Índice
3. A Música
3.1 Pancadão
3.2 Funk Brasil
3.3 Funk Melody
3.4 Montagem
3.5 Funk de Favela
3.7 Funk Proibidão
4.0 A Violência
5.0 Funk Hoje
6.0 O Filme
6.1 Tempo
6.2 Intenção
6.3 Presente
6.4 Passado
6.5 Impacto
6.6 Apropriação
6.7 Dispositivos
6.8 Cronologia
7.0 Se Eu Fosse Fazer um Filme Sobre o Funk Carioca Ele Seria Assim…
7.1 Mundo
7.2 Brasil
7.3 Início
7.4 Amor
7.5 Ódio
7.6 Putaria
7.8 Criatividade
8.0 Referências
3. A Música
Se faz necessário atentar para o fato de que a ordem em que as músicas estrangeiras aparecem não é a mesma em que foram lançadas. E sim, quando chegaram ao Brasil, especialmente no Rio de Janeiro. Numa época em que ainda não havia internet, nem sempre as músicas chegavam no momento do seu lançamento. Isto está presente em todo o início da história do Funk Carioca.
3.1 Pancadão
O Funk Carioca surgiu nos anos 80 no Rio de Janeiro. Parte dos personagens que iniciaram este movimento frequentaram os bailes Blacks cariocas da década de 70; onde se ouvia e se dançava a Soul Music e o Funk negro estadunidense. Alguns de seus frequentadores mais tarde se tornaram dançarinos de breakdance. O movimento Black serviu como uma bifurcação para a cultura urbana da cidade. Vários de seus clientes se dividiram entre o Funk Carioca e o Charme (R&B). E ainda um pequeno grupo rumou para o Hip-Hop. Alguns exemplos que podem ser citados são: Rômulo Costa (Empresário de Funk Carioca e dono de equipe) DJ Marlboro (DJ, produtor musical, empresário e locutor) que também esteve presente no início do Hip-Hop no Rio de Janeiro; Celso Athayde (Empresário de Hip-Hop), e Corello DJ (Reconhecido como locutor e DJ pioneiro do Charme).
O ritmo se firmou em bailes de clube, programas de rádio, gravações de discos, e equipes de som. O Funk Carioca é filho do Miami Bass, estilo que é uma das vertentes do Hip-Hop. Algo pouco citado é que no início o público do Funk Carioca ouvia Grandmaster Flash, Afrika Bambaataa, e outros fundadores do Hip-Hop. Embora muitos não reconhecessem a nomenclatura. Por esta época outra equipe importante, a Furacão 2000, lançava os seus discos com remixes de músicas americanas. No começo todo Rap que vinha dos Estados Unidos era chamado de Pancadão; e os seus nomes eram acompanhados de Melô por causa da dificuldade que muitos Djs encontravam ao pronunciar os seus nomes em inglês, a palavra acompanhava outra com uma sonoridade parecida com a de algum vocábulo em português. Um exemplo é a música Do Wah Diddy do grupo 2 Live Crew que virou a Melô da Mulher Feia, com direito a versão de Abdullah no primeiro disco da Funk Brasil.
3.2 Funk Brasil
Nos bailes foram introduzidas músicas em português. O disco da equipe Funk Brasil (1989), com o DJ Marlboro na capa, pode ser citado como um marco da nacionalização do Funk Carioca. Com letras de rap irônicas, de duplo sentido, e mesmo algumas de conteúdo social. Os cantores que participaram do LP foram; Ademir Lemos, Abdullah, MC Batata, Cidinho Cambalhota, e MC Guto.
3.3 Funk Melody
No início dos anos 90, o Funk Carioca ainda seria fermentado por subgêneros como o Funk Melody; que na verdade é o Freestyle, gênero importado dos Estados Unidos, e permeado por letras românticas. Representado por cantores estrangeiros conhecidos ou não do grande público de seus países de origem, ainda são populares no Rio de Janeiro. Artistas como Stevie B, Tony Garcia, Trinere, Connie e Debbie Deb.
3.4 Montagem
Em meados dos anos noventa acontece uma mudança radical. O Funk Carioca passa por sua época de Montagens. Esta é uma época em que frases são ditas e repetidas sistematicamente em cima da batida. Exemplos são as Montagens da equipe Pipo`s: Jack Matador e o Homem Mau, que curiosamente usaram como base músicas da dupla de Música Sertaneja Léo Canhoto e Robertinho da cidade de Goiânia. É possível afirmar que o Funk Carioca é a música eletrônica brasileira.
3.5 Funk de Favela
O que vamos chamar de Funk de Favela é a época responsável por divulgar o Funk nacionalmente. Pois até então o Funk Carioca era considerado um fenônemo dos subúrbios e favelas do Rio de Janeiro. A partir dos anos 90, o estilo viria a se popularizar e sair dos guetos, invadindo as casas de famílias da classe média. O Funk Carioca virou uma polêmica nacional numa época em que uma das reclamações eram os erros de português das músicas. O ritmo entrou na programação televisiva com mais frequência. O programa da apresentadora Xuxa Meneghel da Rede Globo; muito popular na época, recebia os funkeiros aos sábados de manhã. Era possível ver o Funk Carioca tocando mesmo em festinhas infantis. Foi um dos períodos mais prolíficos e criativos da sua história. Existia uma variedade enorme de assuntos nas letras; que pediam paz nos bailes, cantavam a auto-estima das comunidades, e reclamavam o sentimento de pertencimento e de valorização local. São inúmeras as músicas deste tempo consideradas icônicas do Funk Carioca, e mesmo da cidade do Rio de Janeiro. São muitos os exemplos, apenas para destacar alguns; Rap do Silva, Rap da Felicidade, Nosso Sonho, e Carrossel de Emoções. É a época dos poetas do estilo: MC Marcinho, Cidinho e Doca, William e Duda, Bob Rum, Danda e Tafarel, e a dupla imbatível nas paradas; Claudinho e Bochecha, entre tantos outros.
3.6 Funk de Putaria
O maior representante do Funk de Putaria é o falecido Mister Catra. A maior representante feminina é a Tati Quebra-Barraco. Neste período havia previsões de que o Funk Carioca cairia de vez na marginalidade. Então surgiram discussões sobre o seu machismo e sexismo. E mesmo com as suas representantes femininas não conseguiu aplacar o fervor com que a questão ainda hoje é debatida. Podemos dizer que Mister Catra inaugurou uma nova era para o Funk Carioca. Mister Catra era casado com 4 mulheres, e dizia em suas entrevistas que não aceitava ser traído por nenhuma delas. Afirmava que as mulheres são diferentes dos homens. A sexualidade ajudou o Funk Carioca a atingir distâncias maiores e ser impulsionado por sua batida pulsante como um produto de exportação. Cantores como Mister Catra, Tati Quebra-Barraco, ou mais recentemente Jojo Toddynho, passaram a ter uma agenda no estrangeiro. O Funk Carioca entrou pela porta dos fundos onde entram os buffets das festas de meninas ricas da zona sul carioca, e não deixou mais o salão.
3.7 Funk Proibidão
O Proibidão é o estilo de Funk Carioca que não pode tocar nas rádios onde os palavrões são suprimidos. Por isto existem duas versões preparadas pelos Djs e produtores, uma para tocar no rádio e outra para tocar nos bailes. O Proibidão pode ser tanto de conteúdo sexual, já citado acima, como relacionado à violência. Ligado ao tráfico ameaça os rivais e a polícia. É fruto de uma época em que muitas favelas cariocas passaram a ter o seu próprio baile financiado pelos traficantes. Pois as festas de Funk Carioca em clubes praticamente desapareceram. Ironicamente junto das brigas de gangues que deram lugar ao conflito entre facções rivais, exaltado por seus frequentadores e moradores, o público do Funk Carioca agora tem outro status. Ele pode ir ao seu baile na favela escolhida sem precisar participar dos embates. O apelo da liberdade das favelas, e dos eventos comandados pelas facções, se tornaram sedutores mesmo para os que moram fora das comunidades. Ir ao baile passou a ser um signo de aventura, de fazer parte de um mundo particular ao qual nem todos têm acesso ou coragem para penetrar. Hoje está mais próximo de uma atitude ousada, pois ir a uma festa num clube era muito mais simples, tendo em vista a presença de traficantes armados. Dois exemplos de cantores de cantores de Proibidão são o Menor do Chapa e o MC Smith.
4.0 A Violência
O Funk Carioca surgiu associado à violência que parecia fazer parte da dança. Hoje não existem mais os bailes de corredor, àqueles em que as galeras iam e existia um lugar específico para a briga. Grupos rivais agrediam uns aos outros no meio da pista de dança. Era um consenso que o local servia como um ringue para os brigões. Pessoas que moravam em localidades diferentes se enfrentavam. Mesmo quem morava fora das favelas brigava para defender a honra de seu território. O que designava o inimigo era o local onde ele vivia. Como as antigas maltas de capoeiras, eles também bramavam os seus cantos de guerra, e tinham lugares combinados para os confrontos. Muito semelhante ao que acontece hoje com as torcidas organizadas de futebol. Muitos jovens morreram nesses embates. A violência era gratuita e podia acontecer em qualquer lugar como uma sequela do baile. Bastava que se soubesse que o jovem no ônibus pertencia a um local proclamado inimigo. Um fato curioso é que os arrastões, momento simbólico na história da violência da cidade, foram deflagrados por brigas de baile. Seus integrantes não tinham inicialmente a intenção de praticar furtos. Mas aproveitaram que os banhistas correram abandonando os seus pertences, e recolheram o que foi deixado na areia. Depois do episódio, os arrastões passaram a ser com o intuito do roubo. No início dos anos 90 quando aconteceu um racha no Comando Vermelho, que era a única facção que ocupava os morros cariocas, surgiram outros grupos de criminosos, e o Funk Carioca passou a ser um problema para os traficantes. Eles não queriam que os seus clientes/consumidores, dos bailes das favelas, fossem afastados por causa das brigas. O que praticamente fez com que o duelo corpo a corpo cessasse. Quando o poder do crime na cidade cresceu, e o armamento se tornou mais pesado; surgiu o conflito entre facções, fazendo com que os frequentadores dos bailes fossem transformados em meros espectadores. A clientela exalta os seus feitos e assim como muitos cantores de rap contam as histórias dos marginais.
5.0 Funk Hoje
O Funk Carioca sofreu várias mutações. Não só na dança como na moda. Chegou ao seu ápice sendo exportado para países estrangeiros, e ganhando força em todo o Brasil. Mesmo em regiões que resistiram aos seus “males” por mais tempo, e que finalmente têm as suas próprias festas e o seu sistema de artistas. O Funk Carioca ganhou novos subgnêros como o Funk Ostentação em São Paulo e o Funk Brega no nordeste do Brasil. Na atualidade, assim como o Gangsta Rap americano, o Funk Carioca se alimenta sobretudo da sexualidade e da violência. As discussões surgem a partir deste enfoque. O Funk Carioca por si só é violento? Machista? Sexista? É justo ser classificado desta forma? Muitos dos seus cantores afirmam que cantam a realidade de como as pessoas falam e vivem. O Funk Carioca influencia e é influenciado. Algumas perguntas nunca serão respondidas na efervescência de um fenômeno social. Talvez no futuro poderemos refletir melhor sobre o Funk Carioca e as suas implicações. O estilo tem várias faces, e o que ele está longe de ser é uma coisa só. Assim como atualmente ele é dançado sozinho, ou com os casais em passes que remontam ao ato sexual, e com as mulheres rebolando até embaixo em poses insinuantes, um dia a sua dança foi em comunhão, com um passe para um lado e um para o outro. Houve tempo em que nos seus bailes se pedia paz. Não existem respostas. E assim como a batida do Funk Carioca, apenas perguntas que não saem da cabeça.
6.0 O Filme
“Pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro”
Heródoto
6.1 Tempo
Mediante a pesquisa apresentada é crível olhar para o Funk Carioca como um movimento cultural que tem se renovado. Ao considerar o tempo que um estilo musical leva para se estabelecer, assim como o Hip-Hop que está em sua base e nasceu nos anos 70, o Funk Carioca é relativamente recente se for comparado com o Rock and Roll, o Jazz, ou mesmo o Samba, que como conhecemos hoje, também surgiu nas ruas do Rio de Janeiro, na segunda década do século 20. O Funk Carioca é estudado e alguns documentários abordaram o tema que não se esgota pelo fenômeno em questão se manter em atividade na sua curta e agitada história. Assim como o seu andamento musical frenético.
6.2 Intenção
O presente documentário não tem como objetivo apresentar somente a sua história, e sim de pô-la lado a lado ao seu momento atual. para que o objeto seja compreendido em toda a sua dimensão. O Funk Carioca tem produzido tantas controvérsias em suas poucas décadas de existência, que é difícil encontrar um documento, principalmente em vídeo, que para além de um recorte no tempo seja um apanhado histórico.
6.3 Presente
Sempre surgem novas polêmicas em torno do Funk Carioca. E nestes últimos anos cresceu o número de overdoses provocadas pelo lança-perfume, uma das drogas mais consumidas nos bailes. O mais famoso baile do Brasil, o Baile da Gaiola, localizado no bairro da Penha na zona norte carioca, e que atraí uma multidão todos os finais de semana, teve o nome do seu principal DJ envolvido numa controvérsia recentemente. Renan da Penha foi condenado e preso num processo por associação ao tráfico em 2019. Ele ficou famoso por causa da festa onde bandidos circulam armados. Após sair da prisão, o DJ participou de uma novela da Rede Globo, o mais famoso canal de televisão do país. Cantores de Funk Carioca da periferia de São Paulo foram assassinados nos últimos anos. E muita gente acredita que por policiais chamados de “justiceiros”, que agem à margem da lei, e se incomodam com as letras que exaltam o crime. Entre eles está o famosos MC Daleste, assassinado em um show.
6.4 Passado
Em Portugal existe a cantora Blaya, brasileira naturalizada portuguesa. Don Blanquito um funkeiro americano que de tão apaixonado pelo Funk Carioca se mudou para o Rio de Janeiro. Se faz necessário mostrar o Funk Carioca na época em que floresceu no espaço das favelas e subúrbios cariocas do Rio de Janeiro, de onde veio a música que tomou conta de parte da cabeça da juventude de todo o Brasil, e que mesmo fora do país tem os seus ouvintes, cantores e produtores.
6.5 Impacto
O intuito é pensar como um movimento cultural local sem apoio inicial da grande mídia estabelecida ou da iniciativa privada; que mesmo sendo negado por muita gente, conseguiu alcançar tamanho impacto na sociedade brasileira. E se estabeleceu através do comércio, das roupas da música e dos costumes, tendo impacto mesmo no comportamento sexual de adolescentes brasileiros. O seu envolvimento com a violência, a sua luta contra ela, e a relação com as drogas e o tráfico. Como o Funk Carioca conseguiu alcançar parte do mundo, através da apropriação cultural de um produto oriundo de comunidades carentes da periferia de uma cidade latino-americana. Uma história que começa no Rio de Janeiro, passa por outras capitais do Brasil, e chega ao exterior.
6.6 Apropriação
O filme será montado através de imagens de arquivos. Assim como um cantor de Funk Carioca cria um instrumental com o sample de outra música, o trabalho será feito recorrendo a imagens que não necessariamente são inéditas do grande público. Mas sim no contexto em que serão apresentadas.
6.7 Dispositivos
Utilizando-se de arquivos pessoais de frequentadores de bailes, para que se possa ter uma ideia do contexto, através do público que está na base de todo o movimento. Passando por imagens de pessoas públicas; artistas, shows, programas de televisão, entrevistas, matérias de jornais, revistas, equipes de som, fotografias, depoimentos em áudio e vídeo, e gravações de músicas.
6.8 Cronologia
A história será contada de trás para a frente. Intercalando entre o momento atual, e o anterior a ele, do inicial ao seu posterior. E assim sucessivamente até que os dois se encontrem.
7.0 Se Eu Fosse Fazer um Filme Sobre o Funk Carioca Ele Seria Assim…
7.1 Mundo
Se faz necessário atentar para o fato de que a ordem em que as músicas estrangeiras aparecem não é a mesma à qual foram lançadas. E sim, quando chegaram ao Brasil, especialmente no Rio de Janeiro. Numa época em que ainda não havia internet, nem sempre as músicas chegavam no tempo do seu lançamento. Isto está presente em todo o início da história do Funk Carioca.
Depois do intertítulo termina o silêncio. Como num baile as músicas só param quando alguém começa a falar. Uma música se sobrepõe a outra. Surgem imagens caseiras de adolescentes europeus cantando e dançando o Funk Carioca. Artistas cariocas cantam em vários lugares do mundo. Títulos com os seus nomes e os países onde estão. Festas na zona sul carioca com meninas dançando. Atrizes famosas das novelas brasileiras dançam ainda meninas. O elenco de uma novela no programa Vídeo Show da Rede Globo repete uma coreografia famosa. A cantora Blaya, brasileira naturalizada portuguesa, canta num show lotado em Portugal. Em uma entrevista ela fala sobre o que os portugueses sentem em relação ao Funk Carioca, e como ele está presente no país. O cantor americano Don Blanquito de frente para um microfone num estúdio grava uma música em português e fica perceptível o seu forte sotaque. Ao ser indagado em uma entrevista ele explica porque mora numa favela do Rio de Janeiro. Por cima da sua fala entram imagens dos Estados Unidos no passado. O começo do Jazz em preto e branco. Imagens de músicos de Blues, R&B e Gospel. Fotos do Rio de Janeiro no início dos anos 70. Praias com pessoas na areia. Pontos turísticos como Cristo Redentor e o Pão de Açúcar com famílias de turistas comportadas. Subúrbio e favelas, com crianças soltando pipa, brincando na rua, e jogando bola de gude. Inicia uma imagem com uma música de Soul Funk de James Brown no histórico show do Canecão no Rio de Janeiro em 1973. Imagens antigas de bailes de Black Music no subúrbio com a participação de Gerson King Kombo. Som de vozes da multidão entra o intertítulo Brasil.
7.2 Brasil
Começa a música Baile de Favela do MC João. Fotos apresentam muitos bailes pelo Brasil atualmente. Cenas de festas na rua. Moradores reclamam da intensidade do som num programa de tevê. Uma festa improvisada num posto de gasolina com a música vinda dos carros de malas abertas que exibem a potência do equipamento. Meninas num canto do posto em imagens embaçadas de uma reportagem que exibe atos sexuais e o uso de cocaína. Fotos que focalizam garrafas de bebida e lixo no chão. Alguém reclama da bagunça e do uso de entorpecentes no local. Imagens dos rolêzinhos. Cenas de adolescentes invadindo shoppings em bando. Fotos de postagens na internet e em redes sociais marcando os encontros. Entrevista de um responsável público dizendo porque estas reuniões não podem acontecer. Depoimentos de pessoas que afirmam que a proibição das reuniões dos adolescentes no shopping é preconceituosa. Cenas do clipe da música You Get What You Give da banda americana New Radicals que mostra adolescentes ocupando um shopping. MC Magrinho está numa entrevista polêmica, começa uma música dele em que diz que fuma maconha. Imagens suas num programa policial sendo preso. Entrevistas com adolescentes que falam sobre as overdoses de seus amigos provocadas por Lança-Perfume nos bailes. Começa a música do MC Garden Encostei num Baile Funk. A música chama a atenção dos funkeiros para o perigo das novas modas dentro do movimento. Enquanto toca a música volta a ocupar a tela fotos de vários lugares do Brasil onde acontecem os bailes com os seus respectivos nomes. Intertítulo Início.
7.3 Início
Rio de Janeiro início dos nos anos 80. Praia de Ipanema. O antigo Circo Voador. Imagens de baile Charme com pessoas fazendo uma coreografia. No programa de televisão carioca alguns rapazes dançam o break. Chegam os pioneiros do Hip-Hop. Afrika Bambaataa e The Soulsonic Force no clipe Planet Rock. Por sua importância e impacto esta música toca desde o começo do bloco. Grand Master Flash e Furios Five no clipe The Massage. Fotos das capas do disco da equipe Furacão 2000 e títulos com as suas datas. DJ Marlboro apresenta o Hip-Hop nas ruas do Rio de Janeiro em 1986. Dessa imagem passamos para o DJ Marlboro fazendo scratches num antigo clipe da banda de rap e rock chamada G.U.E.T.O. Vemos surgir numa fusão desta com outra imagem a capa do disco da Funk Brasil com o DJ Marlboro que segura um disco de vinil. Toca a Entre Nessa Onda deste long play. O clima começa a ficar tenso com Dance Tarnsformer música de Ice Man Já. Fotos de funkeiros que representam a moda da época. Um rapaz com cabelo de molinha cheio de creme na praia. Os cordões enormes e os bermudões. Os funkeiros posam para as fotos nos bailes e em grupo. De repente o clima fica tenso. Aumenta o BPM da música. Começa a música Push It do Salt-N-Pepa com algumas cenas do vídeo. As imagens são de tensão. Its Automatic do grupo Freestyle começa a tocar. Um homem puxa um rapaz pelo braço num programa de tevê. Garotos falam com a câmera. Trechos do clipe. Imagens de funkeiros chegando num baile. É o início da música Supersonic do grupo de meninas J.J Fad. A pancadaria irrompe num baile de corredor. É possível ver os seguranças dando com a corrente em rapazes que brigam. No final das cenas de agressões, numa reportagem televisiva, uma menina diz que vai brigar com quem quer que seja para defender a favela onde mora. Depois disso surgem alguns rapazes dizendo porque brigam. Uns dizem que é diversão. Outros que são amigos. Uma frase rápida e que dá um respiro. Uma frase da música Melô do Terror em que a atriz Regina Casé e o ator Luiz Fernando Guimarães dizem que a briga não é séria. “A gente é tudo gente amiga…. Por isso que nós se porra. Por isso que a gente briga.” somos colegas, Foto de um morto numa reportagem de jornal num baile. Começa o rock da banda brasileira Ultraje a Rigor. A música é Nós Vamos Invadir A Sua Praia. Inúmeras cenas de arrastão.
7.4 Amor
Entra o som de Funk Little Be, freestyle na voz de Deb Debbie em cima do título Amor. Pessoas estão dançando juntas. Aparece muito do que se condicionou chamar de Funk Melody e que na verdade é o Freestyle norte-americano. Imagens antigas do cantor Tony Garcia são fundidas com as últimas imagens dele no Brasil. Por cima de sua música Just Like the Wind. O mesmo acontece com Stevie B. Enquanto ele aparece entra a sua música Spring Love. Trinere aparece com I`ll Be All You Never Need. Numa mescla de imagens antigas com imagens dela num festival em 2018 no Rio de Janeiro em fusão. São takes rápidos. Com a cantora Connie também. Uma imagem dela antiga, e depois entra uma atual em um festival de Freestyle nos Estados Unidos. O mesmo acontece com Deb Debbie. Lil Suzy com Take Me in Your Arms. Casais se beijam. Cenas de namoros. Fotos do público. Pessoas num sofá de programa de televisão. Declarações de amor de joelhos. É um respiro. Todo mundo se beija. É mostrado o amor em épocas de baile. Pessoas que se casaram e estão juntas mostram suas fotos antigas em bailes funks. Agora toca a música antológica da dupla Claudinho e Buchecha Nosso Sonho, entra imagens de alguns cantores que gravaram raps românticos brasileiros cantando com os títulos em cima de suas imagens e fotos mostrando o legado dessas músicas. Latino, MC Marcinho, e muitos outros.
7.5 Ódio
Começa a montagem Chumbo Quente da dupla sertaneja Léo Canhoto e Robertinho. A palavra ódio surge no silêncio. Cenas do Funk Carioca atualmente. O Baile da Gaiola na tela. Homens armados circulam no meio das pessoas. Primeiro com imagens de celular. Imagens de bandidos flagrados de helicópteros por câmeras de tevê. Eles circulam livremente nos bailes. Diz um repórter. Um Proibidão começa a tocar. É uma música de Smith MC em que fala sobre a Família Grande e Complicada. São diversas imagens de homens armados e de bailes de Funk Carioca. Entra a música do Menor do Chapa. Ele diz, quem é contra mete o pé. São carros de polícia. Sirenes. Imagens do pesadelo brasileiro. Presidiários dançam em cadeias. Vê-se inúmeras prisões de MCs. Cantores que foram presos por associação ao tráfico e por porte de drogas. Muitas imagens de bailes que aparecem em programas de televisão policiais. Imagens de reportagens de meninas que foram abusadas. Caveirões invadindo favelas. Cenas de bailes em que a polícia invadiu atrás de traficantes. Imagem de Adriano do Flamengo fazendo o sinal do Comando Vermelho. Garotos atrás de repórteres fazendo o mesmo sinal atrás de repórteres que mostram algum problema social local. Agora toca o Dono do Ouro e da Prata do mesmo MC Smith. O jogador Vagner Love aparece num baile na época em que jogava no time do Rio de Janeiro. Hordas de adolescentes estão encostadas na parede na saída de um baile. Os policiais revistam os adolescentes. Agora podemos ver inúmeros meninas dançando mexendo requebrando o quadril o máximo que podem. Aparece a MC Loma nos seus quinze anos em 2018 cantando a música Envolvimento completamente sensual ao lado de suas amigas as Gêmeas Lacração com o seu Funk Brega do nordeste do Brasil. Vai acontecer uma passagem de tempo. Começa a tocar a música do MC Fioti. Ele está num programa da Rede Globo. Bum Bum Tam Tam ele canta no programa Fátima Bernardes na Rede Globo. Muitas imagens de meninas que rebolam. A flauta da música prepara para o próximo quadro. Aparece a palavra sexo em letras garrafais. A palavra Putaria surge em letras garrafais.
7.6 Putaria
De repente o silêncio. Cresce a risada de Mister Catra. Ele aparece cantando em prostíbulos. Mister Catra fala sobre as suas mulheres numa entrevista. Em contrapartida aparece Tati Quebra-Barraco. Ela fala sobre ser mulher feia e estar na moda. Logo depois dispara a falar sobre sexo e o lugar da mulher e sobre ser a outra. Toca a música da Valesca Popozuda My Pussy é o Poder. Valesca Popuzuda está num programa de televisão onde as pessoas discutem o lugar da mulher no Funk Carioca e se ele é vulgar ou não. Se é machista. Ela se defende. Em seguida aparece Jojo Todynho. Ela está em casa e transmite um vídeo na internet onde fala que mulher não tem de se sujeitar ao homem. Volta para Mister Catra, ele fala sobre as usas mulheres, diz que elas não podem traí-lo. A música dos Magrinho Lanchinho da Madrugada começa a tocar. Mais polêmica num programa de televisão popular. Mister Catra discute com os presentes. Ele defende que as amantes. Agora a música de fundo é a dele, Mister Catra. Imagens do programa da Luciana Gimenez da Rede TV. Vai rolar um adultério é o nome da música do Mister Catra. As pessoas discutem. Entre depoimentos de feministas e passeatas. Aparece Bolsonaro agredindo uma mulher. Fazendo discursos machistas. Mulheres agredindo os símbolos da igreja católica. Enquanto a música volta e continua. A música de Mister Catra fala de orgia. De estar na lama. Fala sobre as cachorras. Entra a música do Bonde do Tigrão. Eles gritam, só as cachorras! Enquanto isto entra milhares de cenas de mulheres e meninas dançando. Rebolando. Requebrando. Pondo a mão no quadril para poder descer. Entra uma reportagem sobre a polêmica da letra de uma música de Valesca Popozuda estar numa prova do ENEM. Entra o clipe da MC Loma com as Gêmeas Lacração. Ela canta que irão sentar. MC Loma tem quinze anos na época do clipe. Entram fotos suas e matérias na internet que falam que ela havia largado a escola e que teve de se explicar. Volta para a imagem das meninas. Enquanto a música sobre sentar toca entra um letreiro escrito criatividade que parece pulsar junto com a batida da música.
7.8 Criatividade
Este bloco começa com o Rap da Felicidade. Aparecem na tela pessoas de diversos lugares pobres do Rio de Janeiro. Imagens que mostram o caos social e a felicidade do povo carioca. Na sequência começa o Rap do Silva. Este final do filme é como um grande baile. Ninguém vai falar nada, tudo será feito através das imagens, sem se importar que muitas vezes elas ilustrem o que é dito nas músicas. Começa a tocar o Endereço do Bailes de Júnior e Leonardo. Começa os anos 90. Imagens do movimento dos Caras Pintadas que tomaram as ruas do Brasil e derrubou o presidente brasileiro Fernando Collor de Mello. Imagens dos arrastões. O Rap do Silva começa a tocar durante um longo tempo. Imagens de funkeiros nos anos 90 em programas de televisão. No programa da equipe Furacão 2000. Logo em seguida aparece a dupla William e Duda cantando o Rap da Armas em sua versão proibidão num baile. Enquanto no Xou da Xuxa na televisão eles cantam o Rap da Morena que fala de amor. Aparecem diversas cenas de baile e pessoas pulando. Depois entra o Rap do festival do MC Danda e Tafarel e continuam as cenas de pessoas indo e vindo em imagens de televisão e sinalizando para a câmera e sorrindo. Pessoas em praias, festas e bailes. Surge na tela a dupla Claudinho e Bochecha ganhando um prêmio. É horas de ver as pessoas felizes. O filme vai terminar com a música Carrossel de Emoções de Claudinho e Bochecha. Tudo que é dor e sofrimento ficou para trás. Agora é apenas a celebração da vida e da música. Não existem polêmicas. Nada disso. A música para um instante e as crianças fazem o beat box, uma batida de rap com a boca. Batem em seu próprio corpo. É hora de ver os idosos dançando o Funk Carioca. Os feirantes. Pessoas que trabalham nas ruas. As pessoas estão felizes. Dançam apesar de toda a dificuldade de suas vidas. A música fala sobre paz e amor. E diz o nome dos lugares do Rio de Janeiro. As imagens surgem com a música que é antológica por sua criatividade. De repente com o avançar aparecem várias épocas do Funk Carioca vão se mesclando. Como se não existisse nem maldade nem tristeza. Apenas alegria. Desde o breakdance no início dos anos 80. O filme termina com a imagem de uma menina negra sorrindo. Mostrando os dentes e segurando uma criança branca.
8.0 Referências
Org, Micael Herchmann; Funk e Hip-Hop: Globalização, Violência e estilo cultural. Editora Rocco. Ano 1997
Vianna, Hermano; O Mundo do Funk Carioca. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor. Ano 1987