Eu vi a foto do índio pendurado. Nem quero saber o que aconteceu, mas sempre torço por um fim diferente. Quando quero saber algo, ouço a rádio de noticiais, leio na internet, ou ouço a Hora do Brasil, assim acompanho o que os nossos capangas estão aprontando. No geral prefiro me manter distante para não me aborrecer. Fico deprimido. Acho de um enorme mau gosto assistir telejornal ao acordar, ou antes, de dormir, e uma baita influência para que você tenha pesadelos, ou comece o dia de maneira negativa. Imagem é tudo. Postaram também a foto de uma porção de crianças metralhadas, daquela guerra que não vai acabar nunca, a não ser que fechem aquele território, e tirem todos aqueles povos de lá. Já vi gente demais morta. Gente que conheci, fuzilada. Até suicidas. Se alguém queria me deixar chocado não conseguiu. Essa gente radical, que fica postando fotos com o cu no sofá e um copo de Nescau na mão, e dizem que vão fazer revolução ou sei lá mais o quê, mas não conseguem abandonar os seus trabalhos onde são explorados, e querem um diploma para garantir um salário melhor, pensam que fazem grande coisa pelo mundo se dizendo conscientes, ou votando nulo, ou votando certo. Quem quiser fazer algo diferente vai ter que enfrentar toda a democracia do mundo ocidental. E quando eles vêm, arrebentam com tudo! O pepino é bem maior do que essa gente imagina. O partido que está no poder é o partido que a gente sonhou no passado. Os novos partidos revolucionários me soam como, eu já vi esse filme antes. Tanto é que são formados por dissidentes. Ainda existe índio no Brasil? Eles foram dizimados quando aculturados por nossa curiosidade, e por nossa falta de compreensão de como alguém pode viver no meio do mato pelado, sem precisar de celular, computador, ou universidade. Eu vi um índio dizendo que o homem branco injetou a culpa em sua tribo, pois eles eram poligâmicos, e agora são monogâmicos. Assim como os padres jesuítas fizeram, nós levamos nossos vícios, nosso alcoolismo. Aquilo que na cultura deles era um momento de transcendência, passa a ser uma fuga. Como as drogas são para a maioria. Achei a foto daquele rapaz morto, de uma agressividade tão grande quanto à de seus assassinos, diretos, ou indiretos.
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