quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Walter Mosley e Chester Himes na Penha!

Walter Mosley diz: essa favela tá um saco, tá parecendo um campo de concentração... cheia de soldado... Chester Himes responde: tá parecendo é um quartel, isso sim! daqui a pouco eu vou começar a bater continência! ele diz isso, e ri sozinho. eles voltam para o assunto anterior. Walter Mosley diz para Chester Himes: não me venha com essa de que sabia que o Adriano seria craque desde o Campo do Ordem, Joe! (não sei o porque desses apelidos.), dizer isso aqui na Penha, é o mesmo que dizer que apostava na estrela do Zeca desde a época do Cacique. todo mundo fala isso! Chester Himes diz: Joseph, você é um velho que fala de Carlos Lacerda! Eu digo a Walter Mosley: dizem que Lacerda era um bom orador... Walter Mosley dá um tapinha em minhas costas, e diz: tá por dentro hein, rapaz? Chester Himes fala: daqui a pouco esse velho vai querer falar do tempo em que o Tenório mandava em Caxias. Walter Mosley grita: mas eu morava lá! Chester Himes responde, num disse? vou cair fora! esse papo vai terminar na trama do Getúlio com o Prestes... Walter Mosley me aponta o espelho. gostou do corte? saindo da barbearia Chester Himes levanta o Meia-Hora para cumprimentar uma senhora que passa na calçada com bolsas de feira. ele diz: tudo bom, com a senhora?

domingo, 1 de setembro de 2013

Eu Queria Ser Um Vândalo...

ele me pergunta: qual a diferença de vagabundo pra desocupado? eu digo: acho que o desocupado é o desempregado. é o cara que tá atrás de um trampo, tá ligado? já o vagabundo, esse não quer nada com o basquete! ele me pergunta: então você é vagabundo, ou desocupado? digo a ele: não sou vagabundo, nem desocupado. sou, um artista! (arregalo os olhos e levanto o dedo), continuo, você não entende isso porque você acha que todo artista é famoso. o jornal na mão esquerda. ele fica o tempo todo se balançando. a cinza imensa no cigarro. a chama alcança o dedo. ele pergunta: porque esses cretinos cismaram com esse tal de cheirinho da loló? porque esses putos não fumam maconha? quando ele diz cretinos está se referindo aos adolescentes. eu digo: talvez seja mais prático. maconha tem fumaça. chama atenção. dá trabalho. respiro. normalmente esse pessoal já cheira outra coisa, ou bebe. agora superexcitado me pergunta aos gritos: qual a diferença de vândalo para arruaceiro? pigarreio, e digo. o vândalo é o cara que quebra as coisas, que dá prejuízo nos outros. os arruaceiros devem ser aqueles caras que ficam jogando lixo no meio da rua. desisto. ah, sei, lá! ele diz: eu queria ser um vândalo... quando chega o guarda do manicômio judiciário, e diz: vão bora retardados!

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Ele Fala Brasileiro!

ele disse: ele veio aqui.... tem que vê... humildão, ele... num foi, Charles? eu disse: foi... ele disse: ele é lá da Itália (e fez um gesto para longe). eu disse: é, ele é italiano. balançando as pernas. ele se mexeu, deu um tapa no braço do outro, e disse: ih, ele é maneirão! ele fala até  nossa língua, ele! sentimos um vento frio. cruzei os braços. ele pôs a mão no rosto e disse: ele fala brasileiro. eu disse: é, ele fala brasileiro. depois fiquei pensando porque ele disse ele fala brasileiro. será porque ele é de algum grupo secreto ultranacionalista, ou porque ele segue a lógica do brasileiro fala brasileiro, português fala português, alemão fala alemão, e por aí vai. quando ele grita: evém o busão! nós, pulamos, dentro. a minha mãe diria: você entendeu o que eu falei, não entendeu? e logo após ela balançaria a cabeça.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Ninguém Vê Nada, Todo Mundo Filma Tudo...

a hora do beijo. Antônio Fagundes se aproxima da Ângela Vieira. é cena que Hollywood produz, duas, ou três vezes ao ano. vai rolar, o beijo. pronto. todo mundo levanta o celular, o computador, e seja o quê for em direção ao casal. você não vê mais nada. apenas as costas dos outros que não conseguem ver o planeta a olho nu. é assim na hora do batizado. é assim na hora do aniversário. é assim na hora da formatura. todo mundo está ocupado registrando o momento. num show que fui assistir tive a impressão de que todo mundo era jornalista, ou celebridade, porque parte do público estava filmando o show, e a outra parte tirando fotos e enviando para o ciberespaço. filmar e assistir é a mesma coisa? uma vez assisti ao vídeo de uma mulher se afogando, um cara ajudava com uma das mãos, e com a outra segurava a câmera. quanta briga e estupro podiam ser evitados se o cinegrafista amador esquecesse o YouTube. o gol do Fio Maravilha da música do Jorge Ben Jor, hoje, teria sido filmado, mas não, assistido.

domingo, 25 de agosto de 2013

A Geração dos Polegares Tortos...

o neguinho tá sentado na calçada da esquina embaixo da marquise. ele cruza as pernas longas como se estivesse em casa. o sorriso congelado no rosto. o moleque branco de óculos escuros tecla com os polegares que parecem mais longos, e ágeis. ele faz parte da geração dos polegares tortos. alguém passa de bike e grita alguma coisa pro neguinho que responde: viado, tu tá me devendo. aquela aposta! pensa que esqueci... o neguinho balança o dedo de forma negativa. a bike desce a rua. quando chega esse cara. tem isqueiro? o neguinho tira o isqueiro do bolso, dá ao cara, e continua em silêncio. o isqueiro prateado faz uma enorme chama. o cara fuma. devolve o isqueiro. o neguinho tá sem camisa, de chinelos, de bermuda, e o sorriso congelado no rosto. o cara fuma. o cara fala. domingo é chato pra burro, aí! o moleque branco tecla e responde: nada pra fazer, aí. na net. no Face. mó, tédio. o cara fuma. o cara fala. que horas é o jogo, hein? o branco tecla e responde: sei de jogo não, aí! e agora passa a teclar com apenas um dos dedos. e diz sem deixar de olhar pro aparelho. vou sair. dá um tapa na mão do cara. e um tapa na mão do neguinho. tecla atravessando a rua. ele diz: tenho de ir almoçar com a minha avó. o neguinho diz: ah, moleque, vai comer a gororoba daquela velha?! o branco diz: padrão Fifa. o cara fuma. o cara fala. Almoço de domingo... o neguinho sorriso congelado.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Guia de Sobrevivência no Centro...

não tem nada. foi atrás de alguma coisa. 45 graus na Presidente Vargas pira o cabeção de qualquer um. pão com manteiga e café no estômago. tontura. luzinhas azuis, e vermelhas. envelope pardo debaixo do braço. longas caminhadas. intestinos relaxados. dor de barriga. MacDonald`s. você finge que está falando com alguém no celular que está a sua espera no segundo piso. tampa pro banheiro. o carinha de uniforme nem vai notar. o sanitário do CCBB tem cheiro de eucalipto. esquece restaurante, e bar. esses caras não tem coração. pastelaria de chinês, nem pensar. agora, e o cafezinho? cai pra um sindicato ou pra uma associação. ainda mais se for algo cultural, sempre rola um pessoal marxista, meio cristão, que fala de ditadura, usa barba, e é magoado com o PT. mas o melhor de tudo, socializa o café. pergunta sobre futebol, eles adoram falar sobre futebol para se sentir parte do proletariado. faz alguma pergunta imbecil sobre alguma coisa que não se resolve ali, e cai fora. o cafezinho do Ecad era o melhor que existia. não sei se ainda é assim. mas alguém sempre grita: o podrão no Carioca, dois real, tô partindo pra lá! e é aquela correria. um atropelando o outro. botando o pé na frente pro outro cair. todo mundo com medo que acabe o pão. é aí que você vê o caráter do brasileiro. filipeta de puta. telefone público com foto de travesti. profetas enlouquecidos. você pergunta o preço que lê na placa para ter certeza. confere de novamente se as moedas ainda estão no bolso. o vendedor esfrega o valor na sua cara, como quem diz, eu sei que você só tem duas moedas e mais o RioCard! a pergunta: linguiça, ou salsicha? ouriça os pombos com quem você vai travar uma batalha por causa das batatas-palha. caju, ou maracujá? caju que maracujá dá sono, você diz, mas é mentira, é porque o de caju é mais aguado. se conseguir vencer os pombos e ainda tiver tempo antes da entrevista, ou da reunião, eu te dou uma dica. põe o traseiro num banco do Campo de Santana, e conheça o tédio de verdade.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

O Poster!

o que está na janela fala: pô, que calor chato pra burro! dali se avista o cais. o cheiro da maresia podre empesteia os pensamentos. ela pinta as unhas em cima da cama. pôs um velho espelho quebrado próximo ao pé. a pintura da parede é verde. o esmalte é vermelho. ela diz: vai se fuder, maninho, calor do caralho! o outro que tá na rede enrolando tabaco numa Colomy, diz: pô, olha, seu mano, esse calor tá de fuder, mermo, ó! no radio alguma noticia. atrás da menina que pinta as unhas tem um poster do Luan Santana. numa noite em que o quê está na janela, que é marido da menina, chegou bêbado em casa, disse que ia tirar o poster do Luan Santana dali. foi uma confusão danada. dizem que até que uma pá de voou. ele disse: isso não canta, nada! isso, é um fresco! ela disse chorando, bêbada, você tem que me aceitar do jeito que eu sou! aos poucos a ressaca passou. os ânimos foram se aclimatando ao marasmo. e o poster ficou por ali. hoje não incomoda ninguém. ele fuma, bate a cinza do cigarro na janela, e fala: lá vem véio, ó! desce a rua na maior correria. pô, seu mano... quase que não te pego, ó! adianta um frila aí... o velho puxa um cigarro e dá a ele. depois o velho faz a mesma pergunta de sempre: e o nosso time? ele diz: eu acho que vai, ó, esse ano, num sei não, nós vamo arroxa eles aí, ó! então o velho desce a rua satisfeito.