sábado, 19 de março de 2022
Cidade mal-amada
sexta-feira, 18 de março de 2022
Teddy Postiglione
Eu me chamo Teddy Postiglione. O meu sobrenome é italiano assim como a minha jaqueta de couro e o meu bigode. Lá vou eu para mais uma cena de crime. Depois de meia noite não acontece nada de bom nesta cidade. Mais um chamado outra ocorrência. Uma típica briga de bar. Tudo estava bem, todo mundo se divertindo, até que as coisas deram errado. Começa com cadeiras e garrafas voando e termina assim, um John Doe ensanguentado no concreto. Todas as portas são batidas na minha cara. Eu sou o portador das más notícias. "Não falo com a polícia.", é só o que eles sabem repetir. Eles confundem a mensagem com o mensageiro. Provavelmente quem ligou para a delegacia está escondido atrás de uma dessas cortinas com medo de passar por dedo-duro. Os povo não entende que eu apenas faço o trabalho sujo para que o presidente da república e outros tipos possam dormir em paz com as suas modelos. Na vizinhança logo que a viatura vira a esquina todo mundo fica cego, surdo, e mudo. A maior parte dos meus amigos mete uma bala na própria fuça, é encostado com estresse pós-traumático, ou alvejado num beco por um garoto de 15 anos. Mas eu não vou desistir agora que cheguei tão longe. A minha aposentadoria está próxima e tenho contado os segundos. Eu irei abraçar a minha mulher e cair fora daqui. Vamos morar em frente à praia, pescar, comer peixe-frito, e beber cerveja todos os dias. Os meus filhos e netos se quiserem que fiquem neste hospício. Enquanto a reforma não chega eu vejo a perita comendo uma coxinha e olhando para o corpo no chão. "O que aconteceu?" Ela se vira de boca cheia e diz: "O trivial. O rapaz mexeu com a mulher do outro, e deu nisso..." Eu concluo: "A noite será longa..."
Pobres Diabos
Após pedir um cigarro ele disse: "Neste calor bate maior neurose!" Este é mais um daqueles pobres diabos que ao retornarem da guerra ou da colônia penal ficam dando voltas no quarteirão. Eles violam a lei do silêncio, quebram a liberdade condicional e são arrastados aos órgãos competentes por perturbação da ordem pública, atentado violento ao pudor, excesso de embriaguez, posse de substâncias ilícitas, e principalmente por desacato às autoridades; pois respondem às vozes de prisão com palavras de baixo-calão e ironias. Imobilizados têm as suas caras viradas no asfalto para serem algemados. Dessa vez são enviados ao manicômio judiciário onde passam por um processo de reabilitação. Comem três refeições diárias. Tomam banho. Recebem uma muda de roupas limpas. As suas cabeças são raspadas. Levam choques e mata--leão. Conversam com os assistentes sociais. Reinseridos de volta à sociedade passam os dias nas esquinas pedindo moedas de baixo valor. À noite ainda mais agitados voltam a perturbar a vizinhança trabalhadora que não consegue dormir e presta queixas de suas gargalhadas felizes. E o mesmo ciclo tem reinício.
A Falsa Vegana do Netflix os psicopatas e os políticos
Comecei a assistir à Falsa Vegana no Netflix e não sei se termino. Embora sejam fatos reais fiquei com a sensação de remake. Pois a vítima é a mesma donzela ambiciosa em busca do príncipe encantado e da vida emocionante ao lado de um James Bond. O 171 contou a mesma estória que o Golpista do Tinder e Paolo Macchiarini. Sou agente da C.I.A e blablablá. Escrevi sobre isso aqui nesta coluna. Deve ser uma síndrome igual daqueles homens que dizem ser Jesus Cristo. Os psicopatas não sentem empatia são puro instinto e conseguem fisgar bem as suas vítimas. Mesmo que ela seja uma ricaça e ele um pé-rapado. Toda análise política precisa levar em consideração o estado mental das pessoas. Estamos vivendo o século da neurociência. Não há como falar sobre Putin ou Bolsonaro desconsiderando que são psicopatas. Assim como não é possível viver uma vida minimamente decente sem autoconhecimento e conhecimentos básicos de psicologia, psiquiatria, e filosofia. Por mais autoconfiante e religioso que a pessoa seja.
quinta-feira, 17 de março de 2022
Os amigos e a guerra
Eles são amigos desde a infância, mas na universidade frequentam cursos diferentes. Henry pergunta: "E a guerra?" Michel responde: "Eu sou antiamericano desde criancinha." Louis indaga: "Por quê?" Michel com sua sinceridade característica diz: "Cara... no meu curso ser antiamericano sempre rende umas transas. É igual andar com livros do Bauman debaixo do braço. Nem é preciso ler. E se tiver um pouco de melancolia tipo Cobain melhor." Louis conclui: "Mas o Putin é filho da puta, também!" Michel sorri: "Mas, e daí? Quem se importa?" Louis pergunta a Henry: "E você?" Henry responde: "Eu gosto de dinheiro, sou adicto em games, não transo a seis meses, sou a favor da guerra publicamente, e contra nos bastidores. Fumo maconha com vocês escondido e não disse nada." Michel passa o cigarro para Louis e questiona: "Então?" Louis responde: "Sou pacifista." Henry ironiza: "Existem ucranianos nazis." Louis rebate: "Nós não queremos a paz para esses ucranianos." Michel ridiculariza: "Cuidado que os americanos também são a favor da paz!" Louis entediado diz: "Não é por por essa paz que nós lutamos..." e depois alerta: "Vamos dispersar antes que alguém nos veja juntos." Eles apagam o cigarro e deixam os fundos da faculdade.
domingo, 13 de março de 2022
Os burros e a guerra
Os burros estão unidos e com o advento da internet a burrice foi potencializada. Cancelaram o Eça, o Lobato, o Chico, e agora querem cancelar o Dostoiévski. O coitado quase foi fuzilado na Sibéria por causa de tipos como Putin e seus ditos inimigos, mas no fundo essa cambada é tudo igual. Depois do cara superar uma vida miserável em que seu irmão disse: "Ele é o homem mais triste do mundo!" Sofreu com a epilepsia, com os vícios, as dívidas, além de muitos russos, inclusive o querido Nabokov, não gostarem dele por acreditarem que ele pegava pesado com a Rússia. O mesmo argumento besta direcionado ao Nelson Rodrigues que esfregava na cara dos brasileiros as suas mazelas. Se Dostoiévski estivesse vivo, provavelmente faria oposição a Putin. Mas os burros não sabem disso. Pois os burros, mesmo que saibam ler, só lêem aquilo que lhes convêm.
Obra de 30 anos
São trinta anos construindo este edifício. Neste tempo acumulei dívidas, arrumei inimizades, perdi pessoas, caí no conto do bilhete premiado inúmeras vezes, fiz merdas, e descobri que não sou o mocinho da fita. Precisei fugir da política; sanguessugas, parasitas, panelas, tendências de mercado, ideologias, e tarados de toda espécie. Além da minha própria arrogância; da indiferença, inveja, e ciúmes meus, e dos outros, estes últimos aquando dirigidos a mim não por causa do ter, e sim por ser ciente da parte que me cabe, enquanto esses sentimentos vindos de terceiros pertencem aos que vivem por força das circunstâncias. Ganhei quase nada com isso, mas sou satisfeito com a crítica geral dos raros que prestam atenção ao meu trabalho. Prestígio, tive algum em algumas situações, mas logo perdi, pois para tê-lo é preciso fama, grana no bolso, e a capacidade de engolir sapos e fazer alianças espúrias, quesitos nos quais venho sendo reprovado. A minha maior satisfação é que cumpri a promessa que havia feito décadas atrás quando muitas almas limítrofes e ignorantes disseram para seguir por outro caminho, e eu ainda mancebo em calças curtas levantei o queixo e disse que não ia desistir. Eu quis abandonar tudo diversas vezes, e volta e meia penso na hipótese, e amanhã provavelmente estarei às voltas com a ideia. Mas ao mesmo tempo existe uma força motriz que me traz para o que parece ser o meu eixo. Foi a decisão mais acertada a tomar? Vá saber! Eu poderia estar melhor, mas pior com certeza não estou. As fundações do prédio estão alicerçadas. É hora de voltar ao batente. Rogo a Deus saúde para terminar esta construção e não deixar minha obra pela metade.