eu vou fazer 20 anos. e como eu queria ter aprendido com quinze o que eu sei hoje. teria evitado todos excessos. todos estresses. toda ansiedade que vai corroendo por dentro, toda pressa de viver como se fosse morrer no dia seguinte. pois o mocinho sempre fica vivo no final da estória, e descobre que a princesa é uma boneca inflável, e o príncipe um sapo. quando você se torna uma careca equilibrada sobre uma barriga de cerveja, ou uma cabeleira sedosa sobre uma pança, você descobre que os filhos nascem. e que eles comem, comem e cagam. mas que o sorriso de um deles, vale mais que qualquer flerte. se eu pudesse voltar no tempo teria limpado os meus ouvidos, e prestado atenção quando me diziam, você vai se ferrar por isso! eu não quis acreditar, mas espera lá... eu era muito novo. pelo menos estou vivo. quantos da minha geração morreram assassinados. morreram de overdose. quantos estão jogados nas ruas, entregues à bebida, ou ao crack, ou derramados no pó. pelo menos estou vivo. tenho trabalho. tenho saúde. não me lincharam, e nem me estupraram neste país perigoso em que vivemos. não contraí nenhuma doença em noites sem preservativo. nunca tirei a vida de ninguém. e ninguém tirou a minha. ninguém me prejudicou. e não me matei como tantos fizeram, direta ou indiretamente. que ótimo poder respirar num dia nublado, ou ensolarado. com, ou sem dinheiro. sozinho, ou acompanhado. e que bom poder fazer vinte anos de carreira...
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