terça-feira, 14 de novembro de 2023

A Terapia

O negócio é não pensar. Manter a mente ocupada. A mente vazia é a oficina do diabo. Por isso eu escrevo. Reescrevo. Apago tudo. Rasgo. Jogo fora. Levanto. Tomo um café. Respiro. Vou lá fora. Aos poucos o medo some. A ansiedade vai embora. Começou como um hobby. Virou uma profissão de fé. Hoje é uma terapia.










segunda-feira, 13 de novembro de 2023

O Compositor

Ninguém sabe qual é o rosto,

ninguém sabe qual é o nome,

ninguém sabe nem a cara do compositor.

O compositor é mais um rosto, 

ele é mais um sobrenome, 

atrás da cantiga do cantor. 

E se o cantor não grava,

o compositor acaba.

E se o compositor acaba,

o cantor não grava.

Pois ele também tem a sua saudade,

ele também tem a sua solidão. 

Enquanto o mundo ouve a sua poesia,

o compositor carece de provisão.

Enquanto o mundo ouve a sua poesia,

o compositor carece de provisão.

E se o cantor não grava...

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

É O Que Há

No começo eram os Beatniks e o Jazz, os Teddy Boys, A Juventude Transviada, os Rockers. Depois vieram os Hippies, o Maio de 68, o Tropicalismo, o Reggae. Então veio o Funk, o Soul, o Black Power, a Disco, os Punks, o Hip Hop, a New Wave... e porquê não o Grunge, os Clubbers, e o Mangue-Beat? Mas... aí veio a Internet... e fodeu com tudo. Acabaram as utopias. As revoluções. E ninguém mais quer saber de nada. Ouvir nada. Ler nada. Tá todo mundo de saco cheio. Sem paciência. Eu também tô de saco cheio. Tudo é muito rápido. Ninguém se reúne mais. Nada mais é espontâneo. Ninguém quer mais ficar no meio da rua ou ir às manifestações culturais. Tudo é feito no quarto ou na tela. Os ídolos têm os pés de barro. O que tem são uns poucos saudosistas. Hoje em dia o quem manda é o dinheiro. É o que tá tendo. É o que há.

domingo, 3 de setembro de 2023

Oração das Redes Sociais

Senhor... proteja as minhas redes sociais. Que os meus amigos radicais de esquerda me vejam à sua esquerda, e que os meus amigos radicais de direita me vejam à sua direita, Senhor. Que eles não descubram o que eu penso para que não me façam mal. Os poucos que sobraram da última eleição. E que as minhas amigas heterossexuais radicais me vejam como gay, e que as feministas radicais ao me olharem me vejam como uma mulher trans. Me livre das falsas acusações de abuso e de estupro, e afaste essas mulheres falaciosas de perto de mim, e dos ambientes onde eu vivo. E que para os negros radicais eu seja negro, e para os brancos radicais eu seja mais branco do que uma nuvem do céu. E que os defensores dos animais radicais não me vejam comendo carne, os cegue Senhor, nesse momento da hora do almoço no bandeijão. Que eu não precise discutir ouvindo palavras duras, e que me magoam. E que os ignorantes ao lerem os meus textos fiquem míopes e vejam todas as palavras embaralhadas em sua frente. E que os ecologistas radicais não me vejam devorando livros de papel, que eles os confundam com sanduíche natural. Por favor Senhor, eu lhe imploro, não deixe que eles saibam que eu sei que eles estão envoltos em contradição. Faça com que eles pensem que eu acredito em tudo o que dizem. Ser cancelado tudo bem, Senhor. Ignorado, tranquilo. Agora eu tenho medo da agressividade daqueles que rosnam à minha frente. Por favor, Senhor, me livre das agressões públicas. E por fim, que os fanáticos religiosos consigam enxergar em mim a fé que eu tenho no Senhor, para que eu não seja torturado por eles ou jogado na fogueira. Ter a pele rasgada dói pra cacete.

domingo, 18 de junho de 2023

Cidade de Deus

Eu assisti Cidade de Deus de novo. E nada é mais poético do que a morte do Cabeleira. Nada mais triste e mais sofredor. Aquela corrida… o cinema tem essa mania de captar toda a dor e a potencializar. Quem não soube de uma corrida dessas não sabe o que é sofrimento. Quem não ouviu os prantos. Não importa de qual lado for. Quem não viu essas mães chorando. Embora para os negros pobres seja pior. O Cartola com a música do Candeia ao fundo que dilacera a alma, clichê. E o que dá revolta é que de Deus e o Diabo na Terra do Sol para Pixote o Brasil não mudou nada. E de Pixote para Cidade de Deus também não. E de Cidade de Deus… pelo contrário, até piorou. O estado e os bandidos ficaram mais violentos. Basta olhar os números de chacinas. A primeira vez que vi o filme eu fui ao cinema num dia em que os bandidos de dentro do presídio haviam mandado “fechar tudo”. Coisas nossas. Mas ali, eu olhei para aquilo, mesmo tendo nascido na Baixada e vivido na Zona-Norte. Não sei como é. Coisa de favela. Não moro lá dentro. Só vou lá. Mas quando eu assisti ontem novamente o filme me causou um impacto diferente. Eu lembrei daquelas corridas… de quem correu para viver. Aquelas corridas são tristes que dói. Se essas pessoas estavam erradas ou não, elas deveriam ser julgadas e não condenadas à morte. Mesmo os assassinos psicopatas que se escondem no meio dessas gangs. Só assim a justiça funciona. Tem muita gente que vira a cara para o filme. Mas como ouvi um português dizer: “Isso está bem conseguido.” E não me vem com história de que tem de ser assim. Nem em todo o lugar é assim. Se fosse regra seria em todo lugar. O filme mostra nossa realidade, infelizmente. Aquelas corridas tristes…

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Isso é ódio ou tédio?

Tento ler o jornal…
e ódio, ódio, ódio.
Tento ver a rede social...
e ódio, ódio, ódio.
Tento assistir a um canal...
e ódio, ódio, ódio. 
Isso é ódio ou tédio?

sábado, 4 de fevereiro de 2023

MC Poze do Rodo

MC Poze é um reflexo da sociedade carioca e consequentemente brasileira. Um país onde a meritocracia advinda dos esforços individuais é pífia. Uma sociedade que há muito deixou de acreditar e investir realmente em educação. Provavelmente Poze presenciou pais saindo de madrugada e passando boa parte do tempo em trens lotados e engarrafamentos para ganhar uma miséria, e mães sofrendo horrores sozinhas para educar os seus filhos. A escola um deserto de desmotivação, desde os seus prédios tediosos às suas propostas pedagógicas caducas. O futebol cada vez mais elitizado, menos uma saida rara para menores pobres. O que sobra? O tráfico ou o funk. No funk é possível com uma batida e uma voz, espalhar a música na favela, se tiver carisma e os contatos certos. Poze diz que é sabio por ter "vencido" na vida. Mas ele é o somatório de uma sociedade movida por cliques e dinheiro no banco. Para cada um Poze existem milhões de ressentidos que não chegam a lugar algum. Poze ostenta porque todo mundo quando pode ostenta em suas redes sociais. Poze faz apologia ao tráfico porque a sociedade brasileira é corrupta e apoia ao crime mesmo quando disfarçado de politica. Poze é machista porque é isso que ele vê em seu dia a dia, e as próprias cantoras de funk diminuem as mulheres. E o pessoal do politicamente correto não vai se meter com o machismo de Poze porque sabe que é muita treta meter bronca com a favela. Então censuram os Racionais e os Chico Buarques da vida. E se Poze faz sucesso é porque algum talento ele tem. Mesmo que seja o de captar o que vai nos corações de parte dos favelados.