São trinta anos construindo este edifício. Neste tempo acumulei dívidas, arrumei inimizades, perdi pessoas, caí no conto do bilhete premiado inúmeras vezes, fiz merdas, e descobri que não sou o mocinho da fita. Precisei fugir da política; sanguessugas, parasitas, panelas, tendências de mercado, ideologias, e tarados de toda espécie. Além da minha própria arrogância; da indiferença, inveja, e ciúmes meus, e dos outros, estes últimos aquando dirigidos a mim não por causa do ter, e sim por ser ciente da parte que me cabe, enquanto esses sentimentos vindos de terceiros pertencem aos que vivem por força das circunstâncias. Ganhei quase nada com isso, mas sou satisfeito com a crítica geral dos raros que prestam atenção ao meu trabalho. Prestígio, tive algum em algumas situações, mas logo perdi, pois para tê-lo é preciso fama, grana no bolso, e a capacidade de engolir sapos e fazer alianças espúrias, quesitos nos quais venho sendo reprovado. A minha maior satisfação é que cumpri a promessa que havia feito décadas atrás quando muitas almas limítrofes e ignorantes disseram para seguir por outro caminho, e eu ainda mancebo em calças curtas levantei o queixo e disse que não ia desistir. Eu quis abandonar tudo diversas vezes, e volta e meia penso na hipótese, e amanhã provavelmente estarei às voltas com a ideia. Mas ao mesmo tempo existe uma força motriz que me traz para o que parece ser o meu eixo. Foi a decisão mais acertada a tomar? Vá saber! Eu poderia estar melhor, mas pior com certeza não estou. As fundações do prédio estão alicerçadas. É hora de voltar ao batente. Rogo a Deus saúde para terminar esta construção e não deixar minha obra pela metade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário