terça-feira, 7 de junho de 2011
Mais Um Advogado Merda No Mercado!
Aí ele chegou com a cerveja. A gente embaixo da marquise. Tava um
frio do cacete. Um frio que congela a armação dos óculos. Abriu a boca sai
fumaça. O brilho dos faróis, dos olhos e da iluminação pública. Ele me disse:
cara... Eu terminei a faculdade. Eu disse: Show! Ele tremeu e falou: num sei
não. Eu devolvi a pelota. E agora? E ele: mais um advogado merda no mercado!
Depois do silêncio voltamos a sentir aquele frio constrangedor.
sábado, 4 de junho de 2011
Ela Não Quer Mais Casar!
Ele me telefonou: já alugou o terno? Sim, então vem correndo pra
cá! No caminho eu ia pensando o quanto era bacana que caras legais se dessem
bem. O cara buscava a noiva todos os dias na faculdade. Ele saía de onde
estivesse para fazer isso. Chapou com ela desde a época da escola. Ficou
ligando de tempos em tempos: ainda tá namorando? Sim, então depois te ligo. Até
que um dia ela disse “não”. Eles começaram a namorar e agora iam se casar. Eu
ia ser o padrinho do casamento e provavelmente do futuro filho deles. Quando
cheguei, ele me perguntou: seu terno é legal? Sim, meu terno é legal. E ele:
que pena... Pois não vai ter casamento. Ela não quer mais casar! Ele estava
tranqüilo. Sem essa de carpideira. Amor é coisa de viado. Homem trepa. Mas eu
fiquei com uma vontade imensa de chorar. E só pensava que nunca ia ser padrinho
de ninguém. Aquela porção de gente. Aquele dinheiro todo. Sei lá.
quinta-feira, 2 de junho de 2011
A Crase
Levei meu texto para esse escritor ler. Afundei naquele sofá que
me deu uma sensação de desequilíbrio. Escritor novo é foda. Ainda mais com
essas novas tecnologias. País que ninguém lê. Pirataria. Filmes 3d. Ele me
olhou como se eu fosse um passa fome. Não que eu não seja, mas jogar assim na
cara é foda, né? Depois mudou a posição das pernas, tirou os óculos e disse:
você só fala do teu bairro. E eu: é... Eu só falo do meu bairro. E pensei que
nunca viajei de avião e queria viajar de avião. E que não conheço ricos
depressivos ou policiais em crise. Ele me disse: gostei do teu livro, você
escreve bem. “Eu escrevo bem”, pensei. Mas tem que melhorar o português, o
texto está cheio de erros, sobretudo a crase, falou num muxoxo. Ele estava
preocupado com a crase.
sábado, 28 de maio de 2011
Canastra
Repartição pública. A loura chega. Cabelos curtos. Tatuagem nas
costas. Cara de mulher fatal. Gostosinha. Ela dá um beijo no rosto daquele
preto, magro e boa pinta com cara de falador. Eu penso. Canastra. Todo mundo
percebe que a loura ignora os outros colegas de trabalho. Ponto. Outro dia. O
preto grita meu nome. Eu levanto o dedo. Ele diz: chega mais! Eu sento em
frente a ele que me diz: vocês adoram dar trabalho pra gente! Quando ele diz
“vocês”, se refere a esse bando que sonha com o café que está na mesa da
atendente. Entra uma menina em cena. Bonitinha. Nada demais. Cara de igreja. Se
casar vai trepar uma vez por semana depois da novela. Estagiária. Ele diz: é
ruim ficar em pé, né? E ela: é, é ruim. Na seqüência ele pergunta: o quê você
vai aprontar fim de semana? Ela diz: nada, eu não tenho dinheiro, chego
cansada... E ele diz: eu também não tenho dinheiro, não... Eu penso. Canastra.
quinta-feira, 26 de maio de 2011
Idade Avançada
Ela olhou para o moleque e não acreditou. Perguntou apenas: qual é
a tua idade, moleque? Ele disse: quinze anos. E jogou os olhos para baixo que é
como esses moleques sempre fazem. Ela disse: você sabia que eu tenho idade para
ser a tua avó? E ele bufou como quem acha a pergunta desnecessária. E ela
disse: por que você não procurou uma mulher mais nova? Silêncio. Mas ela falou:
tudo bem, eu tô precisando de dinheiro mesmo! E ele ansiosamente perguntou:
qual é a tua idade? E ela: eu tenho idade avançada!
terça-feira, 24 de maio de 2011
Respirando De Canudinho
Ela entrou no elevador. Ela não ia falar com ele. Não mais. Ele
pensou que o ascensorista talvez estivesse pensando que eles não se conheciam,
e em como a vida de ascensorista é chata. O dia todo: Sobe. Desce. Essa
profissão devia ser banida por subestimar a inteligência do ser humano. Ela se
comportou como mulher e aguentou bem a pressão fingindo não o conhecer. Ainda
brincou com a bola como fazem os craques, se olhou no espelho e viu como estava
o cabelo. Ele estava respirando por canudinho, e tinha vontade de bater,
xingar, gritar, esganar a filha da puta. Quando o elevador chegou ao andar, ela
saiu tranquilamente mexendo na bolsa. Ele foi para o corredor lateral e deu
aquele respiro de alívio que quase derrubou o prédio.
sábado, 21 de maio de 2011
Acabou a Televisão de Cachorro
O Moleque falou para a Menina: esses programas de tevê são legais.
A Menina disse: você gosta? O Moleque respondeu: gosto. E a Menina: mas do quê
que você gosta? E ele: das comidas que essa loura faz. E a Menina respondeu:
essa loura é legal, né? E ele: pode crê Loura maior legal aí, Loura legal de
monte! A tevê era dessas que ocupam uma parede inteira da sala e que deixam as
pessoas pequenas em sua frente. Quando surgiu um homem com cara de pai do fundo
da loja e meteu a mão no botão. O homem disse: acabou a televisão de cachorro,
circulando, circulando... O Moleque falou: vamos tentar arrumar algum dinheiro.
E a Menina: eu quero comer alguma coisa. Eles saíram aspirando a substância que
os levava para o mundo em 6d. E mesmo fazendo calor eles têm que carregar seus
cobertores.
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