quarta-feira, 23 de março de 2022

Este Amor, Caetano, e outras canções...

Hoje eu ouvi Este Amor, Caetano. Esta música suavizou a minha manhã. Não sei o porquê, mas quando eu a ouço me lembro do Rio dos anos 80, especialmente das noites do centro, da zona-sul, e das praias. Tenho a mesma sensação ao ouvir a sua gravação de A Lua e a Estrela de Vinícius Cantuária, o Charme do Mundo de Marina, e A Noite do Prazer de Cláudio Zoli. Sei que o Rio real nunca foi como nessas músicas, mas é o Rio dos meus sonhos, o Rio que eu gostaria que tivesse existido. No tempo em questão era criança e a minha cultura da qual me orgulho sempre foi suburbana, além de infelizmente conhecer o Rio, mais do que seria recomendado para um poeta. São músicas como a sua parceria com Ferreira Gullar, Onde Andarás, Até Pensei, de Chico Buarque, e Anos Dourados dele com o Tom Jobim, ou Lama nas Ruas de Almir Guineto, que fazem com que eu vá para este lugar. Mesmo agora, quando nossas esperanças acabaram. Desculpa, é a minha opinião, e nem digo que não seja saudosista ou pessimista. Eu não desejo mais voltar para o Brasil, até porque o Brasil que eu amava acabou há décadas. Mas, por alguns segundos, poetas como você conseguem me fazer voltar a um lugar e a um tempo onde nunca estive. 

segunda-feira, 21 de março de 2022

Gozou!

Sentiu todo o corpo se contrair e depois relaxar da tensão liberando a descarga de energia contendo ocitocina e então gozou... à vida.

O homem explodiu na maior gargalhada de sempre e as lágrimas de felicidade umedeceram seu rosto como quem atinge o Akasha.

- Meu Deus... como eu fui burro!

Berrava em plena Praça Pública. A senhora agarrou no braço do miúdo. O senhor de bigode saiu de dentro do café com olhar de reprovação.

Agora ele se dirigia à pequena multidão:

- Vocês não me avisaram!

Os alunos do liceu sorriam. Todos conhecem de vista àquele homem mal-ajambrado com cabelos desgrenhados tipo Sergei Eisenstein. É mais um maluco da cidade ou um drogado qualquer, mas manso.

- Vocês deveriam ter me avisado que o conhecimento e o amor ao ofício não servem para nada! E sim que o que importa são as simpatias e as trocas de interesses! 

Os alunos começam a sorrir mesmo sem entenderem nada. Os adultos não acham tão engraçado assim. O homem escandaloso numa cidade em que todos falam baixo é uma aberração. 

Ele continua:

- Um gajo só precisa de um pedaço de papel numa parede e umas cédulas nas algibeiras! Não precisa de mais nada! Está feito! Não há voltas a dar! É maior 31 à toa! Força! Foda-se!

Os primeiros telemóveis começam a serem ligados após o palavrão como se esse fosse um cancro ou um alien. Uns filmam enquanto outros fazem denúncias.

- Mentirosos! Mentirosos! 

Ele enche a boca do idioma inglês:

- Liars! Liars!

A viatura chega.

- Senhor, nos acompanhe, por favor...

Ao ler a sigla da Guarda Nacional Republicana ele começa a gritar:

- Viva a República! Viva a República!

Dentro do carro leva um safanão e Desmaia. Depois todos voltam para as normalidades de suas vidas.

domingo, 20 de março de 2022

Extremos

É difícil manter o equilíbrio com sensatez no fogo cruzado de um mundo divido. Mas, é mais fácil lidar com a extrema-direita. Você sabe quem é o inimigo. Ela diz logo que não gosta de você por ser negro, estrangeiro, gay, ou ateu. E se der as costas para ela, eles te dão um tiro. Já a extrema-esquerda desmerece o seu trabalho, feitos, cria teses, faz com que perca seu emprego, põem na sua conta preconceitos que não são seus, e inventa teorias simplesmente porque não consegue admitir que não aceita o pensamento diferente. As pessoas saudáveis podem atingir o feito de não serem vítimas da lavagem cerebral, mas, do fanatismo, ninguém, por mais são que seja, irá conseguir fugir.

Hater

Quem entra na postagem alheia para falar sobre o que não gosta, é mal-educado, inconveniente, ou hater. As regras de etiqueta continuam valendo. Antigamente ninguém podia invadir a casa do outro para dizer que não gostava disso ou daquilo. Eu tenho o meu perfil, blog, músicas, letras, filmes, trabalhos acadêmicos, e os ouvidos da minha esposa que são espaços propícios para isso. Se preciso debater ideias existe uma biblioteca gigantesca na cidade em que moro onde estão os grandes pensadores da humanidade, além do YouTube e do Google. Não vou discutir com o Zé-das-Couves mesmo que ele estude ou dê aulas em Harvard. Não vou desperdiçar o meu tempo, quando tenho os grandes sábios da humanidade ao dispor. Meu Facebook tem 500 amigos, conheço todos pessoalmente com exceção dos que me adicionaram e temos amigos em comum. Pessoas com menos quilometragem que eu têm milhares de amigos. Não tenho para não me aborrecer. Primeiro eu, depois o meu trabalho. Metade das pessoas pararam de falar comigo por causa das minhas opiniões públicas que são de alguém que pensa e escreve. Principalmente no tocante à política brasileira onde a minha metralhadora precisa ser giratória. Não vou tratar uma pessoa mal por causa da cor da camiseta que veste. Eu vivo em sociedade independente das minhas convicções. E se fui indelicado com elas no âmbito pessoal, sim, sou humano. Mas penso, reconheço as minhas vacilações, e tenho tentado baixar a bola. Aos poucos, com o passar dos anos, começo a saborear com mais intensidade os pedidos de perdão. Embora não tenha inclinação para santo, e tem gente que merece levar coice mesmo. Não lembro de ter invadido postagens de ninguém para discordar. Caso tenha acontecido, peço desculpas. Pessoalmente não gosto de discutir as minhas ideias. Acho chato. As pessoas é que pedem que opine e normalmente não querem ouvir. Da próxima vez farei como fiz agora com este sensaborão, vou respirar, excluir o comentário, e o perfil do hater. 

Ansiedade

Jogo no time da ansiedade e tenho estado ansioso não por causa das minhas obrigações, que estão controladas; e sim do que desejo fazer, o que deveria ser menos mal. Comecei a sentir tonturas. Ontem decidi ir à emergência. Das duas vezes em que fiquei internado em minha vida, havia pensado, vai passar. Não passou. A doutora disse que entrei no consultório dando piruetas e isso não condizia com o estado de saúde relatado. Argumentei. Fiz exames. Tudo Ok. Fiquei envergonhado. Gastei o dinheiro de todos nós, o povo; e o tempo das pessoas que precisam cuidar de quem está realmente adoentado. Uma vez eu morri e ressuscitei a caminho do Getúlio Vargas. Depois que entrei na poética "Enfermaria dos Homens", e vi um cenário de hospital de campanha igual da Segunda Guerra Mundial, bebi uma latinha de Coca-Cola, e passou. Voltei para casa. Hoje vou fazer o que deve ser feito, ou seja: nada.

sábado, 19 de março de 2022

Nietzsche

Nietzsche foi um autor de escrita instigante e inteligentemente debochado com uma vida picaresca transformada em epopeia no momento de seu enlouquecimento em que começa a conversar com os cavalos no meio da rua e a assinar as suas cartas endereçadas aos amigos como Dionísio. Sofreu muito por causa de sua saúde, mas utilizou este sofrimento para desenvolver parte de sua filosofia. Entre os seus conceitos está a utilização do amor ao destino, seja ele qual for. E a lei do eterno retorno, aceitar é melhor do que passar a vida toda lutando contra algo que terá de ser enfrentado constantemente. É notório e pouco entendido o seu questionamento da religião. Está na prateleira dos pessimistas, mas essa nomenclatura pega mal, pois eles não dizem mentiras e sim verdades que machucam. Por isso eu prefiro chamá-los de realistas. Quem deu a Nietzsche o rótulo de difícil e mau-humorado foram os patetas de pernas cruzadas e discursos sonolentos a criarem dificuldades para venderem facilidades e valorizarem o produto nos meios intelectuais. Não é inacessível a leitores medianos com exceção de um ou outro texto. Se o leitor comum soubesse disso lucrarira com a filosofia nietzscheana. Mas como sempre os sabichões se apoderam dos defuntos talentosos e ganham dinheiro com eles como aconteceu a Kafka, Van-Gogh, e tantos outros. Com os vivos eles fazem o mesmo que fizeram a Sócrates por inveja da sapiência alheia enquanto vivem de citarem os mortos nos quais jogariam pedras se voltassem à vida.

Cidade mal-amada

Ah… cidade mal-amada!
Tão bela e tão acurada.
Mas, tão malfalada.
Por aqueles que não fazem,
nunca fizeram,
e nunca farão…
nada!
Cidades são construções,
artificiais, e da natureza.
As pessoas passam…
ou são passadas!