sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A Bela Suzane Richthofen

Quando Hugh Hefner fundou a revista Playboy, ele tinha a intenção de pôr na capa uma mulher de carne e osso que pudesse ser uma vizinha. Assim como a atriz Kristen Stewart que traiu o mocinho indo de encontro à imagem que o seu rostinho angelical representava, Suzane Richthofen nos decepcionou. A sociedade tem dificuldade em aceitar ricos assassinos. Como se o dinheiro tivesse uma capacidade redentora. Provavelmente Suzane é psicopata. Na época o argumento para o destaque do caso foi o parricídio. Mas qualquer leitor de diários sanguinolentos sabe que todos os dias um pobretão enche a cara de cachaça, mata a família, e vai ao cinema. Os casos ganham nomes na imprensa quando algum dos envolvidos, vítima ou agressor instiga nossa curiosidade. Por isso que o caso se chama Suzane Richthofen, e não O Caso dos Irmãos Cravinhos. Assim como O Caso Eloá (vítima), O Caso Isabela Nardoni (vítima), O Caso Bruno (agressor), e O Caso Elise Matsunaga (agressor). Ontem assisti a uma reportagem totalmente tendenciosa, em que os dois marmanjos eram colocados como vítimas inocentes da loura demoníaca. Se a gente fosse falar de frieza, como um adolescente, para quem o contrário do amor é o ódio, eles são tão frios quanto ela! Pois trucidaram aquele casal simplesmente por causa da grana. Não creio que a motivação fossem os supostos abusos, pois lucrariam muito mais indo à polícia e se livrando do pai, que preso ainda ia deixar uma grana para que curtissem em paz. O tom da reportagem foi que o namorado cometeu o crime motivado por sua paixão hollywoodiana. A imprensa ama Suzane, assim como ama Elise. Ela constrói o mito para vender mais. Mesmo que exista uma Suzane em cada esquina, sem o rostinho que representa nosso padrão de beleza atual. Sendo assim não conseguimos nos distanciar para que justiça seja feita. Como um amigo meu disse: eu acredito que o Bruno matou a amante, mas em qualquer país do mundo ele estaria solto, pois sem corpo não há crime. Como disse Hélio Luz: será que o povo brasileiro quer uma polícia justa? Para que a justiça sempre acontecesse, nós teríamos que deixar de lado nossas paixões (vingança).

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

De Preta Ficou Branca!

Era um domingo desses que não chovem. E que as crianças não querem ficar em casa. As ruas do subúrbio cheias. Churrasco para todo lado. A volta da praia. A espera do jogo. Ela estava num desses churrasquinhos. Era a sua festinha de aniversário. Quando aquele carro estacionou próximo ao meu fio. Mais precisamente em frente a varanda lotada. Com três ou quatro cabeças que saíram simultaneamente. Uma loura de cabelos pintados desce com a ferramenta nas mãos. Pensou que fosse tomar um tiro. Ela quase caiu pra trás. Quando a loura anunciou: Surpresa! Antes tivesse vindo um balaço daqueles. Mas não, veio os parabéns da Xuxa nos alto-falantes. E põe alto nisso. Com a cara rachada de vergonha, teve que ouvir Emoções do Roberto Carlos. E depois a sopa de letrinhas de como ela era uma ótima, mãe, mulher e esposa. Era uma homenagem. E a nossa vítima, de preta, ficou branca. Mas os vizinhos adoraram. Pois não era com eles. Ah, esqueci, e ainda tiveram os fogos.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Ainda Existe Índio No Brasil?

Eu vi a foto do índio pendurado. Nem quero saber o que aconteceu, mas sempre torço por um fim diferente. Quando quero saber algo, ouço a rádio de noticiais, leio na internet, ou ouço a Hora do Brasil, assim acompanho o que os nossos capangas estão aprontando. No geral prefiro me manter distante para não me aborrecer. Fico deprimido. Acho de um enorme mau gosto assistir telejornal ao acordar, ou antes, de dormir, e uma baita influência para que você tenha pesadelos, ou comece o dia de maneira negativa. Imagem é tudo. Postaram também a foto de uma porção de crianças metralhadas, daquela guerra que não vai acabar nunca, a não ser que fechem aquele território, e tirem todos aqueles povos de lá. Já vi gente demais morta. Gente que conheci, fuzilada. Até suicidas. Se alguém queria me deixar chocado não conseguiu. Essa gente radical, que fica postando fotos com o cu no sofá e um copo de Nescau na mão, e dizem que vão fazer revolução ou sei lá mais o quê, mas não conseguem abandonar os seus trabalhos onde são explorados, e querem um diploma para garantir um salário melhor, pensam que fazem grande coisa pelo mundo se dizendo conscientes, ou votando nulo, ou votando certo. Quem quiser fazer algo diferente vai ter que enfrentar toda a democracia do mundo ocidental. E quando eles vêm, arrebentam com tudo! O pepino é bem maior do que essa gente imagina. O partido que está no poder é o partido que a gente sonhou no passado. Os novos partidos revolucionários me soam como, eu já vi esse filme antes. Tanto é que são formados por dissidentes. Ainda existe índio no Brasil? Eles foram dizimados quando aculturados por nossa curiosidade, e por nossa falta de compreensão de como alguém pode viver no meio do mato pelado, sem precisar de celular, computador, ou universidade. Eu vi um índio dizendo que o homem branco injetou a culpa em sua tribo, pois eles eram poligâmicos, e agora são monogâmicos. Assim como os padres jesuítas fizeram, nós levamos nossos vícios, nosso alcoolismo. Aquilo que na cultura deles era um momento de transcendência, passa a ser uma fuga. Como as drogas são para a maioria. Achei a foto daquele rapaz morto, de uma agressividade tão grande quanto à de seus assassinos, diretos, ou indiretos. 

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Só Muda Quem Está Em Dúvida

Ontem a minha mina disse que não aguentava ver os crackudos na linha do trem. Eu já estive várias vezes numa cracolândia, e sei que é o inferno na terra. E que só não vê espíritos vagando quem não quer. Eu disse a ela que escrevesse sobre isso para poder desabafar. Nenhum individuo ou grupo tem o poder de mudar nem uma rua se a maioria não quiser. Nelson Mandela não libertou África sozinho. Alemanha nazista não era Hitler. O ministro Joaquim Barbosa não é o salvador da pátria. O Brasil não funciona. O apoio a cultura é ridículo. A educação é uma piada. E a saúde pública não existe. O sonho de mudar o mundo hoje é patético. O que tem feito o mundo avançar em alguns pontos é a sua própria história. Não há nada que garanta que uma ação vá ter um efeito imediato. Ou mesmo que vá ter um efeito a longo prazo. O quê não nos exime de fazermos a nossa parte. Não só para que possamos deitar tranquilos no travesseiro. Mas sim porque alguma coisa nos diz que a harmonia é o melhor negócio. Quando eu não jogo papel no chão, não faço isso por causa de uma propaganda, porque não tem ninguém vendo, ou porque alguém me disse que não deveria fazer. Faço porque junto a toda a informação que recebi, cheguei a conclusão de que realmente é o certo. Mas podia ter concluído o contrário. Sem essa pieguice de que mundo eu vou deixar para os meus filhos. Ninguém pode se anular como individuo em prol da sociedade. Mesmo nesta época do politicamente correto. Até porque quando somos bonzinhos, não nos desvencilhamos da sociedade. Nós somos o mal e o bem que habita nela. Eu também mato, estupro, e roubo. Embora não seja eu quem puxe o gatilho. Ninguém pode carregar o fardo. Até porque só muda quem está em dúvida. As verdadeiras vítimas são minoria. O Brasil é assim porque nós brasileiros queremos ou deixamos que ele fique assim. E mesmo que tenhamos avanços nas áreas mais críticas, nada nos garante que vamos evoluir como sociedade, ou que seremos felizes, que acredito ser o objetivo final. Em países ricos malucos entram em lugares atirando. E é onde estão os maiores índices de suicídios  Por isso o pensamento não pode estar restrito a uma época, ou situação que normalmente é passageira. Mesmo para a minha filosofia teen. 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Foi Por Isso Que Aconteceu Aquilo!

Eu perguntei: você terminou o livro? Ela disse: não. Ah, o garoto queria se matar. Não gosto disso. Eu retruquei: mas você tem que ler para saber o que acontece. Então respondeu: eu nunca leio os livros até o final. Eu disse: porque? Ela: tenho medo de saber o que vai acontecer. Prefiro não ler. Depois eu me pus a pensar que o livro não acaba em suas páginas. Pois assim como na vida a coisa pode se inverter depois. Mudar de rumo, sei lá. Por isso que não gosto de autores que querem explicar tudo, que não deixam a gente imaginar nada, e que pensam que o leitor é um pária sem criatividade, ou inteligência para refletir porque aquele personagem se transformou no quê é hoje, por exemplo. Talvez ela não queira saber o final, por pensar que assim como na vida, ele pode ser bom ou ruim. Depende do ponto de vista. Eu não sei porque, mas a minha intuição me diz que já aconteceu algo que vai voltar depois. Mesmo que não seja nada tão extraordinário como a gente gostaria de imaginar. Alguma coisa que nos conforte. E que nos faça dizer, tá vendo? Foi por isso que aconteceu aquilo!

domingo, 21 de outubro de 2012

Horário de Verão

O meu pai acorda as seis da manhã, e vai comprar o jornal, o leite e o pão. A minha mãe liga o rádio e prepara o café. Ela se arruma enquanto o meu pai não chega. Eu levanto. Nós tomamos o café da manhã juntos. Os dois me beijam e saem de mãos dadas. Sete horas. Ela pega o trem. Ele pega o ônibus. E os dois   pegam no trabalho as oito. Saem as cinco. Na volta, se eles apertarem o passo, ainda dá tempo de irem me buscar na escola. Pois levam do centro da cidade ao subúrbio, apenas quarenta minutos. Eu vejo os dois me esperando na saída. Sendo assim nessa época, a gente consegue aproveitar a luz do dia. Talvez a gente caminhe um pouco na praça, ou vá dê uma passadinha na casa de um parente próximo. Por isso que eu adoro este horário.

sábado, 20 de outubro de 2012

Na Casa do Tim

Eu fui a casa do Tim. Ele estava sentado num sofá assistindo televisão. Gordo igual um buda. Uma profusão de crianças correndo para todo lado. Sobrinhos, vizinhos, netos, talvez. O Tim me disse: sem cerimônia, Magrão. O Tim me chamava de Magrão. Ele empurrou o gato que estava ao seu lado. O bichano saiu num pinote em disparada para fora da casa. Eu havia imaginado outro cenário. Pensei que nós íamos para um estúdio cheio de instrumentos pendurados. Não havia privacidade. A tevê no último volume. Ele gritava com as crianças. A menina correu pra rua! Veio uma mulher da cozinha que parecia ser sua irmã. Ela perguntou: vamos comer rabada, Tião? Ele disse: vamos, o Magrão quer provar da tua rabada! E depois disse a ela: esse aqui é um cantor amigo meu, cuidado que cantor é tudo calhorda! Ela deu um risinho e voltou para a cozinha. O Tim em casa era um patriarca. Ele pegou uma lata e começou a enrolar um baseado. E me disse: se quiser mete a mão que do meu você não fuma. Eu fui cheio de esperança de falar sobre música ou quem sabe fazer alguma. Era uma terça feira. E fomos levar uma porção de crianças na escola. E depois fomos ao supermercado. Na volta ele tirou a camisa. Nunca pensei em ver aquela famosa pança preta. Aos poucos comecei a relaxar e a aproveitar o momento, e esqueci o negócio da música. Ele contava histórias engraçadas sobre os músicos. Era um comediante nato que dava a entonação certa imitando as pessoas. Depois que fomos buscar as crianças, o Tim me levou a um ponto de ônibus, e nós nos despedimos. Logo após fiquei sabendo que ele havia morrido. E me veio a mente aquela tarde tão agradável.