sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vício!

Não consigo me controlar. Já foi o meu dinheiro quase todo. Toda vez que estou naquele lugar compro a minha droga. Certamente tenho que ir sem grana. O meu programa de doze passos me diz para evitar lugares e pessoas. Mas eu simplesmente não consigo. Voltei pra casa sem grana nenhuma depois que passou o efeito da viagem. E que viagem! Eu me senti um pinto no lixo, e agora estou jogando no chão, deprimido com o final da festa. E começo a perceber que vício é vício, e não importa qual vício seja, e que um vício sempre vai te levar para o buraco. Seja ele qual for! No começo é sempre assim, você acha que vai ser diferente, e que será aquela pessoa que vai conseguir se controlar. A gente nunca sabe quem vai ser o sorteado. Mas o tempo passa e nada, você é apenas mais um drogado que não come, não dorme, e que vaga pela cidade igual um zumbi, atrás de mais uma dose da maldita. Então que diferença faz ser viciado em cocaína, sexo, ou em qualquer outra droga? Se o processo é sempre o mesmo. O meu psiquiatra diz, o quê é a ansiedade sem a depressão? E qualquer vício sempre vem acompanhado destas duas. Quando percebo que estou duro de novo. E que não fui a praia e que fiquei um dia todo num quarto escuro com um livro na mão, eu percebo que não posso mais frequentar shoppings ou livrarias, e que tenho que manter a distância de sebos e feiras. As minhas costas estão fodidas de tanto ficar sentado escrevendo. Bom, pelo menos, isso é melhor que bebida, não dá ressaca, e quem sabe algum dia eu ganhe alguma coisa.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sexo!

Eu espero a minha mina na estação. E vejo um grupo de adolescentes. Eles parecem ser de uma igreja dessas. E se revezam na hora de abordar os passageiros. Eu acompanho a cara e o sofrimento de cada um dos “escolhidos”. Sofro junto com eles, que estão vestidos de adultos “almofadinhas”. Três meninos e três meninas, que provavelmente devem ter algo melhor para fazer, do que ficar importunando as pessoas, com aquele papo de que deus vai resolver os problemas que a gente criou. Eu começo a acompanhar os seus gestos e movimentos, e penso que há algo errado no paraíso, como dizem os Paralamas do Sucesso. E pergunto a minha mina, por que eles não estão em outro lugar namorando, ou fazendo coisas que “adolescentes normais” fazem?  Ela me responde: obviamente os pais deles não deixam. E provavelmente eles vão se casar muito cedo por causa disso. Eles têm duas opções, ou ficam com os “irmãos” da igreja, ou ficam com os “irmãos” da igreja. Eu pergunto a ela: por quê? Ela me diz: sei lá, cara! Aí é querer saber demais...

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Drive, ou Taxi Driver?

Aquele escritor idiota vai na tevê dizer que é uma cidade turística linda. O taxista me diz: esse lixo está por todo lado. Alguém tem que limpar essa cidade. Esses putos infestam as ruas. Os putos são os travestis que fazem ponto de ponta a ponta na orla de uma das praias mais famosas do país. Não vejo travestis no meio da rua durante o dia. A barra deve ser pesada para eles aqui. Eu penso no quanto a maioria deles são machistas. Preconceituosos. Bebem demais. Enfiam a porrada nas mulheres. Só lavam a sua honra com sangue. Devem estar em primeiro lugar na estatística do crime passional. Também devem comer travestis. Alguém deve comer esses travestis. Senão eles não estariam ali. Estrangeiros. A cidade está cheia deles. Quando você para numa fila para fazer um jogo de loteria, consegue ouvir os seus sotaques. Eles são donos de restaurantes, de lojas, são donos de quase tudo. Provavelmente não vão para outra cidade aonde as coisas sejam mais difíceis, e as mulheres mais espertas. Por falar em mulheres espertas, volta e meia, uma delas consegue se casar com um deles. Basta adentrar um cibercafé para ouvir uma delas falando em outro idioma. Eu ouço uma mulher falando sobre o quarto onde eu vou ficar hospedado. Ela me diz: você vai ter que pagar uma taxa se perder a chave do apartamento. Homem não pode circular sem camisa pelos corredores. E me vem a cena na cabeça. Um homem branco, 50 anos, quase vermelho, parece um camarão queimado de praia. Eu já vi essa cena de madrugada. Mas ela se repete durante o dia. Ele abre o portão para duas meninas ainda adolescentes. Se tiverem quinze anos completos, cada uma, é muito. Ele vai até a cabine do porteiro que abre o enorme portão de ferro. Na tevê diz que nesta cidade, o que as câmeras de segurança mais flagram depois do uso de entorpecentes, é o atendado violento ao pudor. Eu desligo a tevê. A minha cabeça está doendo. Engulo um comprimido de Melhoral junto do meu antidepressivo. E desmaio.

terça-feira, 31 de julho de 2012

Se Não Bebe, Usa Droga!

O moleque tem 16 anos. Toca guitarra pra cacete. Ele pensa que o Nirvana foi a última coisa boa da música pop. Nem sabe que a Amy Winehouse lançou um disco foda depois que o Kurt Cobain se matou. Ele se acha a última bolacha do pacote com aquela camisa do Ramones. O moleque não gosta de beber pois sente dor de cabeça. Ele deu um tapinha num baseado uma vez, mas não sentiu nada. Odeia o cheiro do cigarro. Nem quer sonhar com outras drogas. A namorada dele, não. Essa adora uma erva. Ele é obrigado a ficar se cagando esperando por ela em frente a boca de fumo. Ela com aquela camisa do Sex Pistols. Ela nem sabe que existem os Strokes e os Monkeys. Ela pensa que o Sex é melhor do que os Beatles. Só porque eles eram punks e os Beatles não. Quando ela apresenta o moleque a sua mãe, ele se esforça para dar um boa tarde senhora. A mãe dela responde com um mugido. Ou será um rugido. Melhor. Ela faz um barulho estranho com a boca. O moleque diz a menina. A sua mãe não falou comigo direito. Ela diz. Deixa isso pra lá, ela é assim com todo mundo. Quando o casal sai. A mãe da menina diz para o pai que está com a cara enfiada no jornal. Esse aí, se não bebe, usa droga!

terça-feira, 24 de julho de 2012

Troque Seu Cachorro Por Uma Criança Pobre

Agora essa moda de cão com sapatinho no colo chegou ao subúrbio. Antes isso era coisa de “fresco”. De madame da Zona-Sul. De “bicha”. De senhoritas de Manhattan que trabalham em revista de moda. Deixa o bicho andar. O bicho sabe se virar sozinho. Se você não o tivesse “adotado”, provavelmente ele ia conseguir se virar. Diferente de uma criança. Tem gente quem ama o bicho. Mas não tem amizade com um vizinho. Não se entende com o filho. E vem dar discurso a favor do animal. E dizer que é a favor da natureza. Todo dia morre criança assassinada. Tem uma porção de criança na fila de adoção. Faz igual ao Eduardo Dusek, troque seu cachorro por uma criança pobre.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Marquise

A marquise fica numa esquina próxima a minha casa. Antes ali funcionava um bar onde um daqueles senhores portugueses que te olham por cima dos óculos ficava sentado o dia inteiro. Ele olhava as pessoas paradas no ponto do outro lado da rua. Esse era o seu passatempo. Analisar as pessoas. E talvez ele reparasse nas suas roupas ou para onde elas iam. E talvez ele traçasse até um perfil psicológico delas. Antes do bar fechar as portas, e esse senhor botar a viola dele no saco, os adolescentes ficavam ali parados a noite. Fumando maconha e fugindo do frio. Quem sabe até espantando alguém que quisesse se recolher da chuva. Ficavam ali e pareciam fazer questão que todo mundo visse que estavam fumando maconha. Eu passei a nutrir uma simpatia silenciosa por eles. Pois me lembram de uma adolescência longínqua. Andam dizendo que estão roubando. E se isso for verdade, daqui a pouco vão aparecer mortos. E será uma pena saber que eram apenas crianças que pularam a infância, e estavam brincando de herói. Como dizem os sociólogos em jornais de hora do almoço. Mas logo após o bar fechar e os adolescentes darem uma sumida. É impressionante, como rapidamente apareceram uns mendigos para se acolher. Como se na cidade não houvesse nenhum lugar vago. E muita gente precisasse apenas de um pedaço de concreto para se ficar embaixo.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A Lista de Promessas Que Um Homem Faz A Si Mesmo

O menino passou todo ensino básico olhando para aquela menina. Que devia se chamar Maria Clara ou Clarice. Algum nome desses que os ricos põem em seus filhos. O menino devia se chamar Zé ou Beto, uma dessas corruptelas que os pobres ganham junto dos seus nomes. A menina era branca de feições finas e narizinho arrebitado. Mas não era metida. Ela exibia uma cabeleira vermelha encaracolada. O menino era preto da cor da borracha do meu tênis. Mas por essa época ele ainda não sabia nada sobre racismo. Então isso não era nada que impedisse uma aproximação. Ele pressentia ser diferente. Mas não pela cor. Talvez por ter ganhado uma bolsa para estudar, e a sua mãe ser uma das faxineiras da escola. Todos os dias ele voltava para casa sozinho. Enquanto a sua mãe ficava varrendo a escola, a mãe da menina ia buscá-la. Todos os dias. A menina tirava as melhores notas. O menino era um aluno medíocre. Estava sempre a espreita da menina pelos corredores. Ela sempre retribuía o olhar. Ele sentia isso como uma forma de caridade. Aquele olhar era complacente. De santa. Como quem diz. Eu sei que você olha pra mim. Em nenhum momento ela era indiferente aquele olhar, ou tentava evitá-lo. O menino passou todo o ensino básico assim. Na esperança de que um dia ela retribuísse aquele olhar com alguma palavra. Terminou a escola. Nunca mais eles se viram. Até que um dia. Num supermercado. Os dois já bem crescidinhos. Se esbarraram. A menina disse "oi" para o menino. E escandalosamente pronunciou seu nome. Foi só isso. Depois ela se afastou com o carrinho. Mas era como se tivesse selado o segredo dos dois. Ele ficou feliz. Mas também arrependido de não ter tentado nada na época. E agora prometia a si mesmo nunca mais deixar de tentar. Mas aí ele já era um homem. E essa promessa entrou na lista de promessas que um homem faz a si mesmo. E que nem sempre cumpre.