É difícil manter o equilíbrio com sensatez no fogo cruzado de um mundo divido. Mas, é mais fácil lidar com a extrema-direita. Você sabe quem é o inimigo. Ela diz logo que não gosta de você por ser negro, estrangeiro, gay, ou ateu. E se der as costas para ela, eles te dão um tiro. Já a extrema-esquerda desmerece o seu trabalho, feitos, cria teses, faz com que perca seu emprego, põem na sua conta preconceitos que não são seus, e inventa teorias simplesmente porque não consegue admitir que não aceita o pensamento diferente. As pessoas saudáveis podem atingir o feito de não serem vítimas da lavagem cerebral, mas, do fanatismo, ninguém, por mais são que seja, irá conseguir fugir.
domingo, 20 de março de 2022
Hater
Quem entra na postagem alheia para falar sobre o que não gosta, é mal-educado, inconveniente, ou hater. As regras de etiqueta continuam valendo. Antigamente ninguém podia invadir a casa do outro para dizer que não gostava disso ou daquilo. Eu tenho o meu perfil, blog, músicas, letras, filmes, trabalhos acadêmicos, e os ouvidos da minha esposa que são espaços propícios para isso. Se preciso debater ideias existe uma biblioteca gigantesca na cidade em que moro onde estão os grandes pensadores da humanidade, além do YouTube e do Google. Não vou discutir com o Zé-das-Couves mesmo que ele estude ou dê aulas em Harvard. Não vou desperdiçar o meu tempo, quando tenho os grandes sábios da humanidade ao dispor. Meu Facebook tem 500 amigos, conheço todos pessoalmente com exceção dos que me adicionaram e temos amigos em comum. Pessoas com menos quilometragem que eu têm milhares de amigos. Não tenho para não me aborrecer. Primeiro eu, depois o meu trabalho. Metade das pessoas pararam de falar comigo por causa das minhas opiniões públicas que são de alguém que pensa e escreve. Principalmente no tocante à política brasileira onde a minha metralhadora precisa ser giratória. Não vou tratar uma pessoa mal por causa da cor da camiseta que veste. Eu vivo em sociedade independente das minhas convicções. E se fui indelicado com elas no âmbito pessoal, sim, sou humano. Mas penso, reconheço as minhas vacilações, e tenho tentado baixar a bola. Aos poucos, com o passar dos anos, começo a saborear com mais intensidade os pedidos de perdão. Embora não tenha inclinação para santo, e tem gente que merece levar coice mesmo. Não lembro de ter invadido postagens de ninguém para discordar. Caso tenha acontecido, peço desculpas. Pessoalmente não gosto de discutir as minhas ideias. Acho chato. As pessoas é que pedem que opine e normalmente não querem ouvir. Da próxima vez farei como fiz agora com este sensaborão, vou respirar, excluir o comentário, e o perfil do hater.
Ansiedade
Jogo no time da ansiedade e tenho estado ansioso não por causa das minhas obrigações, que estão controladas; e sim do que desejo fazer, o que deveria ser menos mal. Comecei a sentir tonturas. Ontem decidi ir à emergência. Das duas vezes em que fiquei internado em minha vida, havia pensado, vai passar. Não passou. A doutora disse que entrei no consultório dando piruetas e isso não condizia com o estado de saúde relatado. Argumentei. Fiz exames. Tudo Ok. Fiquei envergonhado. Gastei o dinheiro de todos nós, o povo; e o tempo das pessoas que precisam cuidar de quem está realmente adoentado. Uma vez eu morri e ressuscitei a caminho do Getúlio Vargas. Depois que entrei na poética "Enfermaria dos Homens", e vi um cenário de hospital de campanha igual da Segunda Guerra Mundial, bebi uma latinha de Coca-Cola, e passou. Voltei para casa. Hoje vou fazer o que deve ser feito, ou seja: nada.
sábado, 19 de março de 2022
Nietzsche
Nietzsche foi um autor de escrita instigante e inteligentemente debochado com uma vida picaresca transformada em epopeia no momento de seu enlouquecimento em que começa a conversar com os cavalos no meio da rua e a assinar as suas cartas endereçadas aos amigos como Dionísio. Sofreu muito por causa de sua saúde, mas utilizou este sofrimento para desenvolver parte de sua filosofia. Entre os seus conceitos está a utilização do amor ao destino, seja ele qual for. E a lei do eterno retorno, aceitar é melhor do que passar a vida toda lutando contra algo que terá de ser enfrentado constantemente. É notório e pouco entendido o seu questionamento da religião. Está na prateleira dos pessimistas, mas essa nomenclatura pega mal, pois eles não dizem mentiras e sim verdades que machucam. Por isso eu prefiro chamá-los de realistas. Quem deu a Nietzsche o rótulo de difícil e mau-humorado foram os patetas de pernas cruzadas e discursos sonolentos a criarem dificuldades para venderem facilidades e valorizarem o produto nos meios intelectuais. Não é inacessível a leitores medianos com exceção de um ou outro texto. Se o leitor comum soubesse disso lucrarira com a filosofia nietzscheana. Mas como sempre os sabichões se apoderam dos defuntos talentosos e ganham dinheiro com eles como aconteceu a Kafka, Van-Gogh, e tantos outros. Com os vivos eles fazem o mesmo que fizeram a Sócrates por inveja da sapiência alheia enquanto vivem de citarem os mortos nos quais jogariam pedras se voltassem à vida.
Cidade mal-amada
sexta-feira, 18 de março de 2022
Teddy Postiglione
Eu me chamo Teddy Postiglione. O meu sobrenome é italiano assim como a minha jaqueta de couro e o meu bigode. Lá vou eu para mais uma cena de crime. Depois de meia noite não acontece nada de bom nesta cidade. Mais um chamado outra ocorrência. Uma típica briga de bar. Tudo estava bem, todo mundo se divertindo, até que as coisas deram errado. Começa com cadeiras e garrafas voando e termina assim, um John Doe ensanguentado no concreto. Todas as portas são batidas na minha cara. Eu sou o portador das más notícias. "Não falo com a polícia.", é só o que eles sabem repetir. Eles confundem a mensagem com o mensageiro. Provavelmente quem ligou para a delegacia está escondido atrás de uma dessas cortinas com medo de passar por dedo-duro. Os povo não entende que eu apenas faço o trabalho sujo para que o presidente da república e outros tipos possam dormir em paz com as suas modelos. Na vizinhança logo que a viatura vira a esquina todo mundo fica cego, surdo, e mudo. A maior parte dos meus amigos mete uma bala na própria fuça, é encostado com estresse pós-traumático, ou alvejado num beco por um garoto de 15 anos. Mas eu não vou desistir agora que cheguei tão longe. A minha aposentadoria está próxima e tenho contado os segundos. Eu irei abraçar a minha mulher e cair fora daqui. Vamos morar em frente à praia, pescar, comer peixe-frito, e beber cerveja todos os dias. Os meus filhos e netos se quiserem que fiquem neste hospício. Enquanto a reforma não chega eu vejo a perita comendo uma coxinha e olhando para o corpo no chão. "O que aconteceu?" Ela se vira de boca cheia e diz: "O trivial. O rapaz mexeu com a mulher do outro, e deu nisso..." Eu concluo: "A noite será longa..."
Pobres Diabos
Após pedir um cigarro ele disse: "Neste calor bate maior neurose!" Este é mais um daqueles pobres diabos que ao retornarem da guerra ou da colônia penal ficam dando voltas no quarteirão. Eles violam a lei do silêncio, quebram a liberdade condicional e são arrastados aos órgãos competentes por perturbação da ordem pública, atentado violento ao pudor, excesso de embriaguez, posse de substâncias ilícitas, e principalmente por desacato às autoridades; pois respondem às vozes de prisão com palavras de baixo-calão e ironias. Imobilizados têm as suas caras viradas no asfalto para serem algemados. Dessa vez são enviados ao manicômio judiciário onde passam por um processo de reabilitação. Comem três refeições diárias. Tomam banho. Recebem uma muda de roupas limpas. As suas cabeças são raspadas. Levam choques e mata--leão. Conversam com os assistentes sociais. Reinseridos de volta à sociedade passam os dias nas esquinas pedindo moedas de baixo valor. À noite ainda mais agitados voltam a perturbar a vizinhança trabalhadora que não consegue dormir e presta queixas de suas gargalhadas felizes. E o mesmo ciclo tem reinício.