sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Pílula Do Dia Seguinte

o moleque entrou na farmácia. o frangote não tinha 16 anos. a menina aparentava uns catorze. mas pelo tipo de atitude podia ter mais idade que o pivete. ela havia dito: te espero aqui. e odiava ouvir a voz da mãe na  cabeça dizendo. se fizer isso, vai acabar com a tua vida! a mãe dele dizia. cuidado pra não engravidar a filha dos outros! e o pai: prendam as suas cabritas, que o meu bode tá solto! entra e pede ao cara da farmácia. um pacote de preservativos, por favor. fez uma voz casual como se pedisse chicletes. ensaiou a frase várias vezes mentalmente. o homem jogou a embalagem no balcão. cinco real. mas pensou. até parece que vai comer alguém! o moleque levantou os olhos, e esperou o riso que não veio. perseguiu o cliente com o olhar. quando ganhou a rua na presença da menina, o balconista tentou ver a bunda da garota. não conseguindo se redimiu. saidinho! continua...

Ansiedade

um dia encontrei com ela numa esquina. um médico me disse que a tal senhora normalmente vinha acompanhada da sua amiga depressão, ou vice-versa. depois de algum tempo tomando medicamento, e sendo acompanhado por um profissional, percebo que lutar contra ela é burrice. assim como lutar contra a sua amiga. não penso que devemos nos entregar as duas. mas é bom termos uma convivência pacífica com a tal senhora. podemos dizer, pode entrar, senta, fica aí, toma um chá. você é uma doença como outra qualquer. se eu fosse diabético não teria que conviver com o diabetes? esse vazio que nós sentimos talvez seja necessário, e inerente ao ser humano que não consegue explicar tudo. pelo menos os que não são arrogantes. hoje deixo minha depressão a vontade. só peço a ela que não traga junto o seu amigo stress. em outras palavras, só não me encha o saco! até curto um pouquinho dessa fossa poética. sem remoer nada. apenas acreditando que esse problema é meu. não dá pra ter tudo. não dá pra querer tudo. nem dá pra agradar todo mundo. ou melhor, não dá pra agradar a quase ninguém. e quem disse que devemos agradar alguém? e quem disse que devemos ser legais, felizes, simpáticos, vitoriosos, e ter um milhão de amigos? alto lá! temos sim que seguir em frente e tentar evoluir. porque? eu não sei! mas não devemos carregar todo esse peso. não quero ser um bobo alegre. já percebeu como as pessoas que se dizem felizes parecem histéricas com seus tiques e suas risadas nervosas? o bobo quer descontar toda frustração de uma vida em uma noite. mas logo após, vem a ressaca do dia seguinte. da noite de esbórnia. nem sempre... só na maioria das vezes. é a mesma coisa que tentar lutar contra uma compulsão. o problema é que não é luta. não se luta contra nada. o que tem que se buscar é a compreensão. simplesmente vire as costas e não dê bola. se tentar exterminar o inimigo da noite para o dia irá sempre perder. psicologicamente falando. virá sempre o efeito colateral. tente dar uma ignorada. e dizer a si mesmo que ele não é tão importante quanto parece. não tenho conhecimento científico. li apenas alguns livros de autoajuda. e a minha precipitação em escrever, é apenas mais uma prova da minha ansiedade. olá senhora, seja bem vinda!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Lei José Da Penha

o Facebook fez mais uma vítima. ontem o pedreiro José da Silva, morador do Complexo do Alemão, foi  assassinado por sua esposa enfurecida. segundo relatos de vizinhos que não quiseram se identificar, Maria da Silva, que ao adentrar as dependências da página do marido, descobriu que a ex-namorada de José Roberto havia curtido uma foto sua. a mulher ficou irritada e jogou ácido no rosto do companheiro, logo após ateou fogo ao seu pijama. ela foi presa em flagrante e levada para a delegacia. o pedreiro foi enviado ao hospital Getúlio Vargas na Penha, mas não resistiu aos ferimentos, deixando dois filhos menores. é o quinto caso de assassinato de homens por suas companheiras esta semana, o delegado titular da 22 DP confirma os números. em 2013 no Brasil, já foram registrados cem assassinatos de homens por suas mulheres. muitas delas tem se aproveitado do estado de embriaguez das vítimas. outra parcela destes homens sofre com a mutilação do pênis. prática que tem se tornado comum por essas criminosas. o governador do estado comentou o caso, dizendo que, essas facínoras não ficarão impunes! a polícia militar do estado do Rio de Janeiro tem trabalhado diariamente para coibir esta covardia. em Brasília tramita uma projeto de lei a qual a presidenta parece não estar muito interessada em sancionar. mas alguns deputados, depois desse caso emblemático, pensam em batizar a lei como José da Penha.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Eu Matei Duas Pessoas Com Um Tiro!

eu não atirei pra matar. só queria dar um susto. não sei como acontece com os assassinos profissionais. embora hoje não veja diferença entre quem matou uma, ou cem pessoas. sabe aqueles caras que aparecem na televisão dizendo que no meio de uma briga perderam o controle e esganaram a outra pessoa, durante todo a discussão você fica cego de ódio. por isso que aqueles idiotas que frequentam essas igrejas nojentas dizem que estavam possuídos. quando na verdade não conseguiram raciocinar direito. se tivessem saído pra tomar um sorvete ou fumar um cigarro, a historia seria diferente. depois que o corpo está lá jogado, sem vida, você consegue pensar claramente. e chega a conclusão de que não havia motivo pra tanto. podia simplesmente ter dado as costas e ido embora. ou então calado a boca. cometeu um ato banal que vai marcar a tua vida pra sempre. mesmo que fosse em legitima defesa seria assim. o trauma. os pesadelos... não dá pra matar a família e ir ao cinema. a não ser que você seja um psicopata. embora hoje eu também me considere um deles. não vim aqui pra me desculpar. cometi um erro que não se tem o direito de cometer. nem perante a justiça dos homens. nem perante a justiça da natureza. eu matei duas pessoas com um tiro.    

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Minha Vó Tá No Facebook!

pode ser brincadeira de algum primo. eu sei o quanto nós brasileiros somos preconceituosos. mas é que a minha avó tem cara de vovó que cuida de netos e cachorros. o pior dos poodles não é nem o latido ensurdecedor. embora te veja todo dia o infeliz ainda late pra você. mas aquela lambida que pega do calcanhar em direção a batata da perna é nojenta. antes o desgraçado tivesse me mordido. mas nem sempre a minha avó foi essa vovozinha de comercial de supermercado. a minha avó não é nenhuma Ângela Vieira, que tem idade pra ser a tua avó, e moral pra posar na Playboy. já imaginou os teus amigos da facul tudo querendo pegar a tua avó. dizem que a minha vó era a maior pé de valsa da Casa do Marinheiro na Penha. isso depois do falecimento do meu avô tenente da marinha brasileira na segunda guerra mundial. eu a vi na tevê desfilando pela Caprichosos de Pilares, vestida de prisioneira, com uma bola amarrada nos pés. e vi também uma foto em que ela estava vestida de índia. ela se casou com um rapaz mais jovem e escandalizou a comunidade local da época. a minha avó é culpada por eu ter me tornado escritor. por culpa da liberdade excessiva e ótima que ela me deu. por causa de sua crença de que o mundo vai ensinar, como disseram que ela disse um dia. a minha avó me deixava assistindo a extinta TV Machete até tarde. Documento Especial, e aqueles filmes que pertencem ao tempo do cinema nacional que eu mais gosto, e que felizmente eram impróprios para menores. depois que a programação acabava a insônia aparecia. eu sempre odiei estudar ou ser obrigado a estudar, e nessa época aproveitava para descontar o sono na sala de aula. naqueles dias, uma tia que não sei se, a Neli, ou a Cristina, que eram boazinhas e que não tinham culpa da minha ociosidade, pediu que a turma lesse um livro chamado O Rapto da Coroa, de Helenice Machado de Almeida. nunca mais parei de ler na vida minha vida. a literatura me ajudou a ocupar o tempo insone, e por acidentes ela me mostrou o meu destino. a minha irmã teve o meu sobrinho maravilhoso com dezesseis. ela é da nova geração e não tem perfil de que será uma vovó igual a minha. há tempo o mundo já tem as suas vovós tatuadas ouvindo rock, reggae, e MPB. vai ser legal ver um mundo de avós falando com seus netos de igual pra igual. mas essas vovós fofinhas iguais a minha irão deixar saudade... e não que as outras não sejam fofinhas...

A Mãe

ela queria saber realmente porque seu filho fumava aquela porcaria todos os dias. era contra aquilo, inequivocamente. não gostava nem de pronunciar o nome da maldita. talvez fosse contra pelo simples fato de ser um prazer desnecessário, igual a maior parte dos prazeres, por mais que o filho argumentasse não causar mal algum. e principalmente por estar fora da lei. não viu grandes mudanças que chegassem a comprometer o comportamento do progenitor. dane-se que diminuísse a ansiedade ou deixasse a pessoa lesada a ponto de não reagir a um tapa. a questão é, não faz o menor sentido você optar por algo que a maioria condena. quando pode frequentar estádios como a maioria dos homens fazem, ou se ocupar com os carros e lutas na televisão, ora bolas! todas aquelas discussões e passeatas, parecia algo de quem queria se revoltar contra alguma coisa de qualquer jeito. então nesse sentido talvez a proibição fosse ruim. a mãe em seu tempo não foi nenhuma riponga. era apenas uma namoradinha do subúrbio que frequentava os bailes da jovem guarda. e adorou quando o Roberto Carlos aderiu ao catolicismo. ela havia se tornado uma dona de casa. mas queria experimentar aquela porcaria. depois de ver tanto artista que gostava na televisão dizendo que já havia experimentado, decidiu experimentar. não acreditava que fosse ficar viciada. nem estava experimentando para poder debater com o filho, igual ele propunha. ela queria apenas saber o que havia de tão maravilhoso naquilo, a ponto de tanta gente falar tanto. um dia esperou o filho sair e foi lá fumar um dos seus cigarrinhos de artista que ele não fazia questão de esconder. e fumou um dele de tarde. quando o filho chegou em casa, a noite, a mãe perguntou a ele: posso fumar com você? ele respondeu: hã?!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jorge Selarón

Selarón, eu estava ouvindo sobre a sua morte aqui no meu radinho de pilha. e me lembrei de tantas noites que fui me sentar em sua escadaria. e com a fumaça adocicada nos pulmões a olhar a lua e respirar aquele cheiro de noite gostoso que só essa cidade parece ter. a sua escadaria, a da Penha, e o falecido Escadinha são os degraus mais famosos do Rio. Na sua escadaria cosmopolita, troquei ideias com gente de vários países. de australianos a peruanos. um amigo dia desses, lá mesmo na Lapa, relembrando um fato dos anos noventa, me disse: no tempo em que Lapa era Lapa! eu me lembro daquela Lapa em que o pessoal do hip-hop se sentava ali em frente aos arcos. eu frequentava o Circo Voador sujo. e era ótimo ver todo mundo lá em cima pendurado. e ter a sensação de que no meio do centro da cidade se estava dentro da Sociedade Alternativa. eu peguei aquela Lapa sitiada por travecos, punks cachaceiros, e moleques de rua que em sua maioria ainda cheirava cola. não que todos tenham sumido. mas engraçado que não acho que a Lapa verdadeira fosse essa. uma vez num terreiro de macumba o Seu Zé Pelintra me disse que a Lapa não era mais a Lapa fazia tempo. eu concordei com ele, que é uma sumidade no assunto. tem uma música que o Moreira da Silva diz que ele sonha com essa Lapa. cada um tem a Lapa que merece. e talvez os ingleses agora tenha a deles. eu tive a minha que nem foi tão boa assim. pois sou da geração rabo de foguete. a geração traumatizada pela internet. e pra quem chamava a geração de oitenta de geração perdida não sabia as proporções que a falta de criatividade iria tomar. mesmo daqueles que se dizem de vanguarda. e há de convir comigo que a gente era feliz e não sabia. da mesma maneira que se reclamava dos funkeiros dos anos noventa e, hoje se pede que eles voltem. embora acredite que o artista também veja o que todo mundo vê, e não só, o que é conveniente. mas o melhor lugar do mundo é aqui e agora, como diria Gilberto Gil. e como Woody Allen deixo claro no Meia Noite em Paris. mas a minha capital cultural do Rio continua sendo Madureira, não sei ainda por quanto tempo. a capital da música negra e do meu subúrbio. eu me lembro muito bem que foi uma novela que popularizou a Lapa. junto de interesses legítimos, financeiros, olímpicos e carnavalescos. mas seria tão bom se os lugares crescessem e as festas como o carnaval, mudando, evoluindo mas sem perder a essência. igual a preservação de alguns prédios antigos europeus como não acontece aqui no Rio. Selarón, não cheguei a trocar ideias com você. mas te ouvi falar e te conhecia de vista. e soube que você não tinha filhos. será que era na linha do, os meus filhos são os meus filmes. eu optei por não ter filhos. talvez para um artista, por causa de sua obra, seja mais fácil não ter esse pensamento preconceituoso de que, eu tenho que deixar a minha semente no mundo. até porque tanto a arte quanto a filosofia demandam um tempo imenso. e as duas parecem caminhar de mão dadas. provavelmente por isso muitos filósofos não foram casados. o escritor Bukowiski dizia não ter tempo nem para cortar as unhas. e será que era isso que você pensava. ainda não se sabe se foi suicídio. mas se foi, será que existiu algum simbolismo nesse ato de morrer queimado, em plena na obra em que parecia ser sua vida pelos depoimentos, e pela qual você mesmo zelava. pois você vivia, trabalhava, e porque não, amava a ela, e nela. o suicídio é uma bobagem. uma vingança contra quem se ama. e uma bandeira branca estendida ao inimigo. não aquele inimigo das igrejas. e o assassinato não depende de nós. as vezes, é até uma fatalidade. estar no lugar errado, na hora errada, em frente ao psicopata errado. dizem que o fogo é purificador. e se isso é verdade, você não morreu crucificado, como um assassino possa pensar. como seria a intenção do assassino. e se foi suicídio, eu entendo. você se purificou para poder ascender. vai na paz, amigo artista.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Música Popular Brasileira

...Caetano Veloso. Chico Buarque. Cartola. Noel Rosa. Gilberto Gil. Chico Science e Nação Zumbi. Raul Seixas. Lô Borges. Beto Guedes. Belchior. Amelinha. Maria Bethânia. Gal Costa. Zizi Possi. Legião Urbana. Paralamas do Sucesso. Titãs. Tim Maia. Fundo de Quintal. Arlindo Cruz. Sombrinha. Zeca Pagodinho. Zizi Possi. Djavan. Júpiter Maçã. Belchior. Carmen Miranda. Orlando Silva. Almir Guinéto. Zé Ramalho. Elba Ramalho. Jovelina Pérola Negra. Bezerra da Silva. Seu Jorge. Mart`inália. Flávio Venturini. Ivan Lins. Guilherme Arantes. Roupa Nova. Milton Nascimento. Tom Zé. Tom Jobim. Luiz Gonzaga. João Gilberto. Racionais. Bebeto. Claudinho e Bochecha. Biquíni Cavadão. A Cor do Som. Geraldo Azevedo. Raimundo Fagner. Sérgio Sampaio. Os Novos Baianos. Baby Consuelo. Moraes Moreira. Pepeu Gomes. Cidade Negra. Sepultura. Marisa Monte. Nei Lopes. Rolando Boldrin. Inezita Barroso. Pena Branca e Xavantinho. Tonico e Tinoco. Nenhum de Nós. Dolores Duran. Pixinguinha. Jorge Ben Jor. Aniceto. Nelson Cavaquinho. Ismael Silva. Luiz Melodia. Família Caymmi. Raimundo Fagner. Ednardo. Moreira da Silva. Geraldo Pereira. Wilson Batista. Barão Vermelho. Gang 90. Fausto Fawcet. Sivuca. Dominguinhos. Hermeto Pascoal. Ney Matogrosso. Oswaldo Montenegro. A Cor do Som. Celso Blues Boy. Clara Nunes. Clementina de Jesus. Wilson Simonal. Roberto Carlos. Erasmo Carlos. Rita Lee. Toquinho. Vinicius de Moraes. Nara Leão. Elis Regina. Carlinhos Brown. Braguinha. Arthur Maia. Dadi. Silas de Oliveira. Beto Sem Braço. João da Baiana. Donga. Sinhô. Heitor dos Prazeres. Clube da Esquina. 14 Bis. Edu Lobo. João Bosco...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Chorume

não preciso esperar até amanhã para escrever. pois eu sempre vou ter o que escrever. sempre que existirem palavras e sentimentos, esses podem ser de tédio, eu terei o que escrever. mesmo que esteja me sentindo assim, um péssimo ser humano. um dos piores seres humanos da terra. um lixo humano. isolado. jogado num canto. vazio. mesmo que me faltem leitores. amigos. ou inimigos para me motivar. a literatura se mostra a melhor terapia de todas. então só me resta escrever. sem pensar. jogar as palavras no papel. mesmo que amanhã me arrependa do que acabei de escrever. e venha a corrigir, ou  a desdizer alguma frase. pois eu vivo para escrever. quiça despertando ira, antipatia, ou indiferença, o que é pior. e quando não me restar mais palavras ou ideias, ainda posso ler aquilo que escrevi. e se tudo que escrevi for queimado numa fogueira de um terreno baldio. ou de um lixão. eu ainda posso ler as palavras que outros escreveram. e quando estas me faltarem, aí me faltará a vida. pôs a literatura é a única forma de escoar esse chorume que escorre do meu coração. a literatura talvez seja o verdadeiro lixo extraordinário... 

A Pistola Automática Cromada

eu tenho uma arma na mão. e não é um livro. pois se fosse um livro eu jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. mas não é um microfone. que se fosse um microfone, eu também jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. e não é uma megafone. que se fosse um megafone, eu começaria a xingar todo mundo. eu tenho uma arma na mão. e ela é tão sedutora quanto a Sharon Stone naquele filme Basic Instinct. e ela faz mal a saúde. assim como doces de confeitaria, a minha arma mata. eu tenho uma arma na mão. e não é um carro. pois se fosse um carro, eu tomava uns goles, tomava coragem, e passava por cima de quem não gosto. e aí depois ia pra delegacia, pagava fiança, pois uma morte não custa caro no Brasil, ainda mais se for morte de pobre, é bem mais barata. no outro dia eu estaria solto para atropelar novamente. eu tenho uma arma na mão. e assim como aqueles infelizes estadunidenses que estão pirados com toda essa sociedade, eu também posso entrar em algum local atirando. numa tentativa de me vingar de mim mesmo. eu tenho uma arma na mão. pois diferente do Reino Unido, eu posso ter uma arma na mão. e a minha arma é uma pistola automática cromada que me diz que eu posso matar quem eu quiser. eu estou no fundo daquele teatro, com aquela porção de gente. e todos eles ficam me remedando e olhando pra minha cara com ojeriza. eu olho os policiais na rua. e sei que não terei como escapar. eles pensam que essa arma é de brinquedo. e começo a ficar confuso e ansioso. trêmulo. escorre suor. mas eu quero ir me embora. eu digo a ela. vamos embora. ela me pergunta: você está se sentindo mal. eu digo sim. vamos embora. ela insiste: você não vai participar do espetáculo. Eu digo: não. e nós saímos.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Depressão Pós-Parto

passei um tempo dedicado a um livro que me deu esta depressão ao terminar. acredito que outros escritores já tenham sentido isso. não sei nada sobre escritores. desta vez o processo de criação, como dizem por aí, foi diferente. parei tudo para escrever o tal livro. o que não havia acontecido anteriormente durante nenhuma outra criação. sofri por ter que conviver com aquele personagem noite e dia. o que me levava a ter pesadelos constantes. talvez por causa do meu consciente que era detonado por seus consciente e  inconsciente. todos os dias terminava de escrever exausto. mas estupidamente feliz por escrever o que realmente queria. então ao me deitar sentia aquele vazio satisfatório. como se todas as as minhas mazelas, e as mazelas da sociedade tivessem sido expurgadas através da minha pena. e de repente me senti perdido com esta ansiedade descomunal, que me dá com vontade de fazer tudo que ficou suspenso. Mas não consigo fazer nada. como se a minha função social não tivesse mais utilidade. e como se não houvesse nada mais interessante debaixo do sol. o livro me leva a um êxtase difícil de ser substituído. embora precise de um tempo para tocar os meus outros projetos como dizem esses artistas que não tem projeto algum. mas eu sei que daqui a pouco me vem um momento na cabeça... alguém diz uma frase estranha.... um rosto começa a se formar e bola pra frente...

sábado, 5 de janeiro de 2013

A Cidade Mais Linda Do Mundo

eu passei a virada do ano na cidade mais bonita do mundo. na praia mais linda da cidade mais bonita do mundo. onde tem o povo mais simpático e mais sexy do mundo. que coincidentemente é o povo que mais copula e que mais trai no mundo. onde tem as mulheres mais lindas do mundo. onde tem a maior festa popular do mundo. onde tem o time de futebol que tem a maior torcida no mundo (fato). onde tem o povo mais feliz do mundo. onde tem a queima de fogos mais linda do mundo. tudo aqui é o melhor do mundo. não sou eu quem diz. são as pesquisas. fiquei na areia vendo aquela profusão de alcoólicos em alegria histérica.  rolando na areia e no final parecendo bife a milanesa. abrindo champanhe dentro da água e gritando. eu sou feliz. como se para que a sentença se tornasse verdadeira fosse necessário repeti-la. um gringo. não me contive de tanta felicidade... ai. ai... realmente adorei o show. e a lua. e depois a queima de fogos com a trilha sonora formidável. e as propagandas da prefeitura com os principais artistas da cidade me convenceram de que vivo numa cidade maravilhosa. as pessoas no alto dos prédios admiravam a queima de fogos, como se dissessem para aqueles que estavam embaixo, temos uma visão melhor que a de vocês. e as pessoas nos transatlânticos admiravam de longe, e pareciam querer repetir a mesma frase de camarote. deviam se sentir salvas separadas por quilômetros de água daquela muvuca. eu também queria estar lá. num navio daqueles. só para que gente não tivesse dúvidas de onde estávamos.. vi alguns crackudos trombando as pessoas na areia com esperança de arrancar alguma coisa dos seus bolsos. e confesso que cavoquei o chão com os pés a procura de algum objeto perdido. um gringo alcoólatra caia em minhas costas. enquanto a minha mina sussurrava em meu ouvido. feliz ano novo...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Inimigo Oculto

Festa de fim de ano da empresa. Quando o chefe anunciou. Esse ano nós vamos ter um amigo oculto! Eu ouvi toda aquela lenga-lenga da importância da confraternização. E tive que dar um presente a alguém que detestava, e que eu sabia que não deixaria de me detestar por isso. A gente sempre se fode com esses presentes, e ganha um bem mais barato que o preço combinado. Eu queria que trouxessem a nota fiscal. Vi quando foi anunciado o nome do fulano. As brincadeiras com risinhos amarelos dizem que eu vou ganhar o regalo do chefe. Eu sou o puxa-saco da empresa. Trabalho mais que os outros. Dou informações quentes. E sonho ser promovido. Descrevi o meu amigo oculto como um espírito evoluído. O felizardo que tirou o chefe, disse que ele era isso, aquilo, e blá-blá-blá. Nessa hora me aproximei das mesas de doces, e peguei um refrigerante. De repente o poderoso chefão abriu a caixa. O artefato explodiu. Ele gritava com o rosto cheio de estilhaços. Eu me impressionei mais com aquele que levou o presente. Este metia a mão na cabeça e gritava. Meu Deus! E tive vontade de dizer. Feliz Natal Pra Todos...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Não Dá Pra Morrer De Fome!

O gás lá em casa havia acabado. Eu tinha de gastar as últimas moedas, ironicamente, com as duas caixas de fósforos. Se estivesse no centro da cidade ia a um bar pedir pra tirar o lixo em troca de um café. O café é a melhor bebida que deus inventou. Depois vem a Coca-Cola. Como eu ia escrever o dia inteiro sem um gole de café. A literatura depende do café. Não do fumo, nem da bebida, nem de memórias afetivas, ou inspiração como alguns calhordas podem imaginar. Os escritores estão no ranking dos profissionais que mais bebem café. No posto de saúde pública não servem café de graça. Nas clínicas particulares é preciso ser paciente. Lembrei-me dos postos de combustíveis. No mais próximo existia uma placa em cima do café dizendo que era uma cortesia para os CLIENTES. O supermercado fica longe e nem sempre se tem a garantia daquele stand com cafezinho grátis. Pus a minha melhor roupa de ficar em casa, e corri para a biblioteca pública. Havia dois livros emprestados comigo. Então fiz cara de escritor em pesquisa para o próximo livro. E como quem não quer nada, eu me aproximei da garrafa térmica. Pena que aqueles copos descartáveis são ridiculamente pequenos. Peguei meu primeiro gole. Dei uma volta. Fingi que estava compenetrado. Voltei para o meu segundo gole. O bibliotecário sorriu com ironia e disse. O café da faxineira é bom... Respondi a ele. De graça é sempre mais gostoso... Sem tirar os olhos do computador ele me perguntou. Dá pra viver mesmo desse negócio de livro? Eu disse. Não dá pra morrer de fome... Nós rimos. Esmaguei o descartável com a mão. Fui. Agora eu poderia escrever em paz o resto do dia. A janta seria outro episódio. Mas a dúvida que pairava sobre a minha cabeça era se os empregados se cotizavam para comprar o café, ou se era comprado pelo governo. Essa dúvida me angustia. Se a biblioteca é pública o certo é que o governo compre o café. Vou perguntar ao bibliotecário da próxima vez...

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

O Papai Noel no Maracanã

Quando eu era criança nós éramos tudo felizes no Rio de Janeiro. Colorido, bonito, gel no cabelo, ombreira, e Atari dos colegas. A Blitz na vitrola e o Balão Mágico na tevê. Todo mundo imitando o Michael Jackson. Nossa vida era uma eterna tarde de sábado no programa do Chacrinha. Eu tinha doenças pra cacete. Diziam que era porque eu bebia água da bica e comia amêndoas do chão. Nós tínhamos pano branco, caxumba, rubéola, e coqueluche. O maior evento do ano era assistir à chegada do Papai Noel no Maracanã. Mas teve um ano que eu peguei catapora. Não queria espantar todo mundo do estádio. Esse até hoje é o maior trauma da minha infância. Se bem que eu não pude ter um videogame… A única desgraça que aconteceu naquele tempo foi o filme Pixote.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Meu Nome Não é Elano!

Eu tava bebendo um negócio com dois ou três bêbados amadores, e desconhecidos. A gente tava bebendo e assistindo uma banda de rock ruim. A banda era ruim. Não o rock. Um deles apontou a lata de Coca-Cola em cima da mesa, e perguntou: que porra é essa? Quando olhei percebi que tava escrito: quanto mais Rafa melhor. Alguém explicou que as latas vinham com vários nomes. Então a intenção é sair em busca da sua. Alguém disse: os caras do marketing são foda! Eu pensei. Os caras do marketing são foda. Mas eu nunca teria uma latinha com o meu nome. A vantagem de se ter um nome desconhecido é que as pessoas dificilmente se confundem. Já se você se chama Marcelo, Felipe ou Tiago, fica mais difícil. O lado ruim é ter que ouvir: eu não perguntei teu apelido, eu perguntei teu nome! Ou aquela: o dono da loja de móveis? Na verdade Delano é um sobrenome. O médico que fez o parto da minha mãe se chamava Jorge Delano. Até hoje não entendo a comparação com o ator Alain Delon. Não, eu não sou o Franklin Delano Roosevelt. Pior é ser chamado de Derlano por aqueles que não têm boa pronúncia. Quando o jogador Elano está na seleção... Eu respondo: o meu nome não é Elano!

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Oração de Delano Valentim

Senhor, que num milagre teu, senhor, toda essa gente comece a ler meu livro, que ele se torne um A Cabana, ou o meu Ágape igual ao do Padre Marcelo Rossi. E que o meu livro dispute ombro a ombro as prateleiras, e os passageiros dos ônibus, com o Harry Potter e o Crepúsculo. E que eu seja invejado e odiado como Paulo Coelho. Eu quero ver meu livro na mão daquele homem do povo que lê o Meia-Hora em pé no trem, e que escuta no celular, ou no radinho de pilha, o jogo do Flamengo, e a Patrulha da Cidade. Esse homem que mal sabe mexer na net, que não sabe nem o que é Face. Pois eu estou cansado daquele escritor que é um gênio para a história da literatura brasileira, mas que me dá sono no primeiro parágrafo. Senhor me leva para Hollywood, para que eu possa me prostituir como fez o irmão do Holden Caufield. Eu deixo o James Cameron me filmar. Ele faz do livro o roteiro que quiser, corta o personagem principal, muda o fim, eu não tô nem aí! Eu só quero que o filme propague o meu livro. Eu prometo que não vou à festa da entrega do Oscar. Dou uma de Salinger, que passou a vida toda lutando por aquilo, para no fim dizer que não queria. Os intelectuais adoram isso, escritores reclusos. Lembra-se do Dalton Trevisan? Do Thomas Pynchon? Do Carlos Castañeda? Do Rubem Fonseca? Mas senhor me afasta dos intelectuais, das resenhas, dos Prêmios Jabutis, das Feiras de Parati, da Academia Brasileira de Letras. Eu não quero ser condecorado, premiado, e estudado, para depois apodrecer numa estante empoeirada. Eu quero ser lido!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O Pé de Maria Joana

O Gordo disse pro magro esnobando. Aí tô com um pezinho lá em casa. O Magro surpreso. Mentira! O Gordo birrento. E já tá bem grandinho! O Magro curioso. Tu já fumou? O Gordo: ainda não. Mas tô pensando em estrear hoje. O Magro, vamo lá fumar um! O Gordo fazendo mistério. Mas ele tá no terraço do meu prédio... O Magro ainda sem acreditar. Você tá dizendo que plantou um pezinho no terraço do teu prédio? O Gordo: sim. O Magro: e se os outros vizinhos descobrirem? Eles não gostam, mas não sabem nem o que é. Pensam que é outra coisa. O Magro: o quê, por exemplo, trevo? É por aí! O Gordo disse já desinteressado. Continuou. Eu preciso de ajuda pra resgatar esse pé. O Magro: e qual é o tamanho dele? Vamo lá que você vai ver! Na escada o Gordo contou para o Magro: o porteiro fica admirado de como eu gosto de planta! Quando o Magro viu o pé, falou. Isto não é um pezinho, isto é uma árvore! O Gordo, sem escândalo. Vamo pela escada. Um tiozinho que ia abrindo a porta perguntou: que planta é essa, meu filho? E o Gordo: mandioca da serra! Eles riram desceram para a casa do Magro na noite suburbana. Carregando o vaso, suando. Uma patrulinha passou e um deles comentou. Que babacas, carregando planta uma hora dessa! Na casa do Magro, quando eles começaram a fumar, o relógio ainda estava marcando meia noite.

sábado, 27 de outubro de 2012

Eu Só Tô Com Um Real!

Ela me ligou a cobrar e disse: liga pro meu pai fazendo um favor. Diz a ele pra vir aqui que eu tô sem passagem. Eu liguei pro meu pai e disse: ela pediu pro senhor ir lá que ela tá sem passagem. Ele disse: eu só tô com um real na carteira. Diz a ela, que eu só tô com um real! Eu pensei. Como assim ele só tá com um real? Ele não tá é com nada! O Meu pai, trabalhador, aposentado. Homem honesto a vida toda. E bom profissional... Dos melhores! Ele só tá com um real na carteira. Pagou todos por seus direitos. Tem médico de dois em dois anos. Na escola da filha caçula passa até analfabeto... Ele só tá com um real na carteira.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Bela Suzane Richthofen

Quando Hugh Hefner fundou a revista Playboy, ele tinha a intenção de pôr na capa uma mulher de carne e osso que pudesse ser uma vizinha. Assim como a atriz Kristen Stewart que traiu o mocinho indo de encontro à imagem que o seu rostinho angelical representava, Suzane Richthofen nos decepcionou. A sociedade tem dificuldade em aceitar ricos assassinos. Como se o dinheiro tivesse uma capacidade redentora. Provavelmente Suzane é psicopata. Na época o argumento para o destaque do caso foi o parricídio. Mas qualquer leitor de diários sanguinolentos sabe que todos os dias um pobretão enche a cara de cachaça, mata a família, e vai ao cinema. Os casos ganham nomes na imprensa quando algum dos envolvidos, vítima ou agressor instiga nossa curiosidade. Por isso que o caso se chama Suzane Richthofen, e não O Caso dos Irmãos Cravinhos. Assim como O Caso Eloá (vítima), O Caso Isabela Nardoni (vítima), O Caso Bruno (agressor), e O Caso Elise Matsunaga (agressor). Ontem assisti a uma reportagem totalmente tendenciosa, em que os dois marmanjos eram colocados como vítimas inocentes da loura demoníaca. Se a gente fosse falar de frieza, como um adolescente, para quem o contrário do amor é o ódio, eles são tão frios quanto ela! Pois trucidaram aquele casal simplesmente por causa da grana. Não creio que a motivação fossem os supostos abusos, pois lucrariam muito mais indo à polícia e se livrando do pai, que preso ainda ia deixar uma grana para que curtissem em paz. O tom da reportagem foi que o namorado cometeu o crime motivado por sua paixão hollywoodiana. A imprensa ama Suzane, assim como ama Elise. Ela constrói o mito para vender mais. Mesmo que exista uma Suzane em cada esquina, sem o rostinho que representa nosso padrão de beleza atual. Sendo assim não conseguimos nos distanciar para que justiça seja feita. Como um amigo meu disse: eu acredito que o Bruno matou a amante, mas em qualquer país do mundo ele estaria solto, pois sem corpo não há crime. Como disse Hélio Luz: será que o povo brasileiro quer uma polícia justa? Para que a justiça sempre acontecesse, nós teríamos que deixar de lado nossas paixões (vingança).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

De Preta Ficou Branca!

Era um domingo desses que não chovem. E que as crianças não querem ficar em casa. As ruas do subúrbio cheias. Churrasco para todo lado. A volta da praia. A espera do jogo. Ela estava num desses churrasquinhos. Era a sua festinha de aniversário. Quando aquele carro estacionou próximo ao meu fio. Mais precisamente em frente a varanda lotada. Com três ou quatro cabeças que saíram simultaneamente. Uma loura de cabelos pintados desce com a ferramenta nas mãos. Pensou que fosse tomar um tiro. Ela quase caiu pra trás. Quando a loura anunciou: Surpresa! Antes tivesse vindo um balaço daqueles. Mas não, veio os parabéns da Xuxa nos alto-falantes. E põe alto nisso. Com a cara rachada de vergonha, teve que ouvir Emoções do Roberto Carlos. E depois a sopa de letrinhas de como ela era uma ótima, mãe, mulher e esposa. Era uma homenagem. E a nossa vítima, de preta, ficou branca. Mas os vizinhos adoraram. Pois não era com eles. Ah, esqueci, e ainda tiveram os fogos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ainda Existe Índio No Brasil?

Eu vi a foto do índio pendurado. Nem quero saber o que aconteceu, mas sempre torço por um fim diferente. Quando quero saber algo, ouço a rádio de noticiais, leio na internet, ou ouço a Hora do Brasil, assim acompanho o que os nossos capangas estão aprontando. No geral prefiro me manter distante para não me aborrecer. Fico deprimido. Acho de um enorme mau gosto assistir telejornal ao acordar, ou antes, de dormir, e uma baita influência para que você tenha pesadelos, ou comece o dia de maneira negativa. Imagem é tudo. Postaram também a foto de uma porção de crianças metralhadas, daquela guerra que não vai acabar nunca, a não ser que fechem aquele território, e tirem todos aqueles povos de lá. Já vi gente demais morta. Gente que conheci, fuzilada. Até suicidas. Se alguém queria me deixar chocado não conseguiu. Essa gente radical, que fica postando fotos com o cu no sofá e um copo de Nescau na mão, e dizem que vão fazer revolução ou sei lá mais o quê, mas não conseguem abandonar os seus trabalhos onde são explorados, e querem um diploma para garantir um salário melhor, pensam que fazem grande coisa pelo mundo se dizendo conscientes, ou votando nulo, ou votando certo. Quem quiser fazer algo diferente vai ter que enfrentar toda a democracia do mundo ocidental. E quando eles vêm, arrebentam com tudo! O pepino é bem maior do que essa gente imagina. O partido que está no poder é o partido que a gente sonhou no passado. Os novos partidos revolucionários me soam como, eu já vi esse filme antes. Tanto é que são formados por dissidentes. Ainda existe índio no Brasil? Eles foram dizimados quando aculturados por nossa curiosidade, e por nossa falta de compreensão de como alguém pode viver no meio do mato pelado, sem precisar de celular, computador, ou universidade. Eu vi um índio dizendo que o homem branco injetou a culpa em sua tribo, pois eles eram poligâmicos, e agora são monogâmicos. Assim como os padres jesuítas fizeram, nós levamos nossos vícios, nosso alcoolismo. Aquilo que na cultura deles era um momento de transcendência, passa a ser uma fuga. Como as drogas são para a maioria. Achei a foto daquele rapaz morto, de uma agressividade tão grande quanto à de seus assassinos, diretos, ou indiretos. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Só Muda Quem Está Em Dúvida

Ontem a minha mina disse que não aguentava ver os crackudos na linha do trem. Eu já estive várias vezes numa cracolândia, e sei que é o inferno na terra. E que só não vê espíritos vagando quem não quer. Eu disse a ela que escrevesse sobre isso para poder desabafar. Nenhum individuo ou grupo tem o poder de mudar nem uma rua se a maioria não quiser. Nelson Mandela não libertou África sozinho. Alemanha nazista não era Hitler. O ministro Joaquim Barbosa não é o salvador da pátria. O Brasil não funciona. O apoio a cultura é ridículo. A educação é uma piada. E a saúde pública não existe. O sonho de mudar o mundo hoje é patético. O que tem feito o mundo avançar em alguns pontos é a sua própria história. Não há nada que garanta que uma ação vá ter um efeito imediato. Ou mesmo que vá ter um efeito a longo prazo. O quê não nos exime de fazermos a nossa parte. Não só para que possamos deitar tranquilos no travesseiro. Mas sim porque alguma coisa nos diz que a harmonia é o melhor negócio. Quando eu não jogo papel no chão, não faço isso por causa de uma propaganda, porque não tem ninguém vendo, ou porque alguém me disse que não deveria fazer. Faço porque junto a toda a informação que recebi, cheguei a conclusão de que realmente é o certo. Mas podia ter concluído o contrário. Sem essa pieguice de que mundo eu vou deixar para os meus filhos. Ninguém pode se anular como individuo em prol da sociedade. Mesmo nesta época do politicamente correto. Até porque quando somos bonzinhos, não nos desvencilhamos da sociedade. Nós somos o mal e o bem que habita nela. Eu também mato, estupro, e roubo. Embora não seja eu quem puxe o gatilho. Ninguém pode carregar o fardo. Até porque só muda quem está em dúvida. As verdadeiras vítimas são minoria. O Brasil é assim porque nós brasileiros queremos ou deixamos que ele fique assim. E mesmo que tenhamos avanços nas áreas mais críticas, nada nos garante que vamos evoluir como sociedade, ou que seremos felizes, que acredito ser o objetivo final. Em países ricos malucos entram em lugares atirando. E é onde estão os maiores índices de suicídios  Por isso o pensamento não pode estar restrito a uma época, ou situação que normalmente é passageira. Mesmo para a minha filosofia teen. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Foi Por Isso Que Aconteceu Aquilo!

Eu perguntei: você terminou o livro? Ela disse: não. Ah, o garoto queria se matar. Não gosto disso. Eu retruquei: mas você tem que ler para saber o que acontece. Então respondeu: eu nunca leio os livros até o final. Eu disse: porque? Ela: tenho medo de saber o que vai acontecer. Prefiro não ler. Depois eu me pus a pensar que o livro não acaba em suas páginas. Pois assim como na vida a coisa pode se inverter depois. Mudar de rumo, sei lá. Por isso que não gosto de autores que querem explicar tudo, que não deixam a gente imaginar nada, e que pensam que o leitor é um pária sem criatividade, ou inteligência para refletir porque aquele personagem se transformou no quê é hoje, por exemplo. Talvez ela não queira saber o final, por pensar que assim como na vida, ele pode ser bom ou ruim. Depende do ponto de vista. Eu não sei porque, mas a minha intuição me diz que já aconteceu algo que vai voltar depois. Mesmo que não seja nada tão extraordinário como a gente gostaria de imaginar. Alguma coisa que nos conforte. E que nos faça dizer, tá vendo? Foi por isso que aconteceu aquilo!

domingo, 21 de outubro de 2012

Horário de Verão

O meu pai acorda as seis da manhã, e vai comprar o jornal, o leite e o pão. A minha mãe liga o rádio e prepara o café. Ela se arruma enquanto o meu pai não chega. Eu levanto. Nós tomamos o café da manhã juntos. Os dois me beijam e saem de mãos dadas. Sete horas. Ela pega o trem. Ele pega o ônibus. E os dois   pegam no trabalho as oito. Saem as cinco. Na volta, se eles apertarem o passo, ainda dá tempo de irem me buscar na escola. Pois levam do centro da cidade ao subúrbio, apenas quarenta minutos. Eu vejo os dois me esperando na saída. Sendo assim nessa época, a gente consegue aproveitar a luz do dia. Talvez a gente caminhe um pouco na praça, ou vá dê uma passadinha na casa de um parente próximo. Por isso que eu adoro este horário.

sábado, 20 de outubro de 2012

Na Casa do Tim

Eu fui a casa do Tim. Ele estava sentado num sofá assistindo televisão. Gordo igual um buda. Uma profusão de crianças correndo para todo lado. Sobrinhos, vizinhos, netos, talvez. O Tim me disse: sem cerimônia, Magrão. O Tim me chamava de Magrão. Ele empurrou o gato que estava ao seu lado. O bichano saiu num pinote em disparada para fora da casa. Eu havia imaginado outro cenário. Pensei que nós íamos para um estúdio cheio de instrumentos pendurados. Não havia privacidade. A tevê no último volume. Ele gritava com as crianças. A menina correu pra rua! Veio uma mulher da cozinha que parecia ser sua irmã. Ela perguntou: vamos comer rabada, Tião? Ele disse: vamos, o Magrão quer provar da tua rabada! E depois disse a ela: esse aqui é um cantor amigo meu, cuidado que cantor é tudo calhorda! Ela deu um risinho e voltou para a cozinha. O Tim em casa era um patriarca. Ele pegou uma lata e começou a enrolar um baseado. E me disse: se quiser mete a mão que do meu você não fuma. Eu fui cheio de esperança de falar sobre música ou quem sabe fazer alguma. Era uma terça feira. E fomos levar uma porção de crianças na escola. E depois fomos ao supermercado. Na volta ele tirou a camisa. Nunca pensei em ver aquela famosa pança preta. Aos poucos comecei a relaxar e a aproveitar o momento, e esqueci o negócio da música. Ele contava histórias engraçadas sobre os músicos. Era um comediante nato que dava a entonação certa imitando as pessoas. Depois que fomos buscar as crianças, o Tim me levou a um ponto de ônibus, e nós nos despedimos. Logo após fiquei sabendo que ele havia morrido. E me veio a mente aquela tarde tão agradável. 

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

O Artista

Antigamente no subúrbio, quando a criança aprontava alguma peraltice, a mãe dizia: para de fazer arte menino! A criança era tida como arteira. Os malandros chamavam seus chegados de artista. Mas nem todo mundo que faz arte é artista. Nem todo mundo que trabalha com arte é artista. O ator Marlon Brando dizia não ter amor a arte, e que se o pagassem para ficar sem fazer nada, ele ficaria sem fazer nada. Billie Holiday ao ser indagada se sabia cantar, respondeu: e quem não sabe? Tem gente com livro editado, filme pronto, peça ensaiada, quadros expostos, que não é artista. Eu assisti a uma aula em que um professor de filosofia disse que um diploma não faz de ninguém um filósofo. Como Chico Science dizia, computadores fazem arte, e artistas fazem dinheiro. Hoje em dia com a facilidade tecnológica, existe uma enxurrada de gente fazendo arte. Mas são raros os verdadeiros artistas. Conheci pouquíssimos com aquele brilho no olhar. Embora esta frase seja um clichê, não deixa de ser verdadeira. O verdadeiro artista não se preocupa com nada. A única certeza que tem, é a de se dedicar e aperfeiçoar o seu ofício. Pois não tem tempo a perder. Igual aqueles filósofos antigos que não se casavam para não suprimir o tempo dedicado a  filosofia. O escritor Charles Bukowski dizia não ter tempo nem para cortar as unhas. O verdadeiro artista pensa como artista, e se movimenta como artista. É como se o mundo fosse a sua tábua de criação. Como Henry Miller dizia: eu leio o mundo. Fama, dinheiro, e reconhecimento, podem fazer parte da vida mundana de um artista. Ou ser até uma necessidade para que continue propagando a sua arte. Mas não são preponderantes no resultado final de sua obra, que tem um valor abstrato para si mesmo, muito maior que esse temporal.

"A arte pertence ao inconsciente! O Artista deve expressar a si mesmo! Expressar a si mesmo diretamente! Não seu gosto, sua educação, inteligência, conhecimento ou habilidade". Schoenberg.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

2003 Foi Um Ano Ruim

Eu tava magro. Nunca tive tão magro em minha vida. Todo mundo me perguntava se eu tava doente. O meu cabelo não parava de crescer, e eu não sentia nenhuma vontade de cortar. Eu vivia com o meu pai. Ele saia de manhã para trabalhar. Deixava alguns trocados para o pão em cima da mesa. Voltava à noite. Ele me dava boa noite e ia dormir. Eu olhava para as paredes descascadas do quarto, e pensava no que fazer. O que eu ia inventar agora. Todo mundo some quando se começa a envelhecer por baixo. Depois os putos reaparecem para relembrar a velha amizade. Seres humanos. Ninguém tocava a campainha. Ninguém me telefonava. Eu ia a biblioteca pública do bairro, mas já havia lido quase todo o seu pequenino acervo. Um urubu sobrevoava a casa. Eu queria me matar mais não tinha forças pra isso. Então me sentava em bancos de madeira, até a minha bunda criar calos, esperando ouvir alguma coisa que me tirasse daquela procrastinação. Nada. Final de semana eu arrumava uma nota de cinco, e me juntava com algum tipo derrotado. A gente ia ao supermercado, escolhia o vinho mais barato, e virava uma garrafa quente do gargalo. Alguma coisa me dizia que eu tinha que continuar. Viver é tão absurdo, mas ao mesmo tempo tão maravilhoso. Não me pergunte por que. Nessa época eu tive uma ideia de algo novo que podia fazer. Consegui me reinventar. Descobri que não existe luta, e que é preciso ter paciência.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Para Aonde Foram Os Crackudos?

Para aonde foram os crackudos. Hoje eu fui a Biblioteca Parque Manguinhos, e não vi nenhum deles por lá. As ruas estavam limpíssimas. E os traficantes, será que mudaram de ramo. Como uma população inteira evapora. Não que eu me preocupe com isso, pois como qualquer cidadão mediano, eu não me preocupo com ninguém. Mas queria saber. Só por curiosidade. Será que eles ascenderam, como dizem que aconteceu com algumas civilizações antigas. De repente eu estava lá, entre o Jacaré e o Manguinhos. Duas favelas pacificadas. Vi a polícia montada, como na época do Bota Abaixo. Vi o frisson das crianças querendo aparecer na televisão. Tia, vocês vão filmar aqui. As velhinhas felizes da vida. De repente percebi que estava sendo contagiado por aquele clima de Copa do Mundo, de Réveillon, e de Natal, em que mesmo os ateus comemoram. Percebi que era hora de voltar para casa. Pois quando a conta chega, sempre bate o arrependimento. Normalmente ela vem acompanhada da ressaca. E a ressaca moral é a pior delas. Quando você percebe que bebeu demais. E que a festa nem foi tão legal assim.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

MPB FM vs. Rádio Roquette Pinto

A JB FM era a rádio número um com selo de “bom gosto”, junto da Antena 1 Fm. Mas a JB se propôs a dividir o bolo com a música brasileira e saiu na frente. Aí alguém da MPB FM sacou que se só tocasse música brasileira alcançaria um público sedento. E hoje ela ocupa o lugar que era da JB. É a mais tocada nos consultórios psiquiátricos. Mas tenho sentido a força da Roquette Pinto. Talvez pelo fato de ser uma empresa pública, ela possa apostar num tempo diferente, com espaço para intervenções de seus apresentadores, que em alguns programas lançam comentários críticos e históricos sobre o que tocam. Além disso a Roquette aposta no lado B da MPB, e no que existe de mais sofisticado na música universal. No momento em que escrevo estas palavras estou ouvindo Andrea Doria da Legião, que é uma música quase lado B. Já a MPB tem optado, com raras exceções, por uma programação mais lado A. E mesmo em alguns programas como o Pop Rock Brasil, eles metem algumas músicas saturadas, quando podiam se aprofundar mais um pouco na década de oitenta, que acredito eu, ouvinte assíduo do programa, seja a vontade da maior parte. Existe uma introdução disso, mas quando o ouvinte se empolga, eles recuam. Embora a rádio tenha um papel importante para os artistas da MPB, ela podia ousar mais. Inclusive com artistas verdadeiramente independentes. Não tenho esperança de ver uma música minha em nenhuma das duas rádios. Não existe uma ouvidoria. E acho que diferente do que as rádios dão a entender, as coisas não são tão fáceis para quem grava seu próprio material, e não tem o respaldo de um produtor ou uma gravadora, mesmo que independentes. Mas hoje talvez o ouvinte da MPB seja um potencial ouvinte da Roquete Pinto, que tem afinados muitos ouvidos, inclusive os meus.

P.s: não estou me justificando, mas não me apeguei a pesquisas, e sim a minha percepção de um público ligado a música popular brasileira. Numa análise mais completa, eu não poderia deixar de citar as formidáveis Rádio MEC FM e a SulAmérica Paradiso.

domingo, 14 de outubro de 2012

Eu Enfiei a Cabeça Dele na Lata de Lixo!

Todo dia eu venho a esse supermercado e ele fica me olhando. Eu estou a essa hora de chinelo e de bermuda com esse cabelo. No mínimo não estou pegando no pesado. E na visão dele o trabalho enobrece o homem. Ele não sabe que neste momento, só de olhar para ele e pensar sobre, eu estou trabalhando como escritor. Ele não sabe que eu sou escritor. Ele deve pensar que eu sou sustentado por minha esposa. Mal sabe ele que nesse quarteirão e no outro, e talvez até nesse bairro inteiro, eu seja um dos caras mais felizes. Por causa da minha liberdade, e de viver do jeito que sempre sonhei. Ele me olha e talvez não vá com a minha cara porque eu tenho cara de maconheiro. Isso justifica alguma coisa em sua cabeça. Ele me encara de cara feia, porque sente inveja da minha liberdade. Eu saio de fininho para não arrumar confusão. Mas em pensamento, eu enfiei a cabeça dele na lata de lixo!

sábado, 13 de outubro de 2012

Chico Buarque de Holanda

A minha vó me perguntou uma vez o que eu queria ser. Eu disse a ela que eu queria cantar samba e tocar violão igual aos pretos do morro. Agora eu estou aqui no meio dos pretos do morro. Intimidado com a viola no saco. E tenho a sensação de que estou clareando a noite. Os meus olhos claros que na beira de praia fazem tanto sucesso, aqui só fazem chamar ainda mais atenção para a minha pessoa exótica. Todo crioulo que me cumprimenta diz: e aí surfista? E talvez surfista seja uma forma de não me chamar de playboy. Ela requebra. Ela me olha. Eu dou um sorriso tímido com o canto da boca. O trafica encosta em mim e me diz: a tua papinha não é surfista? Eu digo: não, nada a ver, aí! Ele diz: qual é surfista, vai querer enganar nós? Eu calo. Ele me deu a melhor erva do morro. E disse: essa é só pra morador! Agora vem o homem gordo diretor da escola. Ele beija a mão da preta. Ela olha para a mesa como que para ter a minha aprovação. Eu sou um estorvo. Acendo um cigarro e encho o meu copo. O traficante gostou de Quem Te Viu Quem Te Vê, e disse: maior realidade aí... E depois ele contou uma história imensa sobre um caso dele com uma passista. Ele se identificou com a música, agora nós temos algo em comum. E toda vez que eu venho à quadra ele quer conversar. Ela está rebolando e olha direto na minha direção. Não consegue mais disfarçar, e eu estou com medo que eles fiquem chateados. Agora aquele crioulo mais velho cismou com ela. Ele parece querer que ela sambe com ele. Mas ela balança a cabeça e me olha novamente. Eu não posso me meter. Quem sou eu? Magro e desarmado. O trafica se levanta e caminha para o centro da quadra. Ele segura o coroa e daqui posso ler seu lábio. A mina tá com o cara! E me aponta. Ela vem. Depois o trafica. Ele diz: aí surfista, tá em casa aqui, você pode ficar tranquilo. Eu só consigo dizer: valeu... Ela me puxa e a gente vai sair. Ela não fala com ninguém. Eu penso. Sou eu, só quem sabe dela sou eu! Isso dá música.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Eu Não Consegui Roubar...

Naquele quintal só se comia angu e ovo. Por isso que hoje em dia eu só como ovo quando não existe outra opção. E tomei nojo de angu. Eu, e um dos meus primos que virou ladrão, e que por isso morreu assassinado, a gente era louco por pão. De tarde naquele sol do quintal, a gente tinha que se virar para comer pão. Então nós catávamos garrafas ou vendíamos alguma coisa no ferro velho. Eu ia com a minha prima as saudosas Casas da Banha, e ficava vigiando com medo enquanto ela jogava as coisas dentro da roupa. Hoje em dia isso não seria possível por causa das câmeras. Uma vez eu tentei roubar um doce na mercearia. O rapaz não brigou comigo. Mas me olhou de uma maneira tão desaprovadora, que antes ele tivesse me levado para a delegacia. Ainda hoje não consigo me esquecer daquele olhar. Mais tarde surgiram convites mirabolantes para furtos mais sérios. Detesto armas e violência. Só o pensamento de empunhar uma arma me provoca náuseas. Um amigo meu rouba canetas. Ele está conversando contigo, ou com uma atendente qualquer que lhe presta uma caneta, e ele escorrega a caneta para dentro do bolso. E vibra como se tivesse acabado de assaltar um banco. Ele diz: você viu, ela nem imaginava! Quando eu era criança pedi a um senhor que me emprestasse umas moedas para poder jogar fliperama. Na minha cabeça infantil aquilo era uma necessidade. Depois do que ele disse, eu passei a detestar pedir coisas aos seres humanos. Quando é dia de dar doces eu me tranco em casa. Fecho até as cortinas. Pois fico com pena daquelas crianças que pegam doces, não para se divertir, e sim para matar a fome.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

A Praia Mais Bonita Do Brasil

A praia mais bonita do Brasil fica num dos estados mais populares do nordeste. É uma praia pequena. Ela tem bancos de areia, areia branquíssima, e água cristalina com temperatura agradável. Mas o melhor de tudo, é que não existem muitos muitos seres humanos por perto para poluir o ambiente. Embora nessa praia tenha sido filmada uma novela, impressionantemente ela não se tornou popular. Esse estado do Brasil tem praias muito conhecidas, mas essa não figura entre as mais citadas. Não sei se por que bulhufas ela se mantém assim. Não sei se é contramão, ou o que acontece. Lá tem poucas barracas e as coisas não são tão caras.  Trouxe algumas conchas que catei para fazer um colar. Eu não bebo cerveja. Mas naquele dia tive que beber. E enquanto o vendedor estava reclamando que lá era uma praia pouco frequentada, eu pensava, tomara que eles não venham sujar aqui, também, que fiquem pela cidade! Pensei isso não por uma questão de egoísmo, e sim de preservação. Quando olhei para aquele mar, matutei, eu posso até não ter conhecido a  eternidade, mas que eu já conheço o paraíso, ah, isso eu conheço!

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Snoop Doggy Dogg No Programa Da Oprah Winfrey

Snoop Doggy Dogg foi ao programa da Oprah Winfrey. Quando ele sentou no sofá, a apresentadora, antes mesmo de saudar a plateia perguntou: você fuma maconha? E Snoop respondeu: exceedingly. Ou seja, excessivamente. Oprah abanou o ar com a mão e disse, está um cheiro aqui, que chegou a empestear todo estúdio. A plateia veio abaixo. Um minuto de risos. Snoop disse: é que esse baseado é o baseado do mês! E Oprah perguntou: como assim o baseado do mês? Ele explicou. Eu tenho um cemitério. E Oprah fazendo graça, eu não sabia... A plateia sorriu. Snoop disse: é um cemitério de pontas. E quando eu encho um potinho com as pontas do mês inteiro, eu tiro aquela erva curtida de dentro de cada cigarro, e enrolo um único baseado do tamanho de um charuto enorme, e isso aconteceu hoje! A Oprah disse: quer dizer então que eu fui sorteada? Sim, você foi sorteada! A Plateia desabou. O YouTube não permitiu que o vídeo fosse postado.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Adriano

Adriano, eu moro aqui na Penha, e este lugar realmente tem alguma coisa inexplicável. Até escrevi um livro sobre isso. Adriano, todo mundo sabe que o teu problema não é droga, e sim bebida. Você está doente, e tem que se cuidar. Pois tem um vício que leva a outro vício. E provavelmente tudo começou com uma depressão que você não cuida. Dá para ver em teus olhos. A depressão assim como o alcoolismo é uma doença que tem tratamento. Existem esses grupos de doze passos que funcionam. Mas cuidado para não culpar a bebida e o sexo pelos teus fracassos, ao invés de reavaliar o teu pensamento. E cuidado também para não substituir alguns vícios por outros, tipo, comida, videogame ou fanatismo. Eu sei que você vai enlouquecer se tiver que abandonar determinadas amizades e lugares. Mas dependendo do caso, isso se torna necessário. Ninguém afunda ninguém, Adriano. Cada um é que se afunda sozinho. Você falou em desistir, e parar de jogar. Após um jogo em dois mil e nove, eu fui dormir emburrado, pois estava colocando fé que com aquele time dava pra ser campeão. Mas sabia que a gente não podia perder aquele jogo. Eu deixei de acreditar assim como você está deixando de acreditar agora. No dia seguinte aquele jogo todo mundo disse: Já era! Mas vocês começaram a embalar. E a cada jogo que passava, eu me perguntava: será que vai dar? Você é o jogador mais forte que eu já vi jogar. Eu me lembro de que pisava na bola e a protegia com o corpo, e o zagueiro que trombasse contigo se dava mal. Você com a tua cabeçada, e o teu chute forte. Sempre a espera do próximo duelo, a gente começou a fazer as contas e a dizer que dava. Nunca valorizei tanto os minutos passados como naquela final. E cada um que passava me dava um alívio igual aquele vento que passa no rosto numa tarde de calor. Quando o juiz deu o apitou final e apontou o centro do campo, eu senti uma emoção que só havia sentido pela última vez naquele gol do Pet. Saí correndo portão afora, gritando de felicidade. Eu não acreditava mais na recuperação do Flamengo, e você me fez acreditar que a gente junto conseguiria. Espero que você agora aceite que eu te diga que você pode se recuperar. Não que a gente dependa de você, pois nós não podemos depender de jogador. Até porque o nosso time, é a nossa torcida, e não os nossos jogadores. E você criado no clube, sabe muito bem disso. Mas sim pelo que você já fez pela gente. É uma forma de gratidão. Por isso nós te aceitamos de volta. E tomara que você faça a sua parte. Não pela gente, mas por você mesmo, Adriano.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

As Minhas Mãos São Feias

As minhas mãos são cheias de calos. Calos do instrumento que toco precariamente, e outros calos. Calos nas pontas dos dedos. A ponta do meus dedos são queimadas, por falta de atenção. Eu faço um força terrível para não roer unha. Não sei cortar as unhas, e sempre que as corto sem ajuda, acabo arrancando um pedaço de pele. Mas o que há de feio em minhas mãos não é fruto de um trabalho pesado. Embora escrever me deixe com dor na coluna por conta da má postura. Elas são feias talvez em respeito a uma tradição familiar. Pois as mãos da minha mãe cheiravam a água sanitária. Por isso sempre que vou comer em algum lugar escondo estas mãos que pressionam as teclas. Que apesar de limpas, são feias. As minhas mãos estão sempre embaixo da mesa. Já cuidei das minhas unhas, mas não deu, elas chamavam ainda mais atenção para o resto. Por isso que as minhas mãos em determinadas situações estão enfurnadas em meus bolsos. Pois elas são os olhos do tímido.

domingo, 7 de outubro de 2012

Dia de Eleição no Subúrbio

Dia de rever os amigos de infância. Pois eles sempre voltam para almoçar em família na casa da mãe que continua morando na mesma casinha que irá morar pelos próximos cem anos se deus quiser. Dia de saber que o cara mais inteligente da turma não ficou rico. E que aquela menina pela qual você era apaixonado acabou se casando com aquele mané, e que hoje ela está gorda e que traz três filhos na bagagem. Bem feito pra ela. Dia de ouvir na fila para votar que todos os políticos são safados. Dia de pensar em quem vota nesses políticos safados. Dia de no final da tarde olhar aqueles carros lotados voltando para outros bairros distantes, e de entrar no ônibus cheio de crianças e bolsas. Mas ninguém deve ligar muito para saber quem foi eleito. 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

De Saia Curta e Salto Alto

Ela chegou à festa com aquela saia que mesmo para os padrões dos tempos em que as mulheres são essenciais para a política central do ocidente, num tempo em que o que é bonito é para ser mostrado, num tempo em que posar nua é sinônimo de trabalho, e de eu sou independente, mas você paga a conta. A saia era um escândalo. A tia chegou abafando e logo pegou no colo o menino ainda em trajes de pagão. Alguns homens engoliram em seco como de costume. E disseram em pensamento: gostosa! Num tom que dava a entender que isso era uma ofensa. E as mulheres, despeitadas ou não, diziam: que saia! Algumas olhavam mais com admiração do que inveja. Daquele mesmo jeito que alguns homens olham. A tia pegou o aniversariante no colo e fez todas as firulas possíveis para que todos vissem o seu útero. Agachou, pulou, e sentou de perna aberta. Falou praticamente com todos os homens acompanhados da festinha de um ano. Com aqueles com quem tinha, e que não tinha intimidade. Alguns ficaram até com medo de se levantar da mesa, para não sofrer um achaque íntimo. Naquele dia metade dos casais que foram à festa dormiram brigados. A outra metade comentou o acontecimento. O aniversariante dormiu no colo da tia entre dois belos melões. A tia dormiu feliz da vida em sua cama de solteira. E lá vêm as festas de final de ano. Boa sorte a todos!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Avenida Brasil

Aeroporto. Tiro. Carro na contramão. Falsa blitz. Pedra arremessada de cima da passarela. Engarrafamento. Tiroteio. Xingamento. Foda-se. Vai tomar no cu todo mundo. Calor pra caralho. Mendigo andarilho. Criança abandonada vendendo bala no ônibus. Ônibus lotado. Duas horas parado. Pardal. Atraso. Garrafa de plástico arremessada pela janela. Alagamento. Intransitável. Bandalha. Mixórdia. Pedinte. Vendedor ambulante. Pregação. Isopor com cerveja. Boca perto da pista. Maconha palha. Propina. Motel pra trepada com colega de trabalho na hora do almoço. Travesti se prostituindo em ruazinha transversal. Propagandas. Forró. Falsas propagandas. Palavras de ordem. Utopia. Hospital público lotado. Escola de nível médio para trabalhadores que sonham. Pedofilia. Necrofilia. Turismo sexual. Cachorro vira-lata com o pelo caindo. Idoso. Deprimente. ONG corrupta. Barracos amontoados. Pichação. Falta de privacidade. Lixo cobrindo bueiro. Arrancada. Atropelamento. Estresse patético. McDonald`s. Habib`s. RJ TV. Wagner Montes. Frentistas com celulite. Batidas. Ausência de riqueza. Ausência de beleza. Pobreza sistemática. Corrupção impregnada. Omissão. Atitude duvidosa. Falta de amor próprio. Ilusão constante. Otimismo arcaico. Pessimismo. Artista mimado. Carro tocando pagode com ar condicionado. Gênio incompreendido. Lixão cenográfico. E não aparece um tufão pra acabar com isso tudo.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

12h25min

Ele não ouve mais a professora. Já guardou o material. Olha o relógio. 12h20min. O sinal toca. É o primeiro a sair. Corre. Ignora os gritos de pera aí! Atravessa o portão. Passa por um carro de polícia. Correndo. Sem medo. Hoje Não. Tô com pressa. Quase pisa na mercadoria de um vendedor ambulante. Atravessa com o sinal aberto. Quase é vítima de atropelamento em frente ao shopping. Buzinas. Mais buzinas. Não ajuda uma velhinha atravessar a rua. Quase derruba uma velhinha na saída do supermercado. Corre. E corre de novo. Passa por seu avô jogando baralho na praça. Não dá a mínima. Corre. A menina vem com duas amigas conversando tranquilamente. Descendo a ladeira. Ele está ofegante. Ela diz: deu tempo? Ele diz: sim. Um filete de suor escorre das suas têmporas. Ela dá um beijinho seco nos lábios. Ele segue em silêncio ouvindo a conversa das amigas. Ela pergunta: tudo bem? Ele diz: sim. Ela sente a mão dele suada. Ele olha o relógio da praça. 12h25min.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Vila Mimosa

Cheiro de cerveja envelhecida. Odor ocre. Perfume da Avon. Vinho barato. Cigarro mata rato. Quartinho apertado. Maquininha de música. Funk proibido. Forró de teclado. Som alto. Tatuagem de cadeia. Fininho de cadeia. Pó. Talagada. Olhos vermelhos. Pernas bambas. Polícia. Bandido. Milícia. Taxista. Dinheiro no sutiã. Em nome do pai do filho e do espírito santo feito com o pagamento. Cabelo pintado de louro com tinta vagabunda. Balangandãs. Badulaques. Balacobaco. Imagem de São Jorge. Ogum. Camisinha no cestinho de lixo. Creme de farmácia. Higiene. Falta de higiene. Competição. Sinuca. Fliperama antigo. Camelô vendendo bala halls. Bijuterias. Se lava ali na pia. Tem uma toalhinha aqui. Agentes de saúde distribuindo preservativos. Evangélicos apontando o caminho. Guia de macumba. Menores. Maiores. Virgens. Broxas. Aposentados. Peões. Dia de pagamento. Angu. Vaca atolada. Churrasquinho de gato. Playboys entediados. Intelectuais em busca do povo. Arruaceiro arrastado para a rua mais próxima para levar uma coça. Sexo. Foda. Programa. Trepada. Amor, vamos fazer um amorzinho gostoso? Esculachos. Briga. Pagou ou não pagou? Gozou rápido! Demorou a gozar... Halitose. Cabelo cheiroso. Pau ensebado. Felação. Gritos artificias. Me fode! Tentativa de strip-tease. Homem cheiroso. Homem carinhoso. Homem estúpido. Peito caído. Bunda durinha. Coxa marcada. Celulite. Rosto encarquilhado. Rostinho de boneca. Bunda grande. Bunda pequena. Peito grande. Peito pequeno. Só não uso camisinha com o meu marido! Declarações de amor. Casamento. Chupar o pau dos outros por tabela. Com beijo na boca é mais caro. Sem beijo na boca, então. Só beijo o meu marido na boca! Anal é mais caro. Dói. O teu pau é muito grande. Ai. Ui. Coloca devagar. Vou trocar de posição. Mal humor. Bom humor. Alegria histérica. Chão sujo. Perdeu a linha. Sono. Ressaca. Esquinas da Rua Ceará. Cearenses. Mineiros. Cariocas. Enfim, Brasil.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Dezesseis Anos e Um Mês

Ela só tem dezesseis anos. E tem um filho com um mês. A sala está cheia. O neném não vai com a cara de nenhum dos presentes. A mãe põe ele no colo de um tio alto, e de óculos, e diz: vai com o tio. Ele segura o menino por alguns segundos. O neném tem dificuldades para fazer virar a cabeça. Mas ele faz isso. Parece que perdeu alguma coisa. Olha desolado para as paredes brancas da sala. E de repente dá um grito. Faz um barulho parecido com um ai. O tio balança o neném. Ele dá outro grito. Ouve a voz da mãe perguntando o que foi, e percorre todo o caminho com os olhos até chegar a ela. O tio diz: acho que ele quer ir no teu colo. E devolve o embrulho para a mãe que diz: as vezes ele estranha... O tio diz: ele não gosta de ficar no alto? Você vai ficar sentada com ele? E a mãe: sim. Ela continua. Mas eu não fico em pé com ele, não! E agora o neném está em silêncio e com os olhos arregalados. Ele não fica em pé com o tio. Mas fica sentado com a mãe. Ele é apenas um cotoco de gente, mas como toda gente já sabe o que quer. E o tio pensa que esta é a sua maneira de dizer. Não é a mamãe! 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Netfobia

Estou com medo que o meu computador seja invadido e as minhas ideias plagiadas. Estou com medo de não ter mais direito a um segredo. De não ter mais direito a uma intimidade. Tenho medo que você esteja me filmando agora, neste momento. Tenho medo que você saiba onde eu estou e tenha todos os meus dados. Tenho medo de ser filmado nu, ou no próprio ato sexual, ou até quem sabe tocando uma, como se não tivesse mais direito a fantasia, e as paredes a partir de agora tivessem realmente ouvidos, e ouvissem até a minha respiração. Tenho medo que me filmem dando uma cagada em um local proibido. Ou de ser preso antes de aliviar a bexiga. Ou de ser filmado tirando uma meleca do nariz, e passando na sola no tênis, e isso virar um hit no YouTube. Quem não deve não teme. Mas eu devo muito. Não quero viver em rede, embora eu já me veja enrolado nela igual um caranguejo, lutando para me desvencilhar. Não quero ser um número, como previu o apocalipse, neste mundo de dígitos e bits. Não quero ter um milhão de amigos virtuais. Não quero ser gravado dando uma opinião que não daria publicamente para não magoar as pessoas. Como se a preservação, o cinismo, a fofoca, ou a hipocrisia não fossem inerentes ao ser humano. Tenho medo de me tornar um viral sem conteúdo. Tenho medo que as minhas músicas sejam jogadas no meio de um milhão de outras músicas que são escutadas em aparelhos pequeninos para se ouvir durante alguns dias. Tenho medo que as minhas músicas sejam ouvidas fora do contexto. Tenho medo de que os meus textos se tornam mais textos empilhados na internet. Tenho medo de não ter mais tempo para a leitura de livros de outro tempo. Tenho medo de não poder ouvir mais os discos. Tenho medo de não ter tempo para admirar um quadro, ou de não ter tempo para o ócio e a divagação. Tenho medo de deixar de ser eu, e fazer parte de um grupo e ficar repetindo as coisas que os outros dizem. Tenho medo de circular por aí em remixado. E que mais do que ganhar dinheiro com isso, eu não tenha direito a autoria. Como eu já vi imagens que captei na televisão e só pude dizer: fui eu que fiz isso! Como já ouvi versões de coisas minhas. Tenho medo, e sei que tudo isso está acontecendo, e que não vai parar de acontecer. Como se a gente não tivesse direito de optar, ir ou não ir à praia de nudismo. Só que dessa vez o que será despido, serão os nossos espíritos. Eu tenho medo de mais do que perder a minha essência no meio desse bolo doido, é de não me reconhecer como tal. Como quem eu sou! A privacidade está com os dias contados e eu não vou saber lidar com isso. Talvez eu fuja para uma ilha. Fique barbudo. E invente uma nova doença. Netfobia.

domingo, 9 de setembro de 2012

Câmera Não Escolhe Quem Filmar!

Ele mastigou duas aspirinas e as engoliu. Sempre fazia isso quando estava com enxaqueca. Nunca ficou provada a eficácia daquilo que a vovozinha que morreu com 100 anos havia lhe ensinado. A saudade da avó o levou a sentir saudade daquela primeira desova. Ele se lembra de ter carregado o corpo por um local ermo até a beira do lago. O mais velho naquela época o havia ensinado a carregar o corpo, e disse: é como carregar sacos de batatas! E essa saudade o levou a sentir saudades de quando podiam levar sacos de lixo pretos e enormes dentro da viatura. Ultimamente até com o kit vela vinham implicando. Uma arma e uma peteca de pó para quem bancasse o engraçadinho com aquele discurso de que eu sou cidadão. Ou de que por alguma espécie de escolha do destino, aparecesse na hora em que as coisas estavam acontecendo. Quando alguém pediu a ele que se levantasse, ele se lembrou daquele jogador de futebol flagrado com o travesti. E de um comentário na internet. Câmera não escolhe quem filmar! E elas também filmam policiais, ele pensou enquanto ouvia a  sentença da boca do juiz.

sábado, 8 de setembro de 2012

Assassinatos

Ele foi chamado no portão da casa da namorada para ajudar a carregar um sofá. Na esquina levou uma porção de tiros. Estava devendo. Ele havia acabado de sair da cadeia depois de amargar uma pena de quase sete anos por roubo. Foi até a padaria com o sobrinho. Queria comer algo. A mãe disse, não vá. Mandaram o sobrinho correr. O menino correu. Ele foi assassinado ali na esquina em frente a padaria durante o dia. Estava devendo. Ele apareceu numa vala. Dizem que estava viciado em crack. E que morreu de overdose. Estava devendo. Ela sumiu e apareceu numa vala. Cheia de tiros. O que chamou a atenção era o fato de ser uma mulher já com certa idade e cheia de filhos. Dizem que era viciada. Estava devendo. Ele jogava bola e fazia uma linha de passe bonita. Foi espancado até a morte a madeiradas. Dizem que saiu com a mulher de um bandido. Estava devendo. Disseram pra gente, ele tá na lista. Eu fiquei com medo de ir embora da festa com ele que foi espancado até a morte. E ainda passaram com o carro por cima do corpo dele. Estava devendo. Ele foi fuzilado, e junto dele um moleque de dezesseis anos que não tinha com o troço. Ele estava devendo. Dizem que moleque não,  moleque não estava devendo.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Feliz Dia Da Independência!

Você está olhando para o seu filho no retrovisor. O moleque é o capeta e ele vai enfiar o Ben 10 nos cornos da menina. Você se antecipa a jogada como um bom atacante de futebol. Ele é igual a você quando batia nas criancinhas, a tua mãe diz. Mas foda-se, você era responsabilidade dela e do seu pai nessa época. Então você grita: não faz isso com a tua irmã! Ele recua. Volta com mais força. A menina abre um bocão que ocupa todo o espelho. Parece que vai te engolir. O seu marido enfiou a cara no jornal, e é como se qualquer coisa que aconteça fora daquelas páginas não seja de sua responsabilidade. O príncipe encantado da sua adolescência não está falando com você. E talvez seja por causa dos filhos, como se  você os tivesse feito, sozinha, ou como se o que existe de errado com eles fosse justamente herança do teu DNA. Você quer perguntar se ele quer dirigir. Mas essa não será uma boa pergunta, já que pelos cálculos dele, os seus vinte minutos de atraso procurando as tralhas das crianças fez toda a diferença. Vinte minutos antes não havia engarrafamento algum. Você não se imaginou com trinta e poucos anos parada num engarrafamento com um príncipe que está virando um sapo com uma barriga enorme de chopp. Não era essa a viagem dos sonhos com o seu carro novo. Ficar parada durante horas junto de uma porção de gente que você não conhece. E depois levar  mais meia hora procurando um local para estacionar. Para chegar numa casa lotada de parentes fofoqueiros, querendo saber quanto você está ganhando e jogando na sua cara o fracasso que você é e que sua prima... bom deixa pra lá. Mas vai ter água salobra. Fila para o banheiro. Falta de silêncio, e de privacidade. Você queria estar em casa comendo aquela pizza caseira e bebendo vinho. Quem sabe baixar um vídeo. Mas toda a família vai! Não podemos fazer desfeita... Você vai abrir a porta e começar a gritar. Feliz Dia da Independência. Mas que nada, vamos tentar de novo. Você não vai fazer isso. Maldito dia da Independência... você diz entredentes.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A Propaganda Eleitoral Gratuita

A propaganda eleitoral apesar de previsível, ainda é a melhor opção da tevê brasileira no gênero comédia. O figurino está impecável. Ainda mais quando surgem os candidatos de partidos radicais que prometem estatizar o país, com seus uniformes de velhos comunistas, com camisas do Che Guevara que fazem sucesso no meio universitário revolucionário que não sabe que essa moda já passou. O figurino do ator principal que faz o papel do prefeito, é no velho estilo almofadinha. A trilha sonora deixa a desejar com sambas batidos por grupos de pagodes que ganham uma bufunfa, e não tem a mínima noção do que estão apoiando, ou que fingem não ter. E os funks exibindo os candidatos, senhores da área nobre da cidade já em idade avançada, tentando se aproximar dos jovens e do povão, também não convence. A fotografia promete, mas não traz nenhuma novidade. Focalizando sempre os canteiros de obras. O roteiro peca nos diálogos dos candidatos que tem menos tempo, e quase não conseguem dizer seus nomes que vem acompanhados de do gás, do churrasquinho, do posto, e por aí vai. Eles se equivocam pensando que são tão conhecidos a ponto de conseguir um trampo melhor. A velha piada da celebridade, do atleta, do comediante, e do pipoqueiro, não funciona mais. É o mesmo que torta na cara e jogar água nos outros. Nem as alianças de partidos que antigamente eram inimigos. O ponto alto do filme é o ator principal com a sua interpretação brilhante. Ele consegue convencer no papel de salvador da pátria. E deixa o público com a sensação de que está em Genebra. O diretor que também é publicitário garante a sua marca. A montagem e edição tem os cortes exatos, que levam o público a acreditar naquilo que o diretor quer passar. O telespectador tem a sensação que viajou realmente naquele mundo de fantasia. O que é bem melhor que ficar assistindo os mesmos pastores engraçados pedindo dinheiro. Os mesmos programas de comédia em que se leva meia hora para se dar uma risada. E os tais dos Stand Up Comedy que em sua maioria não passam de um bando de mauricinhos preconceituosos, e metidos a intelectuais, que só fazem piadas diminuindo as outras pessoas, e se acham a última bolacha do pacote com a sua sabedoria de querer ajudar esse país de ignorantes. Quando eles provavelmente foram beneficiados por nossa ignorância. Em meio a tudo isso, A Propaganda Eleitoral Gratuita ainda é promessa de boas gargalhadas. Divirta-se!