sexta-feira, 19 de julho de 2013

Whisky Nacional é Cachaça!

tem um vândalo no meu portão. tenho andando com medo dos vândalos, doutor. não consigo mais sair de casa, doutor. tenho medo de quebra-quebra. a televisão me diz que os vândalos estão chegando, doutor. o Brasil é um país pacífico... o estado não vai permitir que esses vândalos tomem conta da cidade. atos de vandalismos não serão tolerados. o cidadão comum, sabe que esses não são manifestantes e sim, bandidos. criminosos. tem um vândalo em cima da árvore. um vândalo depredou o patrimônio público, doutor. um vândalo foi acusado de apropriação indébita. o patrimônio público não pode ser depredado. o nosso país é um país livre, doutor. os vândalos tiram o nosso direito de ir, e vir. um vândalo matou... não, doutor, um vândalo não matou. mas é de matar. tem um vândalo sentado na praça comendo pipoca. tenho pesadelos com vândalos, doutor. eles descem de helicópteros. saem dos esgotos. tem um vândalo com uma camisa do Papa. quem sabe um vândalo peregrino. os baderneiros e os vândalos estão provocando arruaças. tento dormir. não consigo. ouço aquela voz vinda debaixo da minha cama. vândalos... vândalos... e aí coloco o meu travesseiro na cabeça. teremos uma comissão para cuidar dos atos de vandalismos. tem um vândalo mascarado no meu espelho. o vândalo mascarado fumando charuto, dá um trago no Whisky, cospe e diz: eca, nossa, Whisky nacional é cachaça!

A Molecada do Lava a Jato...

...sempre tem um sofá e um sonzinho rolando ao fundo. na maioria rola Racionais, ou Arlindo Cruz de leve para não contrariar ninguém. ah, às vezes, funk. mas dependendo do dono rola até uma Plebe Rude, Black Alien, eu já ouvi. encosta a tua bike, senta naquele sofá e fica a tarde inteira. depois do almoço, é claro. olha pro valão em frente, e sente aquela fedentina, olha para a parede em frente, e diz: que merda. de vez em quando alguém fala: me empresta a bike que eu vou dar um pulo na farmácia. some na esquina. e você apenas balança a cabeça. as vezes a rapaziada do lava a jato mergulha num silêncio prolongadíssimo. as vezes depois da rodada de domingo todo mundo dana a falar. as vezes no final de semana rola um churrasco. uma churrasqueira, e um isoporzinho. as vezes cola até algum velho que fica jogando buraco na praça. algum velho que não conseguiu entrar na internet. como dizem. mas a molecada do lava a jato está sempre ali. naquele sofá, faça chuva, ou faça sol. me empresta a bike aí que eu vou lá no meu primo pegar a máquina de cortar cabelo!

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Eu Sei que Eles Sabem que Eu Existo!

eu pergunto a minha mina. você viu um furgão lá fora? digo olhando pelo canto da cortina. ela diz: deve ser a CIA atrás de você... ela abre a janela, que calor aqui... que cheiro ruim! tudo fechado. eu me jogo no chão e ponho a mão em frente a boca como fazem os jogadores tentando evitar a leitura labial. falo por sussurros. devem existir escutas por toda a casa.... ponho o telefone no ouvido e ouço um chiado ao fundo. ela me diz: você tá delirando! eu digo: tô cercado! os meus companheiros me abandonaram... ela diz: é impressão sua, amor. eles me boicotaram. disseram que eu sou um dissidente. entrei para a lista de traidores. ou será que eu sou apenas um capital dissidente? não sei! não rolou nem um sentimento de classe. consideração racial ou algo que o valha. disseram que sou uma ameaça. falo por códigos. sinais. driblo. não posso ser muito explícito para que não me descubram. passo na rua. alguém diz: esse cara com essa mulher de cabelo vermelho, não sei não! eu me escondo no supermercado. a câmera do supermercado me persegue. eles sabem que envio mensagens secretas. sou censurado. torturado. quero ir exilado para a França, Estados Unidos, Inglaterra. eles vigiam os meus passos. o meu vizinho me espreita do olho mágico na madrugada. alguém diz: é um artista do bairro que sequelou. outro diz: incapaz de fazer mal a uma formiga! alguém diz: tem de se relacionar. eu digo: sou tímido. o rapaz que recolhe o lixo faz sinal para alguém quando eu passo. o mesmo acontece com o cara falando no orelhão. o entregador de flores parece me apontar. mas um passarinho me traz notícias de campo da fronte. do campo de batalha. onde sempre há algo novo. ele me diz: você foi citado. eu digo: sério? ele diz: sério, num relatório da ONU! Obama tá na tua cola, malandro! eu digo: mentira! ele diz: eu lá sou homem de jogar conversa fora, rapaz!? tem caroço neste angu.... e eu vou descobrir o que é. ele reforça: aí, tem! eu digo: já avisaste ao Joaquim Barbosa? ele diz: sim. mas não mija fora do penico, não, rapaz, se não a coisa esquenta pro teu lado! vai sobrar pra mim, e não há quem te tire de lá! eu pergunto: batata? ele diz: batatíssima! eu digo: você vai me ajudar. ele diz: eu sou bem relacionado no jet set, como você sabe. vou ver o que posso fazer por você. mas não prometo nada! ele pigarreia, e diz: mas por enquanto segura a tua onda, que a tua batata tá assando! a minha mina diz: elas têm alucinações. e amigos imaginários. (e inimigos também, ela pensa). eu digo: amor, é verdade, o meu amigo intelectual, ele não cresce! ele nunca cresce! permanece do mesmo tamanho. com a mesma idade, desde que eu o conheci!

quarta-feira, 17 de julho de 2013

O Caçador de Androides - Philip K. Dick

eu li o caçador de androides. e gostei da caixa de empatia. do Mercerismo. ou seria Cristianismo, Budismo, ou Islamismo... são metáforas do livro. e o teste Voight-Kampf para detectar os androides que ao que me parece são psicopatas, assim com a maioria de nós, que assim como psicopatas, nós homens da sociedade moderna somos mais inteligentes. e o preconceito contra os especias, que ao que me parece tem uma especie de esquizofrenia. assim como a maioria de nós. eu sei disso porque me observo. e o observo os outros. ainda existem homens "santos" que conseguem suportar todo esse estresse de viver numa grande cidade, competitiva, perigosa e veloz. as vezes corremos sem saber porquê. e na maioria das vezes nossa correria não nos leva a nada. ao invés de desejar mais, desejar menos, cada vez, menos. mas com a mídia nos aplicando um tratamento de choque, em que logo depois caímos numa Síndrome de Estocolmo amando aos nossos inimigos. mas na maioria das vezes, reagimos de maneira violenta. temos uma crise dos nervos, entramos numa escola atirando, temos um enfarto, ou esganamos o pescoço mais próximo. a gente segue comendo mais, bebendo mais, fantasiando mais, se drogando mais, trepando mais, consumindo mais, rezando mais, fazendo cada vez mais festa, e se entediando cada vez mais com todo o excesso. pois ninguém pode ser tão feliz. a nossa caixa de empatia é a nossa caixa de remédio tarja preta. é só engolir uma pílula. assim que funciona a caixa. é só apertar um botão. até a nossa tristeza normal, por causa do nosso vazio que a certeza da morte causa, estamos tratando com remédio. seja ele, sexo, cerveja, videogame, antidepressivo, ou esporte radical. para um tratamento com menos drogas é preciso tempo. e tempo é tudo o que nós não temos. pois somos uma sociedade dedicada ao prazer imediato. você pode até trepar com uma androide como fez Rick Deckard. não, é verdade? quantas pessoas acordam todos os dias ao lado de androides. androides com botox, bombas, enchimentos, silicones, recauchutadas, reinventadas, plásticas. bonecas infláveis. assim como no Mercerismo nos ligamos a todos. todos estamos conectados a internet que funciona como uma espécie de inconsciente coletivo. virtual. física quântica. androides incapazes de formular um raciocínio assim como os nossos analfabetos funcionais que acreditam no que o repórter, ou o pastor diz  a eles. que tem como exemplo de vida o empresário boçal. que teme os vândalos, e os quebra-quebras. o que eu mais gosto é da depressão do Rick Deckard, e de sua esposa Iran. e a falta de autoestima que é curada com a compra do animal de estimação. será que Deckard desejaria tanto qualquer animal de estimação, se eles não estivessem extintos? é parecido com nosso consumismo que paga por exclusividade. que diz que não sei o que é uma pedra preciosa só porque é rara. e a nossa incapacidade de lidar com outros seres humanos, e com outras culturas, descarregando todo nosso amor aos nossos animai de estimação. mesmo estando conectados com outros seres humanos 23 horas por dia. o que leva Rick Deckard a entrar em crise, é justamente uma trepadinha como uma androide. ah, nossos escândalos sexuais, e quem nunca pecou que atire a primeira pedra! como aquelas atiradas, Wilbur Mercer. que talvez seja uma fraude. um bufão. apesar de muito coerente em algumas colocações insatisfatórias. a polícia cobra a Rick Deckard que ele não sinta empatia por androides, para que isso não atrapalhe o seu trabalho. será por isso que amamos essas lutas em que se dá porrada no outro, e que o deixa retardado para o resto da vida, assim como ficou John Isidore. Buster Friendly que é o comediante que fica vinte e três horas por dia no ar, e que é a pessoa pública mais importante do mundo, declarou que a terra morreria debaixo de uma camada, não de pó radioativo. mas de traste. não duvido nada!

sábado, 13 de julho de 2013

Franz Kafka e Albert Camus

li O Estrangeiro de Albert Camus numa tarde, fiquei chapado, e desde então tive vontade de ler algo parecido com aquilo. fui ler mais Camus. peguei O Mito de Sísifo que é um ensaio filosófico maravilhoso. no final fui presenteado com um ensaio sobre Franz Kafka. talvez por aí eu conseguisse alguma coisa. em minha cabeça, ou na realidade, Camus foi influenciado por Kafka. numa tarde, deitei no mesmo sofá, e da mesma forma que aconteceu quando li O Estrangeiro de Camus, fui hipnotizado por aquela metamorfose de Kafka, não consegui me levantar enquanto não finalizei, o livro. não quero dar a minha interpretação da história. até porque esse negócio de achar que um livro tem uma interpretação é coisa de religião ou de intelectuais. e não quero que aquela pessoa feliz, que ainda não leu A Metamorfose, ou O Estrangeiro, seja poupada de qualquer novidade. mas no meu caso, o primor de Kafka, o que ele conseguiu fazer com este leitor ignorante, foi o seguinte, além de me levar a pensar sobre a profundidade do que foi abordado, é claro. ele me conduziu aquele quarto. até hoje os olhos de Gregor me perseguem. consigo descrever Grete. o senhor Samsa. conheço o cheiro das suas roupas. conheço as cores. e a voz de cada um deles. estive naquele quarto. posso jurar que estive lá  observando os durante algum tempo. até a sensação de sufocamento que a sociedade nos dá, senti com mais intensidade durante a leitura. consigo debruçar sobre aquela janela, e ver um sol que ilumina o mundo de maneira infinita. como num sonho. o livro caiu da minha mão. fiquei exausto.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

O Banheiro e a Leitura...

quando o meu livro foi lançado uma prima lembrou que na casa da minha avó eu lia no banheiro. morando numa casa cheia de gente, o banheiro torna-se o porto seguro para a leitura. na madrugada é a única luz que pode ficar acesa sem incomodar aos outros. ainda leio no banheiro. mais para não perder uma oportunidade de leitura, do que por necessidade. embora não sei porque sempre a sua luz do banheiro parece ser melhor. a batida do violão da bossa nova foi inventada dentro de um banheiro. pois João Gilberto gostava da  acústica do mesmo. caso queira ler em voz alta para melhor absorção da leitura, é uma boa pedida. dizem que o banheiro era o único lugar onde os Beatles não eram incomodados. hoje a leitura deixou de ser prioridade, assim como a verba para a cultura é a menor, a leitura é a última opção de passatempo, ou o que quer seja, para a maior parte das pessoas. com a chegada do livro eletrônico, em países como o Brasil, em que se lê pouquíssimo, a leitura tende a perder espaço. quanto mais se entulha músicas em um equipamento eletrônico, menos se ouve música realmente. poucas pessoas ouvem os discos completos. a maioria vive de sucessos. o chavão do conceito de trabalho parece ter se perdido. no caso da música, talvez o ideal fosse que os artistas lançassem apenas compactos. como acontecia na época da Carmen Miranda. pois hoje, uma música de um ano atrás, é velha para a maioria dos adolescentes, e das pessoas em geral. são raros os artistas que conseguem manter alguma resistência, e lançam o disco no tempo em que acredita ser necessário. por causa desse processo de banalização que estamos vivendo. embora saiba que alguns artistas sentem necessidade de criar mais. mas é bom que isso seja uma opção. durante algum tempo acreditei que o artista deveria tentar negociar com esse modelo que aí se encontra. eu mesmo, quando comecei a escrever para este blog tentei evitar textos longos. hoje não temo mais os caudalosos. é bom ter tempo para ler e pensar um Marcel Proust, que é eterno, ou um Mario Vargas. mas é preciso tempo para isto. e tempo é tudo o que nós não temos hoje. então o tempo passa a ser mais importante que o dinheiro. sempre foi. desisti de acompanhar a evolução tecnológica. não há mais para aonde se evoluir. não duvido mais de nada. temos que resistir um pouco, para que as coisas do espírito não se percam por aí. para que a hegemonia da falta de tempo cesse. quem só tem tempo para responsabilidades pode se considerar morto. pois como diz o filósofo, o ócio também é necessário. principalmente para a observação com a qual se aprende muito. enquanto o mundo, ou seja, nós mesmos, nos faz acreditar que não temos tempo nem para cuidar do próprio umbigo. o tempo investido em uma boa leitura, ou num bom disco, dizem que isso é um conceito relativo, mesmo para os seus criadores, tem um retorno inestimável. que nesta correria, nós não vamos conseguir perceber. mas ler um bom livro, e caminhar numa manhã de sol pensando nas questões que foram abordadas por ele, continua sendo um dos melhores refrigérios para a alma.

domingo, 19 de maio de 2013

Black Alien Se Retrata...

desde que assisti a este documentário sobre o Black Alien que não consigo parar de ouvir o Babylon By Gus. sou parte do pessoal da minha geração que era Racionais-Nação-Planet, e Rappa. vi o Black Alien ao vivo com o Planet, e, em dupla com o falecido Speed. sei que assim como o Sabotage, e o samba, que é preto na poesia, ele é um mestre. tem levadas, interpretações, e presença de palco infinita. seu estilo se aproxima do noir. de um trhiller-psicológico. ou de um filme pós-apocalíptico. cineasta, mostra cenas em suas letras que conseguimos visualizar com facilidade. pena não ter conseguido compreendê-lo de imediato. hoje entendo porque, porque ele desconstrói a linguagem. embaralha tudo. é um artista sem cerimônia. sem máscara. não é fanático em suas ideologias musicais, ou políticas. a sua cultura é caótica. assim como a sua cabeça. é um Itamar Assunção fluminense. é um cabeça de liquidificador. Black Alien é cru em sua entrevista. lava roupa suja em público, como poucos artistas, e assume a parte que lhe cabe. um dos melhores momentos do documentário em minha opinião, é quando ele diz que gastou muito dinheiro com mulheres e drogas na época do Planet. discorre sobre o "business" em sua palavras. fala sobre aquelas músicas que desaparecem nas mãos de produtores. espalhar coisas por aí é ao que me parece, é uma característica de quem produz muito. ele torna o improviso a regra. mas o que ele faz no improviso dentro do estúdio, são músicas antológicas. tenho a impressão de que ele solta frases no ar. volta e meia eu pego alguma. mas tem que estar concentrado, e saber que o que a primeira impressão parece uma verborragia, no final tem um significado profundo. pega essa: eu tive lá. mas não te vi lá. no documentário você vê o Black Alien gravando com o DJ. e reclamando, às vezes. e pessoas reclamando dele também. indo para um show passam umas minas de carro, e o confundem com o Falcão. ele fica puto. Black Alien toca num assunto chato que é o preconceito que um artista preto pode sofrer de "algumas pessoas" ( as aspas são minhas) em determinados segmentos, por não ser miserável. de forma madura diz que não liga mais para isso. ainda rola ele cantando pra dez pessoas no norte fluminense. sem holofotes. e o Black Alien na banda Reggae Bi, que tem o Bi Ribeiro e parte dos músicos do Paralamas. Black Alien nos ensina que a música é criação de um momento. não sei se ele concorda com isso. sem apego. bom filme. e bom disco para você que não conhece. Ele diz numa letra "tirar foto é fácil, quero ver quem se retrata". Black Alien se retrata.