Eu tava bebendo um negócio com dois ou três bêbados amadores, e desconhecidos. A gente tava bebendo e assistindo uma banda de rock ruim. A banda era ruim. Não o rock. Um deles apontou a lata de Coca-Cola em cima da mesa, e perguntou: que porra é essa? Quando olhei percebi que tava escrito: quanto mais Rafa melhor. Alguém explicou que as latas vinham com vários nomes. Então a intenção é sair em busca da sua. Alguém disse: os caras do marketing são foda! Eu pensei. Os caras do marketing são foda. Mas eu nunca teria uma latinha com o meu nome. A vantagem de se ter um nome desconhecido é que as pessoas dificilmente se confundem. Já se você se chama Marcelo, Felipe ou Tiago, fica mais difícil. O lado ruim é ter que ouvir: eu não perguntei teu apelido, eu perguntei teu nome! Ou aquela: o dono da loja de móveis? Na verdade Delano é um sobrenome. O médico que fez o parto da minha mãe se chamava Jorge Delano. Até hoje não entendo a comparação com o ator Alain Delon. Não, eu não sou o Franklin Delano Roosevelt. Pior é ser chamado de Derlano por aqueles que não têm boa pronúncia. Quando o jogador Elano está na seleção... Eu respondo: o meu nome não é Elano!
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Oração de Delano Valentim
Senhor, que num milagre teu, senhor, toda essa gente comece a ler meu livro, que ele se torne um A Cabana, ou o meu Ágape igual ao do Padre Marcelo Rossi. E que o meu livro dispute ombro a ombro as prateleiras, e os passageiros dos ônibus, com o Harry Potter e o Crepúsculo. E que eu seja invejado e odiado como Paulo Coelho. Eu quero ver meu livro na mão daquele homem do povo que lê o Meia-Hora em pé no trem, e que escuta no celular, ou no radinho de pilha, o jogo do Flamengo, e a Patrulha da Cidade. Esse homem que mal sabe mexer na net, que não sabe nem o que é Face. Pois eu estou cansado daquele escritor que é um gênio para a história da literatura brasileira, mas que me dá sono no primeiro parágrafo. Senhor me leva para Hollywood, para que eu possa me prostituir como fez o irmão do Holden Caufield. Eu deixo o James Cameron me filmar. Ele faz do livro o roteiro que quiser, corta o personagem principal, muda o fim, eu não tô nem aí! Eu só quero que o filme propague o meu livro. Eu prometo que não vou à festa da entrega do Oscar. Dou uma de Salinger, que passou a vida toda lutando por aquilo, para no fim dizer que não queria. Os intelectuais adoram isso, escritores reclusos. Lembra-se do Dalton Trevisan? Do Thomas Pynchon? Do Carlos Castañeda? Do Rubem Fonseca? Mas senhor me afasta dos intelectuais, das resenhas, dos Prêmios Jabutis, das Feiras de Parati, da Academia Brasileira de Letras. Eu não quero ser condecorado, premiado, e estudado, para depois apodrecer numa estante empoeirada. Eu quero ser lido!
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
O Pé de Maria Joana
O Gordo disse pro magro esnobando. Aí tô com um pezinho lá em casa. O Magro surpreso. Mentira! O Gordo birrento. E já tá bem grandinho! O Magro curioso. Tu já fumou? O Gordo: ainda não. Mas tô pensando em estrear hoje. O Magro, vamo lá fumar um! O Gordo fazendo mistério. Mas ele tá no terraço do meu prédio... O Magro ainda sem acreditar. Você tá dizendo que plantou um pezinho no terraço do teu prédio? O Gordo: sim. O Magro: e se os outros vizinhos descobrirem? Eles não gostam, mas não sabem nem o que é. Pensam que é outra coisa. O Magro: o quê, por exemplo, trevo? É por aí! O Gordo disse já desinteressado. Continuou. Eu preciso de ajuda pra resgatar esse pé. O Magro: e qual é o tamanho dele? Vamo lá que você vai ver! Na escada o Gordo contou para o Magro: o porteiro fica admirado de como eu gosto de planta! Quando o Magro viu o pé, falou. Isto não é um pezinho, isto é uma árvore! O Gordo, sem escândalo. Vamo pela escada. Um tiozinho que ia abrindo a porta perguntou: que planta é essa, meu filho? E o Gordo: mandioca da serra! Eles riram desceram para a casa do Magro na noite suburbana. Carregando o vaso, suando. Uma patrulinha passou e um deles comentou. Que babacas, carregando planta uma hora dessa! Na casa do Magro, quando eles começaram a fumar, o relógio ainda estava marcando meia noite.
sábado, 27 de outubro de 2012
Eu Só Tô Com Um Real!
Ela me ligou a cobrar e disse: liga pro meu pai fazendo um favor. Diz a ele pra vir aqui que eu tô sem passagem. Eu liguei pro meu pai e disse: ela pediu pro senhor ir lá que ela tá sem passagem. Ele disse: eu só tô com um real na carteira. Diz a ela, que eu só tô com um real! Eu pensei. Como assim ele só tá com um real? Ele não tá é com nada! O Meu pai, trabalhador, aposentado. Homem honesto a vida toda. E bom profissional... Dos melhores! Ele só tá com um real na carteira. Pagou todos por seus direitos. Tem médico de dois em dois anos. Na escola da filha caçula passa até analfabeto... Ele só tá com um real na carteira.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
A Bela Suzane Richthofen
Quando Hugh Hefner fundou a revista Playboy, ele tinha a intenção de pôr na capa uma mulher de carne e osso que pudesse ser uma vizinha. Assim como a atriz Kristen Stewart que traiu o mocinho indo de encontro à imagem que o seu rostinho angelical representava, Suzane Richthofen nos decepcionou. A sociedade tem dificuldade em aceitar ricos assassinos. Como se o dinheiro tivesse uma capacidade redentora. Provavelmente Suzane é psicopata. Na época o argumento para o destaque do caso foi o parricídio. Mas qualquer leitor de diários sanguinolentos sabe que todos os dias um pobretão enche a cara de cachaça, mata a família, e vai ao cinema. Os casos ganham nomes na imprensa quando algum dos envolvidos, vítima ou agressor instiga nossa curiosidade. Por isso que o caso se chama Suzane Richthofen, e não O Caso dos Irmãos Cravinhos. Assim como O Caso Eloá (vítima), O Caso Isabela Nardoni (vítima), O Caso Bruno (agressor), e O Caso Elise Matsunaga (agressor). Ontem assisti a uma reportagem totalmente tendenciosa, em que os dois marmanjos eram colocados como vítimas inocentes da loura demoníaca. Se a gente fosse falar de frieza, como um adolescente, para quem o contrário do amor é o ódio, eles são tão frios quanto ela! Pois trucidaram aquele casal simplesmente por causa da grana. Não creio que a motivação fossem os supostos abusos, pois lucrariam muito mais indo à polícia e se livrando do pai, que preso ainda ia deixar uma grana para que curtissem em paz. O tom da reportagem foi que o namorado cometeu o crime motivado por sua paixão hollywoodiana. A imprensa ama Suzane, assim como ama Elise. Ela constrói o mito para vender mais. Mesmo que exista uma Suzane em cada esquina, sem o rostinho que representa nosso padrão de beleza atual. Sendo assim não conseguimos nos distanciar para que justiça seja feita. Como um amigo meu disse: eu acredito que o Bruno matou a amante, mas em qualquer país do mundo ele estaria solto, pois sem corpo não há crime. Como disse Hélio Luz: será que o povo brasileiro quer uma polícia justa? Para que a justiça sempre acontecesse, nós teríamos que deixar de lado nossas paixões (vingança).
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
De Preta Ficou Branca!
Era um domingo desses que não chovem. E que as crianças não querem ficar em casa. As ruas do subúrbio cheias. Churrasco para todo lado. A volta da praia. A espera do jogo. Ela estava num desses churrasquinhos. Era a sua festinha de aniversário. Quando aquele carro estacionou próximo ao meu fio. Mais precisamente em frente a varanda lotada. Com três ou quatro cabeças que saíram simultaneamente. Uma loura de cabelos pintados desce com a ferramenta nas mãos. Pensou que fosse tomar um tiro. Ela quase caiu pra trás. Quando a loura anunciou: Surpresa! Antes tivesse vindo um balaço daqueles. Mas não, veio os parabéns da Xuxa nos alto-falantes. E põe alto nisso. Com a cara rachada de vergonha, teve que ouvir Emoções do Roberto Carlos. E depois a sopa de letrinhas de como ela era uma ótima, mãe, mulher e esposa. Era uma homenagem. E a nossa vítima, de preta, ficou branca. Mas os vizinhos adoraram. Pois não era com eles. Ah, esqueci, e ainda tiveram os fogos.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Ainda Existe Índio No Brasil?
Eu vi a foto do índio pendurado. Nem quero saber o que aconteceu, mas sempre torço por um fim diferente. Quando quero saber algo, ouço a rádio de noticiais, leio na internet, ou ouço a Hora do Brasil, assim acompanho o que os nossos capangas estão aprontando. No geral prefiro me manter distante para não me aborrecer. Fico deprimido. Acho de um enorme mau gosto assistir telejornal ao acordar, ou antes, de dormir, e uma baita influência para que você tenha pesadelos, ou comece o dia de maneira negativa. Imagem é tudo. Postaram também a foto de uma porção de crianças metralhadas, daquela guerra que não vai acabar nunca, a não ser que fechem aquele território, e tirem todos aqueles povos de lá. Já vi gente demais morta. Gente que conheci, fuzilada. Até suicidas. Se alguém queria me deixar chocado não conseguiu. Essa gente radical, que fica postando fotos com o cu no sofá e um copo de Nescau na mão, e dizem que vão fazer revolução ou sei lá mais o quê, mas não conseguem abandonar os seus trabalhos onde são explorados, e querem um diploma para garantir um salário melhor, pensam que fazem grande coisa pelo mundo se dizendo conscientes, ou votando nulo, ou votando certo. Quem quiser fazer algo diferente vai ter que enfrentar toda a democracia do mundo ocidental. E quando eles vêm, arrebentam com tudo! O pepino é bem maior do que essa gente imagina. O partido que está no poder é o partido que a gente sonhou no passado. Os novos partidos revolucionários me soam como, eu já vi esse filme antes. Tanto é que são formados por dissidentes. Ainda existe índio no Brasil? Eles foram dizimados quando aculturados por nossa curiosidade, e por nossa falta de compreensão de como alguém pode viver no meio do mato pelado, sem precisar de celular, computador, ou universidade. Eu vi um índio dizendo que o homem branco injetou a culpa em sua tribo, pois eles eram poligâmicos, e agora são monogâmicos. Assim como os padres jesuítas fizeram, nós levamos nossos vícios, nosso alcoolismo. Aquilo que na cultura deles era um momento de transcendência, passa a ser uma fuga. Como as drogas são para a maioria. Achei a foto daquele rapaz morto, de uma agressividade tão grande quanto à de seus assassinos, diretos, ou indiretos.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Só Muda Quem Está Em Dúvida
Ontem a minha mina disse que não aguentava ver os crackudos na linha do trem. Eu já estive várias vezes numa cracolândia, e sei que é o inferno na terra. E que só não vê espíritos vagando quem não quer. Eu disse a ela que escrevesse sobre isso para poder desabafar. Nenhum individuo ou grupo tem o poder de mudar nem uma rua se a maioria não quiser. Nelson Mandela não libertou África sozinho. Alemanha nazista não era Hitler. O ministro Joaquim Barbosa não é o salvador da pátria. O Brasil não funciona. O apoio a cultura é ridículo. A educação é uma piada. E a saúde pública não existe. O sonho de mudar o mundo hoje é patético. O que tem feito o mundo avançar em alguns pontos é a sua própria história. Não há nada que garanta que uma ação vá ter um efeito imediato. Ou mesmo que vá ter um efeito a longo prazo. O quê não nos exime de fazermos a nossa parte. Não só para que possamos deitar tranquilos no travesseiro. Mas sim porque alguma coisa nos diz que a harmonia é o melhor negócio. Quando eu não jogo papel no chão, não faço isso por causa de uma propaganda, porque não tem ninguém vendo, ou porque alguém me disse que não deveria fazer. Faço porque junto a toda a informação que recebi, cheguei a conclusão de que realmente é o certo. Mas podia ter concluído o contrário. Sem essa pieguice de que mundo eu vou deixar para os meus filhos. Ninguém pode se anular como individuo em prol da sociedade. Mesmo nesta época do politicamente correto. Até porque quando somos bonzinhos, não nos desvencilhamos da sociedade. Nós somos o mal e o bem que habita nela. Eu também mato, estupro, e roubo. Embora não seja eu quem puxe o gatilho. Ninguém pode carregar o fardo. Até porque só muda quem está em dúvida. As verdadeiras vítimas são minoria. O Brasil é assim porque nós brasileiros queremos ou deixamos que ele fique assim. E mesmo que tenhamos avanços nas áreas mais críticas, nada nos garante que vamos evoluir como sociedade, ou que seremos felizes, que acredito ser o objetivo final. Em países ricos malucos entram em lugares atirando. E é onde estão os maiores índices de suicídios Por isso o pensamento não pode estar restrito a uma época, ou situação que normalmente é passageira. Mesmo para a minha filosofia teen.
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Foi Por Isso Que Aconteceu Aquilo!
Eu perguntei: você terminou o livro? Ela disse: não. Ah, o garoto queria se matar. Não gosto disso. Eu retruquei: mas você tem que ler para saber o que acontece. Então respondeu: eu nunca leio os livros até o final. Eu disse: porque? Ela: tenho medo de saber o que vai acontecer. Prefiro não ler. Depois eu me pus a pensar que o livro não acaba em suas páginas. Pois assim como na vida a coisa pode se inverter depois. Mudar de rumo, sei lá. Por isso que não gosto de autores que querem explicar tudo, que não deixam a gente imaginar nada, e que pensam que o leitor é um pária sem criatividade, ou inteligência para refletir porque aquele personagem se transformou no quê é hoje, por exemplo. Talvez ela não queira saber o final, por pensar que assim como na vida, ele pode ser bom ou ruim. Depende do ponto de vista. Eu não sei porque, mas a minha intuição me diz que já aconteceu algo que vai voltar depois. Mesmo que não seja nada tão extraordinário como a gente gostaria de imaginar. Alguma coisa que nos conforte. E que nos faça dizer, tá vendo? Foi por isso que aconteceu aquilo!
domingo, 21 de outubro de 2012
Horário de Verão
O meu pai acorda as seis da manhã, e vai comprar o jornal, o leite e o pão. A minha mãe liga o rádio e prepara o café. Ela se arruma enquanto o meu pai não chega. Eu levanto. Nós tomamos o café da manhã juntos. Os dois me beijam e saem de mãos dadas. Sete horas. Ela pega o trem. Ele pega o ônibus. E os dois pegam no trabalho as oito. Saem as cinco. Na volta, se eles apertarem o passo, ainda dá tempo de irem me buscar na escola. Pois levam do centro da cidade ao subúrbio, apenas quarenta minutos. Eu vejo os dois me esperando na saída. Sendo assim nessa época, a gente consegue aproveitar a luz do dia. Talvez a gente caminhe um pouco na praça, ou vá dê uma passadinha na casa de um parente próximo. Por isso que eu adoro este horário.
sábado, 20 de outubro de 2012
Na Casa do Tim
Eu fui a casa do Tim. Ele estava sentado num sofá assistindo televisão. Gordo igual um buda. Uma profusão de crianças correndo para todo lado. Sobrinhos, vizinhos, netos, talvez. O Tim me disse: sem cerimônia, Magrão. O Tim me chamava de Magrão. Ele empurrou o gato que estava ao seu lado. O bichano saiu num pinote em disparada para fora da casa. Eu havia imaginado outro cenário. Pensei que nós íamos para um estúdio cheio de instrumentos pendurados. Não havia privacidade. A tevê no último volume. Ele gritava com as crianças. A menina correu pra rua! Veio uma mulher da cozinha que parecia ser sua irmã. Ela perguntou: vamos comer rabada, Tião? Ele disse: vamos, o Magrão quer provar da tua rabada! E depois disse a ela: esse aqui é um cantor amigo meu, cuidado que cantor é tudo calhorda! Ela deu um risinho e voltou para a cozinha. O Tim em casa era um patriarca. Ele pegou uma lata e começou a enrolar um baseado. E me disse: se quiser mete a mão que do meu você não fuma. Eu fui cheio de esperança de falar sobre música ou quem sabe fazer alguma. Era uma terça feira. E fomos levar uma porção de crianças na escola. E depois fomos ao supermercado. Na volta ele tirou a camisa. Nunca pensei em ver aquela famosa pança preta. Aos poucos comecei a relaxar e a aproveitar o momento, e esqueci o negócio da música. Ele contava histórias engraçadas sobre os músicos. Era um comediante nato que dava a entonação certa imitando as pessoas. Depois que fomos buscar as crianças, o Tim me levou a um ponto de ônibus, e nós nos despedimos. Logo após fiquei sabendo que ele havia morrido. E me veio a mente aquela tarde tão agradável.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
O Artista
Antigamente no subúrbio, quando a criança aprontava alguma peraltice, a mãe dizia: para de fazer arte menino! A criança era tida como arteira. Os malandros chamavam seus chegados de artista. Mas nem todo mundo que faz arte é artista. Nem todo mundo que trabalha com arte é artista. O ator Marlon Brando dizia não ter amor a arte, e que se o pagassem para ficar sem fazer nada, ele ficaria sem fazer nada. Billie Holiday ao ser indagada se sabia cantar, respondeu: e quem não sabe? Tem gente com livro editado, filme pronto, peça ensaiada, quadros expostos, que não é artista. Eu assisti a uma aula em que um professor de filosofia disse que um diploma não faz de ninguém um filósofo. Como Chico Science dizia, computadores fazem arte, e artistas fazem dinheiro. Hoje em dia com a facilidade tecnológica, existe uma enxurrada de gente fazendo arte. Mas são raros os verdadeiros artistas. Conheci pouquíssimos com aquele brilho no olhar. Embora esta frase seja um clichê, não deixa de ser verdadeira. O verdadeiro artista não se preocupa com nada. A única certeza que tem, é a de se dedicar e aperfeiçoar o seu ofício. Pois não tem tempo a perder. Igual aqueles filósofos antigos que não se casavam para não suprimir o tempo dedicado a filosofia. O escritor Charles Bukowski dizia não ter tempo nem para cortar as unhas. O verdadeiro artista pensa como artista, e se movimenta como artista. É como se o mundo fosse a sua tábua de criação. Como Henry Miller dizia: eu leio o mundo. Fama, dinheiro, e reconhecimento, podem fazer parte da vida mundana de um artista. Ou ser até uma necessidade para que continue propagando a sua arte. Mas não são preponderantes no resultado final de sua obra, que tem um valor abstrato para si mesmo, muito maior que esse temporal.
"A arte pertence ao inconsciente! O Artista deve expressar a si mesmo! Expressar a si mesmo diretamente! Não seu gosto, sua educação, inteligência, conhecimento ou habilidade". Schoenberg.
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
2003 Foi Um Ano Ruim
Eu tava magro. Nunca tive tão magro em minha vida. Todo mundo me perguntava se eu tava doente. O meu cabelo não parava de crescer, e eu não sentia nenhuma vontade de cortar. Eu vivia com o meu pai. Ele saia de manhã para trabalhar. Deixava alguns trocados para o pão em cima da mesa. Voltava à noite. Ele me dava boa noite e ia dormir. Eu olhava para as paredes descascadas do quarto, e pensava no que fazer. O que eu ia inventar agora. Todo mundo some quando se começa a envelhecer por baixo. Depois os putos reaparecem para relembrar a velha amizade. Seres humanos. Ninguém tocava a campainha. Ninguém me telefonava. Eu ia a biblioteca pública do bairro, mas já havia lido quase todo o seu pequenino acervo. Um urubu sobrevoava a casa. Eu queria me matar mais não tinha forças pra isso. Então me sentava em bancos de madeira, até a minha bunda criar calos, esperando ouvir alguma coisa que me tirasse daquela procrastinação. Nada. Final de semana eu arrumava uma nota de cinco, e me juntava com algum tipo derrotado. A gente ia ao supermercado, escolhia o vinho mais barato, e virava uma garrafa quente do gargalo. Alguma coisa me dizia que eu tinha que continuar. Viver é tão absurdo, mas ao mesmo tempo tão maravilhoso. Não me pergunte por que. Nessa época eu tive uma ideia de algo novo que podia fazer. Consegui me reinventar. Descobri que não existe luta, e que é preciso ter paciência.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
Para Aonde Foram Os Crackudos?
Para aonde foram os crackudos. Hoje eu fui a Biblioteca Parque Manguinhos, e não vi nenhum deles por lá. As ruas estavam limpíssimas. E os traficantes, será que mudaram de ramo. Como uma população inteira evapora. Não que eu me preocupe com isso, pois como qualquer cidadão mediano, eu não me preocupo com ninguém. Mas queria saber. Só por curiosidade. Será que eles ascenderam, como dizem que aconteceu com algumas civilizações antigas. De repente eu estava lá, entre o Jacaré e o Manguinhos. Duas favelas pacificadas. Vi a polícia montada, como na época do Bota Abaixo. Vi o frisson das crianças querendo aparecer na televisão. Tia, vocês vão filmar aqui. As velhinhas felizes da vida. De repente percebi que estava sendo contagiado por aquele clima de Copa do Mundo, de Réveillon, e de Natal, em que mesmo os ateus comemoram. Percebi que era hora de voltar para casa. Pois quando a conta chega, sempre bate o arrependimento. Normalmente ela vem acompanhada da ressaca. E a ressaca moral é a pior delas. Quando você percebe que bebeu demais. E que a festa nem foi tão legal assim.
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
MPB FM vs. Rádio Roquette Pinto
A JB FM era a rádio número um com selo de “bom gosto”, junto da Antena 1 Fm. Mas a JB se propôs a dividir o bolo com a música brasileira e saiu na frente. Aí alguém da MPB FM sacou que se só tocasse música brasileira alcançaria um público sedento. E hoje ela ocupa o lugar que era da JB. É a mais tocada nos consultórios psiquiátricos. Mas tenho sentido a força da Roquette Pinto. Talvez pelo fato de ser uma empresa pública, ela possa apostar num tempo diferente, com espaço para intervenções de seus apresentadores, que em alguns programas lançam comentários críticos e históricos sobre o que tocam. Além disso a Roquette aposta no lado B da MPB, e no que existe de mais sofisticado na música universal. No momento em que escrevo estas palavras estou ouvindo Andrea Doria da Legião, que é uma música quase lado B. Já a MPB tem optado, com raras exceções, por uma programação mais lado A. E mesmo em alguns programas como o Pop Rock Brasil, eles metem algumas músicas saturadas, quando podiam se aprofundar mais um pouco na década de oitenta, que acredito eu, ouvinte assíduo do programa, seja a vontade da maior parte. Existe uma introdução disso, mas quando o ouvinte se empolga, eles recuam. Embora a rádio tenha um papel importante para os artistas da MPB, ela podia ousar mais. Inclusive com artistas verdadeiramente independentes. Não tenho esperança de ver uma música minha em nenhuma das duas rádios. Não existe uma ouvidoria. E acho que diferente do que as rádios dão a entender, as coisas não são tão fáceis para quem grava seu próprio material, e não tem o respaldo de um produtor ou uma gravadora, mesmo que independentes. Mas hoje talvez o ouvinte da MPB seja um potencial ouvinte da Roquete Pinto, que tem afinados muitos ouvidos, inclusive os meus.
P.s: não estou me justificando, mas não me apeguei a pesquisas, e sim a minha percepção de um público ligado a música popular brasileira. Numa análise mais completa, eu não poderia deixar de citar as formidáveis Rádio MEC FM e a SulAmérica Paradiso.
domingo, 14 de outubro de 2012
Eu Enfiei a Cabeça Dele na Lata de Lixo!
Todo dia eu venho a esse supermercado e ele fica me olhando. Eu estou a essa hora de chinelo e de bermuda com esse cabelo. No mínimo não estou pegando no pesado. E na visão dele o trabalho enobrece o homem. Ele não sabe que neste momento, só de olhar para ele e pensar sobre, eu estou trabalhando como escritor. Ele não sabe que eu sou escritor. Ele deve pensar que eu sou sustentado por minha esposa. Mal sabe ele que nesse quarteirão e no outro, e talvez até nesse bairro inteiro, eu seja um dos caras mais felizes. Por causa da minha liberdade, e de viver do jeito que sempre sonhei. Ele me olha e talvez não vá com a minha cara porque eu tenho cara de maconheiro. Isso justifica alguma coisa em sua cabeça. Ele me encara de cara feia, porque sente inveja da minha liberdade. Eu saio de fininho para não arrumar confusão. Mas em pensamento, eu enfiei a cabeça dele na lata de lixo!
sábado, 13 de outubro de 2012
Chico Buarque de Holanda
A minha vó me perguntou uma vez o que eu queria ser. Eu disse a ela que eu queria cantar samba e tocar violão igual aos pretos do morro. Agora eu estou aqui no meio dos pretos do morro. Intimidado com a viola no saco. E tenho a sensação de que estou clareando a noite. Os meus olhos claros que na beira de praia fazem tanto sucesso, aqui só fazem chamar ainda mais atenção para a minha pessoa exótica. Todo crioulo que me cumprimenta diz: e aí surfista? E talvez surfista seja uma forma de não me chamar de playboy. Ela requebra. Ela me olha. Eu dou um sorriso tímido com o canto da boca. O trafica encosta em mim e me diz: a tua papinha não é surfista? Eu digo: não, nada a ver, aí! Ele diz: qual é surfista, vai querer enganar nós? Eu calo. Ele me deu a melhor erva do morro. E disse: essa é só pra morador! Agora vem o homem gordo diretor da escola. Ele beija a mão da preta. Ela olha para a mesa como que para ter a minha aprovação. Eu sou um estorvo. Acendo um cigarro e encho o meu copo. O traficante gostou de Quem Te Viu Quem Te Vê, e disse: maior realidade aí... E depois ele contou uma história imensa sobre um caso dele com uma passista. Ele se identificou com a música, agora nós temos algo em comum. E toda vez que eu venho à quadra ele quer conversar. Ela está rebolando e olha direto na minha direção. Não consegue mais disfarçar, e eu estou com medo que eles fiquem chateados. Agora aquele crioulo mais velho cismou com ela. Ele parece querer que ela sambe com ele. Mas ela balança a cabeça e me olha novamente. Eu não posso me meter. Quem sou eu? Magro e desarmado. O trafica se levanta e caminha para o centro da quadra. Ele segura o coroa e daqui posso ler seu lábio. A mina tá com o cara! E me aponta. Ela vem. Depois o trafica. Ele diz: aí surfista, tá em casa aqui, você pode ficar tranquilo. Eu só consigo dizer: valeu... Ela me puxa e a gente vai sair. Ela não fala com ninguém. Eu penso. Sou eu, só quem sabe dela sou eu! Isso dá música.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Eu Não Consegui Roubar...
Naquele quintal só se comia angu e ovo. Por isso que hoje em dia eu só como ovo quando não existe outra opção. E tomei nojo de angu. Eu, e um dos meus primos que virou ladrão, e que por isso morreu assassinado, a gente era louco por pão. De tarde naquele sol do quintal, a gente tinha que se virar para comer pão. Então nós catávamos garrafas ou vendíamos alguma coisa no ferro velho. Eu ia com a minha prima as saudosas Casas da Banha, e ficava vigiando com medo enquanto ela jogava as coisas dentro da roupa. Hoje em dia isso não seria possível por causa das câmeras. Uma vez eu tentei roubar um doce na mercearia. O rapaz não brigou comigo. Mas me olhou de uma maneira tão desaprovadora, que antes ele tivesse me levado para a delegacia. Ainda hoje não consigo me esquecer daquele olhar. Mais tarde surgiram convites mirabolantes para furtos mais sérios. Detesto armas e violência. Só o pensamento de empunhar uma arma me provoca náuseas. Um amigo meu rouba canetas. Ele está conversando contigo, ou com uma atendente qualquer que lhe presta uma caneta, e ele escorrega a caneta para dentro do bolso. E vibra como se tivesse acabado de assaltar um banco. Ele diz: você viu, ela nem imaginava! Quando eu era criança pedi a um senhor que me emprestasse umas moedas para poder jogar fliperama. Na minha cabeça infantil aquilo era uma necessidade. Depois do que ele disse, eu passei a detestar pedir coisas aos seres humanos. Quando é dia de dar doces eu me tranco em casa. Fecho até as cortinas. Pois fico com pena daquelas crianças que pegam doces, não para se divertir, e sim para matar a fome.
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
A Praia Mais Bonita Do Brasil
A praia mais bonita do Brasil fica num dos estados mais populares do nordeste. É uma praia pequena. Ela tem bancos de areia, areia branquíssima, e água cristalina com temperatura agradável. Mas o melhor de tudo, é que não existem muitos muitos seres humanos por perto para poluir o ambiente. Embora nessa praia tenha sido filmada uma novela, impressionantemente ela não se tornou popular. Esse estado do Brasil tem praias muito conhecidas, mas essa não figura entre as mais citadas. Não sei se por que bulhufas ela se mantém assim. Não sei se é contramão, ou o que acontece. Lá tem poucas barracas e as coisas não são tão caras. Trouxe algumas conchas que catei para fazer um colar. Eu não bebo cerveja. Mas naquele dia tive que beber. E enquanto o vendedor estava reclamando que lá era uma praia pouco frequentada, eu pensava, tomara que eles não venham sujar aqui, também, que fiquem pela cidade! Pensei isso não por uma questão de egoísmo, e sim de preservação. Quando olhei para aquele mar, matutei, eu posso até não ter conhecido a eternidade, mas que eu já conheço o paraíso, ah, isso eu conheço!
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Snoop Doggy Dogg No Programa Da Oprah Winfrey
Snoop Doggy Dogg foi ao programa da Oprah Winfrey. Quando ele sentou no sofá, a apresentadora, antes mesmo de saudar a plateia perguntou: você fuma maconha? E Snoop respondeu: exceedingly. Ou seja, excessivamente. Oprah abanou o ar com a mão e disse, está um cheiro aqui, que chegou a empestear todo estúdio. A plateia veio abaixo. Um minuto de risos. Snoop disse: é que esse baseado é o baseado do mês! E Oprah perguntou: como assim o baseado do mês? Ele explicou. Eu tenho um cemitério. E Oprah fazendo graça, eu não sabia... A plateia sorriu. Snoop disse: é um cemitério de pontas. E quando eu encho um potinho com as pontas do mês inteiro, eu tiro aquela erva curtida de dentro de cada cigarro, e enrolo um único baseado do tamanho de um charuto enorme, e isso aconteceu hoje! A Oprah disse: quer dizer então que eu fui sorteada? Sim, você foi sorteada! A Plateia desabou. O YouTube não permitiu que o vídeo fosse postado.
terça-feira, 9 de outubro de 2012
Adriano
Adriano, eu moro aqui na Penha, e este lugar realmente tem alguma coisa inexplicável. Até escrevi um livro sobre isso. Adriano, todo mundo sabe que o teu problema não é droga, e sim bebida. Você está doente, e tem que se cuidar. Pois tem um vício que leva a outro vício. E provavelmente tudo começou com uma depressão que você não cuida. Dá para ver em teus olhos. A depressão assim como o alcoolismo é uma doença que tem tratamento. Existem esses grupos de doze passos que funcionam. Mas cuidado para não culpar a bebida e o sexo pelos teus fracassos, ao invés de reavaliar o teu pensamento. E cuidado também para não substituir alguns vícios por outros, tipo, comida, videogame ou fanatismo. Eu sei que você vai enlouquecer se tiver que abandonar determinadas amizades e lugares. Mas dependendo do caso, isso se torna necessário. Ninguém afunda ninguém, Adriano. Cada um é que se afunda sozinho. Você falou em desistir, e parar de jogar. Após um jogo em dois mil e nove, eu fui dormir emburrado, pois estava colocando fé que com aquele time dava pra ser campeão. Mas sabia que a gente não podia perder aquele jogo. Eu deixei de acreditar assim como você está deixando de acreditar agora. No dia seguinte aquele jogo todo mundo disse: Já era! Mas vocês começaram a embalar. E a cada jogo que passava, eu me perguntava: será que vai dar? Você é o jogador mais forte que eu já vi jogar. Eu me lembro de que pisava na bola e a protegia com o corpo, e o zagueiro que trombasse contigo se dava mal. Você com a tua cabeçada, e o teu chute forte. Sempre a espera do próximo duelo, a gente começou a fazer as contas e a dizer que dava. Nunca valorizei tanto os minutos passados como naquela final. E cada um que passava me dava um alívio igual aquele vento que passa no rosto numa tarde de calor. Quando o juiz deu o apitou final e apontou o centro do campo, eu senti uma emoção que só havia sentido pela última vez naquele gol do Pet. Saí correndo portão afora, gritando de felicidade. Eu não acreditava mais na recuperação do Flamengo, e você me fez acreditar que a gente junto conseguiria. Espero que você agora aceite que eu te diga que você pode se recuperar. Não que a gente dependa de você, pois nós não podemos depender de jogador. Até porque o nosso time, é a nossa torcida, e não os nossos jogadores. E você criado no clube, sabe muito bem disso. Mas sim pelo que você já fez pela gente. É uma forma de gratidão. Por isso nós te aceitamos de volta. E tomara que você faça a sua parte. Não pela gente, mas por você mesmo, Adriano.
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
As Minhas Mãos São Feias
As minhas mãos são cheias de calos. Calos do instrumento que toco precariamente, e outros calos. Calos nas pontas dos dedos. A ponta do meus dedos são queimadas, por falta de atenção. Eu faço um força terrível para não roer unha. Não sei cortar as unhas, e sempre que as corto sem ajuda, acabo arrancando um pedaço de pele. Mas o que há de feio em minhas mãos não é fruto de um trabalho pesado. Embora escrever me deixe com dor na coluna por conta da má postura. Elas são feias talvez em respeito a uma tradição familiar. Pois as mãos da minha mãe cheiravam a água sanitária. Por isso sempre que vou comer em algum lugar escondo estas mãos que pressionam as teclas. Que apesar de limpas, são feias. As minhas mãos estão sempre embaixo da mesa. Já cuidei das minhas unhas, mas não deu, elas chamavam ainda mais atenção para o resto. Por isso que as minhas mãos em determinadas situações estão enfurnadas em meus bolsos. Pois elas são os olhos do tímido.
domingo, 7 de outubro de 2012
Dia de Eleição no Subúrbio
Dia de rever os amigos de infância. Pois eles sempre voltam para almoçar em família na casa da mãe que continua morando na mesma casinha que irá morar pelos próximos cem anos se deus quiser. Dia de saber que o cara mais inteligente da turma não ficou rico. E que aquela menina pela qual você era apaixonado acabou se casando com aquele mané, e que hoje ela está gorda e que traz três filhos na bagagem. Bem feito pra ela. Dia de ouvir na fila para votar que todos os políticos são safados. Dia de pensar em quem vota nesses políticos safados. Dia de no final da tarde olhar aqueles carros lotados voltando para outros bairros distantes, e de entrar no ônibus cheio de crianças e bolsas. Mas ninguém deve ligar muito para saber quem foi eleito.
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
De Saia Curta e Salto Alto
Ela chegou à festa com aquela saia que mesmo para os padrões dos tempos em que as mulheres são essenciais para a política central do ocidente, num tempo em que o que é bonito é para ser mostrado, num tempo em que posar nua é sinônimo de trabalho, e de eu sou independente, mas você paga a conta. A saia era um escândalo. A tia chegou abafando e logo pegou no colo o menino ainda em trajes de pagão. Alguns homens engoliram em seco como de costume. E disseram em pensamento: gostosa! Num tom que dava a entender que isso era uma ofensa. E as mulheres, despeitadas ou não, diziam: que saia! Algumas olhavam mais com admiração do que inveja. Daquele mesmo jeito que alguns homens olham. A tia pegou o aniversariante no colo e fez todas as firulas possíveis para que todos vissem o seu útero. Agachou, pulou, e sentou de perna aberta. Falou praticamente com todos os homens acompanhados da festinha de um ano. Com aqueles com quem tinha, e que não tinha intimidade. Alguns ficaram até com medo de se levantar da mesa, para não sofrer um achaque íntimo. Naquele dia metade dos casais que foram à festa dormiram brigados. A outra metade comentou o acontecimento. O aniversariante dormiu no colo da tia entre dois belos melões. A tia dormiu feliz da vida em sua cama de solteira. E lá vêm as festas de final de ano. Boa sorte a todos!
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Avenida Brasil
Aeroporto. Tiro. Carro na contramão. Falsa blitz. Pedra arremessada de cima da passarela. Engarrafamento. Tiroteio. Xingamento. Foda-se. Vai tomar no cu todo mundo. Calor pra caralho. Mendigo andarilho. Criança abandonada vendendo bala no ônibus. Ônibus lotado. Duas horas parado. Pardal. Atraso. Garrafa de plástico arremessada pela janela. Alagamento. Intransitável. Bandalha. Mixórdia. Pedinte. Vendedor ambulante. Pregação. Isopor com cerveja. Boca perto da pista. Maconha palha. Propina. Motel pra trepada com colega de trabalho na hora do almoço. Travesti se prostituindo em ruazinha transversal. Propagandas. Forró. Falsas propagandas. Palavras de ordem. Utopia. Hospital público lotado. Escola de nível médio para trabalhadores que sonham. Pedofilia. Necrofilia. Turismo sexual. Cachorro vira-lata com o pelo caindo. Idoso. Deprimente. ONG corrupta. Barracos amontoados. Pichação. Falta de privacidade. Lixo cobrindo bueiro. Arrancada. Atropelamento. Estresse patético. McDonald`s. Habib`s. RJ TV. Wagner Montes. Frentistas com celulite. Batidas. Ausência de riqueza. Ausência de beleza. Pobreza sistemática. Corrupção impregnada. Omissão. Atitude duvidosa. Falta de amor próprio. Ilusão constante. Otimismo arcaico. Pessimismo. Artista mimado. Carro tocando pagode com ar condicionado. Gênio incompreendido. Lixão cenográfico. E não aparece um tufão pra acabar com isso tudo.
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