Cramulhão. Coisa Ruim. Espírito obsessor. Vigilante das trevas. Espírito sem luz. Encosto. Vá de retro satanás! Retira-te satanás. É mau o que tu me ofereces. Bebe tu mesmo o teu próprio veneno! Na sua testa está o número da besta. Você é a própria besta! O príncipe da milícia terrestre! O seu número é o 666. Deus nos livre de você, ó maligno! Nunca hei de pronunciar o seu nome com os meus lábios. Anjo da Morte. Mercador da morte. Eu te esconjuro! Em nome de Deus abandone este corpo! Axé, meu pai! Saravá! Glória a Deus! Glória! Todos deram glória... E eu saí da igreja em paz. Um pouco mais leve.
quinta-feira, 28 de maio de 2020
quarta-feira, 27 de maio de 2020
Sobre Colagem e Apropriação Artística
Ninguém
veio do nada. Esta frase é um clichê. Mas é necessária. Até aonde vão os
limites que nos dizem que não devemos usar os famigerados clichês. Posso estar
satisfeito em relação à frase em questão. O que quero dizer quando repito a
mesma, é que sofremos influências, e que mesmo a nossa única e exclusiva
persona com à qual somos identificados, é um poço de influências; de gente,
coisas, e acontecimentos que vieram antes ou caminham junto conosco. Nós somos únicos
e originais dentro desta mistura idiossincrática.
Quando
um artista pop enumera as suas influências todos entendem que isto não faz dele
um mero plagiador. Ele é um conjunto único daquelas referências. Como não se
repete um DNA, não se duplica uma personalidade ou mesmo determinada visão de
mundo. Somos seres únicos. Ninguém leu os mesmos livros, ouviu as mesmas
músicas, ou esteve presente nos mesmos acontecimentos e os sentiu da mesma
forma. Por mais que um artista se esforçasse o tempo todo para copiar outro, em
algum momento a sua marca pessoal viria à tona. Embora seja possível identificar
nas palavras de um escritor, o estilo de alguns dos seus autores preferidos.
Muitas
músicas que assobiamos no metrô são pastiches. Alguns exemplos são os
brasileiros Tim Maia e Raul Seixas que têm plágios entre algumas de suas
músicas conhecidas. Segundo a lei artistas populares como Rod Stewart e George
Harrison plagiaram. Mas estes são casos extremos que envolveram brigas
judiciais. O cantor brasileiro Lobão disse que os seus compatrícios da banda Paralamas
do Sucesso plagiaram um dos seus discos. Mas não será que eles ouviam tanto Cena
de Cinema, que reproduziram em Cinema Mudo à sua maneira de fazer? Segundo
relato do próprio Lobão em sua autobiografia (Lobão 2010), o vocalista Herbert
Vianna teria dito que gostava demais da obra. Depois deste episódio Lobão
gravou músicas dos mesmos.
Alguém
pode ficar decepcionado ao saber que àquela música, àquele livro ou filme são
uma versão. Talvez possamos acreditar que é possível que algumas obras advindas
de outras sejam transformadas em arte. Assim como reinterpretações. O Hip-Hop
desde o seu início é feito com colagens de samples. Através desta
prática o estilo se fez e cresceu. No caso do rap é mais um sinal de reverência
ao início de sua história do que alguma relação com a falta de criatividade. Para
os seus pares é uma prova de conhecimento acumulado; e de reconhecimento dos
artistas homenageados, e isto traz o respeito de admiradores deste gênero
musical.
Muitos
trabalhos originais e com suas assinaturas são reflexo de reverências anteriores.
Assim como Henry Miller dizia ter reescrito o Tropic Of Cancer (1934)
após ter lido Voyage au Bout de La Nuit (1932) de Céline. Da
mesma forma que Charles Bukowski que pôs Céline como personagem de uma de suas
novelas, Pulp (1994), era influenciado pelo mesmo. E vemos em Bukowski traços
de John Fante que no final da vida teve o auxílio do admirador para ser
publicado. Mas estes são exemplos que partem de influências. Dom Quixote
de Miguel de Cervantes é inspirado em romances de cavalaria com enredos comuns
à época. Romeu e Julieta tem um enredo entre outros que já eram conhecidos
de o dramaturgo inglês antes mesmo de Shakespeare molhar a pena na tinta.
A
collage e a apropriação são responsáveis pelo novo significado dado a um
objeto. O urinol de Duchamp, não pode ser considerado arte. Mas a forma de
olhar para ele, sim. E artístico é o modo como Duchamp chamou a nossa atenção
para o objeto em seu randy made. Da mesma forma que veremos na Pop Art
de Andy Warhol e Yoko Ono. A collage e a apropriação são como releituras
e novas representações. “E a própria "voz" de Benjamin está presente
através de notas brilhantes e comentários sobre as citações copiadas”
(Goldsmith, 2015, p.1).
“Acho que não devemos falar de collage quando nos referimos
ao cinema. Devíamos falar sobre montage.” Bruce Conner. (apud, Sonia
García, Laura Gómez, 2009, pg.1). Seguindo este raciocínio podemos
pensar na montagem como arte. A montagem é o mesmo que a “limpeza” de uma peça
de teatro para alguns diretores brasileiros. Quando dizem que uma representação
está cheia de “barriga” ou “gordura” e que precisa ser “enxugada”. A montagem no
cinema leva ao tempo-ritmo teatral. Será que diretores de teatro que ainda
montam Shakeaspere são plagiadores? Eles também trabalham com Found Footage.
A montagem de uma peça assim como a montagem de um filme é releitura e
reinterpretação. E uma função muito similar à do editor de livros e do produtor
musical.
A
montadora Sally Menke de Pulp Fiction de Quentim Tarantino talvez tenha
decidido o destino do filme na mesa de edição quando mudou a ordem das cenas. Quando
um filme é montado ele dá um novo sentido à imagem. O material apresentado em
fragmentos é praticamente reinventado na mão do montador. Ainda mais se este
não participou de todo o processo, e nem esteve presente no set de
filmagem. Ele faz com que o bruto ressurja com a sua visão. Onde está a arte
neste caso? Em suas escolhas. Não é todo mundo que consegue fazer esta
reinvenção com as suas junções. Por mais que exista um guião, a arte está em
suas escolhas. Quando reconhecemos uma marca e criação de sentidos. Só àquele
montador poderia ter juntado àquelas peças. O sentimento de autoria impresso. O conceito de autoral segue o mesmo
caminho de onde vem a inspiração, com suas idiossincrasias ao juntar uma imagem
à outra que irá criar um sentido nesta nova fusão. Para isto também é preciso
que exista uma personalizada por trás dela.
Referências
Goldsmith, Kenneth (2015). Escritura no-creativa: Gestionando el
lenguaje en la era digital Buenos Aires: Caja Negra Editora
in LÓPEZ,
Sonia García e VAQUERO, Laura Gómez (2009). Piedra, papel y tijera – el
collage en el cine documental. Ayuntamiento de Madrid e Ocho
y Medio.
https://www.academia.edu/43176227/Sobre_Colagem_e_Apropria%C3%A7%C3%A3o_Art%C3%ADstica
https://www.academia.edu/43176227/Sobre_Colagem_e_Apropria%C3%A7%C3%A3o_Art%C3%ADstica
domingo, 24 de maio de 2020
Considerações Sobre um Filme Universitário
Eu
tinha bastante material à mão. Gravava entre uma e outra tarefa do dia a dia. Como
era um filme sobre o isolamento social filmava em casa. O que facilitou filmar à
vontade na obtenção de imagens que pudessem ser interessantes aos meus
objetivos. Tenho pouca experiência como operador de câmera, e o equipamento que
possuía era um aparelho celular. Já participei da produção de documentários, videoclipes
e curtas em que estive presente em todo o processo. Mas sempre assessorado por
ótimos profissionais. Então esta era a primeira vez em que atuava sozinho nestes
campos.
Embora quisesse reproduzir em meu filme à ideia de
câmera na mão, referência direta a movimentos
cinematográficos alternativos de vanguarda e autorais. Mas durante as filmagens
estava preocupado se iria balançar muito o celular. E até que ponto isto
poderia ser considerado como uma opção artística ao invés de uma deficiência
técnica. A câmera a balançar desde o início fazia parte de uma opção estética para
o filme. Quando filmei algumas fotografias que aparecem na edição final não dei
estabilidade completa à câmera. O que me deixou inseguro. Munido do material
filmado iniciei a montagem. Durante o processo fui em busca de takes que
me satisfizessem, e consegui selecionar os que me pareciam mais aprazíveis.
Em relação ao equipamento eu não tinha intimidade com os
filtros e com o set da câmera do aparelho. Mas busquei o filtro clássico
que dava o efeito de imagem antiga que artisticamente fazia parte da proposta
inicial do filme. Eu iria usar o preto e branco que assumi como uma das marcas
do trabalho em questão. Mas esta não foi uma escolha aleatória, pois ela veio
junto da necessidade de mostrar as dificuldades da produção, e de fortalecer à
insinuação de trabalho “artesanal” com poucos artefatos tecnológicos
sofisticados. Além, de como já foi dito, exaltar novas vagas presentes na
história do cinema. Utilizei a vinheta e isto me deixou satisfeito, já
que desejava sublinhar os muitos objetos circulares presentes em meu filme, que
remetiam ao ciclo que se repetia nos longos dias trancados que transcorriam
lentamente. Tentei adaptar as minhas opções estéticas às limitações de recursos.
Sobre o áudio do filme adaptei o som à minha volta ao
ritmo da montagem. É possível ouvir algumas marteladas. Ficou de fora uma
furadeira que ainda ouço enquanto escrevo este texto. Existe uma obra no prédio
ao lado que começou na época das filmagens. Alguns cortes foram feitos no
intervalo das marteladas e dos sons graves como a marcação do bumbo de uma
bateria. E isto despertou uma vontade imensa de aprofundar ainda mais o
tratamento do som. Ao fazer este filme a sonorização mostrou a sua enorme importância
na montagem. Foi uma redescoberta. E senti ânsia de aprofundar com mais afinco o
trabalho e conhecimento da mixagem de som.
Não obstante tenha ficado satisfeito, pois tendo em
mãos o imenso material bruto que possuía, as minhas escolhas foram facilitadas.
Eu podia cismar com um take, mas sempre havia outro para substituí-lo, e
se um take estava insatisfatório, ou uma cena apresentava muitos ruídos,
eu tinha em minha mão um leque de opções. Acho que isto ao final foi o que fez
toda a diferença. A quantidade de cenas filmadas se tornou essencial para que
eu pudesse ter opções, o que me deixou com uma gama de possibilidades que facilitaram
a construção do curta.
O filme é dividido em dois capítulos. Eu havia feito
um primeiro corte da segunda parte que tive de refazer completamente. Não
gostei da soma final e cheguei à conclusão de que era precipitado. Estava
correndo demais com o ritmo do filme. Mesmo que a velocidade dos cortes fosse
uma de suas características. Apesar do
que havia concebido inicialmente, senti necessidade de que os planos fossem um
pouco mais contidos
Existe um respiro no meio do curta. Tive receio, mas
precisava que o filme desacelerasse naquele ponto. Eu temia que no primeiro
corte da segunda parte, ele corresse tanto que fosse impossível acompanhar seu
raciocínio. Tanto é que tive de refazer o corte completamente, como já citado
acima. Apaguei tudo que estava na timeline. Não fiquei satisfeito com o
resultado e parti para outra montagem. Percebi outro problema de minha
concepção anterior; o tempo do filme não era o tempo de sua realidade.
Na nova montagem utilizei duas vezes o efeito chamado
de cross dissolver. Eu tinha consciência de que este efeito era muito
usado em determinadas situações, e que em outras ele havia caído em desuso. Ele
é utilizado sobretudo em algumas ocasiões para representar passagem de tempo. Não
usei o efeito com esta premissa. E sim por um viés artístico em que entendi que
a regra do filme pedia. Senti necessidade que soasse daquela forma. Eu queria
usar o cross dissolver mesmo que parecesse tosco como o jump cut
de Jean-Luc Godard quando ele era apenas uma novidade. Eu sabia que era um
clichê. Mas quando editei o filme, senti necessidade que ele soasse daquela
forma. Utilizei o efeito na junção de dois planos longos. Embora pudesse
simplesmente suprimir esses quadros. Ao invés de usar o esteticamente feio, mas
instigante jump cut como fiz em alguns momentos.
Aprendi muito com este processo. E o interessante foi
que pelo fato de estar sozinho, como todo mundo, aliás, tive de me virar e
encarar situações que evitava. Como segurar uma câmera e editar completamente
sozinho.
Um erro crasso que cometi foi com os créditos. Usei um
crédito criativo que não desejava mexer, pois foi apresentado de forma
inusitada como o resto do filme. Mas deixei de fazer uma ficha técnica mais
apurada, e que estivesse de acordo com um trabalho profissional. Novamente de
maneira optativa. Depois repensei bastante sobre o caso, e concluí que
realmente poderia ser refeito. Tem simplesmente os títulos e o crédito do
realizador. Pensei que por se tratar de um filme de âmbito escolar e interno, seria
adequado. Deixei passar a oportunidade da premissa profissional.
No processo de um filme existem problemas na
organização que acabam por ter implicações no trabalho artístico. Mas no geral,
realmente fiquei bastante satisfeito com o filme. E sempre que tiver oportunidade
irei mostrá-lo para alguém. Aprendi muito com este processo. E o interessante
foi que pelo fato de estar sozinho, como todo mundo, aliás, tive de me virar e
encarar situações que temia. Perdi o medo. E o mais importante senti prazer com
o trabalho.
Referências:
Valentim,
Delano; Pré-produção de Curta Universitário: A Curva Achatada. Delano Valentim,
Ano 2020
A
Curva Achatada… (2020)
https://www.youtube.com/watch?v=9F5peLXblD0&t=9shttps://www.academia.edu/43151233/Considera%C3%A7%C3%B5es_Sobre_um_Filme_Universit%C3%A1rio
terça-feira, 19 de maio de 2020
Curta Universitário: A Curva Achatada
A Curva Achatada será uma curta metragem documental de Delano Valentim, com duração de 5 minutos, retratando o dia a dia do artista durante à pandemia. O filme irá mostrar a atitude do personagem perante a quarentena. É a segunda curta de uma sequência de três filmes; que foi iniciada com Quarentena 369, e será finalizada com um último capítulo composto de imagens de arquivos.
A curta mostra o artista a trabalhar. Ele escreve, e compõe canções. Alguns desses textos serão publicados em seu blog homônimo. Assim como algumas das músicas que virão a ser lançadas em seu canal no YouTube. Parte do material o artista irá enviar para festivais e concursos de música e literatura. A Curva Achatada também exibe imagens inéditas de um futuro videoclipe.
O diretor apropria-se da metalinguagem e pensa a própria produção da curta que é exibida. Com imagens de si próprio com a câmera. Além da inclusão de sons que surgem da realidade, como as marteladas e barulhos de uma obra na casa vizinha, que serão inseridos na composição do filme, dando muitas vezes o ritmo dos cortes.
Toda a ação será composta por uma estrutura não linear, sem narração, mas que deixa evidente às intenções da obra. Não serão feitas entrevistas nem haverá um narrador. A curta irá privilegiar às imagens para contar a história e apresentar o personagem. Uma imagem que junto de outra compõe um terceiro sentido. Como no experimento do cineasta russo Lev Kuleshov.
Algumas cenas sobre o momento histórico em que estamos vivendo serão apresentadas; como a reação do artista perante às notícias, e mesmo a arte que é produzida a partir delas, presenteando à audiência com os meandros da inspiração. Assim como serão mostradas algumas influências literárias, cinematográficas e musicais; através de livros, fotografias e camisas. O diretor opta esteticamente pelo preto e branco com um filtro clássico que dialoga com antigas vanguardas cinematográficas e seus trabalhos quase artesanais.
A curta acontece no espaço confinado da casa de Delano Valentim. A obra frisa o momento atual de uma pessoa confinada, ao mostrar o dia a dia do funcionamento da casa, e certos cuidados necessários durante o período. Além de ser um filme sobre como uma pessoa reage ao confinamento, ele apresenta um artista inquieto em sua ebulição durante o seu processo criativo.
https://www.academia.edu/43107888/Pr%C3%A9-produ%C3%A7%C3%A3o_de_curta_universit%C3%A1rio_A_Curva_Achatadahttps://www.youtube.com/watch?v=9F5peLXblD0&t=9s
Pré-produção de curta universitário: A Curva Achatada
Índice
1.2
Tema
1.3
Recursos a Utilizar
1.4
Argumento
1.5
Moodboard
1.2
Tema
O
dia a dia do artista Delano Valentim em casa durante a quarentena da pandemia
do
Coronavírus.
1.3
Recursos a Utilizar
Computador
HP
EliteBook Folio 9470
Sistema
Operacional
Microsoft
Windows 10 Pro
Programa
de Edição
Adobe
Premiere Pro 2019
Câmara
Telemóvel
Galaxy 8 (2018)
1.4
Argumento: A Curva Achatada…
A
Curva Achatada será uma curta metragem documental de Delano Valentim, com
duração de 5 minutos, retratando o dia a dia do artista durante à pandemia. O
filme irá mostrar a atitude do personagem perante a quarentena. É a segunda
curta de uma sequência de três filmes; que foi iniciada com Quarentena 369, e
será finalizada com um último capítulo composto de imagens de arquivos.
A
curta mostra o artista a trabalhar. Ele escreve, e compõe canções. Alguns
desses textos serão publicados em seu blog homônimo. Assim como algumas das
músicas que virão a ser lançadas em seu canal no YouTube. Parte do material o
artista irá enviar para festivais e concursos de música e literatura. A Curva
Achatada também exibe imagens inéditas de um futuro videoclipe.
O
diretor apropria-se da metalinguagem e pensa a própria produção da curta que é
exibida. Com imagens de si próprio com a câmera. Além da inclusão de sons que
surgem da realidade, como as marteladas e barulhos de uma obra na casa vizinha,
que serão inseridos na composição do filme, dando muitas vezes o ritmo dos
cortes.
Toda
a ação será composta por uma estrutura não linear, sem narração, mas que deixa
evidente às intenções da obra. Não serão feitas entrevistas nem haverá um
narrador. A curta irá privilegiar às imagens para contar a história e
apresentar o personagem. Uma imagem que junto de outra compõe um terceiro
sentido. Como no experimento do cineasta russo Lev Kuleshov.
Algumas
cenas sobre o momento histórico em que estamos vivendo serão apresentadas; como
a reação do artista perante às notícias, e mesmo a arte que é produzida a
partir delas, presenteando à audiência com os meandros da inspiração. Assim
como serão mostradas algumas influências literárias, cinematográficas e
musicais; através de livros, fotografias e camisas. O diretor opta
esteticamente pelo preto e branco com um filtro clássico que dialoga com
antigas vanguardas cinematográficas e seus trabalhos quase artesanais.
A
curta acontece no espaço confinado da casa de Delano Valentim. A obra frisa o
momento atual de uma pessoa confinada, ao mostrar o dia a dia do funcionamento
da casa, e certos cuidados necessários durante o período. Além de ser um filme
sobre como uma pessoa reage ao confinamento, ele apresenta um artista inquieto
em sua ebulição durante o seu processo criativo.
La Terra Trema: Uma Análise
Índice
3. La Terra Trema
3.1 Créditos
3.2 Produção
3.3 Valor Histórico
3.4 Prêmio
4. Luchino Visconti
4.1 Biofilmografia
5. La Terra Trema
5.1 La Terra Trema: Uma Análise
5.2 Bibliografia
3.1 Créditos
Realização
Luchino Visconti com assistência de Francesco Rossi e Franco Zefirelli
Argumento e Adaptação
Luchino Visconti, livremente inspirado no romance I Malavoglia, de Giovanni Verga
Cenários Naturais
Aci Trezza, Sicília
Montagem
Willy Ferrero e Luchino Visconti
Fotografia
Aldo Graziati
Interpretação
Pescadores de Aci Trezza
Produção
Salvo d` Angelo
3.2 Produção
Em 1947 Luchino Visconti chegou à Sicília com uma equipe reduzida e o mínimo de equipamentos. Pretendia criar a curta-metragem inspirada no livro I Malavogli de Giovanni Verga.
Aproximavam-se às eleições e o Partido Comunista Italiano decidiu que seria boa ideia investir num documentário sobre pescadores sicilianos, e adiantou seis milhões de liras para a sua produção.
Ao chegar à Sicília Visconti resolveu filmar uma longa-metragem de ficção.
As rodagens foram muitas vezes interrompidas por falta de dinheiro. Visconti voltou ao continente e vendeu alguns móveis seus para continuar as filmagens.
O cineasta obteve ajuda de um amigo chamado Alfredo Guarani. E o produtor Salvo d`Ângleo convenceu o Banco da Sicília e a Máfia a participar da empreitada.
O filme foi rodado sem argumento, com o texto escrito minuciosamente em simultâneo, e interpretado por atores naturais. O elenco formou-se com os pescadores locais.
A obra dublada só chegou aos ecrãs italianos em 1950. Os compatriotas não entendiam o dialeto de Aci Trezza. La Terra Trema enfrentou muitas dificuldades para ser exibido, pois diziam que dava uma ideia errada da Itália no exterior.
3.3 Valor Histórico
La Terra Trema é um dos filmes neorrealistas mais importantes. O montador Mario Serandrei criou o termo neorrealista ao trabalhar em Obsessão, o primeiro filme de Visconti, que inaugurou o neorrealismo quatro anos antes.
3.4 Prêmio
Prêmio Internacional do Festival de Veneza (1948)
4.1 Biofilmografia
“A singular carreira cinematográfica de Visconti seguiu uma trajetória que vai do realismo mais implacável e quase documental, durante a época do neorrealismo italiano, ao refinamento estético próximo da decadência que caracteriza o seu último período.” Román Gubern, Salvat editora do Brasil, 1979, página 61.
Visconti, duque de Madrona, era membro da mais antiga aristocracia da Lombardia. Educado com acesso à cultura refinada, cedo aderiu ao marxismo. Humanista, com uma visão progressista do homem e da história, aproximou-se do povo. O que explica um pouco a característica singular de sua obra que percorre esses dois mundos distintos.
Em 1943 estreia Obsessão. Ao mostrar a realidade italiana rompe com o cinema da propaganda oficial.
La terra Trema é um filme de 1948 com forte denúncia social e próximo do documentário. Outro filme marcadamente surrealista é Belíssima de 1951. Uma critica ao endeusamento das estrelas de cinema.
Outros filmes importantes pertencem à fase operística e melodramática de Visconti. Senso (1953). O Leopardo (1963), considerado por muitos a sua obra-prima, é uma reflexão sobre o materialismo aristocrático. Le Notti Bianche (1957), adaptação do livro Noites Brancas de Dostoiévski. Rocco e Seus Irmãos (1960). O Estrangeiro (1967), adaptação do segundo romance do escritor e filósofo Albert Camus. E ainda Crepúsculo dos Deuses (1969), e Ludwig (1972).
“A pedra angular dos estados de espírito, da psicologia e dos conflitos, é para mim essencialmente social, embora as conclusões a que chego sejam apenas humanas e digam respeito concretamente a indivíduos considerados como tal. O fermento, o sangue que corre na história, está carregado de paixão cívica, de problemática social.” Luchino Visconte, Alain Sanzio / Paul-Louis Thirard, página 94.
“Depois houve a guerra; com a guerra, a resistência e, com a resistência, para um intelectual da minha formação, a descoberta de todos os problemas simultaneamente como problemas de estrutura e de orientação cultural, espiritual e moral.” Luchino Visconte, Alain Sanzio / Paul-Louis Thirard, página 93.
5.1 La Terra Trema: Uma Análise
Aci Trezza é uma aldeia siciliana. Grande parte dos seus habitantes sobrevive da pesca. Na Itália do pós-guerra que há pouco abandonara o fascismo, nesta paisagem de belos cenários naturais, é ambientado La Terra Trema.
Os pescadores que interpretam o seu próprio cotidiano, dão o tom realista que o filme necessita para contar esta dura realidade. Os trabalhadores normalmente explorados pelos grossistas que impõem os preços baixos dos peixes. São os únicos com os quais conseguem negociar, pois eles mantêm o monopólio de compra e venda.
No meio do conflito encontra-se à família Valastros que perdeu o principal provedor num acidente marítimo. Os Valastros são formados pelo avô, a mãe viúva com um filho de colo, os dois garotos Vanni e Alfio, as duas jovens Mara e Lucia, a menina Lia, e os irmãos já homens, Antônio e Cola.
No olhar distante da mãe calada se vê à mulher resignada com o seu destino. E que prontamente acata as decisões de Antônio. O filho mais velho que ficou no lugar do pai, e que como homem da casa decide o futuro da família. Mesmo quando todos os seus conterrâneos dizem estar errado.
O avô é um velho pescador que discorda dos arroubos da juventude. Ele teme as decisões que o neto toma. Diz que sempre viveu daquela forma. Parece ser o exemplo de comodismo, representado por alguém que durante toda a vida repetiu que manda quem pode, e obedece quem tem juízo. Não quer se opor, aceita as coisas como elas são. Pelo contrário, teme a revolta do neto Antônio quando esta se apresenta, e prevê o fim trágico que suas decisões terão.
As crianças são trabalhadoras. Eles têm que ajudar os irmãos. Não brincam. trabalham para comer. Ficam felizes quando há trabalho. Copiam os irmãos em sua busca pela sobrevivência. São pequenos adultos. Numa cena, Vanni que costura uma rede com a qual pesca a beira mar para o próprio sustento. Depois que toda a família perdeu o emprego. Quando vê Alfio que olha os vizinhos que cozinham em frente a casa, diz ao irmão menor, “Alfio, se você ficar olhando irá ficar com mais fome.” Alfio é o menino de cabelo dourado que acompanha Antônio em sua ida até aos grossistas, quando tudo dá errado. Ele olha demoradamente para os homens que debocham do seu irmão. Enquanto eles sorriem, Alfio fixa o olhar em silêncio, e sente à humilhação do outro.
Lúcia é o elo fraco da corrente. A rapariga sonhadora dos romances açucarados. Sonha com um príncipe encantado que irá tirá-la daquele mundo de desgraças. Numa das cenas, ela conta um desses sonhos românticos para a pequena Lia. Logo, Lúcia, alvo fácil, é atraída por Don Salvatore, il marescialllo dei carabinieri. Um policial local. Salvatore mexe com Lucia quando esta passa por ele. Na salga dos peixes em que a família e os vizinhos estão presentes, novamente faz menção à beleza de Lucia. Até que se põe à janela, e começa a ofertar pequenos presentes à menina que caí em sua lábia. Mara, a irmã mais velha e responsável, percebendo o perigo, e com medo do que os vizinhos iriam pensar, pede à Lucia que se afaste do homem. Lucia não dá a mínima à irmã. Já é tarde. Ela aceita os presentes, briga com Mara, e na noite em que o avô passa mal, Lucia dorme fora de casa. Numa discussão diz a Mara que ninguém vai casar ficando trancado. Depois do fracasso do negócio, Antônio passa as noites com bêbados vagabundos num bar. Não sabe que o policial, que assobia, e do qual se esconde, por causa da bagunça que fazem, volta de um encontro com a sua irmã. Ninguém mais vai querer casar com Lucia. Diz o narrador. Ela caiu em desgraça. Foi desonrada. O vizinho que é uma espécie de capataz dos grossistas, e que não gosta de Antônio, diz que ele não sabe o que acontece debaixo do próprio nariz. Numa clara referência ao deslize fatal de Lucia. O moralismo é rígido.
Mara é a irmã que vai tomar o lugar da mãe. Com o seu temperamento doce cuida dos irmãos como se eles fossem responsabilidade dela. Até os nós de suas gravatas é ela quem dá quando eles vão ao cartório hipotecar a casa. Antônio grita quando quer comer. Mara aceita tudo com naturalidade. Enquanto Lucia culpa o irmão pelo infortúnio da família. O único luxo de Mara é Nicola. O pedreiro que pretende casar com ela, e com quem conversa. Quando o Antônio cria o negócio da família, Nicola desiste do casamento, e os dois chegam a conclusão de que não podem ficar juntos. Nicola aceita imediatamente a mudança de status de Mara. É uma cultura implacável, pois o mesmo acontece quando Antônio vai à falência, e é imediatamente abandonado por Nedda, a namorada com quem pretendia casar. Em Aci Trezza os supostamente ricos ficam juntos. Quando os Valastros chegam à bancarrota, antes de mudarem para outra casa, Lúcia diz a Nicola que vá visitá-la. Esta é a única esperança que existe no filme. O fim de desses dois obedientes.
Cola não vê futuro para si. É o braço direito de Antônio e o primeiro a pedir arrego. Ele não pode lutar contra o próprio destino. Depois do fracasso, decidi que irá contribuir mais com a família estando fora. É atraído por um mafioso que fuma cigarros Lucky Strike. Cigarros americanos, como um dos personagens diz admirado. Cola insinua a Antônio que deseja ir embora. Diz ao irmão que serviu à tropa, que como ele ainda não viajou. O que parece ser uma lembrança de uma época de ouro para a família, que adora ver Antônio fardado naquele antigo retrato desbotado. Cola arruma a mochila de madrugada, e pega parte do dinheiro que Vanni guardou num canto do quarto. Ele vai embora com um grupo de homens aliciado pelo contrabandista. É melhor fugir, e arriscar ser preso do que ficar em Aci Trezza. Antônio vai atrás de Cola, mas uma criança o avisa que o oficial de justiça chegou com a ordem de despejo. Lá se foi Antônio correndo. Cola seguiu o seu destino. Ali não há salvação. Aci Trezza é sufocante para quem é pobre e desempregado.
Antônio representa a esperança, a rebeldia, o certo, aquilo que é correto, e justo. Antônio é a liberdade. Mas entre ele e os seus sonhos o real se impõe. A maioria prefere ficar calada. Ele é um homem só. É mais fácil ser covarde do que procurar uma saída. Ele, em sua ingenuidade, foi de encontro com o sistema, mas será mesmo ingênuo? Antônio pagou um preço caro por isso. E se os outros se unissem a ele? Ninguém vive de talvez. Antônio estava certo. Era um homem com ideais nobres. Mas por causa de uma maioria estagnada, sofreu por ser justo. Por ser verdadeiro. Quem sabe fosse isto que Visconti queria mostrar com o seu filme. O problema não era Antônio. E sim os outros que não acompanharam o seu raciocínio. É um filme de desesperança? Aparentemente sim. Pode ser também um grito para frente. Não podemos esquecer o contexto em que o próprio Visconti e a Itália viviam. Antônio volta a trabalhar para os grossistas. Será mais um, assim como o pai e o avô, que trabalharam até a morte para os outros. Mas com certeza, o exemplo negativo não é Antônio, e sim os que ficaram calados. A esperança não depende de Antônio, e sim deles, ele fez sua parte. O mar é amargo, como Antônio diz. E nas palavras do narrador, em tradução livre, não há tempo bom que dure, nem tempo ruim que perdure. Em depoimento (Luchino Visconti: Clareta Tonetti, 1983. Columbus Filmmakers, ver página 34) Visconti diz que nunca foi tão feliz como nos anos de resistência, em que as mães dos seus amigos não dormiam enquanto eles não chegassem. Talvez a mensagem seja esta; diferente dele, sozinho, Antônio não iria conseguir fazer as mudanças que todos desejavam.
Bibliografia
Cinema Contemporâneo: Román Gubern, 1980. Salvat Editora do Brasil
Luchino Visconti: Clareta Tonetti, 1983. Columbus Filmmakers
Luchino Visconti: Alain Sanzio / Louis Thirard, 1988. Publicações Dom Quixote
La Terra Trema de Luchino Visconti
Aci
Trezza é uma aldeia siciliana. Grande parte dos seus habitantes sobrevive da
pesca. Na Itália do pós-guerra que há pouco abandonara o fascismo, nesta
paisagem de belos cenários naturais, é ambientado La Terra Trema.
Os
pescadores que interpretam o seu próprio cotidiano, dão o tom realista que o
filme necessita para contar esta dura realidade. Os trabalhadores normalmente
explorados pelos grossistas que impõem os preços baixos dos peixes. São os
únicos com os quais conseguem negociar, pois eles mantêm o monopólio de compra
e venda.
No
meio do conflito encontra-se à família Valastros que perdeu o principal
provedor num acidente marítimo. Os Valastros são formados pelo avô, a mãe viúva
com um filho de colo, os dois garotos Vanni e Alfio, as duas jovens Mara e
Lucia, a menina Lia, e os irmãos já homens, Antônio e Cola.
No
olhar distante da mãe calada se vê à mulher resignada com o seu destino. E que
prontamente acata as decisões de Antônio. O filho mais velho que ficou no lugar
do pai, e que como homem da casa decide o futuro da família. Mesmo quando todos
os seus conterrâneos dizem estar errado.
O
avô é um velho pescador que discorda dos arroubos da juventude. Ele teme as
decisões que o neto toma. Diz que sempre viveu daquela forma. Parece ser o
exemplo de comodismo, representado por alguém que durante toda a vida repetiu
que manda quem pode, e obedece quem tem juízo. Não quer se opor, aceita as
coisas como elas são. Pelo contrário, teme a revolta do neto Antônio quando
esta se apresenta, e prevê o fim trágico que suas decisões terão.
As
crianças são trabalhadoras. Eles têm que ajudar os irmãos. Não brincam.
trabalham para comer. Ficam felizes quando há trabalho. Copiam os irmãos em sua
busca pela sobrevivência. São pequenos adultos. Numa cena, Vanni que costura
uma rede com a qual pesca a beira mar para o próprio sustento. Depois que toda
a família perdeu o emprego. Quando vê Alfio que olha os vizinhos que cozinham
em frente a casa, diz ao irmão menor, “Alfio, se você ficar olhando irá ficar
com mais fome.” Alfio é o menino de cabelo dourado que acompanha Antônio em sua
ida até aos grossistas, quando tudo dá errado. Ele olha demoradamente para os
homens que debocham do seu irmão. Enquanto eles sorriem, Alfio fixa o olhar em
silêncio, e sente à humilhação do outro.
Lúcia
é o elo fraco da corrente. A rapariga sonhadora dos romances açucarados. Sonha com um príncipe
encantado que irá tirá-la daquele mundo de desgraças. Numa das cenas, ela conta
um desses sonhos românticos para a pequena Lia. Logo, Lúcia, alvo fácil, é
atraída por Don Salvatore, il marescialllo dei carabinieri. Um policial local.
Salvatore mexe com Lucia quando esta passa por ele. Na salga dos peixes em que
a família e os vizinhos estão presentes, novamente faz menção à beleza de
Lucia. Até que se põe à janela, e começa a ofertar pequenos presentes à menina
que caí em sua lábia. Mara, a irmã mais velha e responsável,
percebendo o perigo, e com medo do que os vizinhos iriam pensar, pede à Lucia
que se afaste do homem. Lucia não dá a mínima à irmã. Já é tarde. Ela aceita os
presentes, briga com Mara, e na noite em que o avô passa mal, Lucia dorme fora
de casa. Numa discussão diz a Mara que ninguém vai casar ficando trancado.
Depois do fracasso do negócio, Antônio passa as noites com bêbados vagabundos num
bar. Não sabe que o policial, que assobia, e do qual se esconde, por causa da
bagunça que fazem, volta de um encontro com a sua irmã. Ninguém mais vai querer
casar com Lucia. Diz o narrador. Ela caiu em desgraça. Foi desonrada. O vizinho
que é uma espécie de capataz dos grossistas, e que não gosta de Antônio, diz
que ele não sabe o que acontece debaixo do próprio nariz. Numa clara referência
ao deslize fatal de Lucia. O moralismo é rígido.
Mara
é a irmã que vai tomar o lugar da mãe. Com o seu temperamento doce cuida dos
irmãos como se eles fossem responsabilidade dela. Até os nós de suas gravatas é
ela quem dá quando eles vão ao cartório hipotecar a casa. Antônio grita quando
quer comer. Mara aceita tudo com naturalidade. Enquanto Lucia culpa o irmão
pelo infortúnio da família. O único luxo de Mara é Nicola. O pedreiro que
pretende casar com ela, e com quem conversa. Quando o Antônio cria o negócio da
família, Nicola desiste do casamento, e os dois chegam a conclusão de que não
podem ficar juntos. Nicola aceita imediatamente a mudança de status de Mara. É
uma cultura implacável, pois o mesmo acontece quando Antônio vai à falência, e
é imediatamente abandonado por Nedda, a namorada com quem pretendia casar. Em
Aci Trezza os supostamente ricos ficam juntos. Quando os Valastros chegam à
bancarrota, antes de mudarem para outra casa, Lúcia diz a Nicola que vá
visitá-la. Esta é a única esperança que existe no filme. O fim de desses dois
obedientes.
Cola
não vê futuro para si. É o braço direito de Antônio e o primeiro a pedir
arrego. Ele não pode lutar contra o próprio destino. Depois do fracasso, decidi
que irá contribuir mais com a família estando fora. É atraído por um mafioso
que fuma cigarros Lucky Strike. Cigarros americanos, como um dos personagens
diz admirado. Cola insinua a Antônio que deseja ir embora. Diz ao irmão que
serviu à tropa, que como ele ainda não viajou. O que parece ser uma lembrança
de uma época de ouro para a família, que adora ver Antônio fardado naquele
antigo retrato desbotado. Cola arruma a mochila de madrugada, e pega parte do
dinheiro que Vanni guardou num canto do quarto. Ele vai embora com um grupo de
homens aliciado pelo contrabandista. É melhor fugir, e arriscar ser preso do
que ficar em Aci Trezza. Antônio vai atrás de Cola, mas uma criança o avisa que
o oficial de justiça chegou com a ordem de despejo. Lá se foi Antônio correndo.
Cola seguiu o seu destino. Ali não há salvação. Aci Trezza é sufocante para
quem é pobre e desempregado.
Antônio
representa a esperança, a rebeldia, o certo, aquilo que é correto, e justo.
Antônio é a liberdade. Mas entre ele e os seus sonhos o real se impõe. A
maioria prefere ficar calada. Ele é um homem só. É mais fácil ser covarde do
que procurar uma saída. Ele, em sua ingenuidade, foi de encontro com o sistema,
mas será mesmo ingênuo? Antônio pagou um preço caro por isso. E se os outros se
unissem a ele? Ninguém vive de talvez. Antônio estava certo. Era um homem com
ideais nobres. Mas por causa de uma maioria estagnada, sofreu por ser justo.
Por ser verdadeiro. Quem sabe fosse isto que Visconti queria mostrar com o seu
filme. O problema não era Antônio. E sim os outros que não acompanharam o seu
raciocínio. É um filme de desesperança? Aparentemente sim. Pode ser também um
grito para frente. Não podemos esquecer o contexto em que o próprio Visconti e
a Itália viviam. Antônio volta a trabalhar para os grossistas. Será mais um,
assim como o pai e o avô, que trabalharam até a morte para os outros. Mas com
certeza, o exemplo negativo não é Antônio, e sim os que ficaram calados. A
esperança não depende de Antônio, e sim deles, ele fez sua parte. O mar é
amargo, como Antônio diz. E nas palavras do narrador, em tradução livre, não há
tempo bom que dure, nem tempo ruim que perdure. Em depoimento (Luchino
Visconti: Clareta Tonetti, 1983. Columbus Filmmakers, ver página 34) Visconti
diz que nunca foi tão feliz como nos anos de resistência, em que as mães dos
seus amigos não dormiam enquanto eles não chegassem. Talvez a mensagem seja
esta; diferente dele, sozinho, Antônio não iria conseguir fazer as mudanças que
todos desejavam.
https://www.academia.edu/42961656/La_Terra_Trema_-_Delano_Valentim
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