quarta-feira, 13 de maio de 2020

O Som do Universo…

O som do silêncio é a música do universo.

A canção que sibila todo dia no deserto.

O som ao redor,

a marcha em ré maior,

da lama ao caos,

do barro ao pó.

Nem Grand Canyon,

nem John Lennon.

Imagine no falsete...

no breque.

O som do silêncio é a música das esferas.

É a palavra staccato.

No vibrato.

A música do universo um dia faz cantar,

e no outro silenciar.

A música do universo é o som dentro do som.

A música do Big Bang,

do poder da criação.

A música tocada em conjunto ou em solo.

O eco da acústica em ambiente sonoro.

O som do silêncio é a música do universo.

A música das esferas acompanha,

e sublinha o verso.

A palavra que ecoa,

quando o sino soa.

Quem joga fora uma palavra má,

absorve uma palavra boa.

Precisa ser cantada.

Roupagem a ser reeditada.

Versão regravada.

Não comercializada.

Não precisa ser tudo.

Não tem de ser nada!

terça-feira, 12 de maio de 2020

Tartamudear...

Estou mancomunado com você
Mancomunado com você
Nesse teu jeitinho de ser
Nesse teu tartamudear

Estou equânime com você
Equânime com você
Nesse teu jeitinho de ser
Nesse teu tartamudear

A palavra a gente fala
A pessoa a gente come
Palavra que não conhece
Pessoa que não tem nome

Estou sorumbático com você
Sorumbático com você
Nesse teu jeitinho de ser
Nesse teu tartamudear

Estou concomitante com você
Concomitante com você
Nesse teu jeitinho de ser
Nesse teu tartamudear

A palavra a gente fala
A pessoa a gente come
Palavra que não conhece
Pessoa que não tem nome

segunda-feira, 11 de maio de 2020

Pós-Pandemia!

Você conseguiu levar a quarentena bem?  No começo não… Mas depois eu me acostumei. Acho que este tempo trancada em casa me fez pensar sobre algumas coisas. Que tipo de coisas? Eu tinha tanta pressa para tudo, e de repente veio algo que envolveu todo o mundo, e me mostrou que a minha pressa e desespero não faziam sentido.
Eu também estava tão preocupado… Eu nunca fiquei em casa tanto tempo. Eu li mais, assisti mais filmes e fiz mais exercícios na escada do que na academia. O mundo podia ser assim, menos violência, poluição e acidentes. Temos de ter a semana de isolamento social todo ano! Isso, parar e fazer um balanço! Concordo. E quando vamos nos ver? O mais rápido possível. Agora você vai ter tempo? Agora eu vou ter tempo. Não quero mais perdê-lo. Eu tive tempo suficiente para pensar! Ufa!

Dois Ouvidos e Uma Paixão...

Eu vou Como Uma Onda
Com as Águas de Março,
Com as Cordas de Aço
Com os Nervos de Aço
No Estácio, Holly Estácio
Sentado À Beira do Caminho
Eu sou um Homem na Estrada
O Quê Será Que Será?
Eu vou num Táxi Lunar
Para Um Bom Lugar

Eu tenho dois olhos
E um só coração
Para dois ouvidos
E uma paixão

Na Lanterna dos Afogados
Eu sou o Maior Abandonado
Do Faroeste Caboclo
Desse meu Ouro de Tolo
Eu sou Asa Branca
Dentro dessa Construção
Desse teu Papel de Pão
Desse Luar do Sertão
Dessa Anunciação

Eu dois olhos 
E um só coração
Para dois ouvidos
E uma paixão

Ela Vai Chegar Agora…

Ela vive no mundo do centro da cidade.
Ela é a minha visão da Avenida Rio Branco.
Deve ter 50 anos, ou mais, quem sabe.
Penso nisto parado na fila do banco.

Ela é discreta com uma postura ereta.
Desfila segura em cima de um salto.
Eu sei a hora que ela vem almoçar,
O coração avisa num sobressalto.

Não sei se vem a pé,
se vem de carro,
ou de metrô.
Sei, foi ela quem me encontrou.
Não sei se é secretária,
executiva, ou funcionária,
ela ainda não me contou.

Um dia desses uma sessão no Odeon.
Depois do filme um chopp no Amarelinho.
Ou quem sabe à noite ir à praia no Leblon.
Foi ela quem parou no meio caminho.

Ouça Sete de Setembro e Rua do Ouvidor.
Não sei de onde ela vem ou onde mora.
Cada segundo é uma imensa demora.
Está na hora ela desceu do táxi agora.

Não sei se vem a pé,
se vem de carro,
ou de metrô.
Sei, foi ela quem me encontrou.
Não sei se é secretária,
executiva, ou funcionária,
ela ainda não me contou.

sábado, 9 de maio de 2020

Argentina...

Os teus olhos verdes na vitrine
Os meus olhos vermelhos em você
Os frascos de vidro na prateleira
Frágeis, talhadas em madeira

Os perfumes são tão caros
E os amores são tão raros
Assim como os santos de capela
E os atores de fotonovela

Mas se toda menina argentina
Fosse latina, assim, como você
Veria que o mundo é o mundo
E que nós temos sido tudo o que se pode ser

Àquela atriz da capa da revista
A essência que arde na minha vista
No teu jeito já sem jeito
Com a minha visita

No teu anel de prata
No meu brinco de ouro
No leão da quinta casa
Do teu ascendente em touro

Mas se toda menina argentina
Fosse Latina, assim, como você
Veria que o mundo é o mundo
E que nós temos sido tudo o que se pode ser

As meninas do colégio
Que fica bem em frente, aqui
Elas almejam imitar
O teu jeito de sorrir

Nem os teus pés muito brancos
Nem o meu escuro paletó
Nada me incomoda tanto
Quanto o medo de viver só

Mas se toda menina argentina
Fosse latina assim como você
Veria que o mundo é o mundo
E que nós somos tudo o que se pode ser

Mas esse teu cheiro
Ainda é o que nos une
E não ninguém há no mundo
Que tenha o teu perfume

Que me lembra daquele tempo
Em que o mundo era mais lento
Em que se havia menos sonhos
Porém menos sofrimento

sexta-feira, 8 de maio de 2020

João de Santo Cristo...

Quando a música é boa inspira uma nova crônica.
De João de Santo Cristo de Eduardo e Mônica.
De João de Santo Cristo de Maria Lúcia.
Obrigado a lutar sempre contra àquela súcia.
João de Santo Cristo de Duque de Caxias.
Nascido em meio ao dia a dia da periferia.
Umbigo enterrado na Baixada Fluminense.
Poderia ter crescido onde cresce muita gente.
Onde tem um quintal e um monte de parente.
O futuro não é mais como era antigamente.
João de Santo Cristo é um homem na estrada.
Caminhando por ruas que não foram asfaltadas.
João de Santo Cristo lá do Parque Lafaiete.
Bem antes do celular anterior à internet.
João de Santo Cristo como uma pedra rolante.
João de Santo Cristo gira na roda gigante.
Balão Mágico furado dentro da televisão.
Não morrer pela pátria ou viver sem razão.
Não consegue arrancar uma lágrima do João.
Das lágrimas do João não consta essa não.
João ouviu direto o mesmo disco de vinil.
Que girava, e girava, igual gira o Brasil.
Girava sem parar voltava ao mesmo lugar.
Não parava de cantar a minha pipa está no ar...
João assistiu às diretas, já! do seu país.
Quando o pai voltou pra casa João ficou feliz.
Com poucos anos de idade João foi morar na Penha.
Presenciou o milagre de uma história sem resenha.
João de Santo Cristo que nunca foi instruído.
Hoje em dia é um mambembe um total desconhecido.
Da Periferia João foi para o subúrbio.
Cem léguas, duzentas jardas, João corria sem estudo.
João de Santo Cristo poderia ter morrido. 
Teve amigo e primo seu que também virou bandido.
João de Santo Cristo conheceu a Vila Mimosa.
João de Santo Cristo frequentou o Bar da Rosa.
João de Santo Cristo que vivia no Mangue.
Assim como Bob Marley também foi um tuff gong.
Caminhando e cantando e seguindo a canção…
Trovador solitário João e o seu violão.
João vai sem lenço e sem documento.
E sabe como é bom poder tocar um instrumento.
Obrigado aos artistas que serviram de inspiração.
Duvido que você... conheça alguma citação?
Um pinguinho de tinta num pedacinho azul do papel.
João, a viola, e Deus, saiu como um menestrel.