sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Só Por Hoje...

Eu preciso dar um tempo de rede social. E isso é uma questão de saúde psíquica. Embora as pessoas que me amam digam para que eu não faça isso, pois eu sairei prejudicado e lá também estão amigos meus. Não se pode falar nada. Não se pode ser “você mesmo”. Eu também não sou santo. Eu fiquei aceitando e adicionando todo mundo e eu tenho os meus surtos de ego como todo mundo... Normal. Tudo que se diz ofende alguém e essa incapacidade de comunicação me joga pra baixo. Você vai me perguntar. Porque é que você liga para a opinião dos outros? É o que eu vivo me perguntando. Assim como a maior parte das pessoas eu não sou “eu mesmo” ali. A maioria naquela festa ou está blefando, ou não está dizendo tudo o que pensa. Até porque se todo mundo começar a dizer a verdades que vai em seu coração, vai todo mundo ficar de cabelo em pé. Já tentei desfazer minhas contas várias as vezes. Mas eu sempre volto. Depois que eu volto eu me empolgo, depois que eu me empolgo eu publico algo do que eu penso, depois que eu público algo que eu penso eu ofendo alguém ou eu sou ofendido, e aí eu me deprimo. Então prefiro não participar e não opinar do que ficar nesse embate cansativo nessa selva dos infernos. Por isso que Buda e Lao Tsé falavam tanto sobre o silêncio. Rezem por mim para que eu consiga ficar limpo. Só mais vinte e quatro horas de paz e serenidade para todos. Ele deu outro gole em seu café.

As Guerreiras da Cinelândia...

Afastei todas as bandeiras que vi pelo caminho. Até que conseguimos atravessar o mar de gente e chegar ao meio dos acontecimentos. Dei uma olhada ao redor e a multidão era formada por gente de todas as idades, cores e estilos. Ao meu lado direito havia um teatro com sua cúpula dourada que o fazia parecer um castelo imponente. À minha frente, atrás do grande carro estava o palácio. Lentes apontavam para pessoas em suas escadarias. Eu pensava se eles iam assistir àquelas imagens e analisar os fatos. O prédio velho lembrava Edson Luís que morreu no calabouço de um lugar assim. Recordei noventa e dois quando também estive por lá. O colorido das bandeiras e roupas, e a diversidade de ideologias e crenças me fez crer que ali havia uma interseção. As cores lembravam a primavera de sessenta e oito. Só que agora era diferente. Lá em cima do carro estavam somente mulheres num contra-plongée. No topo de tudo. Mulheres diferentes umas das outras. Mulheres negras. Mulheres brancas. Eu tentava recordar ocasião igual àquela. A frase do menestrel sobre o macho adulto branco sempre no comando perdera o sentido. Elas deixavam bem claro que estavam lutando por todos. Eram mães, mulheres, filhas, e de todas as religiões. Lá em cima não havia uma bandeira. O discurso era seguido como um mantra, uma oração... E as pessoas repetiam as frases no mesmo estribilho... E de repente ecoavam gritos que revitalizavam a energia do ambiente. O coro de palavras confortadoras vinha de um lugar onde todos seriam iguais. E no céu zumbia o mosquito de metal. E de repente todo mundo gritava aquela frase que era uma negação, mas que soava como uma afirmação: “Ele não! Ele não!” Todos cerravam os punhos. As pessoas apontavam para o mosquito de metal e gritavam para ele: “Ele não! Ele não!” Eu acreditei que tanto o piloto como o homem das lentes ouviam o coro. Um grupo de mulheres de perna de pau ficou à frente do grande carro, foram feitos pedidos para a que a multidão permitisse a sua passagem, e todos foram caminhando... Quando saímos ela disse: “Colaram algo em suas costas.” Era a foto de um homem com um número. Eu tirei a foto da camisa e joguei no lixo. O carro aos poucos começou a se distanciar. E para nós, os outros; que estavam ali, e que eram filhos, netos, e pais… aquela talvez fosse a última esperança.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Ídolos...

Quando uma pessoa descobre que os seus homens santos pecam, que os seus heróis são corruptos, e que os seus ídolos são mercenários... Ela entra em desespero. Pois nós precisamos de uma referência. É curioso que numa época em que é total a escassez desses indivíduos, nós tenhamos produzido tantos ídolos de farinha na ânsia de substituí-los. E eles não resistem a um cafuné. A um agrado. Um afago. Um presentinho. Uma piscadela. Essa escassez é o que gera todos esses perfis falsos em todas as áreas, tanto na arte, quanto na política, no esporte, pensamento ou religião. Quando aconteceu comigo eu também me desesperei. Mas continuo procurando. Aliás, nós precisamos... né?

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Status-Político...

Político brasileiro de qualquer esfera terá direito a um salário mínimo, cartão alimentação e bilhete de passagem. Ele será assalariado e terá os mesmos direitos que a maior parte da população. Ele e sua família durante o seu mandato terão que utilizar os serviços públicos de educação, saúde, segurança, e transportes. E nada de festas, cerimônias, títulos, e bonificações. Quando precisar se deslocar a trabalho ele viajará na classe econômica. E não haverá mais luxo em prédios públicos. Acabar com o status político talvez seja um caminho...

domingo, 21 de janeiro de 2018

Tenha Cuidado Com A Lavagem Cerebral...

Tenha muito cuidado com a lavagem cerebral. Muitas são as suas vítimas e isso independe de nível econômico ou educacional. Ela chega através de um sacerdote, político, professor, ou artista. Contém alguma ideia religiosa, de movimento social, cultural, ou político. Eles invadem a sua mente e roubam a sua subjetividade. Você não tem que ter uma resposta de quem você é na ponta língua. Você não é obrigado a se identificar com alguém ou grupo. Os grupos, pessoas, e ideias, não são soberanos e têm suas contradições. As pessoas que seguimos também têm suas necessidades de afirmação. Ainda mais se elas vivem não para aquelas ideias, mas daquelas ideias... é possível que nos decepcionem. Eles nos traem, mentem, e nos exploram. E, ou ficamos decepcionados, ou vivemos até o fim da vida uma mentira. Falo por experiência própria. Eu creio que aceitar a contradição seja um princípio básico da filosofia. Ouça todo o tipo de música, leia tudo, converse com todo mundo, e tire as suas próprias conclusões. Não tenha medo de mudar, de pensar outra coisa, não se apegue às ideias como muletas. Não se preocupe em ficar do lado certo. A história do mundo segue, e depois que ela passa, às vezes fica até difícil identificar quem era o mocinho e quem era o bandido. Não vamos desperdiçar nossas vidas com modismos e corriolas de momento. Uma vida pode ser única e plena em experiência. Eu vou tentar também...

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Na Rua...

Na rua uns tarados, humanos violentos.
Na rua tem ladrão, engarrafamento.
Na rua tem traveco, na rua tem puta.
Na rua tem drogado, na rua tem biruta.
Na rua o gosto amargo, na rua da amargura.
Na rua insanidade, a rua da loucura.
Na rua homem honesto, na rua desonesto.
Na rua tem modelo, na rua tem o resto.
Na rua não há tempo, a rua é correria.
A rua é pra bandido, a rua pra vadia.
Na rua das câmeras, nas ruas da cidade.
Na rua o desapego, na rua falsidade.
Na rua do cão… Levanta a mão!
Na rua do egoísmo… se joga no chão.
Na rua da prisão, na rua do cárcere.
Na rua da desova, na rua vai célere.
Na rua o que mais tem é gente nua.
Quem cultua a rua acaba na rua.
Na rua o meu passo, acelerado.
Na rua que eu passo, apressado.
Na rua jogam lixo.
Na rua viram bicho.
Na rua do valão.
Na rua do lixão.
Na rua dos crackudos.
Na rua tem de tudo.
Na rua da biqueira,
e das moscas varejeiras.

Hino...

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
No rosto o medo a expressão, é trágica
De um povo heróico brado retumbante
Onde moleques são ladrões ou traficantes
O sol da liberdade em raios fulgidos
Onde pretos permanecem sendo súditos
Brilhou no céu da pátria nesse instante
Um tiro de fuzil som de traçante
Se o penhor dessa igualdade
Não conseguimos conquistar nem com a morte
Em teu seio oh liberdade
Eu lhe peço que a minha nunca corte
Oh Partia Amada
Violentada
O alvo salve... O alvo salve
Brasil um sonho intenso um raio vívido
Mas saúde educação nunca é o mínimo
De amor e de esperança a terra desce
Criança faz criança nunca cresce
Se em teu formoso céu risonho e límpido
Que a paz reine em teu sistema límbico
A imagem do cruzeiro resplandece
Aqui embaixo tudo fosco escurecesse
Gigante pela própria natureza
É feliz, mas é cheio de tristeza
És belo és forte impávido colosso
E tem gente por aqui roendo osso
O teu futuro espelha essa grandeza
Você sabe que beleza não põe mesa
Violentada
Entre outras mil, és tu Brasil
Pátria enganada
Enquanto os filhos deste solo
Mãe sútil
Morrem de fuzil
Brasil de amor intenso seja símbolo
Não pise quem por ti chicoteado
O lábaro que ostentas estrelado
Apesar do seu tempo ainda nublado
E diga o verde e louro desta flâmula
Porque não cobre com uma campânula?
Paz no futuro e glória no passado
O futuro por ti sempre esperado
Mas se ergues da justiça e clava forte
Verás que um filho teu não foge a luta
Verás que um filho teu não se sepulta
Nem teme quem te adora a própria morte
E sairá vivo daqui quem tiver sorte
Violentada
Entre outras mil.… és tu Brasil
Oh! Pátria enganada
Enquanto os filhos deste solo
Mãe sútil
Morrem de fuzil

Como É Lindo O Amanhecer Do Dia No Rio de Janeiro...

Um carro é parado numa barreira policial
Um motorista é alvejado avançando o sinal
Entre garrafas de bebidas e anúncios de cigarros
Amantes suicidas o conto do mais bizarro
Criança prostituída e praia poluída
Hospital público é a negação da vida
A farra do pó, a puta na cama.
A passeata no centro, a verdadeira lenda urbana.
Mas o meu pão quentinho, e o meu café na padaria.
Que desfaz esse mau tempo até o céu desanuvia

Como é lindo o amanhecer do dia no Rio de Janeiro
Como é lindo o amanhecer do dia no Rio de Janeiro

No confim da madrugada uma notícia pro jornal
No toque da alvorada os olhos da colegial
Com guarda municipal e barracas de camelô
Que vendem de CD pirata a jogos de computador
Na vista pro mar no meu pensamento
A fumaça pro ar e o engavetamento
Deixa a rosa no canteiro e o morro com partideiro
E o padre que fala gíria dá à benção ao fogueteiro
Mas um dia vem chegando com ricos na ciclovia
O final do turno o ônibus para o vigia...

Como é lindo o amanhecer do dia no Rio de Janeiro
Como é lindo o amanhecer do dia no Rio de Janeiro

Não Há Nada Mais Bonito...

Não há nada mais bonito
Que um casal de namorados
Ele vai a casa dela
Ela vai a casa dele
Ele conta um segredo pra ela
E o quê só o casal sabe?

Não há nada mais bonito
Não há nada mais bonito mesmo
Que um casal de namorados
Ele cuida dela
Ela cuida dele
Nós somos seres humanos
E eles são outros seres

Não há nada mais bonito
Não há nada tão bonito assim
Que um casal de namorados
No cinema, o olhar.
Na música, o desejo.
Na dança, o passo.
No quadro, o beijo.

Não há nada mais bonito
Que um bonito casal de namorados
Na colação de grau
Numa enfermaria de hospital
Num dia nublado
E num dia normal

Ondas Gigantes...

O dia virou noite naquele final de tarde
Tudo engarrafado em todo canto da cidade
O sol escondido, o tempo nublado
Um vento esquisito, o céu carregado
O pássaro voando, fugindo não sei de quê
Como que prevendo o quê iria acontecer
A chuva caindo cada vez mais forte
Uma frente fria, vinda lá do norte
Da minha jangada eu vejo toda choradeira
A lágrima jorrando feito numa cachoeira
Espere por mim minha mina
Espere por mim meu amor
Eu sigo o canto da sereia
Foi ela quem me salvou

Eu tava com pressa, doido pra chegar em casa
E quando eu to assim sempre tem algo que me atrasa
A saudade do lar, da mulher pra beijar
Da comida quentinha, da cama pra esquentar.
Chuva torrencial, onda gigante temporal
Catarata tromba d água com força marcial
Todo mundo querendo falar no telefone
No Rio de janeiro enchente Tsunami
Da minha jangada eu vejo toda choradeira
A lágrima jorrando feito numa cachoeira
Espere por mim minha mina
Espere por mim meu amor
Eu sigo o canto da sereia
Foi ela quem me salvou

Cenas de terror, cinegrafista amador
Uma casa caiu, um barraco despencou
Desabamento, afogamento, lixo na encosta
Um velho perde tudo, o governo sem resposta
Falta de previsão, debate na televisão
A fúria da natureza, o povo sem prevenção
O celular não dá linha, não consigo falar
Todo mundo ao mesmo tempo querendo ligar
Da minha jangada eu vejo toda choradeira
A lágrima jorrando feito numa cachoeira
Espere por mim minha mina
Espere por mim meu amor
Eu sigo o canto da sereia
Foi ela quem me salvou

A falta de luz, a cidade no breu.
A sua casa encheu? Quanta gente morreu?
Será que é isso mesmo? Será que tem jeito?
Pergunta o cientista, responde o prefeito
E daqui pra frente, toda vez que chover
Nós vamos sair na rua com esse medo de morrer?
Que Deus nos perdoe e não mande mais pra gente
Que ele nos proteja desse tipo de enchente
Da minha jangada eu vejo toda choradeira
A lágrima jorrando feito numa cachoeira
Espere por mim minha mina
Espere por mim meu amor
Eu sigo o canto da sereia
Foi ela quem me salvou

Cenas de terror, cinegrafista amador
Uma casa caiu, um barraco despencou.
Desabamento, afogamento, lixo na encosta
Um velho perde tudo, o governo sem resposta
Falta de previsão, debate na televisão
A fúria da natureza, o povo sem prevenção
O celular não dá linha, não consigo falar
Todo mundo ao mesmo tempo querendo ligar
Da minha jangada eu vejo toda choradeira
A lágrima jorrando feito numa cachoeira
Espere por mim minha mina
Espere por mim meu amor
Eu sigo o canto da sereia
Foi ela quem me salvou

A falta de luz, a cidade no breu.
A sua casa encheu? Quanta gente morreu?
Será que é isso mesmo? Será que tem jeito?
Pergunta o cientista, responde o prefeito
E daqui pra frente, toda vez que chover
Nós vamos sair na rua com esse medo de morrer?
Que Deus nos perdoe e não mande mais pra gente
Que ele nos proteja desse tipo de enchente

domingo, 14 de janeiro de 2018

A Minha Cidade...

A minha cidade é isso,
essa porção de gente.
Esse bando de macumbeiro,
esse monte de crente!

A minha cidade é isso,
é puta, é traficante, é camelô.
Os que vivem do ódio,
e os que morrem por amor.

Se falar da minha cidade…
entra na porrada!
Pois da minha cidade…
ninguém pode falar nada!

A minha cidade é isso,
é bunda, é funk, é pagode.
É de quem só se dá bem,
e de quem só se fode.

A minha cidade é isso,
é essa gente engravatada.
Essa cachaça quente,
essa cerveja gelada.

Se falar mal da minha cidade…
Entra na porrada!
Pois da minha cidade…
Ninguém pode falar nada!

Onde É Que Tá O Controle Da Televisão?

Onde é que tá o controle da televisão?
Onde é que tá o controle da televisão?
Em cima do sofá, embaixo do colchão
Na panela de pressão em cima do fogão

Onde é que tá o controle da televisão?
Onde é que tá o controle da televisão?
Dentro do armário, longe da visão
Numa ilha deserta, ilha de edição

Mas é que a televisão não tem controle não...
É que a televisão não tem controle não...
Mas é que a televisão não tem controle não...
É que a televisão não tem controle não...

Onde é que tá o controle da televisão?
Onde é que tá o controle da televisão?
Dentro da mente, ou do bolso do bermudão
Longe da própria TV, na casinha do cão

Onde é que tá o controle da televisão?
Onde é que tá o controle da televisão?
Dentro do livro, do aparelho de som
Longe do computador, perto do violão

Mas é que a televisão não tem controle não...
É que a televisão não tem controle não...
Mas é que a televisão não tem controle não...
É que a televisão não tem controle não...

A Barata Está Morta...

Quando eu vejo uma barata
Eu me lembro de você
Que tem medo de barata
É tanto tempo sem se ver

E quando eu vejo aquele ator
De novela que eu odeio
Que você acha lindo
Eu continuo achando feio

É melhor você voltar
Que ninguém tá dando jeito
Sou eu que aturo o seu jeito
E você os meus defeitos

E quando eu vejo uma mulher
Sem nenhuma compostura
Sempre me lembro de você
Da tua falta de mesura

Com perguntas idiotas
Burra igual uma porta
Então já pode voltar
Que a barata está morta

É melhor você voltar
Que ninguém tá me dando jeito
Sou eu que aturo esse teu jeito
E você os meus defeitos

A Cidade Da Minha Namorada...

A minha namorada mora no final daquela estrada
No final daquela estrada mora minha namorada
Ao longo da estrada eu só vejo mato
Eu vou por minha namorada, é tanta coisa que eu faço...
E na sua pequena cidade talvez, assim, média...
Dessa gente acanhada e um tanto séria
Ela me leva num shopping com cinema
Eu que não gosto de shopping, mas gosto de cinema

A minha namorada fala com a sua família no telefone
A família da minha namorada está longe no telefone
Ela vai trabalhar e me deixa dormindo
E eu sonho que a minha namorada já está vindo...
Eu vejo as pessoas da cidade da minha namorada
São tão calmas a cidade e as pessoas da minha namorada
Quando a campainha toca, eu abro a porta
Quando o meu coração toca, eu abro a porta

Eu amo tanto a minha namorada
E sem a minha namorada eu não sou nada
Eu amo tanto a minha namorada
E sem a minha namorada eu não sou nada

sábado, 13 de janeiro de 2018

Ah, Se Essa Rua Fosse Minha...

Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...
Eu garanto pra você que por aqui nem carro tinha
De domingo a domingo ia ter área de lazer
A molecada todo dia sempre tendo o quê fazer
Com quadra de futebol voleibol basquetebol
E uma grande piscina pra quando fizesse sol
Eu ia colocar um fliperama tinindo
E ninguém na minha rua ia perder tempo discutindo
Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...
Nenhum babaca ia espancar uma vizinha
Eu ia construir uma enorme cobertura
Com um templo unicamente dedicado a leitura
Todo mundo da minha rua ia ter corpo de atleta
Cada criança ia ganhar uma bicicleta
E quando fosse réveillon eu ia colocar o som
E chamar um DJ só pra tocar rap do bom
Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...
Eu garanto pra você que político aqui não vinha
E ninguém na minha rua ia se sentir à toa
Ninguém ia perguntar aonde é que tá a boa
Na rua ia ter economia sustentável
Ninguém ia pra emprego com salário miserável
O plantio da minha rua ia estar sempre nossa porta
Do terreno baldio eu ia fazer uma horta
Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...
Eu garanto pra você que por aqui nem carro tinha
Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...
Nenhum babaca ia espancar uma vizinha
Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...
Eu garanto pra você que político não vinha
Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...
Ah, se essa rua... Se essa rua, fosse minha...

Advogados

Eu sou um advogado de defesa
E tenho que defender o meu cliente
E por mais que o cara tenha prejudicado uma porção de gente
Eu tenho que provar que ele é inocente
Eu sou um advogado de defesa
E sei que o cliente sempre tem razão
E caso comece a pensar o contrário
Viro advogado de acusação
Advogado de defesa
Advogado de acusação
Não importa quem tá certo ou quem tá errado
Eu sou pago pra exercer a minha função
Eu sou um advogado de defesa
E assim como um padre num confessionário
E não posso delatar os seus pecados
Pois é você quem paga os meus honorários
Eu sou um advogado de defesa
E sei que Deus é onipotente
E de uma coisa eu tenho certeza
A Deusa justiça está com a gente
Advogado de defesa
Advogado de acusação
Não importa quem tá certo ou quem tá errado
Eu sou pago pra exercer a minha função

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Farinha Pouca Meu Pirão Primeiro!

Vai fala merda no Face, zap, vai caçar Pokémon!
Se é você que tá com ele e é você que é o bom!
Pois com ele não tem torto com ele não tem feio
Com ele a gente engole até biscoito sem recheio
Ele a te leva a ter talento e um sucesso sideral
E junto do dito cujo todo mundo é o tal
Ele te faz ver a beleza e traz de volta a saúde
Aumenta a autoestima melhora atitude
Você vai ser tentado feito Cristo no deserto
Pois quando se está com ele tem você e tem o resto
Sabe aquela paixão igual a do primeiro amor
E agora... Você vai cantar poemas e canções em seu louvor
Traz de volta o sexo e a pessoa amada
Vão te chamar de bonito vai achar que é piada
Ele te dá a melhor droga na melhor viagem
Ele te dá todo conforto e a mais bela paisagem
Ele faz com que você entre em qualquer lugar
Estando em sua companhia todos vão me respeitar
Quando eu estou com ele eu me sinto protegido
E agora... Posso te garantir que não falta um amigo
Junto dele a gente engole até comida sem tempero
Mas quando ele vai embora é você que fica azedo
Pena que não dá em pé que não cresce em mato!
O rato vai atrás do queijo e o gato vai atrás do rato
É ele quem indica ou então quem desacata
Às vezes dá “carteirada” às vezes tapa na cara
Ninguém te enche o saco com passado com futuro
Com ele pode ser chato você não sabe como é duro
Ele gera a cultura e apoia o esporte
Às vezes dá a vida a às vez traz a morte
Ele faz com que você seja um sujeito notório
Olha só quanta carpideira vai colar no seu velório
Mesmo que não tenha estudo ou mesmo sendo burro
E agora... Se está com ele é você que sabe tudo
Nunca mais o Zé Povinho vai cruzar o seu caminho
E nunca mais você vai se sentir sozinho
Com ele faz me rir, com ele faz chorar.
Com ele pede música põe maluco pra dançar
Com ele mete o bedelho em tudo dá opinião.
Mas há sempre um desconto, o cliente sempre tem razão.
Ele te dá o telefone, ele te dá o endereço.
E agora é ele quem passa à chave, é ele quem diz o preço.
Com ele você gosta, dá o play, deixa rolar...
Com ele cê bate palma deixa essa porra pra lá...
Então... A louca vinha pelo cheiro
Nossa... Depenou a porra dum funqueiro
Eita... Dominou a porra dum boleiro
E agora? Farinha pouca meu pirão primeiro!

Quando A Cama Quebrou...

Essa aqui é pra você, essa aqui é pra ficar...
Pra tocar no celular quando você me ligar
Essa é pra tocar no carro quando você viajar
Essa é pra dançar no quarto pra poder me inspirar
Eu ponho pra rolar no som enquanto você toma banho
A gente bebe vinho e vem fumando aquele cânhamo
Essa é a sintonia da nossa excitação
Na dança do seu quadril gravitando intenção
Enquanto as mãos se enroscam rolam “as preliminares”
É à noite e o dia o sol a lua ao se encontrarem
A última foi ótima amanhã será melhor
Na nudez do seu balé mergulhada de suor
E num quinto de hora nesse quarto confinado
E eu sinto como se o tempo, se ele tivesse parado.
Não sabe como é quente aqui dentro de você
No vai vem aconchegante então eu vou sair pra quê?
Nessa cama flamejante onde o sonho é delirante
Onde tenho seu gemido e o seu sussurro é gritante
Eu cheiro o seu cabelo e falo em seu ouvido
Então você me conta o quê você faz só comigo...
Eu olho em seus olhos e desvendo seus segredos
Então você me dá aquilo que mais tem desejo
Eu admiro o seu talento de fazer parar o tempo
Você sabe ultimamente eu me demoro aqui dentro
Eu me enredo em seus cabelos evaporo no seu cheiro
Vejo a poça de suor no centro do seu travesseiro
Quando eu estou com você à vida o mundo faz sentido
Esse teu bico, esse teu seio, esse teu rosto tão bonito...
Quando a cama quebrou, eu pensei como é que pode...
Tem gente que faz amor e tem a gente que...
Eu percebo seus prazeres você prefere mantê-los
E eu me sinto tão feliz por poder satisfazê-los
Você diz que ele é seu, que irá cuidar “dele” com zelo.
E, eu digo que sim, mas só se você prometê-lo.
Se eu toco no ponto “G” delicado pra você
Eu vejo você tremer, mas você treme de prazer.
Enquanto eu vou e venho e tenho você gemendo
Música pro meu ouvido é essa cama rangendo
E de debaixo do seu ventre eu tenho a visão mais bela
Toca uma canção distante, a brisa entra pela janela.
Nesse quarto de hotel, nesse cantinho do céu.
Vejo a cama levitar no ar leve igual papel
E você me pergunta, mas será que você gosta.
Então digo que sim e você vem como resposta
Com sensibilidade aumento a velocidade
Corpos entrelaçados, estupenda unidade.
Vejo você flutuar num sobe e desce escaldante.
E sinto o seu furor no meu entra e saí constante
No ápice do prazer você não aguenta e berra...
E sinto que seu o berro estremece toda a terra
E quando toda a vizinhança começa a acordar
Você abre os olhos continua a sonhar
Eu admiro o seu talento de fazer parar o tempo
Você sabe ultimamente eu me demoro aqui dentro
Eu me enredo em seus cabelos evaporo no seu cheiro
Vejo a poça de suor no centro do seu travesseiro
Quando eu estou com você à vida o mundo faz sentido
Esse teu bico, esse teu seio, esse teu rosto tão bonito...
Quando a cama quebrou, eu pensei como é que pode...

A Soma de Todo Mundo...

Todo mundo se conhece de algum lugar
Sempre existe alguém com quem todo mundo quer falar
Todo mundo se conhece quem sabe algum dia
Todo mundo se cruza numa esquina ou numa via
Eu devo conhecer, quem você está falando
Ou então um dia desses, a gente acaba se cruzando
Tem um parentesco, próximo ou distante
Gosta do mesmo filme, o mesmo livro, na estante
A gente já se viu, eu tenho essa sensação
Se não foi nesta vida, foi em outra dimensão
É o instinto coletivo, o inconsciente coletivo
É a soma dos seres, dos mortos, e dos vivos
Se banhar no mesmo mar, beber da mesma água
Se entende o gesto, quando não conhece a fala
Você sabe de mim, e eu sei tanto de você
E com certeza um dia desses, a gente vai se conhecer
Todo mundo consome, o que todo mundo produz
Todo mundo o mesmo sol, todo mundo a mesma luz
Porque todo mundo vive, num portentoso planeta
Mesmo todo mundo, não seja nenhum cometa
Todo mundo um dia foi, ou todo mundo ainda é
Todo mundo ainda é bicho, computador, café
Por isso que eu sou, a soma que dá de todo mundo
Será todo mundo mesmo? Ou todo mundo, mundo, mundo...

Cabelo

Tem cabelo grosso, fino, e que voa.
Tem cabelo crespo e tem cabelo à toa.
Tem cabelo ressecado e cabelo pintado.
Tem cabelo quebrado e cabelo mal tratado.

Tem cabelo preso e tem cabelo curto,
e cabelo pro alto de quem tomou um susto.
Tem cabelo raspado e cabelo que caiu.
E tem cabelo verde, rosa, azul, anil.

Tem cabelo “estiloso” e sem estilo nenhum,
E cabelo sem graça de pessoa comum.
Tem cabelo revoltado e cabelo crescendo.
Cabelo grisalho, cabelo embranquecendo.

Tem cabelo moicano, reco e com topete.
Tem cabelo asa-delta, chanel, cabelo black.
Tem cabelo armado e para todo gosto.
Depende do corte e do formato do rosto.

Há de Ecoar

Há de ecoar a voz do Mano Brown no Capão
Há de soar o Sabotage todo dia no Canão
Mas o Tom Jobim diz que é o fim do caminho
Eu sinto uma saudade danada do Dominguinhos
Claudinho e Buchecha todo o dia em São Gonçalo
Um Itamar Assunção para cada Rua de São Paulo
Tem de ter Jorge Amado em cada esquina da Bahia
Tem de ter um Gog pra cada periferia
Mas não tem creche, não tem escola
Falta um campinho pra ficar jogando bola
Não tem luz, Não tem água.
Ouço no ar essa poluição sonora
Há de ecoar o Cartola na alvorada da Mangueira
Há de soar Arlindo Cruz todo dia em Madureira
Não deixar o som do Gil nunca fugir desse lugar
Quem esbarrar com Belchior que peça a ele pra voltar
Tem de ter Chico Buarque todo dia na favela
E florir Tim Maia um em cada Primavera
Zeca Pagodinho chora a chuva em Xerém
Dolores Duran canta A Noite do Meu Bem
Mas não tem médico, não tem remédio.
E a piscina maior tédio
Há de Ecoar a Legião no espaço aéreo nacional
Há de se soar Chico Science por toda a Manguetonw
Enquanto o Raul diz que é só girar o botão
Leio tem uma pedra no sapato Drummond
Há de se ouvir Cazuza na lua do arpoador
E deixar que o Roberto fique falando de amor
Viajar com os Paralamas na barca de Niterói
Agir como se o Noel ainda estivesse entre nós
Falta cultura, falta leitura.
Sobra droga, e loucura.
Há de ecoar o Bandeira a voltar de Pasárgada
Há de soar Carmem Miranda mesmo americanizada
Tem que ter Jorge Aragão pra quem pensa que é bamba
E Geraldo pereira na vitrola da caxanga
Não existe pagode sem Fundo de Quintal
Caetano Veloso Cinema Transcendental
Se o Vinícius de Moraes não está em Ipanema
E o Gonzaguinha vai embora com morena
Tem bota na janela, tem boa na porta
Tem bota no banheiro, pouco importa

O Outro Lado da Maçã...

No começo é uma voz que a noite te chama aí você se derrama deita e rola na cama

É o cheiro do corpo o beijo no pescoço o cabelo sedoso você fica louco

Quando se lembra daquela boca do aroma da roupa da risada louca

O avião bronzeado de torso torneado de peito empinado bumbum arrebitado

E começa procurar até encontrar dorme cedo pra poder sonhar

Igual a todo homem se toca o telefone quase enlouquece se ela diz teu nome

Aquela voz suave baixa e um pouco grave o pensamento voa você vira uma ave

É toda diferente derruba de presidente para o trânsito causa um acidente

Rola uma simpatia um momento de alegria unir o útil ao agradável é tudo que você queria

Fica viciado parece um tarado o coração começa a bater acelerado

Vira poeta, contempla a lua vaga pela rua ela tem que ser sua

Na televisão, na ejaculação na internet na masturbação

Quem é a menina a tua heroína aquela pela qual você desatina

Novo ou velho caindo os cabelos cuida do visual malha o dia inteiro

Abandona de emprego abandona da tua família a mãe do teu filho da tua novilha

Sente tesão igual toda nação tem gente que vai parar na prisão

É o quê me deixa puto o ato corrupto o defloramento o tormento do estupro

Se isso é amor quem pode me dizer eu só posso te dizer que isso mexe com meu ser

Se isso é paixão quem é que dirá que não se bate no pênis e sobe pro coração

É a fome da droga, o poder do vício, conheço cum cara que parou num hospício,

Que sofreu a crise da privação, da separação, e hoje está em depressão,

Toma Lexotan, Prozac e Diasepan, Adão, comeu da maçã agora vive no divã

Você tá na loucura Você tá na procura, tá na fissura, e saí à procura com a pica dura

O homem machão, da globalização, onde não há pecado, não há traição,

É o quê olho não vê e o coração não sente, cada vez mais gente se entrega a serpente

Senão tem dinheiro entra em desespero ela não pode saber que tú tá no vermelho

Não é passatempo ou coisa de momento, esqueça o passado acabou o casamento

Joga fora o anel sorri no motel, depois do gozo se sente no céu...

A aliança fica na lembrança daquele dia de pura bonança

Aconteceu como tinha que ser... comigo, com ele, e com você...

Tiro no ouvido, pulo precipício, tomou veneno, cometeu suicídio

Crime passional, gesto sensual, no leito conjugal aonde é que tá o mal

Que o mundo muçulmano cobre de pano, naquela cabeça de apenas dez anos

Na capa da revista na vizinha adventista na tia na puta ou na artista

Na modelo magrela na passarela na atriz de novela na garota da favela

No que deus nos dá na nossa costela e até o demônio sofre por ela

Sonha tem miragem ninguém quer ficar virgem uma foto uma imagem uma vertigem

Só ela te diverte você se derrete pensa o tempo todo num se esquece

Sempre o mesmo motivo, começa a emagrecer para de comer e todos sabem por quê

Tiraram o doce de uma criança que não seguiu os passos da nova dança

Foi com o teu melhor amigo ou com um desconhecido com um cara pobre com um cara rico

Um dia ficou cansada? se sentiu entediada? Ou simplesmente saiu sem dizer nada!

Voltou pro ex-namorado? Voltou pro ex-marido saiu reclamando do tempo perdido?

Foi por amor ou foi por pura ilusão, disse alguma deu alguma explicação?

E você o quê irá fazer, continuar sonhando ou tentar viver?

Nessa postura sempre a procura do gosto do começo de uma nova aventura

Todo mundo explica tudo se complica amor de vagina bate e fica

Na verdade na realidade enquanto há tempo até mais tarde

Vai esperar ou vai ver no lema de arrumar um novo problema

Me disseram que é gostoso um prato apetitoso de um paladar muito saboroso

Claro que provei que comi e que gostei e posso até te dizer que me senti um rei

Que se pudesse voltaria no tempo talvez amenizasse o teu sofrimento

Elas estão no colégio elas estão no trabalho em todos os lugares em todos os horários

É a chama que incendeia a aranha em sua teia a mais bela sereia o top less na areia

E você pare de beber ponha um cd e hoje à noite nós vamos fazer o quê?

Uma cama dividida acaba com uma vida e cria outras mal concebidas

Vai sair vai se divertir já tem o quê fazer já tem pra onde ir

Agradece a deus fica de joelhos levanta essa cabeça se olha no espelho

Mais uma madrugada uma noite enluarada, e a mulherada daqui não te diz nada

Vai falar com ela veja como é bela sorriu pra você então é aquela!

Aconteceu como tinha que ser... comigo, com ele, e com você...

Dita...

Amor bandido escuta o quê eu digo, eu continuo vivo tô falando contigo
Copacabana tem aquela má fama, mas dá muita grana trepar com bacana
Honorário farto o ano inteiro esperar pelos gringos chegar fevereiro
Febre da selva favela de pedra noite suja nome de guerra
Nossa Senhora Barata Ribeiro tecla virtual quanto puteiro
Banho de espuma que porra nenhuma quem não cheira fuma não se apruma
Ipanema Gávea Barra Leblon promessa de muito ganho pura ilusão
O leão de chácara vai te esperar até o último centavo nada irá sobrar
Tá na resenha da luta ferrenha ponha camisinha não fique prenha
Escravas brancas cabelos louros, escrava negras, boca de ouro
Um anjo um broto que já nasce morto pensamento torto clínica de aborto
Cargo chulo carro de luxo o lucro é pouco mas tem muito custo
Caia na agência, sem experiência rosto bonito dê a preferência
Bunda de saúva você tá uma uva, mas vai ficar viúva cedendo à vulva
Arrebenta o hímen da virgem feliz agora um clitóris de qualquer infeliz
Fetish script boquete internet mundo hi-tech AIDS site kitinetch
Regime detenção semiescravidão na lei do ilegal também tem exploração
O dia inteiro num apartamento o telefone toca a qualquer momento
Direto pro motel fora do bordel sem a proteção do Arcanjo Miguel
Beijo na boca é o que gama o demente na cama ele diz que te ama
Dependente químico paciente clínico usuário do crônico do caixa eletrônico
Quando o corpo murcha você cai na pista dar pra taxista brigar com as bichas
Minissaia preta, vermelho batom em frente à praia azul gás neon
Polícia militar polícia civil faz o que faz e diz que ninguém viu
Meu bem toma cuidado com a playboyzada que quando drogada quer dar porrada
Hoje a sua foto nos classificados logo mais você num bar de viciados
Puta rampeira acordada a noite inteira a mesma choradeira cheia de olheira
Oh! Dita me liga me diga como você tá como é que vai a sua vida?
Dita me liga
Dita me diga
Como vai você
Como é que vai a sua vida?
Eu já não posso mais julgar ninguém o sexo é a sua arma é o que você tem
Eu sei que nunca terá uma justificativa o que no desespero é uma alternativa
A sua amiga diz para sair se divertir vamos curtir! Vai ficar parada aí?
A mente padece a vista perece o corpo fenece a gente falece
Na loja do shopping a grana não via o salário não rendia a maior covardia
Eu ainda tô moço e cachorro quer osso não dá pra viver sem um puto no bolso
Seu tempo é louco e ainda e já é tarde pra estudar esperar faculdade
O segundo grau feito nas cochas nem que a prova fosse tão frouxa
Sua família não pode esperar comidas e roupas contas pra pagar
Você não confiou não acreditou em mim e a sua ansiedade decretou o nosso fim
Com uma dor no peito eu sigo cantando pra que nossa gente continue respirando
Um abraço na minha tia outro na sua irmã a minha Pingalã garanta o seu dia de amanhã
Ouça o meu coração e fique sabendo que por mim você não estaria se vendendo
Eu fiz o que pude o que eu pude eu fiz desculpe se não deu para fazer você feliz
Eu não sei o que é pior eu não queria estar só o caminho mais rápido nunca é o melhor
Tempo perdido vida bandida algo de errado, tendência suicida
Eu perdi você para o dinheiro o que posso dizer cuide bem dela parceiro
Conto urbano poesia urbana criaturas da noite a primeira dama
Santa Rita Escrava Anastácia Escravo de Ogum Santa Engrácia
No antebraço a tatuagem no canto da sala a tua imagem
Mas a que fica na minha lembrança é a daquela garota cheia de esperança
É muito difícil trair os meus princípios com seus artifícios de parco sacrifício
Eu sei como é que é a vida de gente pobre cada um se vira da maneira que pode
E o que a gente capta dessa bravata é que ninguém gosta, todo mundo se adapta
Oh! Dita me liga me diga como você tá como é que vai a sua vida?
Dita me liga
Dita me diga
Como vai você
Como é que vai a sua vida?

A Menina Branca da Piscina...

A menina da piscina é toda branca

E faz de tudo para pegar uma cor

Ah, se a água da piscina fosse santa

Se fosse santo esse seu bronzeador

A menina da piscina é muito branca

Mas eu sei o quanto ela quer se queimar

Com o fone no ouvido ela canta

Enquanto passa o seu protetor solar

Eu vou viver no fundo dessa piscina

Eu vou viver alucinado pelo cloro

Eu vou viver bem dentro dessa menina

Eu vou viver dentro de quem tanto choro

A menina da piscina é tão branca

E vê no mar uma bela tatuagem

Subo de escada ou então pulo da prancha

Fico na borda à mercê da sua margem

A menina da piscina é demais branca

Só que tem óculos de sol e viseira

Eu tenho um preto excluído na garganta

Desses que estão cansados de viver à beira

Eu vou viver no fundo dessa piscina

Eu vou viver alucinado pelo cloro

Eu vou viver bem dentro dessa menina

Eu vou viver dentro de quem tanto choro

Amor Internacional...

Eu sou brasileiro
Ela é portuguesa
E com sua pele alva
Ela parece uma princesa
Ela é do tipo
Que pertence a realeza
Ela é frágil igual cristal
Com sua imponente beleza
Ela diz nem por isso
E a gente fica a toa
E vagamos sem rumo
Nessas ruas de Lisboa
Um drible do Ronaldo
Uma frase do Pessoa
Vamos a Cidade Alta
Pra poder ficar de boa
Eu e ela
Um amor internacional
Eu e ela
Paixão transcontinental
Ela me diz que o Rio é gira
Eu digo que é sensacional
Mas é que por você
Eu vou ficar em Portugal
Ela diz que eu sou fixe
E me leva ao seu castelo
Você minha Desdêmona
Sem ciúme eu sou Otelo
Ela me leva a conhecer
O seu universo paralelo
Ela é verde e vermelho
Eu sou verde e amarelo
Eu atravesso um oceano
Eu atravesso os verdes mares
E quando estamos juntos
Vamos a todos os lugares
Eu a levo a Ipanema
Ela me leva ao Algarve
É então que nosso amor
Vai se espalhar pelos ares

domingo, 14 de maio de 2017

Paralamas no Olaria!

>No alto de uma igrejinha iluminada seis horas tocou a Ave Maria que banhou toda a Penha e região. A lua cheia brilhava tremendamente no céu. Era uma noite dessas agradáveis em que se pode respirar o ar puro da Zona-Norte e sentir o odor das flores independente da estação. Antes do show um DJ tocava músicas que se estão por aí “Desde os anos oitenta...” como se diz por aqui. New Wave, Funk Melody, Miami bass. Então rolava Simple Minds, The Smiths, The Cure, Information Society, Stevie B, e com certeza o Toni Garcia deve ter pintado por lá. Havia um clima de flashback no ar... Os mesmos passinhos de antes. A pausa do DJ no mesmo lugar que se fazia na época em que os Paralamas foram lançados. O Olaria estava lotado. A iluminação era ótima. A temperatura da bebida e a simpatia no atendimento também. Quando Os Paralamas entraram no palco me veio à mente aquela época em que eles apareceram, e o Herbert e o Renato Russo, que entre tantos outros bons letristas do rock Brasileiro já eram idolatrados. Mas o clima de nostalgia começa a ser quebrado. E você vai entendendo porque nessas três décadas de historia musical eles estiveram presentes. Na plateia gente de todas as idades. Os músicos da fila do gargarejo com os pescoços esticados e boquiabertos. As músicas recentes, e aquelas que se apresentam como clássicos acompanhados por crianças. “Palavras duras, em voz de veludo, e tudo muda, adeus velho mundo, há um segundo, tudo estava em paz...” e adolescentes roqueiros cantando. Eles são amigos. E tem prazer de tocar juntos. O Herbert é um grande guitarrista que faz arranjos memoráveis para seus shows. O Barone parece uma bateria de escola de samba. As imagens do solo do Barone no telão... E o grave do Bi Ribeiro... Eles tocam com o mesmo fervor de sempre. E se você gosta dos Paralamas vai ao show e ainda se surpreende com os arranjos das músicas. A história no telão sendo passada. E ali embaixo a história da música brasileira acontecendo. Agora não me lembro dos Paralamas terem tocado Uns Dias? Que creio eu dá nome ao show. A versão de Caleidoscópio. A velha guitarra de blues. Ela Disse Adeus. A bateria de Perplexo. Os vocais do Herbert. A sua simpatia jogando as pessoas para cima. Sempre celebrando com palavras de incentivo. O João Fera nos teclados, sempre. Os outros dois amigos do sopro também. Eles nos passam uma boa energia, o grupo todo, os seis. É visível o quanto são amigos. Talvez por isso estejam nesse longo caminho. Eles respeitam o público que deseja ouvir seus sucessos. Ou pelo menos esse show é isso. E eles tocam Meu Erro e Lanterna dos Afogados com o mesmo apreço. O Calibre... que rock and roll! E Trac-Trac ao vivo? É lógico que também gosto de Brasília, O Trem Da Juventude, e Foi O Mordomo... Músicas que não sei com qual frequência os Paralamas tocam. E aquela guitarra de Herbert que acompanha os sopros de O Beco? Tudo ao vivo é jogado para cima e executado com precisão, como dizem. Herbert acenou para a rapaziada e olhou nos olhos das pessoas. Enquanto alguém empurrava a mesma cadeira a qual ele se refere, “em cima dessas rodas também bate um coração.” Alterando a letra de óculos. Eles tocaram tanto, e de repente acabou. Passou rápido. Deu esse gostinho de quero mais...

sábado, 6 de maio de 2017

Férias na Prisão!

Quando ele chegou à cadeia a primeira frase que ouviu foi: no crime todo mundo tem um vulgo! Ele ficou entre Ode. E Brecht. Ele escolheu o dramaturgo. Antes do almoço, Fernandinho Beira-Rio companheiro de cela de Brecht disse. Vai rolar um aperitivo, uma cachaça de arroz... Depois da bóia rola um fino de cadeia, o digestivo. O homem magro e de óculos. Disse: não, obrigado... Se tivesse uma pancadinha de Uísque. Fernandinho disse. Uísque é horrível! É pior que cachaça! Brecht perguntou à Beira-Rio. Porque você tá aqui? Tráfico! E você? Por causa do meu vício! Qual? Beira-Rio pôde ver o olhar lunático de Brecht para as grades, ele disse. O meu vicio era comprar as pessoas. Eu estava viciado em comprar as pessoas. Um amigo seu da firma disse isso no depoimento, Beira-Rio respondeu. Ele disse que o pessoal da empresa estava viciado em comprar os outros. Eu vi na Globonews. Beira-Rio balançou o cigarro. Quando a gente olha pra você não imagina que tenha esse poder todo! Nem eu quando comecei imaginava que pudesse ter esse poder todo. Você não entendeu... Eu era o homem da mala preta. E chega uma hora que você não tem mais quem comprar, e você fica de saco cheio! É fácil demais... É como um jogo. Depois que você conhece os macetes. E que não tem mais para onde ir, você começa a se sentir entediado. Eu não aguentava mais aquela mala. Ela havia se tornado pesada demais. Era hora de dar a vez para outro. Beira-Rio disse: você tem que me contar uma coisa. Advinha sobre o quê é que eu quero saber... Eu quero saber sobre aquelas festas. Eu tinha uma amiga que trabalhava como garota... O carcereiro passou o cassetete na grade. Ele diz: o nosso amigo do Deus Supremo, disse que vai rolar um habeas corpus. O Brecht abre um riso.

terça-feira, 25 de abril de 2017

Um Livro no Bolso de Trás da Calça...

Um livro na fila do consultório. No elevador. No trem. Um livro no bolso de trás da calça. Ou no bolso de lado da bermuda. Uma edição de bolso. Um pocket book. Você quer um calhamaço ou uma brochura? Eu carrego um tijolão dentro da mochila! Um livro encadernado. Um livro sentado na privada... Eu fico triste por sentir enjoo com a leitura no ônibus. Por isso admiro quem consegue ler em pé no ônibus. E admiro quem consegue ler no trem... Outro dia fiquei impressionado com uma menina lendo andando. Mas a verdade é que eu faço o mesmo quando o livro é bom, e não dá para esperar o trajeto de volta da biblioteca... Um livro dentro do avião enquanto avisos incessantes disputam com a leitura. Um livro como uma única companhia. Numa casa vazia. Ou num leito de hospital... Quantos escritores começaram a escrever quando estavam doentes. Quantos escritores escreveram durante a guerra. E quantos em campos de batalha. Em prisões. Convalescendo. Passando fome. Sem dinheiro no bolso ou na conta. Cegos ditando para os outros. Escrevendo apenas com uma das mãos. Comendo comida de cachorro. Quantos tinham esquizofrenia. E quantos deles tinham depressão, epilepsia. Vícios. Quantos morreram de pneumonia ou tuberculose. E quantos mestres morreram sem ter a oportunidade de publicar um único livro. E quantos não quiseram aparecer. Quantos para que um livro repousasse em nossas mãos... Eu conheço gente que lê um livro de seiscentas páginas de um dia para outro. E não é leitura dinâmica, não. O negócio é sério! Mas dependendo do livro... Eu era só uma criança naquela época. E me lembro como se fosse hoje quando um livro se iluminou em minhas mãos. Eu nunca mais me senti sozinho. Ou entediado.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Mundo Pet...

Junto de uma tomada de consciência maior sobre os direitos dos animais o mundo pet cresceu tremendamente. Hoje se percebe mesmo na televisão onde parte dos noticiários se dedica a vida dos animais. Não a vida dos animais em seu habitat natural ou coisa assim. Mas sim, a vida social do animal doméstico. A sua relação com o seu dono e com o mundo em que vive. Normalmente os donos dizem que os animais os amam e os compreendem incondicionalmente. De maneira que nos dão a entender que nenhum ser humano seria capaz de ouvi-lo como o seu cachorro ou gato. Mas eu cheguei a essa reflexão caminhando pelo bairro onde moro. Pois aqui, como nunca se viu antes, aumentou consideravelmente o número de dejetos de animais nas calçadas. É impossível caminhar sem prestar atenção única e exclusivamente onde se pisa. Esse status social do animal que hoje anda no colo. Veste camisa do time preferido. Tem enterro. Identificação. E creche. Ainda é uma novidade cá por essas bandas. Aquele animal de rua que não tinha pedigree, que era chamado de vira-lata, comia resto de comida, e corria atrás dos carros praticamente evaporou. Ele que era o cachorro da vizinhança. O cachorro de todo mundo. Hoje esse animal seria visto como um mendigo. Um indigente. Como se não fosse ninguém. Alguém que não tem vida, e que não tem uma história. Por falar em indigentes, existem bilhões deles pelas ruas dessa cidade. A maioria pelos mais variados motivos, coroados com algum vício mais degradante que os nossos na esperança de amenizar a dor dessa cidade cheia de órfãos. E por falar em órfãos, existem até casais que brigam na justiça por seus animas, e que obtém a guarda compartilhada. Vou limpar a sola do meu sapato. Até mais...

quinta-feira, 6 de abril de 2017

O Pão Aumentou...

Ele diz: eu quero dez pães, por favor. Ela diz: o pão aumentou... Ele diz: não, o pão não... Não pode ter aumentado! Ela diz: aumentou sim. Ele pergunta: aumentou quanto? Dez centavos. Ele diz. Num falei, aumentou o preço do pão! O pão continua pequeno... Talvez tenha até diminuído!

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A Natureza é Perfeita!

Ela odeia os gatos e os cães do parque, pois eles devoram o miolo de pão que ela leva todos os dias para alimentar os pássaros. Ela enxota os Pets. Cai fora daqui! Enquanto observa um vira-lata se afastar... Ela olha o parque a sua volta, pensa, e diz: a natureza é perfeita!

A Casa de Cada um...

Ela grita para ele. Eu ouvi da boca dela! Ela abraça a mochila onde estão todos os seus pertences e se dirige para outro canto da praça. Quem passa com os seus pensamentos não percebe a mulher sentada. E muito menos que ela é um travesti. Se eles tivessem uma casa ele continuaria na sala. Calado. Ela ia se trancar no quarto e ficar em silêncio.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Edson Jorge!

Como em todos os outros dias da minha vida aquele dia eu ia trabalhar. Estava lendo quando fui interrompido pelo telefonema de Carlos Macedo. Eu não tinha o dinheiro para voltar para casa. Mas ia arrumar no trabalho. não me importava se ia voltar para a casa de trem, metrô, avião, ou a pé. Como eu ia voltar não importava mais. Era isso que eu pensava quando desci daquele ônibus. E agora eu me encontrava em frente ao empresário Carlos Macedo. Ele estava atrás de uma mesa de vidro gigantesca, e as suas costas eu podia ver parte da Baía de Guanabara, Eu me encantei com a vista e percebi o riso de Macedo perante o meu deslumbre “Eu sei que aí dentro tá cheio de esgoto, mas mesmo assim a vista é bonita!” pensei. Carlos Macedo estava com um blazer azul e uma calça jeans clara. Ele calçava um sapato de couro marrom que reluzia assim como a sua careca. E também exibia uma barriga de chope. Apesar do estilo do cinto e da calça de grife. Carlos Macedo ostentava um relógio enorme no pulso que me lembrava dos emergentes e dos bicheiros. A secretária entrou na sala com uma pasta onde estava impresso Edson Jorge em letras enormes. Estela virou o rosto sorriu mexendo os cabelos. Seja bem vindo Edson Jorge! Eu senti como um baque aquela frase acompanhada do sorriso gratuito. E respondi muito obrigado tentando ser o mais simpático possível. Eu espero corresponder às expectativas, concluí. Eu diria: sexuais também, mas não disse. O senhor aceita um café? Estela perguntou com toda a simpatia. Respondi, aceito. Eu estava morrendo de fome. Estela saiu da sala rebolando. Os seus músculos iam sendo delineados por todo o caminho na medida em que pressionavam suas pernas tonificadas. E os bicos os mamilos roçavam a blusinha de seda. Estela vestia uma saia até os joelhos e estava de saltos altos. Estela era morena e possuía um sinal no canto da boca. Dizer uma pinta no canto da boca talvez fosse vulgar. Ela voltou com um carrinho de metal e pôs a minha frente. Eu agradeci a gentileza. Ele olhou para ela como se quisesse me dizer que ela era “sua”. É lógico que ela é parte de sua propriedade, assim como o prédio, e o carro no estacionamento. Nessa hora eu me lembrei de uma das frases pichadas: “A Propriedade é um roubo!” Joseph Proudhon. Eu olhava para o caminho que o raio de sol fazia dentro d’água, e pensava que logo assim que pedisse demissão eu me ia me sentar em Ipanema e torrar um baseado enorme. Era só nisso que eu pensava. Seria a coroação de todo a minha caminhada. Eu não me importava com a pressão psicológica que Carlos Macedo me impunha com o olhar, que me dizia: você não é nada sem mim! Eu não ligava mais pra nada! eu aceitei algumas questões do contrato porque eu sabia que não era mais tão novo para tantas exigências. É lógico que ela é parte de sua propriedade, assim como o prédio, e o carro no estacionamento. O gerente do supermercado em que eu trabalhava era mais covarde do que todos os empresários do mainstream juntos. Aquele filho da puta com bigodinho de Hitler! De repente a música Como Uma Onda do Lulu Santos começou a tocar no som embutido do escritório. Eu percebi que a vida era realmente como uma onda, vai e vem, e uma hora nós estamos por cima, e na outra por baixo. Eu me lembrei de uma vez em que eu estava em um ônibus em direção a Pavuna, e um motorista de ônibus começou a cantar aquela música. E percebi o quanto aquela mensagem era forte, e mesmo que ela fosse massificada, e saturada em nossos ouvidos, quando ela se interpunha entre nós é que nós víamos o seu peso. É isso que nós queremos Edson Jorge! Eu percebi a empolgação do empresário falando como se fosse fácil fazer um hit com conteúdo e transformá-lo num clássico. Assim como uma mulher havia rezado ouvindo o Epitáfio dos Titãs para que o avião não caísse. E um cara desistira de cometer o suicídio ao ouvir Tente Outra Vez do Raul Seixas no rádio na hora do ato. Aquela música me vinha na hora exata. Carlos Macedo sorriu e disse, assine aqui, por favor. Eu assinei lá no canto, embaixo daquelas letrinhas pequeninas, que eu tive não tive coragem suficiente para tentar decifrar.

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Mulher...

Mulher... É o teu cheiro, teu pelo, teu cabelo.
É ter você em março ou fevereiro
Do sempre seu, pra ti, mulher...
Mulher... É o teu jeito, o teu idioma...
Esse carinho que não te abandona
Que eu sempre faço, em ti, mulher...
Mulher... Você é ruiva, ou é cor de rosa.
A flor cheirosa orquídea mais formosa
Em minha prosa, é sim, mulher...
Mulher... A flor que Deus deixou em meu caminho
Você é rosa onde não há espinho
Nunca sozinho, em você, mulher...
Mulher... Você é negra é loura e é branca.
Você princesa, rainha, louca ou santa...
A vida nasce, em ti, mulher...
Mulher... Você é mãe é filha é avó...
Dorme ao meu lado, o sono é melhor.
Nunca me deixe, só, mulher...
Mulher... É um bom dia que muda o meu dia
É um sorriso que faz minha alegria
É todo o dia, assim, mulher...

E Quando o Eleitor é Preconceituoso...

Eu recebi uma mensagem de um amigo falando que o candidato Freixo (que não terá o meu voto) defende bandido porque é a favor dos direitos humanos e ao que me parece é contra as milícias que assim como os criminosos que existem na polícia têm apoio de maior parte da população que é a favor da pena de morte para negros e pobres. Muitas vezes para os seus próprios filhos. Não voto mais porque nunca acreditei nesse modelo de sociedade. Essa ladainha dos direitos humanos é velha. Ouvi isso na época do Brizola quando era criança. Estou cagando para o Freixo. Mas sinto engulhos ao perceber que as pessoas ainda acreditam que vão conseguir a paz através da guerra. Quando nos países ricos e pacíficos se chegou a essa relativa paz (possível) através da educação e da cultura. Depois veio aquela do Gabeira que era viado e maconheiro e ia transformar nossos filhos em viados maconheiros. Quanto aos preconceitos, nós devemos lembrar que maior parte da população enche o bucho de cerveja e é alcoólatra. Sem contar o imenso prejuízo que a máquina do alcoolismo causa em nossa sociedade direta ou indiretamente que faz maconha parecer pirulito na boca de criança. Sobre o preconceito sexual temos hábitos pouco ortodoxos. E quando os gringos nos jogam na cara, nós sempre nos saímos com aquela! Ele pensa que nós somos assim! Nossas mulheres não podem amamentar em público nem fazer topless. Mas olhar pra bunda de garotinha, quem é que não olha? E aquele travesti na rua escura, lembra? O outro candidato é o Crivella (que também não terá o meu voto). Do pessoal que diz, ah, pelo menos ele é cristão! Isso está longe de ser verdade, pois se ele fosse cristão não seria da igreja que reinventou o dízimo. E não teria alianças tão espúrias. Não pense você, que irá ter o prefeito menos mal, talvez nem você, nem eu (com certeza), sejamos cristãos só porque fazemos figuração numa igreja. Não creio que Cristo seja a favor da pena de morte, se ele próprio foi vítima dela, assim como Sócrates. E independente de quem ganhar, nessa cidade que é a mesma desde a época de João do Rio, que se você não sabe quem é, tem que começar a pensar, e conhecer essas palavras, autômato, analfabeto funcional, talvez você seja um deles... E não esteja apto para opinar sobre o futuro da maioria.

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Seu Madruga da Penha...

Seu Madruga está sentado numa daquelas esquinas da Penha onde tem um barzinho e onde homens de todas as idades se encontram. Salvo alguma avó que aparece para arrastar alguém para a casa as mulheres não têm muito o quê fazer ali. Aliás, ali não há muito o quê fazer. Mas agora é final de tarde e mais pessoas circulam. É tempo de pipa. Seu Madruga pita seu cigarro e olha para o alto. Eu estou sentado entretido com o celular. Jogando. Matheus levanta a cabeça do celular e diz: nada para fazer nessa Penha! O Seu Madruga fala para dentro do bar. Fala para o céu e para os moleques soltando pipa. Vai pegar um livro cara, eu não vejo vocês com um livro! É mole, nada para fazer! Eu penso que desde que eu conheço o Seu Madruga, ou seja, desde que eu nasci que ele não sai das primeiras páginas do Alquimista de Paulo Coelho. Um cara passa de caminhão, reduz, e diz: Seu Madruga, me dá um dinheiro aí! Seu Madruga diz: dinheiro... Palavra fácil de ser pronunciada! Papel difícil de ser obtido! E o bicho, Madruga? Macaco! O cara do caminhão acelera e vai embora. Passa uma mulher que eu vejo todos os dias. Ela deve ter metade da idade do Seu Madruga. Sempre que ela passa a expressão do Seu Madruga se transforma e ele resmunga coisas para si. Eu sempre tento escutar. Nossa... Meu Deus... Que isso... Ele diz outras coisas sem sentido. Matheus sorri. Um cara de óculos todos os dias quando vê Seu Madruga pergunta: e o Flamengo? Dá pra ser campeão? Seu Madruga sempre faz com que ele fique com uma expressão preocupada. Vamos ver... Vamos com calma! O cara de óculos segue angustiado. De repente o telefone toca. Seu Madruga pega o telefone da minha mão e diz, vão vamos que a sua avó já tá enchendo o saco. Matheus pergunta, Seu madruga, esse moleque não vai aprender a falar, não? Seu Madruga me puxa pela mão e me pergunta: o quê eu sou seu? Vovô! Eu respondo. Ele olha para Matheus sorrindo e nós caminhamos.

sábado, 1 de outubro de 2016

O Encontro de Bambu Com Prata Preta...

Quando o líder capoeira Prata Preta esbarrou com José no Estácio ele perguntou: Zé, você conhece algum capoeira bom que eu não conheça? Prata Preta sempre fazia essa pergunta como que para se atualizar de sua profissão.  José respondeu na lata: Bambu! Bambu já era um mito na roda do cortiço. Bambu era só um adolescente nessa época. Mas ele já fazia história. Bambu devia ter uns dezesseis anos. Naquela noite ao ver Prata Preta na roda do cortiço Joãozinho decidiu que futuramente seria um deles. Joãozinho disse para Joanete, agora você fica vigiando se os meganhas vêm que eu vou lá...  Prata Preta vai entrar na roda! Joãozinho jogou uma moeda para Joanete. Bambu caiu na baianada. Bambu em um dos poucos momentos de sua vida carregava um sorriso sereno no rosto. Ele ali jogando com o ídolo Prata Preta. Mas aquela noite não foi fácil para Bambu, ele quis superar o mestre, e tentou catar o seu pé de todo jeito. Bambu tentava agarra o tornozelo de Prata Preta com o seu pé que parecia uma foice... Prata Preta como se afastasse tranquilamente de algo que vinha em sua direção. Dava pequenos saltos para trás. Se Bambu pudesse frequentar no Municipal teria viso àqueles passos num ballet. Ele fugia dos pés de gancho de Bambu. Mas na responsa. No talento. Bambu suava. Joãozinho estupefato com a expressão de Prata Preta que parecia fazer uma força mínima para se livrar dos golpes, e em seu rosto não havia uma exaustão relacionada ao movimento que ele acabara de fazer.  Quando Bambu caiu no chão que era o seu forte, era como se Prata Preta pudesse adivinhar os movimentos de Bambu. Prata Preta estava sempre dois passos antes de Bambu. Bambu se cansou de girar e ver Prata Preta as suas costas. Era com se ele se movimentasse em câmera lenta. Na última o mestre teve a ousadia de pisar na perna de Bambu e em seu ombro. Bambu desistiu. Caiu exausto. José havia levado suas mulheres, ele queria que todas vissem Prata Preta na roda. Prata Preta jogara com Bambu. Maria levantou o copo quando Bambu caiu no chão. Isso significava arrego. Prata Preta deu a mão para que Bambu se levantasse. Bambu aceitara a derrota aquela noite. A única que aceitaria em sua vida. Sem sentir ódio do inimigo. Embora ele não soubesse o que era perder. O mestre gostou do que viu, e no meio daquelas fogueiras, onde se assavam batatas doces. Prata Preta disse. Todos devem respeitar Bambu como capoeira! José gargalhava. Bambu lutaria ao lado de Prata Preta na Revolta da Vacina. O mestre que sumiria enviado para o Acre. Bambu. Prata Preta disse, Esse é o nome do homem! Bambu não era bem um nome. Então era o quê? Um apelido? Um vulgo? Uma alcunha? Ele era conhecido por Bambu tanto no meio da cavalaria, quanto por aquela Joaninha com o Cosme e o Damião dentro. Bambu era freio de camburão. Bambu. Olha o apelido da criatura... Bambu tinha dois metros de altura. Bambu era um dos melhores capoeiras das maltas do centro. Um tipo que seria extinto com a expansão da pólvora no mercado...

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Terra... (Pós-Apocalíptico)

De repente um estrondo muito forte. Alguma coisa preta bateu no carro. Jerry Lennox freou bruscamente cruzando a banheira na estrada. Só se ouve a música ao fundo. Juno Lee desliga o som. Fica em silêncio. Carrey Luna apura a audição. Dá para ver que ele movimenta as orelhas. Jerry Lennox sai do carro com a pistola em punho. Em posição de combate ele caminha em direção ao corpo estranho. É possível ouvir os seus passos. As suas botas batendo no chão. O grupo se entreolha. Ao se aproximar Jerry Lennox percebe que é o corpo de um urubu. Jerry Lennox levanta o urubu do chão. Ele cheira o animal, e fareja o ar... Jerry Lennox olha para Joshua Carter que freou a motocicleta depois do viaduto. Jerry Lennox olha para cima do viaduto de onde veio o ataque. Little Boniek faz um círculo no ar em cima dos garotos agachados. Um dos garotos, o que parece mais novo, olha para o céu... O que esta idiota pensa que está fazendo... Ele pensa sobre a pomba que vê no ar, voando alto. Joshua Carter dá a volta com a moto, e segue em direção ao retorno para subir o viaduto. Joshua Carter vê os dois garotos se movimentando. Ambos com barras de ferro nas mãos. Correndo em sua direção. O outro dá um berro, ah! Susan Boniek está na garupa da moto. Ela puxa a escopeta das costas como se fosse uma espada, e atira em direção aos garotos que correm desnorteados. Um dos tiros arranca o tampão da cabeça do garoto que vai para cima da moto cambaleando... Ele leva outro tiro de escopeta. Só que este no meio da barriga. Ele cambaleia até a mureta de proteção, e tomba do viaduto. O outro garoto parece não acreditar ao ver a mulher velha de cabelos prateados armada na garupa da moto. Ele olha para trás para dar uma última conferida na cena. Em desespero o garoto pula do viaduto, mas é interceptado no ar por um tiro de Jerry Lennox. O garoto dá um urro ao ser abatido. E cai em cima do outro garoto. Os dois formam uma imensa poça de sangue na estrada. Ao se aproximar dos mortos Jerry Lennox percebe que eles parecem irmãos gêmeos. Jerry Lennox e Joshua Carter arrastam os corpos dos garotos em direção ao carro. E quando eles abrem a mala do carro, o quê se vê são outros corpos esquartejados lá dentro. Igual à mala de um psicopata, pensa, Susan Boniek, Carrey Luna olha para ela... é como se perguntasse o quê... E as moscas zumbem em volta de sua cabeça. Carrey Luna tapa as narinas com os dois dedos da mão direita em forma de gancho e espanta as moscas com a mão esquerda. Jerry Lennox diz, divirta-se! Susan Boniek se aproxima novamente, e joga algo que parece sal em cima dos corpos. Carrey Luna fecha a mala do carro. Jerry Lennox olha para Little Boniek que sobrevoa as suas cabeças, e mostra o dedo indicador para a pomba branca. Little Boniek segue o seu caminho pelo ar. Surge à imagem de Henry Boniek em sua mente, dizendo, siga para o norte, sempre em direção ao norte. Sempre para o norte. Voltar não. Henry Boniek diz isso no alpendre de sua casa. A sua imagem é a de um homem negro, velho e magro, de cabelos grisalhos, camiseta florida, barba por fazer. Joshua Carter caminha em direção à moto. Susan Boniek segue atrás dele, Jerry Lennox, Juno Lee, e Carrey Luna seguem em direção ao carro. Little Boniek vai à frente. E o comboio segue o seu caminho na estrada...

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Seu Zé!

José girou o taco de sinuca. Deu um pinote. E saiu cambaleando. Ganhou a rua. E os homens correram atrás dele. Quando as pessoas se davam conta o vulto já havia passado. Ele era ligeiro. Arisco. Rápido. E dizia de si para si. É ruim me pegar, otário! Próximo às aglomerações José fazia cara de paisagem, diminuía o passo, sorrateiramente. Eu corro pra caramba! Para driblar os homens José quase derrubou uma doceira em seu caminho, e pôs no chão um caixote com laranjas. As laranjas rolaram na rua de paralelepípedos causando furdunço entre os passantes. O homem preto ao se aproximar do grupo perguntou, onde ele foi? Um velho apontou para a rua em frente. Ele foi por ali. José estava cansado. Entrava num beco. Entrava em outro. Ele cortava caminho. José era sagaz. Pensava rápido enquanto corria. Ele derrubara dois dos homens em frente ao bar. Com uma pernada só. José girou sobre o próprio pé. Enquanto a outra perna ganhava o ar, atingindo os homens que corriam em sua cola. Próximo a um grupo de lavadeiras que se encontrava na esquina com as suas trouxas de roupa na cabeça, e os seus filhos pendurados por um pano. José puxou as moedas que havia ganhado na sinuca. E arremessou para o alto. Causando tumulto entre as mulheres que buscavam as moedas, e atrapalhando os homens que vinham em seu encalço. Ele ganhara a rua do cortiço. Só havia o cortiço no final da rua. Quando chegou próximo ao cortiço, José viu Pai João sentado à calçada. Era um domingo de tarde bucólico. O velho estava sentado no caixote pitando o seu cachimbo. Pai João mastigava o fumo no canto da boca. José passou por ele em direção à entrada principal do cortiço. As crianças do cortiço ao verem José correndo começaram a fazer o rebuliço costumeiro. José começou a chutar a terra do chão para o alto, formando assim uma nuvem de poeira. No que recebeu a ajuda das crianças. Os adultos entravam nos barracos e batiam as portas. José entrou no barraco. Foi até o esconderijo da arma. José pulou, e conseguiu se pendurar no teto de telha frágil. Puxou o revólver. Pôs e começou a alisá-lo. Pensando em puxar o gatilho. Os homens chegaram. As crianças correram. Esconderam-se. Logo assim que os homens entraram no cortiço a rua ficou vazia. Pai João sumiu dali com o seu caixote. Enquanto os homens entravam no cortiço ouviam as portas batendo. Mesmo quem não havia saído ao perceber o burburinho puxava a porta. O homem preto e alto que era apelidado de Pezão. Disse: José... Ele disse bufando... Apoiando as mãos nos dois joelhos para tomar o ar. Ele havia jurado que ele fosse correr para a favela. Ali devia ser esconderijo de algum malandro. E soltando o nome do outro... Como se ele pudesse fazer eco. Ou reverberar até sumir como as reticências. José eu vou te pegar... No fundo ele pensava porra cheguei tão perto... José... Os dois homens brancos, e de bigode bufaram. Eles estavam de suspensórios, calças beges, e camisas brancas encardidas. O homem negro estava com uma calça preta, uma blusa azul, com botões pretos enormes. E usava barba. Era alto. Os outros dois eram baixos, e troncudos. Ele disse, e quando eu voltar aqui José, se eu não te pegar. Eu vou levar um desses canalhas em seu lugar, seja mulher, criança, velho, quem tiver no caminho! E te digo mais, não vai ser na navalha nem na capoeira, nós vamos te comer bala! Vai ser na pólvora! Eles olharam para todas as portas. O silêncio era estarrecedor. Como se não tivesse ninguém ali. Como se de repente as pessoas tivessem parado de respirar, e ficado estáticas. Era como se elas tivessem morrido. E nem o barulho de seus corpos batendo no chão fosse capaz de ouvir. Agora o ar de José ficara grave. Era como se ele não respirasse. Olhava os homens que estavam em sua direção. No meio do quintal do cortiço. José podia avistá-los, e ao fundo, um varal feito de bambu. Um lençol branco. E logo após o poço. José estava na direção dos homens, e pensava. “Daqui de onde eu estou eu acerto os três”. Ele olhava por aquele filete da fresta da porta. Encostava o ombro direito. E não estava atrás da porta. Mas sim do outro lado. E a sua mão esquerda ia ao revólver justamente na direção dos homens. Eles foram se arrastando para fora. E andando de costas. Como se fosse possível que alguém pudesse abocanhá-los. Ou armar alguma arapuca como aquela que eles haviam armado para José. Mas ninguém fez nada. A ordem era sempre nunca fazer nada. José sempre dizia aos seus. Aos moradores do cortiço. Da favela. Da Lapa. Quando eles estavam no meio do carteado, e por sobre as cartas, era possível ver seus olhos, e o seu cavanhaque. Tia Ciata dizia para que José não andasse de cavanhaque, pois quem andava de cavanhaque era o próprio! José gargalhava. Melhor não fazer nada... José dizia. O bom é não fazer nada. E aos moradores do Morro da Favela ele dizia o mesmo. E o mesmo para o pessoal do Estácio. O quê vem de nós é a educação... A paz. Falou. José mostrava as cartas encerrando a conversa. Ele dizia. Bati. Era a mesma coisa quando os dados batiam no chão. Bati. Com as bolinhas. Com o dominó. Com a dama. Com o gamão. Em qualquer tabuleiro. Além de tudo José tinha uma baita sorte no jogo. Fosse jogo do bicho no zoológico. Se vivesse futuramente o seria na maquinha. Bambu que era o negro mais revoltado de todos, sempre com o seu chapéu de palha, sua calça larga, e sua camisa aberta. É José, mas tem hora que dá vontade de esfolar um pilantra desses, Ó! José dizia, deixa... Eles querem nos colocar nos prejudicar. Não adianta entrar na provocação. Deixa esses otários pra lá! Joga... De repente José meteu a mão na blusa branca. E viu que estava manchado de sangue. O filho da puta havia acertado José de raspão. Ele enfiou o revólver dentro do saco de arroz. Foi ao barril igual de um armazém de secos e molhados. E pôs um pouco de pinga no copo italiano. E pingou na ferida. José se deitou na cama. As crianças começaram a sair aos poucos. Joãozinho foi até a entrada do cortiço, e meteu a cabeça do lado de fora. A rua estava vazia. Os homens já tinham ido. Joãozinho correu para avisar a José. Quando entrou no barraco José estava deitado na cama. Com a mão sobre o ferimento. Ele disse: João... Corre, vai chamar Maria! João saiu correndo. Aquela treta era por causa de mulher. Joãozinho pensava. A fraqueza de José era essa... Rabo de saia! Como ele mesmo diz. Chave de cadeia. Vendo o sangue no chão se misturar com a areia. O amigo Joanete, perguntou ao Joãozinho, José morreu? Não, José não morreu! E aquela gargalhada característica de José ecoou pelos céus da cidade. Aquela gargalhada. Que no começo. Quando as crianças ouviam tinham medo. José começava a sorrir aos poucos. E de repente o seu riso ia ficando maior, e maior, e maior. José parecia uma matraca. Era um riso cadenciado que cobria o espaço. Aquele riso que as pessoas gostavam de ouvir. Era um riso seguro. Uma risada deliciosa. Uma de alegria inspiradora. Ele mostrava os dentes. E daqui a pouco todo o cortiço estava sorrindo, mesmo os adultos, as lavadeiras, os estivadores, os mascates, todos sorriam, e eram contaminados por aquela gargalhada...

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

SNJ - Somos Nós A Justiça!

eu sei que o SNJ é um grupo famoso com um trabalho vasto. mas eu quero voltar no tempo. chega de saudade, nada! o quê é bom é para ser revivido. eu me lembro que esse CD Somos Nós rodava para lá e para cá na mão de todo mundo no meio dos young folks com quem eu andava. assim como o CD do Sabotage (que ainda rola direto nos carros) eu devo ter prendido o “meu” de alguém, que logo na sequência foi afanado. E todo mundo vinha com aquele papo de vamos fazer um rolo, eu te dou tal CD... mas quando viam que o dono do CD não aceitava ameaçavam ficar com o CD na marra. não sei se alguém conseguiu preservar o seu desde aquela época. ele era como um livro ensebado que roda na mão de todo mundo. colocar a mão num CD desses deve dar a mesma sensação do que segurar um joystick de sua adolescência para quem teve videogame. não vou usar aquele clichê dos críticos musicais de que o CD é atual. não é isso, cara! é que nada mudou. assim como o CD do Sabotage que roda direto nos carros. depois caí na real de que o quê tem de mudar é a situação, e não o que os rappers dizem. o rock se renova toda geração porque o mundo é careta. então todo mundo sabia cantar as músicas daquele disco. Viajando na Balada. Sem Essas Nunca Nessas que é um dos sons que eu mais gosto. Sem contar as levadas, a rima longa, que é ótima, uma das melhores que eu já ouvi... “na mídia só tem louco”... ainda hoje. aquele lance da televisão, eu ainda me sinto como se observasse os bobos da corte em frente a tevê quando eu ouço essas músicas. eles buscaram levadas próprias, mas não é só isso! todo o estilo. era a música para o meio da rua. para skatista, sei lá! mas as crianças gostavam, os velhinhos, como eles anunciavam. a Biografia Feminina. o nome de todas aquelas mulheres negras. Covards. No Mundo da Lua. Ato Fatal. raps em que eles falam contigo como se fossem vozes dentro da sua cabeça. é uma conversa ao pé do ouvido. o alerta sobre o perigo das ruas. a voz no meio de uma viagem errada, a sua cabeça está no mundo da lua! chamando a pessoa para a realidade. os ecos. tudo. e assim como Epitáfio dos Titãs ou Tente Outra Vez do Raul Seixas, o clássico Se Tu Lutas Tu Conquistas é pode inspirar em momentos de fraqueza. quando a Lapa do Rio agonizava, antes de se transformar ponto turístico por causa de um personagem de novela. eu estava num baile de rap quando vi dois ou três do SNJ. creio que a menina estava junto dos outros. eu disse a eles, vocês são um dos melhores grupos de rap de rua do Brasil! não sei o quê eu quero dizer como rap de rua. eu me lembro de um deles cutucar o outro, na humildade, para ouvir o quê eu dizia. na época eu os havia comparado com o RZO ou algo assim. a prova de que esse CD é atemporal é que quando eu era criança eu havia me esborrachado tentando voar igual ao Super-Homem. e não duvido nada que tenha muito garotinho por aí de nariz quebrado.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Wert!

amigos leitores... o meu livro “Wert!” está em promoção na loja da Amazon.com. Wert! é um livro que me trouxe certa paz. Dentro do que é possível para um escritor se dar por satisfeito. aqui estou eu tentando racionalizar o que é abstrato. Wert! é um livro curto. quase um suspense. preferiria classificá-lo como trailer psicológico. é um livro de coisas não ditas. de gestos e palavras que se perdem no ar. é um livro de impressões. onde em cada frase eu buscava não deixar uma gordurinha. também é um livro inspirado por literatura “noir”. a história se passa dentro de um apartamento. o personagem principal está narrando tudo em “tempo real”. Wert! é um dos meus pastiches de literatura americana. a vizinhança é pobre, suja, violenta, cheia de neuróticos de guerra e viciados. o apartamento funciona como um ponto de encontro de tudo que é tipo de maluco. existem mil movimentos que insinuam que ali funciona um “inferninho”, ou uma “boca”, ou quem sabe um local que abriga bandidos que tramam algumas ações. John o narrador fica o tempo todo fazendo roleta russa com um revólver enquanto tenta escrever um texto que o seu chefe que é apenas uma voz ao telefone pediu. talvez o chefe tenha pedido um balanço. ou um controle de todo o movimento. isso se torna impossível. John está ansioso com a “pedra” que carrega no bolso. ele quer se livrar da “pedra” mas não consegue e ao mesmo tempo não faz uso dela. essa é uma das dúvidas que irão pairar durante a todo o trajeto. os outros personagens aparecem e somem. você só pode julgá-los por suas expressões. pois eles não dizem tudo. John insinua um interesse por Joan. que não sabemos se é platônico ou se é algo que já chegou a se consumar de fato. Não sabemos o quê é realidade, o quê é alucinação o quê está no futuro ou no passado. é lógico que eu não leio os meus livros. uma que eu não quero me influenciar. outra que se eu fizer isso vou mexer em tudo. se eu entrasse numa biblioteca provavelmente traria Wert comigo. agradar a si mesmo é sempre mais difícil. um texto por menor que seja é um acúmulo de toda a vida. um dos motivos pelos quais escrevi esse livro foi que havia assistido na televisão um documentário sobre um pintor americano chamado Edward Hopper. nunca fui atrás de ver seus quadros pessoalmente ou pesquisar mais sobre sua vida. não precisa. a impressão de que os seus quadros me causaram é que falavam sobre o vácuo. sobre o tedio. sobre o vazio existencial. neles havia um movimento. mesmo que os personagens estivessem parados e estáticos dentro de um quarto. era o mesmo tedio que eu observava nos personagens faladores de outro americano, Salinger. Wert! foi a minha tentativa de escrever sobre frases e ações, que não se concluem...

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

O Desenrolo!

Waldo está naquela rua dos fundos da favela. Impera um silêncio inimaginável para um domingo de manhã numa comunidade. A favela está deserta. Waldo fuma um cigarro desbragadamente encostado em seu carro sedã. Waguinho cruza o beco gingando. Waldo dá um pequeno sorriso quando o vê. Mas não se mexe. Waldo percebe que a expressão do outro é odienta. Waldo joga o cigarro no chão e o esmaga com o pé como fazem os atores de filmes americanos. Quando Waguinho se aproxima...

Waldo fala feito um egum mastigando as palavras e soltando perdigotos – você matou o moleque!

Waldo balança o dedo insistente na frente do outro.

Waldo - Foi você que matou o moleque! Foi você..

(É uma briga de galo. Waguinho enfia o nariz dentro do nariz de Waldo. Um pode sentir a respiração do outro).

Waguinho - Qualquer um que atravessar seu cuzão... nós “vai” largar o aço! Se tiver fardado... Se for “alemão”, nós “vai” largar o aço! (Waguinho agora é quem ganha à expressão de egum) não adianta “vim” com choradeira de que é pai de família não... vai levar bola!

Eles se encaram durante um tempo. Quando Waldo deixa o silêncio. E balançando a cabeça diz em tom ameno - medo?

Waguinho – não vivo no chiqueiro pra confiar em porco... Se você tentar alguma covardia comigo, Waldo, eu vou te rasgar de ponta a ponta... Cadê a porra do moleque, Waldo?
Silêncio.

Wagunho - A porra daquele PM lá falou pra mina que o moleque tá morto! O quê vocês fizeram com a porra do moleque, Waldo? A família tá me cobrando, eles querem enterrar o moleque pelo menos...

Waldo – que morto, é o caralho! É só pagar...

Waguinho – porra Waldo, eu não tenho esse dinheiro... Nós temos que dar dinheiro pra aquele “verme”, com essa porra de “invasão”, que viciado sobe aqui... favela pequena!

Waldo olha para Waguinho.

Waldo tira as duas pistolas da cintura. E coloca sobre o carro. Waguinho faz o mesmo com o fuzil.

Silêncio.

Waguinho acende um imenso baseado e sopra a fumaça na direção do valão.
Waldo puxa uma cápsula do bolso. E novamente como os personagens de filmes americanos bate o pó nas costas da mão e dá “um teco”.

Waldo – Maconha é droga de porco!

Waguinho – vamos negociar Waldo? Porra libera o moleque aí, caralho! Deixa o moleque curtir o dia dos pais em casa. os moleques não vão fechar comigo nessa parada, não... eles disseram que não vai ter porra de jogo nenhum se o moleque não passar o dia dos pais em casa. e que se o moleque tiver morrido, que não vai ter jogo... Waldo sou eu que mando nessa porra, eu tô sendo cobrado no meu “fundamento”, tá geral contra mim, porra! tá todo mundo esperando...

Waldo – Eu vou liberar esse lixo. (ele balança o dedo indicador como se fosse uma mania). eu vou liberar esse “viado” por causa da porra desse jogo! Mas vocês vão pagar essa porra em parcelas! Nem que demore dez anos... Vocês vão pagar essa porra!

Waguinho fica em silêncio.

O toque do telefone de Waldo é um pagode. Ele atende o homem em viva voz.

Homem – Waldo! Nós precisamos de uma posição, já acabou? tá um clima tenso aqui... viatura e o caralho! começou a porrada... Vai ser foda segurar esse povo!

Waldo – tá, tá, tá! Libera esse “viado”, e começa essa merda... Eles vão pagar!

Desliga.

Waldo – Primeira parcela amanhã.

Waguinho – A mina vai levar...

Waguinho pega o fuzil e dá as costas para Waldo. Logo se escuta a gritaria. Waldo entra no carro. Som de fogos vindo do campo. E de todo lugar. aos poucos o som da favela volta ao normal. Já se ouve gritos de crianças e aparelhos de som.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O Samba é Meu Dom de Wilson das Neves...

Velha Guarda do Império Serrano. eu estava trabalhando num teatro do centro da cidade. eles participariam de um show do Arlindo Cruz. acho que era isso. ou eu sonhei. eu estava naquela parte de cima do teatro. de repente eles se posicionaram e começaram a cantar essa música. na época eu ainda não havia escutado essa música. é do Wilson das Neves. de repente essa música mexeu comigo. “aquilo é verdadeiro, rapaz!” “Isso é poesia pura!” “coisa fina”. e o mais chato de tudo é que é de gente que toca muito, e vive o quê canta. de repente as lágrimas rolaram. graças a Deus poder jorrar essa felicidade por aí. toda vez. O Samba é Meu Dom... ele repete, ele sabe da sua responsabilidade, das nossas raízes. ele sabe que teve sorte. que estava no lugar certo na hora certa. como ele empunha a bandeira do samba. “aprendi cantar samba com quem dele fez profissão!” aqueles nomes que fazem parte dos pilares do samba. da espinha dorsal do samba. meu Deus: “quem é do samba meu nome não esquece mais não” “é no samba que eu quero morrer de baquetas na mão”. um dia desses eu vi o Wilson das Neves no aeroporto. ele estava de chapéu. não tive coragem de falar com ele, é claro. mas com certeza estava indo tocar samba...