonito quem usa óculos... Sophie Miller ficou com cara de boazinha mesmo contra a sua vontade. A sua voz é igual à voz dessa mulher que nos diz quando devemos acrescentar um novo número ao telefone discado. Sophie Miller parece uma apresentadora de telejornal que eu admiro... Se reparar nas olheiras de Sophie Miller, você irá pensar que ela é algum tipo que não dorme de madrugada. Outro dia perguntei a ela, Sophie, a que horas você dorme, normalmente? Depois das duas... Porquê? Eu disse Nada, não é por nada, não... É só por curiosidade, mesmo... Sophie Miller assiste a um daqueles programas que passam tarde da noite, e que sempre tem um cara metido a inteligente como entrevistador, e outro cara metido a inteligente sendo entrevistado. Sophie Miller é o tipo de menina que lê o livro da moda em pé no metrô. E que ouve músicas com fones de ouvido enormes. Ela conhece as dez mais tocadas da temporada. E música de um ano atrás, Sophie Miller considera velha. Sophie Miller masca chicletes. Fuma cigarros de sabor. Fala do seu cantor preferido com a desenvoltura de um crítico musical. E conhece de cor todas as suas letras. Sophie Miller é o tipo de menina que senta no chão do aeroporto. E que tem fotos das férias espalhadas por tudo quanto é canto da casa. Ela faz pose numa porção de cartões postais pelo mundo, e em fotos com as amigas dentro do banheiro da escola. Sophie faz uma pose de perfil expondo o lado direito do rosto, e dispara a foto com a mão direita estendida, e inclinada para baixo. No espelho vemos o reflexo de Sophie, e os de suas amigas. Sophie Miller usa aquele tênis que tem uma estrela, e que todos os seus amigos usam. Igual aquele casaco que tem o nome formado por três letras. Acho que eles combinam para não repetir as cores... Cada um tem a sua máquina para que se comuniquem em rede. Eles têm perfis em redes sociais, e os polegares tortos. A maioria dos meninos é viciada em jogos, futebol e pornografia. No almoço todos bebem esse líquido escuro que vicia, e comem hambúrguer naquele restaurante onde a foto do funcionário do mês, com o uniforme que incluí o boné, fica pendurada na parede. Mas um dia, quem sabe, Sophie Miller poderá fazer regimes estranhos na busca pelo corpo ideal. Talvez deixe de comer carne vermelha para só comer vegetais. E quem sabe ela passe a defender os animais. Ou as pessoas que moram nas ruas. Você pode ver Sophie Miller próxima a uma rua de shopping chique de qualquer lugar do planeta. Seja no hemisfério norte, ou no hemisfério sul. Usando um traje básico, de short, blusa branca, sandálias, óculos escuros, e chapéu contra o sol que ela segura para que não voe. Sophie viaja uma ou duas vezes por ano. Você pode até pensar em Sophie como uma menina comum, mas quando a gente era criança, perguntei a Kevin Thompson se ele sabia que um de nossos amigos se dizia apaixonado por Sophie, ele disse: Jacob Smith, não seja idiota! Quem não é apaixonado por Sophie Miller? Sophie e Kevin formam aquele tipo de casal que você não consegue imaginar separado, e não os imaginava junto.

Roberto Carlos na Vitrola...

a mãe de Samuel dizia a ele, Samuel, se o seu pai não voltar pra casa eu me mato! eu taco fogo na casa com você dentro! você vai ver, Samuel! você vai ver! eu mato a gente, Samuel... nós dois! Samuel era muito novinho. era criança, ainda. ele estava no início do antigo primário. Samuel olhava para a mãe, e imaginava a casa pegando fogo, crepitando, com eles dentro. Samuel se lembrava daquele filme em que a mãe do psicopata suava. Samuel não conseguia se lembrar se o psicopata morria queimado no final, ou se a sua mãe morria queimada, ou se a casa do psicopata terminava em chamas, pegando fogo. a mãe de Samuel em nada se parecia com a mãe do psicopata. em alguns momentos ela nem parecia irritada. acabava colocando Roberto Carlos na vitrola, e passando a cera vermelha no chão. a cera era de uma vermelhidão, tremenda. ela passava a cera no chão, como se isso fosse a coisa mais importante do mundo. enquanto Samuel jogava bola sozinho no quintal. ou com o primo que era mais ou menos da mesma idade que ele. quando a mãe de Samuel estava de bom humor, ela não falava nem da morte, e nem da piranha que o pai de Samuel havia arrumado. e aquelas manhãs de sábado de sol eram tranquilas. com Samuel jogando bola no quintal.

domingo, 2 de agosto de 2015

Sangue Bom!

tava jogando a pelada de segunda meia noite na praça. quando ainda tinha algum fôlego para correr. enquanto eu passava eles gritavam, tá na capa! físico de jogador de dominó! tá malhando? pele e osso. aí eu me lembrava daquela música em que o Cartola diz, e quando eu passo, a gurizada pasma, horrorizada, como quem vê um fantasma! e o esqueleto humano, assim vai, cambaleando, quase cai, não cai. eu falei pro moleque no meio da pelada. passa a bola, sangue bom! ele explodiu, caraca! sangue bom! da antiga aí, valeu! ele ficou deliciado em ouvir aquela gíria. talvez ela o remetesse a algum pai, ou a algum tio com quem tenha convivido quando era criança. ou trouxesse a ele lembranças da rua.

Bater Ponto...

todo dia naquele horário nós estávamos sentados naquele portão. então ele passava por nós, e dizia. eu vou bater o ponto. e se encaminhava até o orelhão da esquina. um dia eu disse, nossa, que legal... cool. você bate o ponto por telefone! o pai dele me olhou como se eu estivesse viajando. eu havia achado o máximo uma pessoa trabalhar em casa, e bater o ponto pelo orelhão. era algo que me remetia a grandes empresas de tecnologia. achei aquilo super evoluído. e moderníssimo para a visão mundo cão, que parte de nós brasileiros temos do trabalho. quando cheguei a casa comentei o acontecido com a minha esposa. e fiquei decepcionado ao descobrir que o rapaz não se referia ao trabalho. e sim, ao ato de telefonar para a mesma pessoa todos os dias, ritualisticamente, no mesmo horário. fiquei triste ao vê-lo dia seguinte de manhã cedo de uniforme do trabalho no ponto do ônibus.

sábado, 1 de agosto de 2015

A Crise!

ele não sabe responder ao filho porque existem tantas placas de aluga-se, e vendem-se penduradas por todo o bairro. já que quando eles foram procurar casa para alugar, a mãe havia dito que não havia casas para alugar naquele lugar. agora as placas se multiplicavam uma por cima das outras. então ele diz ao filho, é a crise. o filho pergunta, o quê é a crise, pai? ele corta. quando as coisas estão ruins. e o filho insiste, as coisas estão ruim pai. ele diz, sim, meu filho. as coisas estão ruins. mas elas irão melhorar. então o pai se afasta dizendo. vamos embora, meu filho, e o menino o segue... este outro homem estava assustado. não sabia o quê fazer. ele não era alguém que a cerveja conseguisse ludibriar. depois que passava a ressaca. ele sempre se lembrava dos filhos adolescentes. sendo educados ao léu. e ele estagnado naquele emprego. ele sabia que homens que tiveram tudo na vida acabavam espremidos em quartinhos. os seus medos eram muitos. quando olhava para a filha, ele temia que um dia aparecesse com outra criança nos braços. ele se preocupava ao ver que os seus seios começavam a brotar. e pensava. ou eu tenho dinheiro para dar de comer aos meus filhos. ou eu tenho tempo para educar meus filhos. era assim que ele pensava. imaginava quando o filho fumaria o primeiro baseado. e temia que experimentasse  a cocaína. e  crack que era o maior sofrimento que ele presenciava em sua vida. ou que assim como ele, que não admitia ser alcoólatra, o filho bebesse todos os dias. meninas também não estavam livres de nada. ele vivia num lugar onde era perigoso andar nas ruas. na escola em que seus filhos estudavam havia de tudo. agora havia de tudo em todo lugar. às vezes ele sonhava que seus filhos batessem com suas cabeças, e se convertessem a alguma religião. ou quem sabe se apaixonassem por alguma coisa que fosse além da violência, e da pornografia, assim como ele era viciado nessas coisas. ele estava espremido na cama igual a um feto. era apenas uma criança assustada, que se pudesse gritaria. mãe!

domingo, 26 de julho de 2015

Tim Maia, Fábio e Hyldon... Velho camarada!

um skatista desce a rampa. Fábio de branco caminhando canta a parte dele. lentamente. o letreiro anuncia Velho Camarada de Augusto César. Fábio dubla a parte com vozes femininas. faz aquela expressão de felicidade em tom agudo. uma porção de figurantes estão sentados ao fundo. Tim Maia canta a sua parte metido num blazer azul, enquanto dança fazendo pose. Hyldon está sentado no meio de umas minas que são o "must" da época. a cor dos olhos de Hyldon está singular. Hyldon veste calça branca e camisa praiana. todos estão tostados pelo sol. eu não acredito que esteja vendo isso! que ano era aquele, mesmo?

terça-feira, 24 de junho de 2014

Eu Vou Fazer 20 Anos...

eu vou fazer 20 anos. e como eu queria ter aprendido com quinze o que eu sei hoje. teria evitado todos excessos. todos estresses. toda ansiedade que vai corroendo por dentro, toda pressa de viver como se fosse morrer no dia seguinte. pois o mocinho sempre fica vivo no final da estória, e descobre que a princesa é uma boneca inflável, e o príncipe um sapo. quando você se torna uma careca equilibrada sobre uma barriga de cerveja, ou uma cabeleira sedosa sobre uma pança, você descobre que os filhos nascem. e que eles comem, comem e cagam. mas que o sorriso de um deles, vale mais que qualquer flerte. se eu pudesse voltar no tempo teria limpado os meus ouvidos, e prestado atenção quando me diziam, você vai se ferrar por isso! eu não quis acreditar, mas espera lá... eu era muito novo. pelo menos estou vivo. quantos da minha geração morreram assassinados. morreram de overdose. quantos estão jogados nas ruas, entregues à bebida, ou ao crack, ou derramados no pó. pelo menos estou vivo. tenho trabalho. tenho saúde. não me lincharam, e nem me estupraram neste país perigoso em que vivemos. não contraí nenhuma doença em noites sem preservativo. nunca tirei a vida de ninguém. e ninguém tirou a minha. ninguém me prejudicou. e não me matei como tantos fizeram, direta ou indiretamente. que ótimo poder respirar num dia nublado, ou ensolarado. com, ou sem dinheiro. sozinho, ou acompanhado. e que bom poder fazer vinte anos de carreira...

terça-feira, 17 de junho de 2014

Nós Temos de Nos Desviar dos Caminhos Ruins...

...aquela senhora ia em sua cadeira de rodas motorizada pelo meio da rua. havia um ônibus estacionado, por ali, e ela havia emparelhado com ele. só que ela estava na contramão dos carros. olhei para a calçada para saber por qual motivo... e percebi que a calçada se dividia entre carros, e buracos. buracos, e carros. ela seguia tirando finos, impressionantes dos carros que passavam, eu estava distante, mas pude vê-la cruzar a esquina. enquanto rezava para que não acontecesse nada. nada aconteceu. e ainda deu tempo de ouvir um amigo aconselhando o outro. nós temos que nos desviar dos caminhos ruins!...

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Domingo de Copa em Uma Emergência Pediátrica de Um Hospital Público...

...toda criança passa por uma triagem. uma mulher pergunta se a criança tem febre. a mãe do neném entra com ele numa espécie de cabine. agora o neném espera para ser atendido por uma médica. um neném pode esperar mais de três horas para ser atendido. lá fora existe uma barraquinha de doces, salgados, e refrigerantes, passando o jogo. aqui dentro uma menina reclama da demora, a maioria das mães e pais são adolescentes. uma barata sobe pela parede. e faz um longo caminho... uma menina diz que se bater naquela madeira surgem uma porção de baratas. o pior do hospital público é esse tédio. você tenta ler um livro, e os mosquitos não deixam...

sábado, 14 de junho de 2014

Na Rua do Valão...

ele me disse: eu sou um velho inca, eu ajudei a construir Machu Picchu! olhe para essas árvores... consegue detectar a energia que vem delas? é um milagre estar vivo! eu pensei já ter ouvido aquilo, antes. e como se ouvisse os meus pensamentos, ele disse. vocês estão sempre querendo originalidade... o problema não é ter ouvido isso, anteriormente. ouvir todos nós ouvimos as melhores coisas o tempo todo, e o mundo nos mostrando os caminhos o tempo todo. mas o problema é que nós não ouvimos, realmente! nós não conseguimos ouvir uns aos outros... e muito menos perceber o quanto estamos conectados! agradeça todos os dias a natureza por pertencer a esta espécie privilegiada. ele olha o relógio, e diz, eu tenho que ir. terminou a minha hora de almoço. dentro do seu uniforme, ele volta para o supermercado. e eu caminho sem reclamar da chuva fina que cobre o meu casaco.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Já, É!

o moleque grita. Zézinho! Zézinho! a senhora põe a cabeça na janela, ele pergunta, que horas o Zézinho vai descer? a senhora responde, depois do almoço... o moleque diz, já, é! ele esperava que o Seu Zézinho, o marido dela, e síndico do prédio, descesse para que eles pudessem terminar de enfeitar a entrada do prédio para a copa. o escritor diz, eu preciso me concentrar para escrever. eu digo a ele, já, é! e ganho a rua.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Você Quer Saber Tudo?

ele contou que a sua filha havia dito na sexta feira a noite, que ele iria acabar com o fim de semana dela, dá pra acreditar?! aí ele disse para ela se aquietar, que ainda havia o sábado, o domingo, e muitos finais de semana maravilhosos pela frente. o jogador também estava nessa reunião, e aí o jogador disse que aquelas eram palavras simples, sábias e profundas. e lamentou o fato de ter tapado os ouvidos para elas. pois lembrou de tê-las ouvido em algum momento da adolescência. mas o jogador sabia do perigo da adrenalina da idade. de toda pressa, e cobrança por perfeição. depois disso o mordomo serviu o chá, e disse que estava um lindo dia lá fora, para quem conseguia desviar o olhar do lixo nas ruas, e dos pontos de ônibus, superlotados. o céu estava azulzinho. as árvores esplêndidas. foi aí que tocou She`s Leaving Home dos Beatles ao fundo... você quer saber tudo? leia um livro!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

BRT...

ele disse, sabe cara, nós devemos conscientizar as pessoas, e parar de esperar pelos políticos, vamos agir como uma verdadeira comunidade, e espalhar essa ideia nos botecos, nas igrejas, nas escolas, vamos comentar com os nossos amigos. pois nós sabemos que esse BRT é uma máquina de matar pobres. então o quê nós temos que fazer, pois o bochecha corada não sabe o quê faz parte da nossa cultura, e que assim como em Madureira, aqui na Penha, quem fecha alguns sinais é o povo! as pessoas vão ter que se acostumar a atravessar todas aquelas pistas nas horas certas. nós temos de dizer isto a elas, independente do que elas pensem. não dá para mudar o que já está feito. é uma questão de vida ou morte. ele disse, até mais, cantor! eu disse: até mais! ele pulou dentro do ônibus para vender balas.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Lei da Palmada...

não há educação,
não há saúde,
não há cultura,
então não deve haver palmada...

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Fante, Bukowski, e Bandini...

eu conheci o Fante na biblioteca. por intermédio de Bukowski. eu não gostava muito do Bukowski, porque ele tinha aquela fama de beberrão, e de brigão no meio da rapaziada, como se ele só fizesse beber, e foder o tempo todo. a rapaziada ficava tentando imitá-lo, e isso me irritava. mas aí ele me falou sobre como havia conhecido o Fante, e eu achei aquilo curioso. ele me disse que eu ia gostar de conhecer o Fante. então eu conheci o Fante numa tarde, e ele me apresentou ao Bandini num quarto de pensão onde eles moravam, um lugar todo empoeirado. Bandini e Fante me disseram que aquele havia sido um ano ruim, eles falaram sobre Bunker Hill, sobre a juventude... e Bandini me falou sobre aquela primavera... depois nos encontramos novamente a caminho de Los Angeles. e eu percebi que toda aquela história havia começado ali. quando me reencontrei com Bukowski, ele me contou a sua versão da história, e eu gostei de trocar ideia com o velho sujo. foi só isso doutor, ele bate o cigarro no cinzeiro, e diz. o meu depoimento termina aqui. eu desligo a televisão. e pego um livro.

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Isso Aqui É Flamengo!

excelentíssimo presidente Bandeira de Melo, hoje eu vi um dos ícones da minha infância. outro dia um deles entrou aqui para consertar o telefone. nós nos comunicamos pelo olhar. pois na correria do dia a dia, é necessário para que você diga a pessoa o quanto a estima, e o quanto a quer bem. somos um time que joga com o olhar. por música, como se dizia na época em que o Jayme e, ou, o Andrade jogava a deixa era o olhar... eu perguntei a ele, e o Flamengo? ele disse, o Flamengo está ruim. e apontou o polegar para baixo. eu disse a ele, parecia que eles estavam jogando de sacanagem! ele confirmou, e descobri que não estava enganado. eles não ganharam aquele jogo sozinhos, sem a nossa ajuda, aos quarenta e cinco do segundo tempo. literalmente. com um gol impedido. eu me lembro de um radialista ter dito, quem fez aquela gol foi a camisa do Adílio, e do Elias! e por falar nisso, o caos começou ali... com aquela frustração do Elias. eu vi uma foto do Léo Moura com os caras num jornal. eles estavam comendo antes de um jogo da Libertadores. e ali eu soube que eles não iriam ganhar, sei lá, a cara de sono deles. já que o time é a torcida, jogador, entra, e saí do clube. e por falar em jogador, sejam sempre gratos ao salário que vocês recebem, para brincar, para fazer o quê vocês gostam, e que não tenho a mínima dúvida, mais amam, pois, o sonho de jogar de futebol, parece ser de boa parte de nós. eu mesmo sou um jogador frustrado. e se não fosse o futebol, será que vocês ganhariam toda essa bolada? se vocês não forem gratos ao Flamengo, que sejam gratos ao esporte. pois a vida que vocês vivem, embora tenham seus problemas, pelo menos no que tange o lado material, não é a vida da maioria das pessoas desse país. Marlon Brando disse, se me pagassem para não fazer nada, eu não faria nada, mas já que me pagam para fazer cinema, eu vou fazer cinema direito. basta que vocês olhem um trem lotado, e vejam as pessoas indo pegar no batente, pessoas que não tem tempo nem para ver seus filhos. enquanto vocês se sentem entendiados, e longe da família, nos finais de semana em hotéis bacanas. com internet, telefone e videogame. enquanto as pessoas vivem com um salário, e não tem nem como pagar o ingresso de um jogo do Flamengo, e que dirá da copa. não cabe no orçamento. nós que ficamos com os nossos rádios de pilha em casa, pois esse é um dos únicos prazeres gratuitos que temos, já que não temos dinheiro para ir em teatros, shows, cinema e boates. então se muitos de vocês estivessem naquele vagão. sabe se lá que vida teriam. são pagos para brincar, para correr atrás de uma bola. mas não fazem isso. e num vem com essa música do Ney Franco de Na Beira do Caos, não, que nós não queremos lutar para não cair... nós queremos lutar pelo título! vocês lembram da torcida cantado, isso aqui é Flamengo... usem esse tempo para refletir. e nos encontramos depois da copa! rumo ao título.

domingo, 25 de maio de 2014

WhatsApp!


dentro da sala de aula. na sala de espera. na fila do banco. do supermercado. diante das palavras dos sacerdotes, dos professores, psicólogos e sábios. se equilibrando no trem. na fila do hospital. enquanto atende. enquanto é atendido. bebe, fuma, ou assiste a uma palestra. na fila do supermercado. no enterro. na creche. na unidade de tratamento intensivo. no crematório. dentro do carro. no semáforo. no engarrafamento. antes do coito. depois do coito. no jantar entre amigos. na reunião de família. no meio da oração. da declaração romântica. da divagação. da leitura. da meditação. no banheiro. durante a fantasia. enquanto dorme. dentro do cinema. ao acordar. enquanto faz carinho. enquanto recebe carinho. ouve  música. enquanto vive. andando na rua. entre os carros. em plena na avenida. durante os ensaios. na concentração. no meio da entrevista. enquanto assiste ao filme. enquanto espera a morte. no silêncio. WhatsApp!

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Seis Reais...

ele viu os seis reais em cima da mesa, e pensou, deve ser o dinheiro do pão. enfiou na carteira para qualquer imprevisto. voltou para casa. ela ligou, e aí, como é que estão as coisas? ele disse, tem seis reais aqui. tudo bem, ela disse. não era o dinheiro do pão. quando o vizinho bateu na porta. ele abriu. o vizinho disse: tem seis reais para emprestar? ele disse. tenho. deu o dinheiro ao vizinho que disse, é para comprar cigarros... fechou a porta. o vizinho bateu na porta. devolveu o dinheiro. disse. obrigado. enfiou na carteira para qualquer imprevisto. voltou para casa. no dia seguinte pela manhã bateram na porta. a vizinha. ela disse: perdi o meu cartão, já estava dentro do ônibus em direção ao trabalho, tem seis reais para emprestar? ele disse. tenho.

domingo, 18 de maio de 2014

O Relógio...

como eu não tenho um celular, eu teria de ligar o computador, ou o Tablet. o que demandaria tempo para quem estava concentrado numa tarefa. se eu tivesse um relógio de pulso, ou de parede, teria visto as horas sem precisar ligar a televisão.

sábado, 17 de maio de 2014

O Pombo-Correio!

ele diz, vai e volta logo, Ralf! Ralf carrega consigo um pedaço de papel preso as patas. o pombo-correio atravessa o céu do bairro. carrega um papel onde está escrito, vai salvar? o outro diz, sim, eu salvo! aguenta aí, Ralf! ele põe uma pedrinha verde entre as patas de Ralf. o pombo-correio atravessa o bairro de volta.

A Penha Não Teve Livraria...

Hoje é fácil roubar tempo da leitura, ainda mais se ela estiver dentro do mesmo aparelho conectado a todas as maravilhas do mundo. aqui na Penha não teve livraria. os livros de papel vão acabar, e aqui na Penha não teve livraria, não que eu me lembre. alguém me corrija se eu estiver errado. o sebo clássico era aquele perto do Gomes Freire, desde a época em que eu não era um bom aluno, eu o conhecia. ele trocava livros, e tudo. li muita coisa ali. mas outro dia perguntei a um amigo dele porque ele sumira. o seu amigo disse que a família estava preocupada com a sua saúde, e que o trabalho não compensava, e que ele havia jogado os livros fora. ali mesmo, no meio da rua. esse foi  um gesto simbólico que representou o fim de uma era. os livros foram para o lixo. por isso que não podemos recusar um pedaço de ouro vendido a um real. como me disse um colombiano numa feira do centro em que segurava O Veneno Da Madrugada, García Márquez, um real, não tem o que pensar!

Trocando Figurinhas!

ela estava andando numa das ruas do centro, quando foi surpreendida por grupos de homens na esquina, ela pensou logo que fosse uma tentativa de golpe de estado. mas não, era apenas uma porção de marmanjos trocando figurinhas da copa do mundo... ela disse: trocando figurinhas! eu vou ter que contar isto a ele, para que ele escreva no blog... ela sorriu, balançou a cabeça.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

TV Aberta...

o pastor me olha e diz que eu fui vítima de um ritual. ele me mostra um despacho, como exemplo. os policiais vão a casa de um maluco que diz que os vizinhos estão com o som alto. mas na verdade os vizinhos já estão dormindo, como nós podemos verificar, diz o policial. uma menina imita um sotaque do norte do Brasil. a filha diz que vai bater na mãe, e que a mãe não presta, e que isso, e aquilo outro. a psicóloga interfere. ela, com um sorriso bonito, diz que a economia brasileira irá melhorar este ano. o filho do cantor terminou com a namorada de novo. um bêbado ameça se jogar de um telhado. o policial pede a ele que desça. ele diz que não vai descer. a mulher diz que ele não quer sair de casa, e que ele sempre volta bêbado para bater nela, e nos filhos. o pastor me dá o número de uma conta de banco para que eu deposite o meu dízimo. um cara me diz que depois que entrou para igreja ficou rico, virou empresário, e me pede para que eu siga o seu exemplo. a menina está visivelmente alterada, e pelo o que nós podemos constatar, diz o policial, ela e o namorado são usuários de crack... a menina anda de um lado para o outro da rua. ela é branca, e magra. mas o seu rosto está embaçado. uma menina imita um sotaque do nordeste do Brasil. agora ela passa a palavra para ele, que me diz que eu vou torcer como nunca para a seleção brasileira, pois a copa será aqui. aquele ator me diz que o seu relacionamento já está bem, e que eu posso ficar tranquilo. o pastor me pede para que eu olhe em seus olhos. eu olho. ele me diz que as coisas vão mudar. eu digo a ele que sim. estala uma tapa na bochecha da mãe. o câmera balança a câmera. entram os comerciais.

sábado, 26 de abril de 2014

Sabedoria Popular...

se você deixar o chinelo de cabeça para baixo está agourando a sua mãe. se começa a varrer quando alguém chega é porque você quer que essa pessoa vá embora. se a sua perna está doendo é porque vai ter uma notícia ruim. se a tua orelha está queimando é porque alguém está falando mal de você. se uma colher cai no chão é porque uma mulher irá a sua casa. se cair um garfo no chão é porque um homem irá a sua casa. se a sua mão está coçando, é porque você vai ganhar algum dinheiro. tropeçar numa pedra, é sinal de que a sua namorada ou o seu namorado está te traindo. uma borboleta cruzar o seu caminho é sinal de sorte. se a criança estiver bocejando é porque ela está com quebranto. se você tiver soluço é só colar um pedaço de linha na testa que o soluço passa. se você quiser que uma pessoa chegue diga o nome dela atrás da porta. se um pássaro te acerta os seus dejetos, é sinal de sorte, também. não se pode varrer a casa em direção a porta da rua, pois senão acho que corta a sorte. gato preto dá azar. passar por baixo de escada, também. se você diz o nome de alguém que não se encontra presente, é porque aquela pessoa aonde está, acabou de falar de você. se urubus rodeiam uma região é sinal de que alguém vai morrer. antigamente quando passavam os amoladores de faca, também. ainda bem que eles não existem mais, por aqui.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Não, Faz Diferença!

você acorda no meio do filme, e percebe que o mocinho irá morrer no final, não importando o quê ele faça. depois que nós deixamos o cinema vamos comer alguma coisa. e pouco importa que o personagem seja músico, extraterrestre ou engenheiro. você chega a conclusão de que se ele pudesse viver cem anos, ao invés dessas duas horas, perceberia que o tempo é imbatível por ser tão veloz, um século não é nada para a historia, e daqui a cinco anos, outros personagens irão surgir, e aquele personagem, daquele filme, vai ser apenas a lembrança de uma noite agradável num cinema. talvez a gente nem saiba dizer do quê tratava o enredo do filme. em todo canto tem alguém com alguma fórmula, ou caminho mais seguro para uma vida mais segura, e se você quiser acompanhar o rebanho, terá que comprar, na próxima semana, o que há de mais moderno no mercado, mas o novo em um ano se torna obsoleto. o novo hoje, é descartável como a vida.  você sabe que o mundo já acabou outras vezes. só que dessa vez o nosso poder de destruição é maior. alguma teoria. os filmes de ficção científica são proféticos? ou fazem parte da memória do futuro? o tempo não é linear, e tudo acontece ao mesmo tempo em todos os lugares? será que é uma memória da espécie? não importa se amanhã você vai descobrir que fulano é isso, e ciclano é aquilo, não faz diferença! pois se você souber observar, verá quê todos nós temos as nossa vacilações, a diferença é que uns percebem isso, e outros não, e mesmo entre os que percebem, existem aqueles que não dão a mínima importância. então morrer, ou se matar por causa do que quer que seja, não, faz diferença! assim como se fazer o quê não quer pode ser entediante, se fazer o quê se quer, também. mas a diferença, é que não faz diferença!

segunda-feira, 31 de março de 2014

Ele, Com Aquele Colete da Prefeitura...

todos os dias eu passo aqui nessa esquina, mais ou menos a essa hora. e, ele, com aquele colete da prefeitura está aqui. mas eu prefiro quando ele não está. pois me arrisco no meio dos carros, a adrenalina sobe pra cabeça, é uma loucura! eu sinto uma vibe parecida com a que um surfista sente perante uma onda gigante. mas os melhores dias são quando ele não está. pois quando ele está, eu tenho que esperar que venha alguma mulher. que alguma mulher me acuda, pois assim como muitos motoristas de ônibus, que só param no ponto se tiver alguma mulher, que ele julgue gostosa, é claro, este cara só fecha o sinal, se tiver alguma mulher por perto. ainda bem que ele não perde tempo escolhendo. a menina com o uniforme da empresa vai atravessar agora. é a sua vez de brilhar, ele gira o apito, e faz o escambau para impressionar a menina. eu vou aproveitar a carona, e atravessar. até mais! a gente se fala...

domingo, 30 de março de 2014

Cadê a Feira da Rua Montevidéu?!

hoje os moradores do pacífico bairro da Penha, acordaram com uma notícia inusitada. a tradicional feirinha da Rua Montevidéu, patrimônio histórico cultural e universal tombado do bairro, havia sido transferida por motivos de força maior, para a Rua Belisário Pena. a Rua Montevidéu no dia de hoje, deu lugar a mais um estacionamento ao ar livre, como muitos desse que temos espalhados por nosso bairro.  boa sorte aos moradores da Rua Belisário Pena, e boa sorte aos comerciantes da Rua Montevidéu. quem sabe o próximo passo seja mudar a Igreja da Penha de lugar. assim como foi extirpada a única área de lazer local que era o Parque Ari Barroso, onde, hoje inclusive, se encontra uma UPA que não funciona, digamos, adequadamente. num bairro que tem uma porção de postos, clínicas e hospitais.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Vai Ter Quebra-Quebra!

Dona Lídia grita, pergunto, sério? diz, sim! Fico imaginando uma porção de vândalos saindo do Buraco, invadindo, e saqueando tudo. corro em direção a um abrigo nuclear. perguntei a ela sobre o helicóptero que sobrevoou nosso pacato bairro a tarde inteira. com o dedo hasteado Dona Lídia disse, são os vândalos... vai ter quebra-quebra! depois baixou os olhos, e concluiu, dizem que tem um artefato que pode ser explosivo na Romeiros. os traficantes mandaram fechar o comércio! ela passa a mão nas crianças, e corre desabalada, vão bora! Dona Lídia contou trezentos e sessenta cinco assaltos na Nicarágua ano passado. entro em casa, e me escondo embaixo da mesa com medo dos terroristas.

sábado, 22 de março de 2014

Você Sabia Que a Passagem Vai Aumentar de Novo?!

parte um - ele disse, não. eu não sabia. e o outro disse, vai aumentar a passagem dús treins do Rio, e vai aumentar a passagem dús metrô. ele diz, aumentarú a passagem dus ônibus, tú num acha qui elis num vaum aumentar dus trem, não, coé! e dús metrô, naum? e surgem aquelas risadas sem graça ao fundo. fala tú? e vai aumentanú, aumentanú, e eu já tô ficandú boladú, moro? i só no nosso lombo, só no nosso courú, eu já tô ficando agúniado, ele gesticula, e já num tô vendo a hora de tê um colapso total nesse país, uma guerra civil, por causa dessa palhaçada, por causa dessa ninharia, que eles roubam da gente, é ninharia! ele corta, mas de grão em grão a galinha enche o bico! e diz, você acredita nisso, eu não acredito, aqui, não, no Brasil, não. nós já demos prova que somos pessoas pacíficas várias vezes, ele disse, é mesmo... besteira. vai tê copa do mundú aí, vamu comemorá, vamu comemorá! diz o ator fantasiado de negro na tela do aparelho da menina. ele mudou de assunto. parte dois - ele disse, eu me lembro de quando eu pegava esse 485 com um vale transporte de quarenta e cinco centavos. e o outro continuou, você conhece as vítimas do 485? ele diz, não. vítimas de quê? o cara vem pro Rio, e aí ele fica hospedado na Penha, vamos supor,ele fica na sua casa, e ele pega o 485 indo em direção a Copacabana, mas antes disso, mas ele não lê que aquele 485 vai para o Fundão. ele disse, mas isso acontece tanto assim, meu amigo? é, mesmo, eu estou sabendo disso, não. ele disse, é, acontece direto, pô... ele continua, caramba, caraca, aconteceu com todo mundo que ficou hospedado lá em casa. eles descem em Olaria. olham para um grafite do Amor. e saem andando. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

A Filhinha da Cláudia...

eu queria ser como a filhinha da Cláudia, ela não ficou choramingando como eu faria, e dizendo esperar que justiça seja feita, nós sabemos que justiça não será feita, nunca, mas a filhinha da Cláudia, não tem nada a perder, ela já perdeu tudo, ela já perdeu a sua mamãezinha que cuidava dos oito filhos, e na dor ela tem sido forte, creio que ainda nem teve tempo de chorar a morte da sua mamãezinha, mas ela já diz aquela verdade que está entalada em nossas gargantas, e mesmo estando filmado, nos falta coragem, dá medo dos tiros, dos ternos, das unhas bem cuidadas, das mãos lisas, dos dedos com alianças douradas, fardas, diplomas, cadeia, morte, pratos vazios, livros ultrapassados, hospitais sem anestesia, trens lotados, nós precismos da filhinha da Cláudia, nós precisamos mais dela do que ela precisa da gente, chega de ficar contando com o Joaquim Barbosa, lá, sozinho, feito uma voz solitária no fundo do mar, com aqueles ministros mandados perto dele, vem mais uma copa no Brasil, o gigante cochilou, e mais uma vez nós queremos jogar todas as responsabilidades em cima de um só Barbosa, mesmo na dor, a filhinha da Cláudia não teme os cargos públicos, as autoridades, a fala pomposa, e requintada, o suprassumo do saber como diria Bezerra da Silva, a filhinha da Cláudia tem a mesma força dos índios que resistem a nossa falta de cultura, essa guerra já deu no saco, já deu o que tinha que dar, já deixou vítimas demais, de todos os lados possíveis, e quem está na linha de frente do campo de batalha, nunca está na linha de frente das decisões, e vice-versa, para que tomar partido numa guerra que não é sua, vamos deixar a nossa breguice de lado, ninguém vai parar de usar drogas, é mentira, nós já nos entupimos o tempo todo, por todos os poros, assistindo, ouvindo, comendo, respirando esse ar poluído, vamos descriminalizar as drogas para que acabe essa guerra maldita, e ao invés de ficar correndo atrás de traficantes varejistas, vamos correr atrás dos nossos irmãozinhos que correm  o dia inteiro atrás do crack, vamos cuidar da nossa depressão de outra maneira, das nossas compulsões, e psicopatias, já sabemos que o homem nasce mau, e que talvez o meio o faça bom, tem uma porção que diz que não usa droga, e se encharca de bebida, e com droga, ou sem droga, mata, armado, de carro, com arma branca, às favas com as suas condolências! e que as suas malas cheias do nosso dinheiro, pesem em suas mãos, e que com todo o seu poder, vocês afundem até os seus infernos, demônios, já que é isso que vocês desejam, cheirem do melhor pó, bebam do melhor uísque, se deliciem com os melhores corpos, mandem seus filhos estudar fora, sejam felizes, enfim, mas deixem as nossas vidinhas em paz, e jornalistas Playboy`s, não é no morro de Congonhas, é morro da Congonha! errado ou não, eu tenho certeza que Deus existe, e que a filhinha da Cláudia, um dia, vai poder se reencontrar com a sua mamãezinha, no céu.

sexta-feira, 14 de março de 2014

O Frank Enlouqueceu o Maluco!

a mosca posa na borda do copo. o ventilador sopra, preguiçoso. o cachorro lambe as pernas em que o gato se enrosca. você dá cabeçadas no ar. o rapaz se agita, e diz ao policial, eu não aguento mais esses vizinhos... eles ficam batendo na parede a madrugada inteira! é como se tivessem batendo na minha cabeça, tum, tum, tum, e eles ficam ouvindo o Frank! eles sabem que eu não gosto dele... eles sabem que eu gosto do Raul, do Zé... o Policial olha para o rapaz que parece perturbado, e pergunta a ele, o quê eles fazem senhor? o rapaz responde, o quê eles fazem? você quer realmente saber o quê eles fazem?! eles ficam ouvindo o Frank o tempo inteiro, e ele dá aqueles gritinhos... é só isso que eles sabem fazer! pausa. e isso é enlouquecedor! eu sei que eu sou maluco, mas eu sou um maluco... a mãe dele diz, não diz isso, me deixa falar... ele continua, não, mãe, agora eu vou falar, agora eu tenho que falar! eu não gosto daquele tecladinho de churrascaria, aquilo é sofrível! você pensa, o Frank enlouqueceu o maluco. o cachorro lambe a sua cara. você tira a mão de dentro do copo. desliga a televisão. mergulha na tarde sonífera do subúrbio. colorento. a mosca posa em seu nariz. você cochila. sonha que está colhendo morangos num calor de cinquenta graus. o policial se vira para a câmera, e diz, como vocês podem verificar, a vizinhança dorme, silenciosamente...

quarta-feira, 12 de março de 2014

Volta, Elias...


volta Elias... porque o seu sorriso, e o sorriso do seu filho Davi, me lembram o sorriso dos meus sobrinhos, que parecem nos iluminar. porque tudo ficou mais difícil sem você, o calor voltou, e as pessoas estão mais estressadas, e só faltam esganar umas as outras no meio da rua. e voltaram aqueles linchamentos terríveis aqui no Rio de Janeiro. e as brigas nos estádios, e o racismo nos estádios. volta, Elias. nós prometemos te blindar contra os racistas. volta, Elias, pois sem você fica muito mais difícil aturar as ruas sujas, e ver os irmãozinhos viciados em crack. volta, Elias, pois os meus netinhos portugueses me disseram que eles também querem te ver em campo, jogando. e porque inocentemente, eles acreditam que dessa forma, talvez consigam reparar alguns equívocos de seus ancestrais. volta, Elias, porque os braços do Cristo estão sempre abertos para você. volta, Elias, porque sem você nós vemos o quanto as ruas estão sujas. volta, Elias, porque depois que você foi embora, o gigante cochilou novamente. volta, Elias, porque aumentaram a passagem depois que você foi embora, e chegar ao trabalho virou uma aventura. volta, Elias, para que a gente não fique pensando que o  futebol é só dinheiro, e que a vontade dos jogadores, e dos torcedores não importa. volta, Elias, e quando você voltar, aproveita para diminuir o preço dos ingressos, por favor. volta, Elias, porque sem você, nós ficamos cada vez mais deprimidos, e sendo assim bebemos mais, fumamos mais, tomamos mais remédios, mulheres são agredidas, falta escola, creche, leitura, e o número de vítimas da violência, aumenta, sem você. volta, Elias, volta para nos consolar um pouco. e para que os gringos não usem o futebol brasileiro para fazer turismo sexual, e que nenhum estrangeiro tenha de passar pelo que a gente tem passado nos dias que eles estiveram aqui. volta, Elias, porque sem você a obra tem acabado com a Penha. e a poeria tem sujado os nossos pulmões. porque não há vaga nos presídios que não recuperam ninguém. volta, Elias, se ajoelha, pede a Deus, deve existir algum jeito de se alcançar o coração desses homens de terno, que conseguiram acabar com a música, e agora querem acabar com o futebol. volta, Elias, porque o Seu Elias quer que você volte. volta, Elias, para que hoje a gente não tenha um buraco em campo, e outro no coração. volta, Elias, porque você está aí sozinho, e tem uma multidão aqui, sonhando com a sua volta. volta, Elias, porque quando você faz um gol, ou dá um passe para um gol, tudo aquilo que é ruim, desaparece naqueles breves minutos, que poderiam durar a vida inteira, e que são um refrigério para as nossas almas. volta, Elias, pois quem perde é o futebol. volta, Elias, porque senão, quem vai embora sou eu!

sexta-feira, 7 de março de 2014

O Mirrole...

ele entrou, e disse, eu posso fazer um mirrole? o outro disse, pode, ele foi até o cinzeiro, e catou todas as bitucas, e começou a enrolar o mirrole. o outro estava viciado em Investigação Criminal, e começou a dar uma de detetive, então ele ficava o tempo todo congelando a imagem do prefeito jogando o caroço de fruta, indo, e voltando. e pensando se conseguiria solucionar aquele caso. seria possível que dali de onde o prefeito estava, ele conseguisse acertar a lixeira? ele congelava, e voltava, e pensava que aquela historia de que ele jogou o caroço para um amigo segurar, talvez fosse verdadeira... então ele começou a pensar que talvez o prefeito seria um ótimo jogador de basquete, ele seria um baita dum cestinha, assim como é na prefeitura. quando o outro terminou o mirrole, na hora ele pensou em lixo reciclável, na greve dos garis, e em coleta seletiva. O Mirrole disse, eu vou sair... e o outro respondeu, valeu Mirrole! e o Mirrole saiu pela rua lateral que é a Rua do Lixo. e ao olhar para o prefeito na tevê de plasma, ele conseguiu desvendar o caso, e comemorou ao ficar sozinho no barraco, o apelido do cara é... Me-Enrole, prefeito!

domingo, 26 de janeiro de 2014

Em Frente ao Guanabara...

o barbeiro corta o meu black. a Gata da Hora nos olha. ele pula para dentro da loja. aí, rapaz, eu fui hoje ali no Guanabara... e está a maior loucura... tá todo mundo doido aí... quase que eu fui atropelado! maior gritaria... todo mundo brigando... até no telefone aí... fiquei de bobeira. o barbeiro diz: é que calor nesse calor bate maior neurose, e  eles estão tudo sem dinheiro... ele continua, rapaz, que loucura! no radio o Roberto Carlos, parafraseando Romário, que é um dos maiores frasistas do Brasil, diz, esse cara sou eu... ele permanece em sua agitação, rapaz, quando a pista ficar pronta, vai morrer muita gente, cara! o barbeiro diz: eu acho que vai ter passarela... o outro diz: você acha que o cara que tá acostumado, a parar os carros na marra com o sinal fechado pra ele, ele faz isto há trina anos, você acha que agora... ele vai andar cem metros que seja para atravessar a passarela? tem maluco que morre na Avenida Brasil. e não é crackudo, não, tá... que crackudo é atropelado direto... o Leandro está olhando pro lado. o Renato Gaúcho conseguiu abraçar o Zico. e o Leonardo me olha com seriedade. O barbeiro diz: acho que ficou bom... a Gata do hora, olha com enfado para a minha careca.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Só Falta Cair Fogo do Céu!


a senhora que vende ervas medicinais dorme com o cachimbo na boca em frente ao supermercado Prix. eu leio a capa do Meia Hora em pé no trem. neste calor fica todo mundo bêbado. e nervoso. os carros cobrem as calçadas. empurro o carrinho de bebê do meu sobrinho pelo meio da rua. com medo. mas se pedisse alguma coisa ao prefeito, ele perguntaria onde eu moro, e depois daria uma gargalhada encerrando o assunto. como se eu fosse muito engraçado. a cidade tá pegando fogo. funk, tiro, só pedrada! e bala quase sempre perdida. vejo a correria da cidade, que alarde, Chico Buarque! formigas que trafegam sem porquê, Raulzito! eu sempre vou contra o fluxo. ou ando de trem o máximo possível... quer dizer, quando sou obrigado. embora a SuperVia seja do peru, vou te contar, hein?! meu Deus do céu! sei que não vou por aí, José Régio. não se devia mais construir estradas. é preciso acabar com os carros. e impedir que os carros entrem no centro. e preservar os prédios antigos que contam a nossa história (lá fora tem pontezinha da idade media preservada). aqui dá cem anos, alguém bufa, bota-abaixo esta merda... e a nossa língua, e nossa cultura. mas é preciso olhar para o mundo, e para o futuro. e se preocupar com os menos favorecidos em suas capacidades. é preciso incentivar a leitura. justiça sem corrupção. saúde humanizada. é preciso uma escola que funcione, e que tenha tempo para educar, e lidar com as diferenças. mas é preciso antes de tudo deixar de ser hipócrita. os japoneses reconstroem o país todo ano. a gente não consegue acabar com a mesma seca de sempre. e com os mesmos deslizamentos de sempre. nada mudou, e será que alguma coisa mudará? se na última rodada aconteceu aquilo, imagina depois que terminar a copa? eu amei a atitude do Luiz Alberto do Atlético Paranaense que gritava, são seres humanos! ele tremia em seu estarrecimento como todos nós devíamos tremer perante aquelas cenas que a televisão não se cansava de reprisar. mas o Haiti é aqui sim, Gil, e Caetano, o Haiti, o México, a Índia, nós somos os pobres do mundo... e dentro do supermercado um coroa grita, só falta cair fogo do céu!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

NetGato...

alguém grita da cozinha. não tem um filho da puta pra encher uma garrafa d`água, nesse calor... ninguém responde. ele troca de canal. o careca luta com a mosca. bate com a camisa nas costas. limpa o suor da testa. calor do caralho... alguém de fora da casa. tem um que está com a boca aberta olhando para a tevê, quando surge um cantor que vive de fazer versões de outros cantores, ele descruza as pernas, e diz, ih, esse bagulho é vacilação! o dono da televisão alisa a barriga com uma das mãos, e muda de canal com a outra. passam alguns animaizinhos, e algumas aberrações... enquanto Basquiat caminha num documentário... o outro continua teclando ao olhar a sala. o dono da tevê diz, duzentos canais, e nada!