Eu tava bebendo um negócio com dois ou três bêbados amadores, e desconhecidos. A gente tava bebendo e assistindo uma banda de rock ruim. A banda era ruim. Não o rock. Um deles apontou a lata de Coca-Cola em cima da mesa, e perguntou: que porra é essa? Quando olhei percebi que tava escrito: quanto mais Rafa melhor. Alguém explicou que as latas vinham com vários nomes. Então a intenção é sair em busca da sua. Alguém disse: os caras do marketing são foda! Eu pensei. Os caras do marketing são foda. Mas eu nunca teria uma latinha com o meu nome. A vantagem de se ter um nome desconhecido é que as pessoas dificilmente se confundem. Já se você se chama Marcelo, Felipe ou Tiago, fica mais difícil. O lado ruim é ter que ouvir: eu não perguntei teu apelido, eu perguntei teu nome! Ou aquela: o dono da loja de móveis? Na verdade Delano é um sobrenome. O médico que fez o parto da minha mãe se chamava Jorge Delano. Até hoje não entendo a comparação com o ator Alain Delon. Não, eu não sou o Franklin Delano Roosevelt. Pior é ser chamado de Derlano por aqueles que não têm boa pronúncia. Quando o jogador Elano está na seleção... Eu respondo: o meu nome não é Elano!
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Oração de Delano Valentim
Senhor, que num milagre teu, senhor, toda essa gente comece a ler meu livro, que ele se torne um A Cabana, ou o meu Ágape igual ao do Padre Marcelo Rossi. E que o meu livro dispute ombro a ombro as prateleiras, e os passageiros dos ônibus, com o Harry Potter e o Crepúsculo. E que eu seja invejado e odiado como Paulo Coelho. Eu quero ver meu livro na mão daquele homem do povo que lê o Meia-Hora em pé no trem, e que escuta no celular, ou no radinho de pilha, o jogo do Flamengo, e a Patrulha da Cidade. Esse homem que mal sabe mexer na net, que não sabe nem o que é Face. Pois eu estou cansado daquele escritor que é um gênio para a história da literatura brasileira, mas que me dá sono no primeiro parágrafo. Senhor me leva para Hollywood, para que eu possa me prostituir como fez o irmão do Holden Caufield. Eu deixo o James Cameron me filmar. Ele faz do livro o roteiro que quiser, corta o personagem principal, muda o fim, eu não tô nem aí! Eu só quero que o filme propague o meu livro. Eu prometo que não vou à festa da entrega do Oscar. Dou uma de Salinger, que passou a vida toda lutando por aquilo, para no fim dizer que não queria. Os intelectuais adoram isso, escritores reclusos. Lembra-se do Dalton Trevisan? Do Thomas Pynchon? Do Carlos Castañeda? Do Rubem Fonseca? Mas senhor me afasta dos intelectuais, das resenhas, dos Prêmios Jabutis, das Feiras de Parati, da Academia Brasileira de Letras. Eu não quero ser condecorado, premiado, e estudado, para depois apodrecer numa estante empoeirada. Eu quero ser lido!
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
O Pé de Maria Joana
O Gordo disse pro magro esnobando. Aí tô com um pezinho lá em casa. O Magro surpreso. Mentira! O Gordo birrento. E já tá bem grandinho! O Magro curioso. Tu já fumou? O Gordo: ainda não. Mas tô pensando em estrear hoje. O Magro, vamo lá fumar um! O Gordo fazendo mistério. Mas ele tá no terraço do meu prédio... O Magro ainda sem acreditar. Você tá dizendo que plantou um pezinho no terraço do teu prédio? O Gordo: sim. O Magro: e se os outros vizinhos descobrirem? Eles não gostam, mas não sabem nem o que é. Pensam que é outra coisa. O Magro: o quê, por exemplo, trevo? É por aí! O Gordo disse já desinteressado. Continuou. Eu preciso de ajuda pra resgatar esse pé. O Magro: e qual é o tamanho dele? Vamo lá que você vai ver! Na escada o Gordo contou para o Magro: o porteiro fica admirado de como eu gosto de planta! Quando o Magro viu o pé, falou. Isto não é um pezinho, isto é uma árvore! O Gordo, sem escândalo. Vamo pela escada. Um tiozinho que ia abrindo a porta perguntou: que planta é essa, meu filho? E o Gordo: mandioca da serra! Eles riram desceram para a casa do Magro na noite suburbana. Carregando o vaso, suando. Uma patrulinha passou e um deles comentou. Que babacas, carregando planta uma hora dessa! Na casa do Magro, quando eles começaram a fumar, o relógio ainda estava marcando meia noite.
sábado, 27 de outubro de 2012
Eu Só Tô Com Um Real!
Ela me ligou a cobrar e disse: liga pro meu pai fazendo um favor. Diz a ele pra vir aqui que eu tô sem passagem. Eu liguei pro meu pai e disse: ela pediu pro senhor ir lá que ela tá sem passagem. Ele disse: eu só tô com um real na carteira. Diz a ela, que eu só tô com um real! Eu pensei. Como assim ele só tá com um real? Ele não tá é com nada! O Meu pai, trabalhador, aposentado. Homem honesto a vida toda. E bom profissional... Dos melhores! Ele só tá com um real na carteira. Pagou todos por seus direitos. Tem médico de dois em dois anos. Na escola da filha caçula passa até analfabeto... Ele só tá com um real na carteira.
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
A Bela Suzane Richthofen
Quando Hugh Hefner fundou a revista Playboy, ele tinha a intenção de pôr na capa uma mulher de carne e osso que pudesse ser uma vizinha. Assim como a atriz Kristen Stewart que traiu o mocinho indo de encontro à imagem que o seu rostinho angelical representava, Suzane Richthofen nos decepcionou. A sociedade tem dificuldade em aceitar ricos assassinos. Como se o dinheiro tivesse uma capacidade redentora. Provavelmente Suzane é psicopata. Na época o argumento para o destaque do caso foi o parricídio. Mas qualquer leitor de diários sanguinolentos sabe que todos os dias um pobretão enche a cara de cachaça, mata a família, e vai ao cinema. Os casos ganham nomes na imprensa quando algum dos envolvidos, vítima ou agressor instiga nossa curiosidade. Por isso que o caso se chama Suzane Richthofen, e não O Caso dos Irmãos Cravinhos. Assim como O Caso Eloá (vítima), O Caso Isabela Nardoni (vítima), O Caso Bruno (agressor), e O Caso Elise Matsunaga (agressor). Ontem assisti a uma reportagem totalmente tendenciosa, em que os dois marmanjos eram colocados como vítimas inocentes da loura demoníaca. Se a gente fosse falar de frieza, como um adolescente, para quem o contrário do amor é o ódio, eles são tão frios quanto ela! Pois trucidaram aquele casal simplesmente por causa da grana. Não creio que a motivação fossem os supostos abusos, pois lucrariam muito mais indo à polícia e se livrando do pai, que preso ainda ia deixar uma grana para que curtissem em paz. O tom da reportagem foi que o namorado cometeu o crime motivado por sua paixão hollywoodiana. A imprensa ama Suzane, assim como ama Elise. Ela constrói o mito para vender mais. Mesmo que exista uma Suzane em cada esquina, sem o rostinho que representa nosso padrão de beleza atual. Sendo assim não conseguimos nos distanciar para que justiça seja feita. Como um amigo meu disse: eu acredito que o Bruno matou a amante, mas em qualquer país do mundo ele estaria solto, pois sem corpo não há crime. Como disse Hélio Luz: será que o povo brasileiro quer uma polícia justa? Para que a justiça sempre acontecesse, nós teríamos que deixar de lado nossas paixões (vingança).
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
De Preta Ficou Branca!
Era um domingo desses que não chovem. E que as crianças não querem ficar em casa. As ruas do subúrbio cheias. Churrasco para todo lado. A volta da praia. A espera do jogo. Ela estava num desses churrasquinhos. Era a sua festinha de aniversário. Quando aquele carro estacionou próximo ao meu fio. Mais precisamente em frente a varanda lotada. Com três ou quatro cabeças que saíram simultaneamente. Uma loura de cabelos pintados desce com a ferramenta nas mãos. Pensou que fosse tomar um tiro. Ela quase caiu pra trás. Quando a loura anunciou: Surpresa! Antes tivesse vindo um balaço daqueles. Mas não, veio os parabéns da Xuxa nos alto-falantes. E põe alto nisso. Com a cara rachada de vergonha, teve que ouvir Emoções do Roberto Carlos. E depois a sopa de letrinhas de como ela era uma ótima, mãe, mulher e esposa. Era uma homenagem. E a nossa vítima, de preta, ficou branca. Mas os vizinhos adoraram. Pois não era com eles. Ah, esqueci, e ainda tiveram os fogos.
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
Ainda Existe Índio No Brasil?
Eu vi a foto do índio pendurado. Nem quero saber o que aconteceu, mas sempre torço por um fim diferente. Quando quero saber algo, ouço a rádio de noticiais, leio na internet, ou ouço a Hora do Brasil, assim acompanho o que os nossos capangas estão aprontando. No geral prefiro me manter distante para não me aborrecer. Fico deprimido. Acho de um enorme mau gosto assistir telejornal ao acordar, ou antes, de dormir, e uma baita influência para que você tenha pesadelos, ou comece o dia de maneira negativa. Imagem é tudo. Postaram também a foto de uma porção de crianças metralhadas, daquela guerra que não vai acabar nunca, a não ser que fechem aquele território, e tirem todos aqueles povos de lá. Já vi gente demais morta. Gente que conheci, fuzilada. Até suicidas. Se alguém queria me deixar chocado não conseguiu. Essa gente radical, que fica postando fotos com o cu no sofá e um copo de Nescau na mão, e dizem que vão fazer revolução ou sei lá mais o quê, mas não conseguem abandonar os seus trabalhos onde são explorados, e querem um diploma para garantir um salário melhor, pensam que fazem grande coisa pelo mundo se dizendo conscientes, ou votando nulo, ou votando certo. Quem quiser fazer algo diferente vai ter que enfrentar toda a democracia do mundo ocidental. E quando eles vêm, arrebentam com tudo! O pepino é bem maior do que essa gente imagina. O partido que está no poder é o partido que a gente sonhou no passado. Os novos partidos revolucionários me soam como, eu já vi esse filme antes. Tanto é que são formados por dissidentes. Ainda existe índio no Brasil? Eles foram dizimados quando aculturados por nossa curiosidade, e por nossa falta de compreensão de como alguém pode viver no meio do mato pelado, sem precisar de celular, computador, ou universidade. Eu vi um índio dizendo que o homem branco injetou a culpa em sua tribo, pois eles eram poligâmicos, e agora são monogâmicos. Assim como os padres jesuítas fizeram, nós levamos nossos vícios, nosso alcoolismo. Aquilo que na cultura deles era um momento de transcendência, passa a ser uma fuga. Como as drogas são para a maioria. Achei a foto daquele rapaz morto, de uma agressividade tão grande quanto à de seus assassinos, diretos, ou indiretos.
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