ele não sabe responder ao filho porque existem tantas placas de aluga-se, e vendem-se penduradas por todo o bairro. já que quando eles foram procurar casa para alugar, a mãe havia dito que não havia casas para alugar naquele lugar. agora as placas se multiplicavam uma por cima das outras. então ele diz ao filho, é a crise. o filho pergunta, o quê é a crise, pai? ele corta. quando as coisas estão ruins. e o filho insiste, as coisas estão ruim pai. ele diz, sim, meu filho. as coisas estão ruins. mas elas irão melhorar. então o pai se afasta dizendo. vamos embora, meu filho, e o menino o segue... este outro homem estava assustado. não sabia o quê fazer. ele não era alguém que a cerveja conseguisse ludibriar. depois que passava a ressaca. ele sempre se lembrava dos filhos adolescentes. sendo educados ao léu. e ele estagnado naquele emprego. ele sabia que homens que tiveram tudo na vida acabavam espremidos em quartinhos. os seus medos eram muitos. quando olhava para a filha, ele temia que um dia aparecesse com outra criança nos braços. ele se preocupava ao ver que os seus seios começavam a brotar. e pensava. ou eu tenho dinheiro para dar de comer aos meus filhos. ou eu tenho tempo para educar meus filhos. era assim que ele pensava. imaginava quando o filho fumaria o primeiro baseado. e temia que experimentasse a cocaína. e crack que era o maior sofrimento que ele presenciava em sua vida. ou que assim como ele, que não admitia ser alcoólatra, o filho bebesse todos os dias. meninas também não estavam livres de nada. ele vivia num lugar onde era perigoso andar nas ruas. na escola em que seus filhos estudavam havia de tudo. agora havia de tudo em todo lugar. às vezes ele sonhava que seus filhos batessem com suas cabeças, e se convertessem a alguma religião. ou quem sabe se apaixonassem por alguma coisa que fosse além da violência, e da pornografia, assim como ele era viciado nessas coisas. ele estava espremido na cama igual a um feto. era apenas uma criança assustada, que se pudesse gritaria. mãe!