Naquela época antes de pirataria um filme levava mais ou menos dois anos para chegar a televisão, e depois ao vídeo-cassete, e vice e versa. Se é que já existia o vídeo lá em casa. Então na escola foi aquele furdunço. Todo mundo na expectativa. Só se falava disso. Era uma espécie de final de copa do mundo. O Rambo ia passar na televisão. No SBT canal onze. Eu não me lembro bem que Rambo era, se o 1, o 2, ou três. Só sei que os sacanas da Globo decidiram esticar a novela. E o sacana do Sílvio Santos com aquele riso puro e franco para um filme de terror, como dizia o Raulzito, resolveu que não ia passar o filme enquanto não terminasse a novela. E fez algo inacreditável para os dias de hoje. Ele pôs na tela uma imagem congelada do Rambo, dizendo que o filme iria começar logo após a novela. Não dava nem pra esperar navegando na internet, pois ela ainda não existia. Eu estava cansado e tinha que acordar cedo pra ir pra merda daquela escola. Disse a minha mãe e ao meu pai: se eu cochilar, vocês me acordem, pelo-amor-de-deus, hein? Ai, ai, ai, ai, ai! Quando acordei assustado o meu pai com a sua nostálgica pança e o seu bigode ridículo me disse: que filmaço! Ainda deu pra pegar as letrinhas subindo. Nunca mais eu quis saber do Rambo. Nunca perdoei os meus pais. E vocês não sabem o trauma que carrego daquele dia seguinte.
sábado, 26 de maio de 2012
quinta-feira, 24 de maio de 2012
Carta A Um Amigo Famoso
Não acho que você deva se
justificar publicamente. Você só deve fazer isso perante a quem prejudicou. E
se está fazendo isso agora, é porque o povo é “moralista”. Aposto com você que
tem uma porção que acha a tua desculpa louvável, mas que continua fazendo o mesmo
que você fez, ou pior. No fim das contas as pessoas públicas ficam com o
quinhão de dar o “exemplo”. Mas numa sociedade, não são apenas as pessoas
públicas que tomam decisões importantes. Tem que se tomar cuidado, pois a nova
era está decretando o fim da nossa privacidade, e nós estamos embarcando nessa.
Quem sente verdadeiramente o que você fez, ou faz, é quem está próximo a você. Para
gente como eu, você vai sempre ser alguém imaterial que eu vou poder admirar
quando quiser. Pois queira ou não, para gente como eu, você é uma bela de uma arte.
E você pode até relacionar a sua arte aos seus atos... Mas não costumo me
interessar nem pelo que os políticos fazem. A não ser que isso influencie diretamente
na minha vida. Não vou deixar de ouvir uma música, ou assistir a um filme, por
causa do que o artista é pessoalmente. Já conheci artistas que me decepcionaram.
Mesmo assim continuei admirando, e acompanhando os seus trabalhos. Pois eles são
inspiradores. Não carregue esse fardo, amigo. Pois ele é pesado demais.
terça-feira, 22 de maio de 2012
O Labirinto Da Língua
Eu fui num
lugar. Mas o lugar nunca tem importância. E sim o que acontece nele. E lá havia
uma placa onde estava escrito: proibida a entrada de pessoas estranhas. Se a
placa estava se referindo ao desconhecido, de quem trabalha ali, tudo bem, eu
ia poder entrar. Mas se ela estavs se referindo a estranho, sinônimo de
esquisito, eu não ia poder entrar. Pois eu sou um cara tão estranho quanto aquele cara
daquela música dos Los Hermanos, que é aquela banda que os universitários amam,
e que tem aquele clipe que faz referência ao Kafka. Ou People Are Strange do The
Doors. Eu sou o que se chama de excêntrico. E leia-se para uma sociedade careta,
ainda, tão careta quanto falar careta. E no meu caso, eu sou um famigerado artista-vagabundo,
ainda, depois de todos esses artistas famosos no mundo todo. Se fosse esse o
sentido, eu não poderia entrar. A língua põe a gente em cada labirinto!
domingo, 20 de maio de 2012
O Mendigo Foi Pro Casamento Do Belo!
Eu tava parado em frente a um
sebo do Centro da Cidade. Olhando aqueles livros de 5 reais que ficam naquela banquinha da frente. Que era o que eu tinha no bolso
contando com algumas moedas. Eu queria que a minha mina aparecesse logo. Pois assim poderia arrancar mais cinco reais dela. E quem sabe comprar algum Rubem Fonseca. Ou qualquer outro falastrão desses. Quando aparece um mendigo, e pergunta para o
outro: não vai no casamento do Belo, não? E o outro devolve: onde? Aqui
na Candelária! O amigo diz: vambora! E eles saem correndo. O senhor grisalho surge no fundo do sebo e me pergunta: o que foi essa gritaria? Eu digo: eles vão pro casamento do Belo! E ele responde: tá, e eu sou um belo, um belo de um idiota!
sábado, 19 de maio de 2012
MacEscravo
Eu acordei o cara. Ele me agarrou pela gola da camisa. Tava babando. O Cheiro de bebida era insuportável. Odeio esse cheiro de cerveja envelhecida. Ele me perguntou: eu emagreci? Eu respondi: um pouco... Ele: olha o que o McDonald`s fez comigo?! Quando olhei com atenção os olhos eram duas crateras envoltas por duas crostas pretas. Olheiras que só vi em bêbados imprestáveis. E ele me disse: eu comecei a fumar, cara! Eu não fumava! Enquanto dizia isso a guimba do cigarro queimava junto dos seus dedos. Quando subiu aquele cheiro de carne queimada tipo hambúrguer. Ironia do destino. Olha o que o McDonald`s fez comigo?! Ele repetiu. Eu disse a ele: cara, tudo bem, você vai arrumar outro emprego! Ele me disse: o quê você sabe sobre isso? sobre trabalho? Você vive enganando esses otários dizendo que é artista... Eu disse: olha, prefiro fazer o que eu gosto do que ficar igual a você! De repente ele me ignorou. Puxou uma bandeja debaixo da cama. Esticou uma fileira gigante. E pum! Eu gritei: caralho!!! E ele desmaiou.
quarta-feira, 16 de maio de 2012
Eu Fui Atropelado, Mas Não Morri!
A mãe vivia dizendo: Juninho não
corre pra rua. E Juninho sempre ficava na Calçada. Admirando os carros com o
seu ardor automobilístico. A mãe dizia: Juninho, se um carro te pegar, você
morre, menino! Ela sempre dizia isso. Até que um belo dia, como numa fábula,
Juninho correu. E foi atropelado. Mas nada demais. Só uma pancadinha de um
motorista imbecil. Apenas um galo imenso na testa. Que de tão enorme a
enfermeira disse: ele vai cantar hein, menino! Quando a mãe chegou ao hospital,
carregada pela família, e sobre o efeito de calmantes, Juninho disse: mãe... eu fui
atropelado, mas não morri!
A mãe de Juninho vivia assistindo
aquele programa policial de hora do almoço em que o apresentador aterroriza as
pessoas dizendo: o bandido foi pro saco! A mãe sempre assistia aquilo. E
Juninho perguntou: o quê é ir pro saco, mãe? E ela: é quando a pessoa faz coisa
errada e morre meu filho. Não pode fazer coisa errada hein? Ai, ai, ai! Quando
o gato da família se esquivou para a rua. E ficou grudado que nem chiclete na
roda do carro, a mãe de Juninho perguntou a ele: o que aconteceu com o bichano?
E Juninho respondeu: foi pro saco!
segunda-feira, 14 de maio de 2012
Inadequado Para Homens Solteiros
Assistindo o casal de amigos
brigões Mateus disse a Letícia. Esse casal briga demais. E Letícia disse. É normal casal brigar. E Mateus disse: é, mas tem
hora que é chato. E Letícia: eu sei como você pensa e sei que você faz uma
tempestade em copo d’água! E Mateus disse: é... eu só acho que as pessoas não
deviam brigar a toa. E Letícia responde: a gente não briga a toa. A gente briga
pra decidir as coisas. Mas briga é briga e... Não é briga! Mateus: então tá, é
discussão. Letícia: não é discussão. É conversa. Se existe conversa com pessoas
gritando eu desconheço, disse Mat. E Letícia contra argumentou: e de mais a
mais nós não brigamos como eles. Ela apontou para os dois do outro lado da rua.
Não dava para ouvir o que eles falavam. Ainda bem. Se não se ouviria uma porção
de palavrões. Mas as mãos subiam e a descida era quase na cara do
interlocutor/a. Letícia complementou. Nós só temos brigas bobas. E Mateus
pensou, se essas brigas são tão bobas, então porque é que elas acontecem? Mas
não disse nada. Pois já estava cansado de discutir, de brigar, conversar, ou
seja, lá o que for!
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