terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Os Pretos São Temidos No Brasil!

antigamente, antes de falar sobre racismo virar moda, eu vivia preocupado com isso, e via racista até embaixo da minha cama. depois o assunto ficou chato. mas eu continuei a ser preto, e discriminado. mas naquela época eu comecei a reparar que quando entrava no ônibus, sempre era a última opção de "companhia" para os outros passageiros. e passei a praticar esse exercício, para testar se as minhas desconfianças tinham algum fundamento. por esses dias eu andava de cabeça raspada, o que não ajudava muito. hoje ostento um novo black power, o que não ajuda em nada. e apesar de todo o clima de oba-oba olímpico, observei que os passageiros continuam tendo a mesma atitude, e que eu continuo como a última opção ao lado. um motivo aparente é a desconfiança que se tem do jovem homem preto. pois somos vistos, nós, jovens homens pretos, como os maiores agentes da violência. por outro lado, nós, jovens homens pretos, somos as maiores vítimas da violência. inclusive aquela que vem da força bruta do estado. não me importo que você seja azul, amarelo, ou vermelho. pois descobri que a gente é tudo a mesma merda. mas como diria um comediante dos bons, que não se vestia de preto, não me venha com churumelas!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Reprises. Apenas Reprises...

jogadores de futebol entram em campo com faixas de apoio. uma comitiva governamental traz palavras de conforto. alguém diz num link ao vivo que o sangue dos nossos bancos são insuficientes. um repórter mostra como fulana de tal era uma menina feliz, alegre, tinha muitos amigos, cheia de planos, estava no melhor ano de sua vida, cursando a faculdade, seguindo os seus sonhos, ajudava a família, sonhava ter um filho, ia se casar, e por isso tudo não merecia morrer dessa forma. sobreviventes relatam o que aconteceu a entrevistadores matinais que se dividem entre eles, e uma nova receita de bolo. especialistas em segurança explicam o que deveria ter sido feito. um pastor dá a sua versão religiosa para o acontecido. os peritos esclarecem porque o acidente ocorreu. o governo decreta luto oficial. fotos e textos em todos os jornais e blogs. palavras de revolta e pêsames nas redes sociais. psicólogos novamente explicam como lidar com grandes traumas. vamos ficar desconfiados durante algum tempo. não querendo frequentar locais parecidos, com medo que aconteça novamente. os telefones da defesa civil não param mais de tocar. mas aos poucos retornaremos as nossas vidinhas. para que feridas abertas nas pessoas próximas possam arder sossegadas. e quando a gente já tiver esquecido o que aconteceu, as famílias irão entrar com uma ação conjunta na justiça. e daqui a um tempo, um representante deles vai ao noticiário falar sobre o descaso com o qual são tratados. e a escassez de informações. alguém vai declarar que só quer justiça, pois nada irá trazer os entes queridos de volta. muito pouco irá realmente mudar para que não aconteça novamente. uma ou outra lei de fachada a espera da poeira baixar. mas novamente a corrupção irá prevalecer. e os mesmos erros serão cometidos. os responsáveis soltos abraçados a seus familiares irão exibir seus sorrisos e dizer que a verdade prevaleceu. não vamos obter aprendizado nenhum com o que aconteceu, ao contrário do que desejam os motivadores profissionais. e quando acontecer de novo, vamos relembrar o fato. ou descobrir que acontece com a gente também. e que não existe fatalidade. e sim escolhas das quais todos somos culpados. e virá aquela frase clichê. eu já vi esse filme antes. mas a nossa vida em sociedade é tão clichê... não é?

sábado, 26 de janeiro de 2013

A Trilogia (Parte-Dois)

ele chegou no primeiro dia novamente. assim como assistiu ao filme na estreia. sentado na primeira fila. se o diretor estivesse lá, provavelmente estaria ao seu lado. caso os diretores não fiquem na última fila. ele passou um ano renovando aquela ansiedade. um ano pensando o que dizer, e nada. um ano para criar coragem. a cada dia pensava que a menina pudesse simplesmente morrer... o grande dia era a última das hipóteses, mas seu inconsciente tinha como a mais provável. ou seja, covardia iria prevalecer novamente. o quê ele diria, oi, vim aqui num dia do ano passado, lembra de mim? não, ela não lembra. não pode lembrar. já naquela época ela podia ter namorado, sabia? ou mesmo ser casada... quando entrou foi direto a prateleira. não quis olhar a caixa da livraria. pegou o livro com o mesmo orgulho. e pensou a mesma coisa de todos os dias. ficar um ano inteiro pensando numa mulher com quem não se teve um contato de mais de cinco minutos é loucura. é uma obsessão. eu sou doente. quando olhou pro caixa ela estava... lá... um pouco mais gordinha... grávida. uma aliança dourada enorme no  dedo anelar. ele se odiou por aquilo. quando ela o viu, o rosto teve a mesma expressão de quando revemos alguém que gostamos depois de muito tempo. ela disse: eu me lembro de você, e aí, gostou do livro. e do filme? o que ele respondeu não importa. foi pra casa chorando. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

A Trilogia (Primeira-Parte)

o rapaz usa óculos de míope, previsivelmente. compro no primeiro dia, não deixo esquentar a prateleira!  acompanhou a notícia na internet. espera que façam logo um filme. tímido, previsivelmente. ele sabe que para os outros é apenas um nerd que sofreu bullying. e que tem o perfil de um esquizofrênico. se é que esquizofrênico tem perfil. pode ser um psicopata desses que atiram em todo mundo. chega a se compadecer de alguns. motivos é que não faltam para fazer o mesmo. quem sabe seja um tipo suicida. remoeu a hipótese várias vezes. quando olha para os outros na rua, tem a impressão que dizem. esse aí mata alguém... ah, se mata! vai de encontro ao objeto de desejo, como se não tivesse sido informado da existência de outros livros. só consegue enxergar o tijolão de capa colorida. cheio de monstros dentro, magias, sábios compreensivos, e lugares fantásticos. uma boa fuga pra quem não consegue encarar a realidade. se encaminha cegamente pro caixa. quando vê a atendente atrás do balcão vem o pânico. o medo de ter esquecido o dinheiro. ou da menina rir da sua cara por causa do livro que comprou. ou simplesmente de não conseguir pronunciar uma palavra. ela levanta a cabeça. tem todo o perfil de quem não daria um bom dia a ele em outro lugar. alta. olhos claros. tatuagem no braço. postura imponente. ao ver o livro ela diz. que legal! já separei o meu! ele sente alívio. e medo por ter que falar. ga-gue-jan-do, é claro. diz forçosamente. deve ser bom... ela complementa. deve ser ótimo! agora na rua respira com dificuldade. tem que criar coragem para voltar a livraria amanhã. pensa no que ela pensa sobre ele. quer terminar o livro imediatamente. e desde já torce para que a segunda parte seja lançada. continua...

domingo, 20 de janeiro de 2013

A Pílula Do Dia Seguinte (Parte-Final)

o garoto entrou na farmácia atabalhoado, como diriam escritores antigos. dessa vez ele tava muito mais nervoso do que da outra. tinha medo da mãe, do pai, da mãe da menina, e sobretudo do possível filho, ou filha, que deixava todo o mundo mais perigoso. e que agora havia caído como uma bomba em cima dos dois. acabando de vez com todos os seus sonhos de viver intensamente a adolescência a que tinham direito , apenas algumas horas antes, beijando todo mundo e... seriam escorraçados de casa e teriam que trabalhar e abandonar aquelas tardes sem aula em que vagavam pelos shoppings. para o cara da farmácia era a hora da vingança. o moleque perguntou entredentes. tem a pílula do dia seguinte? ele respondeu. antes de pensar em pílula, procure as camisinhas, pra não acabar vindo aqui comprar fraldas. todos ouviram. dessa vez para a desgraça do garoto a farmácia estava cheia. o homem puxou a nota da mão do moleque e a jogou na registradora. o moleque corou. as pílulas foram colocadas em frente a ele. a garota bufou. as bochechas ficaram vermelhas. o moleque respirou aliviado. aquela era a vingança do homem da farmácia. a vingança contra si mesmo. por não ser mais um moleque. por ter uma filha adolescente grávida. e por nunca ter usado uma camisinha.

sábado, 19 de janeiro de 2013

A Pílula do Dia Seguinte - Parte 2

a noite foi maravilhosa como sempre acontece na maioria das primeiras vezes. ele achou que não havia se saído tão bem. e a performance dela também não ajudou muito. mas finalmente havia virado um homem. era isso que importava. e agora poderia falar de igual pra igual com os moleques dos prédios. ele gozou rápido por causa da ansiedade. e a menina não ia contar isso a ninguém. ele contou uma historinha pro seu melhor amigo, que tinha outro melhor amigo, que... e concluiu que iria viver o resto da vida com aquela menina. ela pensou que a mãe só falava merda. ele perguntou se ela havia gostado. ela disse. sim, claro. eu amei. mas no fundo sabia que pouco importava. pois era a sua primeira vez, e ela o amava. simples assim. igual na novela. ele chegou a conclusão de que não podia pegar doença de uma menina que há pouco era virgem. e pensou que seria azar demais se ela ficasse grávida. justamente dessa vez. da próxima vez eles usariam camisinha. foi o clima, o momento, sabe como é. mas ela quebrou o silêncio e disse: fudeu. ele disse: fudeu! continua...

Para Quem Não Gosta De Ler

Sem palavras.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A Pílula Do Dia Seguinte

o moleque entrou na farmácia. o frangote não tinha 16 anos. a menina aparentava uns catorze. mas pelo tipo de atitude podia ter mais idade que o pivete. ela havia dito: te espero aqui. e odiava ouvir a voz da mãe na  cabeça dizendo. se fizer isso, vai acabar com a tua vida! a mãe dele dizia. cuidado pra não engravidar a filha dos outros! e o pai: prendam as suas cabritas, que o meu bode tá solto! entra e pede ao cara da farmácia. um pacote de preservativos, por favor. fez uma voz casual como se pedisse chicletes. ensaiou a frase várias vezes mentalmente. o homem jogou a embalagem no balcão. cinco real. mas pensou. até parece que vai comer alguém! o moleque levantou os olhos, e esperou o riso que não veio. perseguiu o cliente com o olhar. quando ganhou a rua na presença da menina, o balconista tentou ver a bunda da garota. não conseguindo se redimiu. saidinho! continua...

Ansiedade

um dia encontrei com ela numa esquina. um médico me disse que a tal senhora normalmente vinha acompanhada da sua amiga depressão, ou vice-versa. depois de algum tempo tomando medicamento, e sendo acompanhado por um profissional, percebo que lutar contra ela é burrice. assim como lutar contra a sua amiga. não penso que devemos nos entregar as duas. mas é bom termos uma convivência pacífica com a tal senhora. podemos dizer, pode entrar, senta, fica aí, toma um chá. você é uma doença como outra qualquer. se eu fosse diabético não teria que conviver com o diabetes? esse vazio que nós sentimos talvez seja necessário, e inerente ao ser humano que não consegue explicar tudo. pelo menos os que não são arrogantes. hoje deixo minha depressão a vontade. só peço a ela que não traga junto o seu amigo stress. em outras palavras, só não me encha o saco! até curto um pouquinho dessa fossa poética. sem remoer nada. apenas acreditando que esse problema é meu. não dá pra ter tudo. não dá pra querer tudo. nem dá pra agradar todo mundo. ou melhor, não dá pra agradar a quase ninguém. e quem disse que devemos agradar alguém? e quem disse que devemos ser legais, felizes, simpáticos, vitoriosos, e ter um milhão de amigos? alto lá! temos sim que seguir em frente e tentar evoluir. porque? eu não sei! mas não devemos carregar todo esse peso. não quero ser um bobo alegre. já percebeu como as pessoas que se dizem felizes parecem histéricas com seus tiques e suas risadas nervosas? o bobo quer descontar toda frustração de uma vida em uma noite. mas logo após, vem a ressaca do dia seguinte. da noite de esbórnia. nem sempre... só na maioria das vezes. é a mesma coisa que tentar lutar contra uma compulsão. o problema é que não é luta. não se luta contra nada. o que tem que se buscar é a compreensão. simplesmente vire as costas e não dê bola. se tentar exterminar o inimigo da noite para o dia irá sempre perder. psicologicamente falando. virá sempre o efeito colateral. tente dar uma ignorada. e dizer a si mesmo que ele não é tão importante quanto parece. não tenho conhecimento científico. li apenas alguns livros de autoajuda. e a minha precipitação em escrever, é apenas mais uma prova da minha ansiedade. olá senhora, seja bem vinda!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

A Lei José Da Penha

o Facebook fez mais uma vítima. ontem o pedreiro José da Silva, morador do Complexo do Alemão, foi  assassinado por sua esposa enfurecida. segundo relatos de vizinhos que não quiseram se identificar, Maria da Silva, que ao adentrar as dependências da página do marido, descobriu que a ex-namorada de José Roberto havia curtido uma foto sua. a mulher ficou irritada e jogou ácido no rosto do companheiro, logo após ateou fogo ao seu pijama. ela foi presa em flagrante e levada para a delegacia. o pedreiro foi enviado ao hospital Getúlio Vargas na Penha, mas não resistiu aos ferimentos, deixando dois filhos menores. é o quinto caso de assassinato de homens por suas companheiras esta semana, o delegado titular da 22 DP confirma os números. em 2013 no Brasil, já foram registrados cem assassinatos de homens por suas mulheres. muitas delas tem se aproveitado do estado de embriaguez das vítimas. outra parcela destes homens sofre com a mutilação do pênis. prática que tem se tornado comum por essas criminosas. o governador do estado comentou o caso, dizendo que, essas facínoras não ficarão impunes! a polícia militar do estado do Rio de Janeiro tem trabalhado diariamente para coibir esta covardia. em Brasília tramita uma projeto de lei a qual a presidenta parece não estar muito interessada em sancionar. mas alguns deputados, depois desse caso emblemático, pensam em batizar a lei como José da Penha.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Eu Matei Duas Pessoas Com Um Tiro!

eu não atirei pra matar. só queria dar um susto. não sei como acontece com os assassinos profissionais. embora hoje não veja diferença entre quem matou uma, ou cem pessoas. sabe aqueles caras que aparecem na televisão dizendo que no meio de uma briga perderam o controle e esganaram a outra pessoa, durante todo a discussão você fica cego de ódio. por isso que aqueles idiotas que frequentam essas igrejas nojentas dizem que estavam possuídos. quando na verdade não conseguiram raciocinar direito. se tivessem saído pra tomar um sorvete ou fumar um cigarro, a historia seria diferente. depois que o corpo está lá jogado, sem vida, você consegue pensar claramente. e chega a conclusão de que não havia motivo pra tanto. podia simplesmente ter dado as costas e ido embora. ou então calado a boca. cometeu um ato banal que vai marcar a tua vida pra sempre. mesmo que fosse em legitima defesa seria assim. o trauma. os pesadelos... não dá pra matar a família e ir ao cinema. a não ser que você seja um psicopata. embora hoje eu também me considere um deles. não vim aqui pra me desculpar. cometi um erro que não se tem o direito de cometer. nem perante a justiça dos homens. nem perante a justiça da natureza. eu matei duas pessoas com um tiro.    

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Minha Vó Tá No Facebook!

pode ser brincadeira de algum primo. eu sei o quanto nós brasileiros somos preconceituosos. mas é que a minha avó tem cara de vovó que cuida de netos e cachorros. o pior dos poodles não é nem o latido ensurdecedor. embora te veja todo dia o infeliz ainda late pra você. mas aquela lambida que pega do calcanhar em direção a batata da perna é nojenta. antes o desgraçado tivesse me mordido. mas nem sempre a minha avó foi essa vovozinha de comercial de supermercado. a minha avó não é nenhuma Ângela Vieira, que tem idade pra ser a tua avó, e moral pra posar na Playboy. já imaginou os teus amigos da facul tudo querendo pegar a tua avó. dizem que a minha vó era a maior pé de valsa da Casa do Marinheiro na Penha. isso depois do falecimento do meu avô tenente da marinha brasileira na segunda guerra mundial. eu a vi na tevê desfilando pela Caprichosos de Pilares, vestida de prisioneira, com uma bola amarrada nos pés. e vi também uma foto em que ela estava vestida de índia. ela se casou com um rapaz mais jovem e escandalizou a comunidade local da época. a minha avó é culpada por eu ter me tornado escritor. por culpa da liberdade excessiva e ótima que ela me deu. por causa de sua crença de que o mundo vai ensinar, como disseram que ela disse um dia. a minha avó me deixava assistindo a extinta TV Machete até tarde. Documento Especial, e aqueles filmes que pertencem ao tempo do cinema nacional que eu mais gosto, e que felizmente eram impróprios para menores. depois que a programação acabava a insônia aparecia. eu sempre odiei estudar ou ser obrigado a estudar, e nessa época aproveitava para descontar o sono na sala de aula. naqueles dias, uma tia que não sei se, a Neli, ou a Cristina, que eram boazinhas e que não tinham culpa da minha ociosidade, pediu que a turma lesse um livro chamado O Rapto da Coroa, de Helenice Machado de Almeida. nunca mais parei de ler na vida minha vida. a literatura me ajudou a ocupar o tempo insone, e por acidentes ela me mostrou o meu destino. a minha irmã teve o meu sobrinho maravilhoso com dezesseis. ela é da nova geração e não tem perfil de que será uma vovó igual a minha. há tempo o mundo já tem as suas vovós tatuadas ouvindo rock, reggae, e MPB. vai ser legal ver um mundo de avós falando com seus netos de igual pra igual. mas essas vovós fofinhas iguais a minha irão deixar saudade... e não que as outras não sejam fofinhas...

A Mãe

ela queria saber realmente porque seu filho fumava aquela porcaria todos os dias. era contra aquilo, inequivocamente. não gostava nem de pronunciar o nome da maldita. talvez fosse contra pelo simples fato de ser um prazer desnecessário, igual a maior parte dos prazeres, por mais que o filho argumentasse não causar mal algum. e principalmente por estar fora da lei. não viu grandes mudanças que chegassem a comprometer o comportamento do progenitor. dane-se que diminuísse a ansiedade ou deixasse a pessoa lesada a ponto de não reagir a um tapa. a questão é, não faz o menor sentido você optar por algo que a maioria condena. quando pode frequentar estádios como a maioria dos homens fazem, ou se ocupar com os carros e lutas na televisão, ora bolas! todas aquelas discussões e passeatas, parecia algo de quem queria se revoltar contra alguma coisa de qualquer jeito. então nesse sentido talvez a proibição fosse ruim. a mãe em seu tempo não foi nenhuma riponga. era apenas uma namoradinha do subúrbio que frequentava os bailes da jovem guarda. e adorou quando o Roberto Carlos aderiu ao catolicismo. ela havia se tornado uma dona de casa. mas queria experimentar aquela porcaria. depois de ver tanto artista que gostava na televisão dizendo que já havia experimentado, decidiu experimentar. não acreditava que fosse ficar viciada. nem estava experimentando para poder debater com o filho, igual ele propunha. ela queria apenas saber o que havia de tão maravilhoso naquilo, a ponto de tanta gente falar tanto. um dia esperou o filho sair e foi lá fumar um dos seus cigarrinhos de artista que ele não fazia questão de esconder. e fumou um dele de tarde. quando o filho chegou em casa, a noite, a mãe perguntou a ele: posso fumar com você? ele respondeu: hã?!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jorge Selarón

Selarón, eu estava ouvindo sobre a sua morte aqui no meu radinho de pilha. e me lembrei de tantas noites que fui me sentar em sua escadaria. e com a fumaça adocicada nos pulmões a olhar a lua e respirar aquele cheiro de noite gostoso que só essa cidade parece ter. a sua escadaria, a da Penha, e o falecido Escadinha são os degraus mais famosos do Rio. Na sua escadaria cosmopolita, troquei ideias com gente de vários países. de australianos a peruanos. um amigo dia desses, lá mesmo na Lapa, relembrando um fato dos anos noventa, me disse: no tempo em que Lapa era Lapa! eu me lembro daquela Lapa em que o pessoal do hip-hop se sentava ali em frente aos arcos. eu frequentava o Circo Voador sujo. e era ótimo ver todo mundo lá em cima pendurado. e ter a sensação de que no meio do centro da cidade se estava dentro da Sociedade Alternativa. eu peguei aquela Lapa sitiada por travecos, punks cachaceiros, e moleques de rua que em sua maioria ainda cheirava cola. não que todos tenham sumido. mas engraçado que não acho que a Lapa verdadeira fosse essa. uma vez num terreiro de macumba o Seu Zé Pelintra me disse que a Lapa não era mais a Lapa fazia tempo. eu concordei com ele, que é uma sumidade no assunto. tem uma música que o Moreira da Silva diz que ele sonha com essa Lapa. cada um tem a Lapa que merece. e talvez os ingleses agora tenha a deles. eu tive a minha que nem foi tão boa assim. pois sou da geração rabo de foguete. a geração traumatizada pela internet. e pra quem chamava a geração de oitenta de geração perdida não sabia as proporções que a falta de criatividade iria tomar. mesmo daqueles que se dizem de vanguarda. e há de convir comigo que a gente era feliz e não sabia. da mesma maneira que se reclamava dos funkeiros dos anos noventa e, hoje se pede que eles voltem. embora acredite que o artista também veja o que todo mundo vê, e não só, o que é conveniente. mas o melhor lugar do mundo é aqui e agora, como diria Gilberto Gil. e como Woody Allen deixo claro no Meia Noite em Paris. mas a minha capital cultural do Rio continua sendo Madureira, não sei ainda por quanto tempo. a capital da música negra e do meu subúrbio. eu me lembro muito bem que foi uma novela que popularizou a Lapa. junto de interesses legítimos, financeiros, olímpicos e carnavalescos. mas seria tão bom se os lugares crescessem e as festas como o carnaval, mudando, evoluindo mas sem perder a essência. igual a preservação de alguns prédios antigos europeus como não acontece aqui no Rio. Selarón, não cheguei a trocar ideias com você. mas te ouvi falar e te conhecia de vista. e soube que você não tinha filhos. será que era na linha do, os meus filhos são os meus filmes. eu optei por não ter filhos. talvez para um artista, por causa de sua obra, seja mais fácil não ter esse pensamento preconceituoso de que, eu tenho que deixar a minha semente no mundo. até porque tanto a arte quanto a filosofia demandam um tempo imenso. e as duas parecem caminhar de mão dadas. provavelmente por isso muitos filósofos não foram casados. o escritor Bukowiski dizia não ter tempo nem para cortar as unhas. e será que era isso que você pensava. ainda não se sabe se foi suicídio. mas se foi, será que existiu algum simbolismo nesse ato de morrer queimado, em plena na obra em que parecia ser sua vida pelos depoimentos, e pela qual você mesmo zelava. pois você vivia, trabalhava, e porque não, amava a ela, e nela. o suicídio é uma bobagem. uma vingança contra quem se ama. e uma bandeira branca estendida ao inimigo. não aquele inimigo das igrejas. e o assassinato não depende de nós. as vezes, é até uma fatalidade. estar no lugar errado, na hora errada, em frente ao psicopata errado. dizem que o fogo é purificador. e se isso é verdade, você não morreu crucificado, como um assassino possa pensar. como seria a intenção do assassino. e se foi suicídio, eu entendo. você se purificou para poder ascender. vai na paz, amigo artista.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Música Popular Brasileira

...Caetano Veloso. Chico Buarque. Cartola. Noel Rosa. Gilberto Gil. Chico Science e Nação Zumbi. Raul Seixas. Lô Borges. Beto Guedes. Belchior. Amelinha. Maria Bethânia. Gal Costa. Zizi Possi. Legião Urbana. Paralamas do Sucesso. Titãs. Tim Maia. Fundo de Quintal. Arlindo Cruz. Sombrinha. Zeca Pagodinho. Zizi Possi. Djavan. Júpiter Maçã. Belchior. Carmen Miranda. Orlando Silva. Almir Guinéto. Zé Ramalho. Elba Ramalho. Jovelina Pérola Negra. Bezerra da Silva. Seu Jorge. Mart`inália. Flávio Venturini. Ivan Lins. Guilherme Arantes. Roupa Nova. Milton Nascimento. Tom Zé. Tom Jobim. Luiz Gonzaga. João Gilberto. Racionais. Bebeto. Claudinho e Bochecha. Biquíni Cavadão. A Cor do Som. Geraldo Azevedo. Raimundo Fagner. Sérgio Sampaio. Os Novos Baianos. Baby Consuelo. Moraes Moreira. Pepeu Gomes. Cidade Negra. Sepultura. Marisa Monte. Nei Lopes. Rolando Boldrin. Inezita Barroso. Pena Branca e Xavantinho. Tonico e Tinoco. Nenhum de Nós. Dolores Duran. Pixinguinha. Jorge Ben Jor. Aniceto. Nelson Cavaquinho. Ismael Silva. Luiz Melodia. Família Caymmi. Raimundo Fagner. Ednardo. Moreira da Silva. Geraldo Pereira. Wilson Batista. Barão Vermelho. Gang 90. Fausto Fawcet. Sivuca. Dominguinhos. Hermeto Pascoal. Ney Matogrosso. Oswaldo Montenegro. A Cor do Som. Celso Blues Boy. Clara Nunes. Clementina de Jesus. Wilson Simonal. Roberto Carlos. Erasmo Carlos. Rita Lee. Toquinho. Vinicius de Moraes. Nara Leão. Elis Regina. Carlinhos Brown. Braguinha. Arthur Maia. Dadi. Silas de Oliveira. Beto Sem Braço. João da Baiana. Donga. Sinhô. Heitor dos Prazeres. Clube da Esquina. 14 Bis. Edu Lobo. João Bosco...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Chorume

não preciso esperar até amanhã para escrever. pois eu sempre vou ter o que escrever. sempre que existirem palavras e sentimentos, esses podem ser de tédio, eu terei o que escrever. mesmo que esteja me sentindo assim, um péssimo ser humano. um dos piores seres humanos da terra. um lixo humano. isolado. jogado num canto. vazio. mesmo que me faltem leitores. amigos. ou inimigos para me motivar. a literatura se mostra a melhor terapia de todas. então só me resta escrever. sem pensar. jogar as palavras no papel. mesmo que amanhã me arrependa do que acabei de escrever. e venha a corrigir, ou  a desdizer alguma frase. pois eu vivo para escrever. quiça despertando ira, antipatia, ou indiferença, o que é pior. e quando não me restar mais palavras ou ideias, ainda posso ler aquilo que escrevi. e se tudo que escrevi for queimado numa fogueira de um terreno baldio. ou de um lixão. eu ainda posso ler as palavras que outros escreveram. e quando estas me faltarem, aí me faltará a vida. pôs a literatura é a única forma de escoar esse chorume que escorre do meu coração. a literatura talvez seja o verdadeiro lixo extraordinário... 

A Pistola Automática Cromada

eu tenho uma arma na mão. e não é um livro. pois se fosse um livro eu jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. mas não é um microfone. que se fosse um microfone, eu também jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. e não é uma megafone. que se fosse um megafone, eu começaria a xingar todo mundo. eu tenho uma arma na mão. e ela é tão sedutora quanto a Sharon Stone naquele filme Basic Instinct. e ela faz mal a saúde. assim como doces de confeitaria, a minha arma mata. eu tenho uma arma na mão. e não é um carro. pois se fosse um carro, eu tomava uns goles, tomava coragem, e passava por cima de quem não gosto. e aí depois ia pra delegacia, pagava fiança, pois uma morte não custa caro no Brasil, ainda mais se for morte de pobre, é bem mais barata. no outro dia eu estaria solto para atropelar novamente. eu tenho uma arma na mão. e assim como aqueles infelizes estadunidenses que estão pirados com toda essa sociedade, eu também posso entrar em algum local atirando. numa tentativa de me vingar de mim mesmo. eu tenho uma arma na mão. pois diferente do Reino Unido, eu posso ter uma arma na mão. e a minha arma é uma pistola automática cromada que me diz que eu posso matar quem eu quiser. eu estou no fundo daquele teatro, com aquela porção de gente. e todos eles ficam me remedando e olhando pra minha cara com ojeriza. eu olho os policiais na rua. e sei que não terei como escapar. eles pensam que essa arma é de brinquedo. e começo a ficar confuso e ansioso. trêmulo. escorre suor. mas eu quero ir me embora. eu digo a ela. vamos embora. ela me pergunta: você está se sentindo mal. eu digo sim. vamos embora. ela insiste: você não vai participar do espetáculo. Eu digo: não. e nós saímos.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Depressão Pós-Parto

passei um tempo dedicado a um livro que me deu esta depressão ao terminar. acredito que outros escritores já tenham sentido isso. não sei nada sobre escritores. desta vez o processo de criação, como dizem por aí, foi diferente. parei tudo para escrever o tal livro. o que não havia acontecido anteriormente durante nenhuma outra criação. sofri por ter que conviver com aquele personagem noite e dia. o que me levava a ter pesadelos constantes. talvez por causa do meu consciente que era detonado por seus consciente e  inconsciente. todos os dias terminava de escrever exausto. mas estupidamente feliz por escrever o que realmente queria. então ao me deitar sentia aquele vazio satisfatório. como se todas as as minhas mazelas, e as mazelas da sociedade tivessem sido expurgadas através da minha pena. e de repente me senti perdido com esta ansiedade descomunal, que me dá com vontade de fazer tudo que ficou suspenso. Mas não consigo fazer nada. como se a minha função social não tivesse mais utilidade. e como se não houvesse nada mais interessante debaixo do sol. o livro me leva a um êxtase difícil de ser substituído. embora precise de um tempo para tocar os meus outros projetos como dizem esses artistas que não tem projeto algum. mas eu sei que daqui a pouco me vem um momento na cabeça... alguém diz uma frase estranha.... um rosto começa a se formar e bola pra frente...

sábado, 5 de janeiro de 2013

A Cidade Mais Linda Do Mundo

eu passei a virada do ano na cidade mais bonita do mundo. na praia mais linda da cidade mais bonita do mundo. onde tem o povo mais simpático e mais sexy do mundo. que coincidentemente é o povo que mais copula e que mais trai no mundo. onde tem as mulheres mais lindas do mundo. onde tem a maior festa popular do mundo. onde tem o time de futebol que tem a maior torcida no mundo (fato). onde tem o povo mais feliz do mundo. onde tem a queima de fogos mais linda do mundo. tudo aqui é o melhor do mundo. não sou eu quem diz. são as pesquisas. fiquei na areia vendo aquela profusão de alcoólicos em alegria histérica.  rolando na areia e no final parecendo bife a milanesa. abrindo champanhe dentro da água e gritando. eu sou feliz. como se para que a sentença se tornasse verdadeira fosse necessário repeti-la. um gringo. não me contive de tanta felicidade... ai. ai... realmente adorei o show. e a lua. e depois a queima de fogos com a trilha sonora formidável. e as propagandas da prefeitura com os principais artistas da cidade me convenceram de que vivo numa cidade maravilhosa. as pessoas no alto dos prédios admiravam a queima de fogos, como se dissessem para aqueles que estavam embaixo, temos uma visão melhor que a de vocês. e as pessoas nos transatlânticos admiravam de longe, e pareciam querer repetir a mesma frase de camarote. deviam se sentir salvas separadas por quilômetros de água daquela muvuca. eu também queria estar lá. num navio daqueles. só para que gente não tivesse dúvidas de onde estávamos.. vi alguns crackudos trombando as pessoas na areia com esperança de arrancar alguma coisa dos seus bolsos. e confesso que cavoquei o chão com os pés a procura de algum objeto perdido. um gringo alcoólatra caia em minhas costas. enquanto a minha mina sussurrava em meu ouvido. feliz ano novo...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

O Inimigo Oculto

Festa de fim de ano da empresa. Quando o chefe anunciou. Esse ano nós vamos ter um amigo oculto! Eu ouvi toda aquela lenga-lenga da importância da confraternização. E tive que dar um presente a alguém que detestava, e que eu sabia que não deixaria de me detestar por isso. A gente sempre se fode com esses presentes, e ganha um bem mais barato que o preço combinado. Eu queria que trouxessem a nota fiscal. Vi quando foi anunciado o nome do fulano. As brincadeiras com risinhos amarelos dizem que eu vou ganhar o regalo do chefe. Eu sou o puxa-saco da empresa. Trabalho mais que os outros. Dou informações quentes. E sonho ser promovido. Descrevi o meu amigo oculto como um espírito evoluído. O felizardo que tirou o chefe, disse que ele era isso, aquilo, e blá-blá-blá. Nessa hora me aproximei das mesas de doces, e peguei um refrigerante. De repente o poderoso chefão abriu a caixa. O artefato explodiu. Ele gritava com o rosto cheio de estilhaços. Eu me impressionei mais com aquele que levou o presente. Este metia a mão na cabeça e gritava. Meu Deus! E tive vontade de dizer. Feliz Natal Pra Todos...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Não Dá Pra Morrer De Fome!

O gás lá em casa havia acabado. Eu tinha de gastar as últimas moedas, ironicamente, com as duas caixas de fósforos. Se estivesse no centro da cidade ia a um bar pedir pra tirar o lixo em troca de um café. O café é a melhor bebida que deus inventou. Depois vem a Coca-Cola. Como eu ia escrever o dia inteiro sem um gole de café. A literatura depende do café. Não do fumo, nem da bebida, nem de memórias afetivas, ou inspiração como alguns calhordas podem imaginar. Os escritores estão no ranking dos profissionais que mais bebem café. No posto de saúde pública não servem café de graça. Nas clínicas particulares é preciso ser paciente. Lembrei-me dos postos de combustíveis. No mais próximo existia uma placa em cima do café dizendo que era uma cortesia para os CLIENTES. O supermercado fica longe e nem sempre se tem a garantia daquele stand com cafezinho grátis. Pus a minha melhor roupa de ficar em casa, e corri para a biblioteca pública. Havia dois livros emprestados comigo. Então fiz cara de escritor em pesquisa para o próximo livro. E como quem não quer nada, eu me aproximei da garrafa térmica. Pena que aqueles copos descartáveis são ridiculamente pequenos. Peguei meu primeiro gole. Dei uma volta. Fingi que estava compenetrado. Voltei para o meu segundo gole. O bibliotecário sorriu com ironia e disse. O café da faxineira é bom... Respondi a ele. De graça é sempre mais gostoso... Sem tirar os olhos do computador ele me perguntou. Dá pra viver mesmo desse negócio de livro? Eu disse. Não dá pra morrer de fome... Nós rimos. Esmaguei o descartável com a mão. Fui. Agora eu poderia escrever em paz o resto do dia. A janta seria outro episódio. Mas a dúvida que pairava sobre a minha cabeça era se os empregados se cotizavam para comprar o café, ou se era comprado pelo governo. Essa dúvida me angustia. Se a biblioteca é pública o certo é que o governo compre o café. Vou perguntar ao bibliotecário da próxima vez...