domingo, 26 de abril de 2020

A Curva Achatada...

A Curva Achatada será uma curta metragem documental de Delano Valentim, com duração de 5 minutos, retratando o dia a dia do artista durante à pandemia. O filme irá mostrar a atitude do personagem perante a quarentena. É a segunda curta de uma sequência de três filmes; que foi iniciada com Quarentena 369, e será finalizada com um último capítulo composto de imagens de arquivos.
A curta mostra o artista a trabalhar. Ele escreve, e compõe canções. Alguns desses textos serão publicados em seu blog homônimo. Assim como algumas das músicas que virão a ser lançadas em seu canal no YouTube. Parte do material o artista irá enviar para festivais e concursos de música e literatura. A Curva Achatada também exibe imagens inéditas de um futuro videoclipe.
O diretor apropria-se da metalinguagem e pensa a própria produção da curta que é exibida. Com imagens de si próprio com a câmera. Além da inclusão de sons que surgem da realidade, como as marteladas e barulhos de uma obra na casa vizinha, que serão inseridos na composição do filme, dando muitas vezes o ritmo dos cortes.
Toda a ação será composta por uma estrutura não linear, sem narração, mas que deixa evidente às intenções da obra. Não serão feitas entrevistas nem haverá um narrador. A curta irá privilegiar às imagens para contar a história e apresentar o personagem. Uma imagem que junto de outra compõe um terceiro sentido. Como no experimento do cineasta russo Lev Kuleshov.
Algumas cenas sobre o momento histórico em que estamos vivendo serão apresentadas; como a reação do artista perante às notícias, e mesmo a arte que é produzida a partir delas, presenteando à audiência com os meandros da inspiração. Assim como serão mostradas algumas influências literárias, cinematográficas e musicais; através de livros, fotografias e camisas. O diretor opta esteticamente pelo preto e branco com um filtro clássico que dialoga com antigas vanguardas cinematográficas e seus trabalhos quase artesanais.
A curta acontece no espaço confinado da casa de Delano Valentim. A obra frisa o momento atual de uma pessoa confinada, ao mostrar o dia a dia do funcionamento da casa, e certos cuidados necessários durante o período. Além de ser um filme sobre como uma pessoa reage ao confinamento, ele apresenta um artista inquieto em sua ebulição durante o seu processo criativo.
https://www.youtube.com/watch?v=9F5peLXblD0

O Lençol Molhado na Cama Molhada...

Você me disse isso
E eu te dei aquilo
Mas não é nada disso
Eu estou tranquilo

Me disse que não
Depois disse que sim
E eu caí no chão
Quando chegou no fim

No quarto de despejo
Por falta de aluguel
Quem nega o desejo
Furta a cor do céu

De um ponto final
Eu disse uma vírgula
Não me leve a mal
Eu estou tranquila

Depois do cigarro
Depois da bebida
Para o que era nada
Você ficou caída

A gente sonha um pouco
Passa uma noite inteira
Depois fica louco
Chega segunda feira

Dá um beijo na boca
Digo que é cedo
Quem coloca a roupa
Diz que não com o dedo

E volta para a rotina
Volta para o trabalho
Quem ficou por cima
Agora escangalho

Você me implora
Você me chama
Eu vejo a hora
Pulo da cama

Um chá de boldo
Na ressaca do amor
Percebi muito tarde
A segunda chegou

Mas fiquei suado
Você suada
O lençol molhado
Na cama molhada

A gente sonha um pouco
Passa uma noite inteira
Depois fica louco
Chega segunda feira

sábado, 25 de abril de 2020

O Alemão Ficou Pinel...

A mina deu um ataque num alemão
E foi tipo Colômbia ou tipo Afeganistão
Ele estava montado e ela estava a pé
A coisa inverteu picou mula de marcha ré
Aquela que não tinha onde cair morta
Está com os malotes, está cheia da nota
O gringo falou com o advogado
Que disse que não era para ele ter assinado

Pousada e cocktail
Praia e motel
A mina ficou montada
E o alemão ficou pinel

A mina deu um ataque soviético
Foi cartão clonado, cartão de crédito
Para quem vivia regulando mixaria
Parece até que ela ganhou na loteria
Tem maluco que fala que ela teve sorte
Eu não falo nada pois sei que foi golpe
Vestido caro feito por estilista
Coluna social e capa de revista

Pousada e cocktail
Praia e motel
A mina ficou montada
E o alemão ficou pinel

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Como Qualquer Outro Moleque da Minha Rua...

Eu era apenas um moleque sentado numa calçada
Eu era apenas um moleque sentado naquele meio-fio
Como qualquer outro moleque da minha rua
Que tomava banho e que pegava girino no rio

Eu era apenas um moleque que jogava pique-lata
Eu era apenas um moleque que gostava de jogar futebol
Como qualquer outro moleque da minha rua
E que se cortava com a linha de cerol

Mas isto foi antes da moda e da roupa
E de chegar em casa já de manhã
Da música tosca e do beijo na boca
E ter entredentes a pastilha de hortelã

Eu era apenas um moleque achava tudo normal
Eu era apenas um moleque domingo ia à praça
Como qualquer outro moleque da minha rua
Que jogava pelada e quebrava vidraça

Eu era apenas um moleque cheio de figurinhas
Eu era apenas um moleque de inteligência razoável
Como qualquer outro moleque na corrida de chapinha
E que detestava a dita cuja tal comida saudável 

Mas isto foi antes da moda e da roupa
E de chegar em casa já de manhã
Da música tosca  e do beijo na boca
E ter entredentes uma pastilha de hortelã

quinta-feira, 23 de abril de 2020

O Primeiro Livro...

naquele dia eu tinha ido à escola. não lembro se a professora havia pedido para comprar o livro. a "tia" como se dizia naquela época. não sei se foi a tia Cristina ou a tia Nelli, e também não me lembro se nós tivemos que comprar ou se a professora deu o tal livro. mas a questão era que embora minha vida escolar tenha sido um desastre. mais por culpa da escola. eu tinha insônia naquela época. depois que a mãe do último moleque o colocava para dentro, eu entrava. era sempre o último a entrar. eu morava na casa da minha avó. não era neto criado por avó. entrava e comia um pão ou dois que o meu tio que trabalhava na padaria trazia. tomava um café e ia dormir. naquela época havia a extinta TV Manchete que encerrava suas transmissões dia de semana com filmes nacionais. películas maravilhosas que são de uma época em que o cinema nacional não tinha dinheiro. antes disso havia o Documento Verdade, documentários que mostravam a realidade, e que eram impróprios para uma criança da minha idade. Assim como os filmes. mas graças a Deus a minha avó já estava dormindo. eu assistia às atrizes das novelas nuas, os galãs xingando palavrão. aassisti Pixote, Macunaíma, Barra Pesada, Beijo na Boca, Lúcio Flávio O Passageiro da Agonia, Rio Babilônia e etc. só para citar alguns. no fim da programação diária entrava o sinal sonoro. blábláblá estamos encerrando nossas transmissões. o início era com hino nacional. eu sou da época em que entrava aquele cartaz da censura da ditadura, camarada. Foi numa noite dessas, que eu não conseguia dormir, e que eu li um livro durante à madrugada inteira. Nunca mais a minha insônia teve o mesmo impacto. Nunca mais a minha vida foi a mesma. Como dizem.

Não Lavar a Calçada...

Não lavar a calçada
Não lavar a varanda
Não lavar o carro
Pois mesmo sujo ele anda
Pior do que morrer de sede
É de sede ter de morrer
Tem calçada encharcada
E tem a cara lavada
Onde não tem cultura
Ninguém tem nada
Quando é o ponto final
O último pingo faz falta
A última gota derramada
É menos um copo d’água
E não vai ter cerveja
Para você esquecer
Igual Luiz Gonzaga
Tem de rezar para chover
Para o sol cair
E para água descer

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Um Bairro Ali da Zona Norte...

A zona norte vai comigo em reverberação.
O meu lugar de fala, a minha identificação.
No jeito de bailar, na maneira de dançar.
Quem conhece sabe, onde fica o meu lugar.
Um estilo de vida, uma saudade mediúnica.
Na Conde escola pública, uma turma única.
Aquela gíria, que só conhece quem é cria.
Que em mil anos, nenhum outro saberia.
Encontro das águas, asfalto e favela.
Nada caricato, como mostra a novela.
Onde se diz fulano, foi criado comigo.
Um vizinho é um irmão, um irmão é um amigo.
Com todo o respeito, ao resto da cidade...
Mas a zona norte... A zona norte sabe!
No dia em que eu esquecer de onde eu vim.
Você pode ter certeza não respondo mais por mim!
Onde a rua se torna um espaço comunitário.
Onde você só fica só, se você for um solitário.
Mas nem todo filho teu tem este mesmo sentimento.
ZN na identidade, Baixada no documento.
Tem quem diga que é azar,
Eu acho que é muita sorte!
Ter sido criado na Penha....
Um bairro ali da zona norte!
No resto do mundo eu sou um estrangeiro.
A minha pátria é à Penha no Rio de Janeiro.
Tudo que eu aprendi e tudo o que eu vivi.
Começou na Couto a quem pertence a ti.
Sair e falar com todo mundo na rua.
Peculiaridades, eu sei, cada lugar tem as suas.
Eu que sou umcosmopolita, um homem do mundo.
Não voltarei para ti, pois preciso seguir meu rumo.
Mas se algum dia pusesse os pés em sua praça.
Alguém sorriria onde o sorriso é de graça.
Eu que sou um ser errante, não posso ficar parado.
Mas nem tempo, nem distância, terão nos distanciado.
Pois acredito que você, é parte do meu ser.
Não há como falar de ti sem ter um clichê.
E mesmo estando aqui, em outro continente.
Alguém há dizer aquilo é gente da gente.
Por isso não me envergonho, de ser um suburbano.
O que nós queremos ser, não anula o que nós somos.
Eu sei que minhas rimas em ti foram espelhadas.
Nos lugares onde andei, nas suas ruas e calçadas.
Tem quem diga que diz que é azar...
Eu acho que é muita sorte!
Ter sido criado na Penha,
Um bairro ali da zona norte!