Aquele escritor idiota vai na tevê dizer que é uma cidade turística linda. O taxista me diz: esse lixo está por todo lado. Alguém tem que limpar essa cidade. Esses putos infestam as ruas. Os putos são os travestis que fazem ponto de ponta a ponta na orla de uma das praias mais famosas do país. Não vejo travestis no meio da rua durante o dia. A barra deve ser pesada para eles aqui. Eu penso no quanto a maioria deles são machistas. Preconceituosos. Bebem demais. Enfiam a porrada nas mulheres. Só lavam a sua honra com sangue. Devem estar em primeiro lugar na estatística do crime passional. Também devem comer travestis. Alguém deve comer esses travestis. Senão eles não estariam ali. Estrangeiros. A cidade está cheia deles. Quando você para numa fila para fazer um jogo de loteria, consegue ouvir os seus sotaques. Eles são donos de restaurantes, de lojas, são donos de quase tudo. Provavelmente não vão para outra cidade aonde as coisas sejam mais difíceis, e as mulheres mais espertas. Por falar em mulheres espertas, volta e meia, uma delas consegue se casar com um deles. Basta adentrar um cibercafé para ouvir uma delas falando em outro idioma. Eu ouço uma mulher falando sobre o quarto onde eu vou ficar hospedado. Ela me diz: você vai ter que pagar uma taxa se perder a chave do apartamento. Homem não pode circular sem camisa pelos corredores. E me vem a cena na cabeça. Um homem branco, 50 anos, quase vermelho, parece um camarão queimado de praia. Eu já vi essa cena de madrugada. Mas ela se repete durante o dia. Ele abre o portão para duas meninas ainda adolescentes. Se tiverem quinze anos completos, cada uma, é muito. Ele vai até a cabine do porteiro que abre o enorme portão de ferro. Na tevê diz que nesta cidade, o que as câmeras de segurança mais flagram depois do uso de entorpecentes, é o atendado violento ao pudor. Eu desligo a tevê. A minha cabeça está doendo. Engulo um comprimido de Melhoral junto do meu antidepressivo. E desmaio.
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