terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A Mãe

ela queria saber realmente porque seu filho fumava aquela porcaria todos os dias. era contra aquilo, inequivocamente. não gostava nem de pronunciar o nome da maldita. talvez fosse contra pelo simples fato de ser um prazer desnecessário, igual a maior parte dos prazeres, por mais que o filho argumentasse não causar mal algum. e principalmente por estar fora da lei. não viu grandes mudanças que chegassem a comprometer o comportamento do progenitor. dane-se que diminuísse a ansiedade ou deixasse a pessoa lesada a ponto de não reagir a um tapa. a questão é, não faz o menor sentido você optar por algo que a maioria condena. quando pode frequentar estádios como a maioria dos homens fazem, ou se ocupar com os carros e lutas na televisão, ora bolas! todas aquelas discussões e passeatas, parecia algo de quem queria se revoltar contra alguma coisa de qualquer jeito. então nesse sentido talvez a proibição fosse ruim. a mãe em seu tempo não foi nenhuma riponga. era apenas uma namoradinha do subúrbio que frequentava os bailes da jovem guarda. e adorou quando o Roberto Carlos aderiu ao catolicismo. ela havia se tornado uma dona de casa. mas queria experimentar aquela porcaria. depois de ver tanto artista que gostava na televisão dizendo que já havia experimentado, decidiu experimentar. não acreditava que fosse ficar viciada. nem estava experimentando para poder debater com o filho, igual ele propunha. ela queria apenas saber o que havia de tão maravilhoso naquilo, a ponto de tanta gente falar tanto. um dia esperou o filho sair e foi lá fumar um dos seus cigarrinhos de artista que ele não fazia questão de esconder. e fumou um dele de tarde. quando o filho chegou em casa, a noite, a mãe perguntou a ele: posso fumar com você? ele respondeu: hã?!

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Jorge Selarón

Selarón, eu estava ouvindo sobre a sua morte aqui no meu radinho de pilha. e me lembrei de tantas noites que fui me sentar em sua escadaria. e com a fumaça adocicada nos pulmões a olhar a lua e respirar aquele cheiro de noite gostoso que só essa cidade parece ter. a sua escadaria, a da Penha, e o falecido Escadinha são os degraus mais famosos do Rio. Na sua escadaria cosmopolita, troquei ideias com gente de vários países. de australianos a peruanos. um amigo dia desses, lá mesmo na Lapa, relembrando um fato dos anos noventa, me disse: no tempo em que Lapa era Lapa! eu me lembro daquela Lapa em que o pessoal do hip-hop se sentava ali em frente aos arcos. eu frequentava o Circo Voador sujo. e era ótimo ver todo mundo lá em cima pendurado. e ter a sensação de que no meio do centro da cidade se estava dentro da Sociedade Alternativa. eu peguei aquela Lapa sitiada por travecos, punks cachaceiros, e moleques de rua que em sua maioria ainda cheirava cola. não que todos tenham sumido. mas engraçado que não acho que a Lapa verdadeira fosse essa. uma vez num terreiro de macumba o Seu Zé Pelintra me disse que a Lapa não era mais a Lapa fazia tempo. eu concordei com ele, que é uma sumidade no assunto. tem uma música que o Moreira da Silva diz que ele sonha com essa Lapa. cada um tem a Lapa que merece. e talvez os ingleses agora tenha a deles. eu tive a minha que nem foi tão boa assim. pois sou da geração rabo de foguete. a geração traumatizada pela internet. e pra quem chamava a geração de oitenta de geração perdida não sabia as proporções que a falta de criatividade iria tomar. mesmo daqueles que se dizem de vanguarda. e há de convir comigo que a gente era feliz e não sabia. da mesma maneira que se reclamava dos funkeiros dos anos noventa e, hoje se pede que eles voltem. embora acredite que o artista também veja o que todo mundo vê, e não só, o que é conveniente. mas o melhor lugar do mundo é aqui e agora, como diria Gilberto Gil. e como Woody Allen deixo claro no Meia Noite em Paris. mas a minha capital cultural do Rio continua sendo Madureira, não sei ainda por quanto tempo. a capital da música negra e do meu subúrbio. eu me lembro muito bem que foi uma novela que popularizou a Lapa. junto de interesses legítimos, financeiros, olímpicos e carnavalescos. mas seria tão bom se os lugares crescessem e as festas como o carnaval, mudando, evoluindo mas sem perder a essência. igual a preservação de alguns prédios antigos europeus como não acontece aqui no Rio. Selarón, não cheguei a trocar ideias com você. mas te ouvi falar e te conhecia de vista. e soube que você não tinha filhos. será que era na linha do, os meus filhos são os meus filmes. eu optei por não ter filhos. talvez para um artista, por causa de sua obra, seja mais fácil não ter esse pensamento preconceituoso de que, eu tenho que deixar a minha semente no mundo. até porque tanto a arte quanto a filosofia demandam um tempo imenso. e as duas parecem caminhar de mão dadas. provavelmente por isso muitos filósofos não foram casados. o escritor Bukowiski dizia não ter tempo nem para cortar as unhas. e será que era isso que você pensava. ainda não se sabe se foi suicídio. mas se foi, será que existiu algum simbolismo nesse ato de morrer queimado, em plena na obra em que parecia ser sua vida pelos depoimentos, e pela qual você mesmo zelava. pois você vivia, trabalhava, e porque não, amava a ela, e nela. o suicídio é uma bobagem. uma vingança contra quem se ama. e uma bandeira branca estendida ao inimigo. não aquele inimigo das igrejas. e o assassinato não depende de nós. as vezes, é até uma fatalidade. estar no lugar errado, na hora errada, em frente ao psicopata errado. dizem que o fogo é purificador. e se isso é verdade, você não morreu crucificado, como um assassino possa pensar. como seria a intenção do assassino. e se foi suicídio, eu entendo. você se purificou para poder ascender. vai na paz, amigo artista.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Música Popular Brasileira

...Caetano Veloso. Chico Buarque. Cartola. Noel Rosa. Gilberto Gil. Chico Science e Nação Zumbi. Raul Seixas. Lô Borges. Beto Guedes. Belchior. Amelinha. Maria Bethânia. Gal Costa. Zizi Possi. Legião Urbana. Paralamas do Sucesso. Titãs. Tim Maia. Fundo de Quintal. Arlindo Cruz. Sombrinha. Zeca Pagodinho. Zizi Possi. Djavan. Júpiter Maçã. Belchior. Carmen Miranda. Orlando Silva. Almir Guinéto. Zé Ramalho. Elba Ramalho. Jovelina Pérola Negra. Bezerra da Silva. Seu Jorge. Mart`inália. Flávio Venturini. Ivan Lins. Guilherme Arantes. Roupa Nova. Milton Nascimento. Tom Zé. Tom Jobim. Luiz Gonzaga. João Gilberto. Racionais. Bebeto. Claudinho e Bochecha. Biquíni Cavadão. A Cor do Som. Geraldo Azevedo. Raimundo Fagner. Sérgio Sampaio. Os Novos Baianos. Baby Consuelo. Moraes Moreira. Pepeu Gomes. Cidade Negra. Sepultura. Marisa Monte. Nei Lopes. Rolando Boldrin. Inezita Barroso. Pena Branca e Xavantinho. Tonico e Tinoco. Nenhum de Nós. Dolores Duran. Pixinguinha. Jorge Ben Jor. Aniceto. Nelson Cavaquinho. Ismael Silva. Luiz Melodia. Família Caymmi. Raimundo Fagner. Ednardo. Moreira da Silva. Geraldo Pereira. Wilson Batista. Barão Vermelho. Gang 90. Fausto Fawcet. Sivuca. Dominguinhos. Hermeto Pascoal. Ney Matogrosso. Oswaldo Montenegro. A Cor do Som. Celso Blues Boy. Clara Nunes. Clementina de Jesus. Wilson Simonal. Roberto Carlos. Erasmo Carlos. Rita Lee. Toquinho. Vinicius de Moraes. Nara Leão. Elis Regina. Carlinhos Brown. Braguinha. Arthur Maia. Dadi. Silas de Oliveira. Beto Sem Braço. João da Baiana. Donga. Sinhô. Heitor dos Prazeres. Clube da Esquina. 14 Bis. Edu Lobo. João Bosco...

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Chorume

não preciso esperar até amanhã para escrever. pois eu sempre vou ter o que escrever. sempre que existirem palavras e sentimentos, esses podem ser de tédio, eu terei o que escrever. mesmo que esteja me sentindo assim, um péssimo ser humano. um dos piores seres humanos da terra. um lixo humano. isolado. jogado num canto. vazio. mesmo que me faltem leitores. amigos. ou inimigos para me motivar. a literatura se mostra a melhor terapia de todas. então só me resta escrever. sem pensar. jogar as palavras no papel. mesmo que amanhã me arrependa do que acabei de escrever. e venha a corrigir, ou  a desdizer alguma frase. pois eu vivo para escrever. quiça despertando ira, antipatia, ou indiferença, o que é pior. e quando não me restar mais palavras ou ideias, ainda posso ler aquilo que escrevi. e se tudo que escrevi for queimado numa fogueira de um terreno baldio. ou de um lixão. eu ainda posso ler as palavras que outros escreveram. e quando estas me faltarem, aí me faltará a vida. pôs a literatura é a única forma de escoar esse chorume que escorre do meu coração. a literatura talvez seja o verdadeiro lixo extraordinário... 

A Pistola Automática Cromada

eu tenho uma arma na mão. e não é um livro. pois se fosse um livro eu jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. mas não é um microfone. que se fosse um microfone, eu também jogava na cabeça de alguém. eu tenho uma arma na mão. e não é uma megafone. que se fosse um megafone, eu começaria a xingar todo mundo. eu tenho uma arma na mão. e ela é tão sedutora quanto a Sharon Stone naquele filme Basic Instinct. e ela faz mal a saúde. assim como doces de confeitaria, a minha arma mata. eu tenho uma arma na mão. e não é um carro. pois se fosse um carro, eu tomava uns goles, tomava coragem, e passava por cima de quem não gosto. e aí depois ia pra delegacia, pagava fiança, pois uma morte não custa caro no Brasil, ainda mais se for morte de pobre, é bem mais barata. no outro dia eu estaria solto para atropelar novamente. eu tenho uma arma na mão. e assim como aqueles infelizes estadunidenses que estão pirados com toda essa sociedade, eu também posso entrar em algum local atirando. numa tentativa de me vingar de mim mesmo. eu tenho uma arma na mão. pois diferente do Reino Unido, eu posso ter uma arma na mão. e a minha arma é uma pistola automática cromada que me diz que eu posso matar quem eu quiser. eu estou no fundo daquele teatro, com aquela porção de gente. e todos eles ficam me remedando e olhando pra minha cara com ojeriza. eu olho os policiais na rua. e sei que não terei como escapar. eles pensam que essa arma é de brinquedo. e começo a ficar confuso e ansioso. trêmulo. escorre suor. mas eu quero ir me embora. eu digo a ela. vamos embora. ela me pergunta: você está se sentindo mal. eu digo sim. vamos embora. ela insiste: você não vai participar do espetáculo. Eu digo: não. e nós saímos.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Depressão Pós-Parto

passei um tempo dedicado a um livro que me deu esta depressão ao terminar. acredito que outros escritores já tenham sentido isso. não sei nada sobre escritores. desta vez o processo de criação, como dizem por aí, foi diferente. parei tudo para escrever o tal livro. o que não havia acontecido anteriormente durante nenhuma outra criação. sofri por ter que conviver com aquele personagem noite e dia. o que me levava a ter pesadelos constantes. talvez por causa do meu consciente que era detonado por seus consciente e  inconsciente. todos os dias terminava de escrever exausto. mas estupidamente feliz por escrever o que realmente queria. então ao me deitar sentia aquele vazio satisfatório. como se todas as as minhas mazelas, e as mazelas da sociedade tivessem sido expurgadas através da minha pena. e de repente me senti perdido com esta ansiedade descomunal, que me dá com vontade de fazer tudo que ficou suspenso. Mas não consigo fazer nada. como se a minha função social não tivesse mais utilidade. e como se não houvesse nada mais interessante debaixo do sol. o livro me leva a um êxtase difícil de ser substituído. embora precise de um tempo para tocar os meus outros projetos como dizem esses artistas que não tem projeto algum. mas eu sei que daqui a pouco me vem um momento na cabeça... alguém diz uma frase estranha.... um rosto começa a se formar e bola pra frente...

sábado, 5 de janeiro de 2013

A Cidade Mais Linda Do Mundo

eu passei a virada do ano na cidade mais bonita do mundo. na praia mais linda da cidade mais bonita do mundo. onde tem o povo mais simpático e mais sexy do mundo. que coincidentemente é o povo que mais copula e que mais trai no mundo. onde tem as mulheres mais lindas do mundo. onde tem a maior festa popular do mundo. onde tem o time de futebol que tem a maior torcida no mundo (fato). onde tem o povo mais feliz do mundo. onde tem a queima de fogos mais linda do mundo. tudo aqui é o melhor do mundo. não sou eu quem diz. são as pesquisas. fiquei na areia vendo aquela profusão de alcoólicos em alegria histérica.  rolando na areia e no final parecendo bife a milanesa. abrindo champanhe dentro da água e gritando. eu sou feliz. como se para que a sentença se tornasse verdadeira fosse necessário repeti-la. um gringo. não me contive de tanta felicidade... ai. ai... realmente adorei o show. e a lua. e depois a queima de fogos com a trilha sonora formidável. e as propagandas da prefeitura com os principais artistas da cidade me convenceram de que vivo numa cidade maravilhosa. as pessoas no alto dos prédios admiravam a queima de fogos, como se dissessem para aqueles que estavam embaixo, temos uma visão melhor que a de vocês. e as pessoas nos transatlânticos admiravam de longe, e pareciam querer repetir a mesma frase de camarote. deviam se sentir salvas separadas por quilômetros de água daquela muvuca. eu também queria estar lá. num navio daqueles. só para que gente não tivesse dúvidas de onde estávamos.. vi alguns crackudos trombando as pessoas na areia com esperança de arrancar alguma coisa dos seus bolsos. e confesso que cavoquei o chão com os pés a procura de algum objeto perdido. um gringo alcoólatra caia em minhas costas. enquanto a minha mina sussurrava em meu ouvido. feliz ano novo...