segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Tédio Pandêmico

O tédio é uma invenção da multiplicidade de opções do século XX. Muitos velhos piraram com o confinamento por não entenderem que um novo problema existencial fora posto. Eu conheço um escritor que sempre viveu em casas cheias, nunca teve um quarto, videogames, ou televisões exclusivas como os playboys; mas, desde criança ele inventava os seus próprios brinquedos ou ia às bibliotecas escolar e pública, pegava um livro ensebado, baixava a tampa do vaso, e sentava para ler longe do alvoroço do ambiente familiar. Perguntei a ele: “O quê você ganhou com isso?” Ele respondeu: “Nada. Não fiquei rico nem comi ninguém por esse motivo. Mas uma vida tediosa, eu nunca conheci!” Antes da pandemia ele fugiu do Brasil. No seu início foi à bancarrota. Eu disse a ele: “Para você foi fácil. Você fugiu.” Ele me desdisse: “E quantos têm a oportunidade e não o fazem, pois preferem ficar em suas celas roendo osso?” É a indagação que eu me faço todos os dias.

Neurótico em recuperação

Boa noite. Eu sou um neurótico em recuperação, e também faço parte desta irmandade. Preciso controlar a minha raiva. Já botei pra fora todos os capetas e demônios que habitavam o meu corpo, frequentei sessões de descarrego, passei um tempo agradável num SPA psiquiátrico, e outro numa pousada de reabilitação. Eu me confessei, meditei, fiz análise, e tomei remédios. Todo mundo disse: "Depois, você vai ficar melhor..." Mentira deslavada! Não fica! Você piora quando lhe tiram os seus brinquedinhos. Tire o doce da boca de uma criança e você vai ver a face da besta! Olhei no espelho e estava nu. Não foi bonito o que vi.  Estávamos eu, a culpa, a mágoa, e o ressentimento. Espelho é lugar onde filho chora e mãe não vê. Travesseiro é testemunha ocular. Pro inferno tudo isso! Vinte quatro horas de paz e serenidade para todos.

Cuidados, médicos!

Caso você não seja médico, e precise usar a roupa branca por algum motivo, tenha cuidado para não ser confundido com um médico. Pois a maior parte da população brasileira está com um ódio mortal dos médicos. Puseram na cabeça que são os médicos que transmitem a doença e não o vírus. Agora se você é médico, não deixe que ninguém saiba onde mora. Ande à paisana e não comente sobre a sua profissão. Esqueça o orgulho de ser doutor. Não importa se é um geriatra ou pediatra, você é médico, e está a serviço dos chineses e dos laboratórios que desejam inserir um chip nos pobres para matá-los de fome, roubar o seu dinheiro e acabar com o Carnaval. Mas a melhor maneira de se prevenir dos linchamentos e das excussões públicas ainda é mudando de profissão.

O Máquina de Escrever

O seu hobby é um tanto exótico... Ninguém lê mais nem as tirinhas do Planeta Diário! Exibe o peitoral, nele está contido o seu histórico de atleta! Quem sabe a Penthouse te convida para fazer umas fotos com o Jair Bolsonaro? Prefiro escrever, digo. Pois eu sou tímido e espalhafatoso, igual o Caetano. Espero não incomodar. Não incomoda,  não. Só é estranho. Você acredita que eu paro no meio da rua para escrever bobagens como esta? Eu sou o máquina de escrever...

domingo, 16 de janeiro de 2022

O mocinho morre no final

Começo imprevisível, final inexequível.

Para aquele que fica, o roteiro aqui é crível.

Não há nada de novo, nada de diferente.

Apenas um corpo a mais, caído em meio a toda gente.

O ouro e a prata, viram o cobre e a lata.

E o cão de raça, um famoso vira-lata.

Ontem o piloto de fuga, com o carro mais possante.

Hoje é só um meliante, autuado em flagrante.


Na estória onde o mocinho, morre, morre, no final.

Não há glamour nenhum, em ser capa de jornal.

No twist, no clímax, existe uma grade.

Um sonho de liberdade, um choro de saudade.


E o que fica, como uma herança.

Esse pranto de mãe, esse choro de criança.

Muda o artista, muda o roteirista.

O retrato é o mesmo, mudem o ponto de vista.

Só não é possível, mudar o cenário.

Sempre tem um mercenário, sonhando ser um milionário.


Na estória onde o mocinho, morre, morre, no final.

Não há glamour nenhum, em ser capa de jornal.

No twist, no clímax, existe uma grade.

Um sonho de liberdade, um choro de saudade.

Molly e Musa

 Molly saiu sábado à noite à procura de fazer amorzinho gostoso. Na festa conheceu Musa, uma linda travesti, feminina, e gostosinha. Elas fizeram amorzinho gostoso, e Molly ficou apaixonada.

Molly queria uma parceira, libidinosa, mas que fosse fiel a ela. Musa desejava alguém gentil e romântico. Molly ligou e mandou flores.

Elas faziam amorzinho gostoso todos os dias; na cama, no banheiro, o que deixou Molly apaixonada. De joelhos ela pediu Musa em casamento.

Passada a lua de mel, Musa descobriu que Molly soltava gases, roncava e urinava no assento sanitário. Além de sentir-se excitada por uma garçonete. 

Molly, por sua vez, descobriu que Musa não tinha tanta libido como parecia, e que agora vivia indisposta, com dor de cabeça, e nem sempre gostava de festas.

Elas se separaram, casaram muitas vezes, e ainda estão em busca da pessoa ideal.

sábado, 15 de janeiro de 2022

Enfim, a consagração

Acreditem nos seus sonhos... Você conhece a MC Bandida? E o MC Delano? Ela é uma homenagem à personagem do seu livro e ele às suas músicas. Era o Cachorrão que me ligava às dez horas da manhã direto de um baile funk. Corri para a internet e quando vi quem eles eram saí pulando pela casa. Já comecei a imaginar a MC Bandida entrando numa livraria comprando um exemplar do Todo Mundo é Jhow! para presentear à Anitta, e o MC Delano numa roda trocando uma ideia com a rapaziada e dizendo: "Eu estou ouvindo um MC das antigas. O nome dele é Delano." Eu imagino a minha chegada ao Galeão com os funkeiros exibindo o meu livro e pedindo autógrafos e o meus sons rolando ao fundo nos carros... enfim, a consagração.