quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

O Jangadeiro e o Urubu-Malandro

Jangadeiro - Aí embaixo está cheio de jacarés. Está vendo aqueles pontinhos verdes? São eles... tudo de butuca em silêncio.

Urubu-Malandro - Por que ninguém diz nada?

Jangadeiro (ironia) - Com a valorização dos rios agora todos eles viraram subcelebridades.

Urubu-Malandro - Bom dia, jacarés?

Ninguém responde.

Jangadeiro - Eles não irão dizer nada.

Urubu-Malandro (insiste) - Bom dia, jacarés!

Jangadeiro - Não adianta... Nós não pertencemos à espécie deles.

Urubu-Malandro - Quer ver eles dizerem alguma coisa? 

Jangadeiro - Duvido. Aposto uma carniça.

Urubu-Malandro - Não concordo com nada do que vocês dizem!

Os jacarés saem voados em direção à jangada .

Urubu-Malandro - Toca o barco que os bichos "tão" tudo doidos!

Jangadeiro - Tomara que não bloqueiem o rio! 

Urubu-Malandro - Ufa... Pensei que ninguém ia dizer nada.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

MetaUniverso

 Neta – Vovó... nesta época acontecia o antigo Natal não era?

Avó – Sim, minha filha.

Neta – Vovó... é verdade da outra vovó que vocês andavam no meio da rua?

Avó (alerta) - Sim, é verdade minha filha.

Neta – Fazendo o quê?

Vovó – As mesmas coisas que fazemos hoje em dia. Só que ao ar livre.

Neta – Por quê?

Avó (desconfiada) – Não sei minha filha. As coisas eram assim. Ainda não existia o MetaUniverso.

Neta - É verdade da outra vovó que eram vocês que faziam as músicas de Natal?

Avó – Sim, minha filha. Nós fazíamos as músicas.

Neta – Mas não são os robôs que fazem as músicas?

Avó – Naquela época não existiam robôs do jeito que existem hoje.

Neta – A vovó prefere assim ou preferiria como era antigamente?

Avó (trêmula) – Eu prefiro assim, minha filha. Depois que o nosso salvador inventou o Metaverso em sua primeira intervenção o mundo ficou bem melhor.

Neta – Ah, tá, entendi Vovó... Ótimo.

Avó: “Esta minha neta virtual deve ser um caçador de infiéis. Meu Deus me ajuda... Não consigo parar de tremer.”

Neta – Seria uma contradição estar no MetaUniverso e não gostar, não acha? Os infiéis dizem que são obrigados...

Avó (medrosa) – Verdade minha filha, verdade... Seria contraditório.

domingo, 19 de dezembro de 2021

Por que passamos tanto tempo nas redes sociais?

Quando temos uma curtida ou vemos um meme nossos cérebros ganham descargas de satisfação instantâneas, assim como ao comermos doces, e elas nos fazem ir à caça de mais prazer. Por isso vivemos horas rolando essa barrinha aí ao lado à espera de pequenas doses de recompensa. A expectativa gera ansiedade e a superexposição às telas durante muito tempo prejudica o nosso sono, o que nos deixa mais estressados. A comparação com os outros faz com que fiquemos deprimidos. Não são mais os ricaços distantes das revistas, e sim os nossos vizinhos de porta com vidas mais "interessantes" que as nossas, numa época onde para sermos felizes supostamente só dependemos do nosso próprio esforço. O que gera frustração e culpa. As redes sociais precisam que passemos mais tempo nelas pois ganham com propagada. Então ao invés de apresentarem um conteúdo que pode desafiar nossa inteligência, elas nos envolvem cada vez mais no imediatismo de gostos e opiniões da "bolha" à qual pertencemos. Políticos, extremistas, e influenciadores desonestos em sua ânsia por audiência criam teorias conspiratórias contra os seus inimigos. O "robô do algoritmo" tendo o forte sentimento da ira como aliada, e querendo nossa atenção faz com que percamos tempo de trabalho, estudo, saúde mental, e convívio. Pensemos na bomba-relógio que é esse aparelho no bolso de uma criança ou adolescente. 

sábado, 18 de dezembro de 2021

Xenofobia Portuguesa

Portugal tem seis xenófobos que são tipo bolsonaristas. Se fui discriminado por meus pares posso sofrer preconceito até na Antártida. No Brasil vi discriminação de todo mundo contra todo mundo. Eu me sinto mais seguro num país onde as leis funcionam. Os portugueses em sua maioria formam um povo viajante e aglutinador. Não falo dos colonizadores, e sim do Seu Manoel, do Seu Ramiro, e da Dona Leontina. Sou cosmopolita e vivo onde quiser. Acho o nacionalismo uma piada e a globalização uma chatice. Podia ter nascido no Japão se o bom Deus assim desejasse. Não nego as minhas origens, mas não fiquei preso onde o meu umbigo foi enterrado. Quem é carioca e negro com DNA português que diz ser por causa de estupro do tempo da colonização não conhece a história do Rio da virada do século XIX para o século XX. Não sabe que inúmeros portugueses pobres viveram na cidade e constituíram família. O próprio Machado de Assis era filho de um descendente de alforriado e uma lavadeira portuguesa. Não consta que a sua mãe tenha estuprado o seu pai. E o sexteto ficará horrorizado ao saber que no caso dos brasileiros talvez sejamos parentes. Quem se meter a besta comigo e vier dizer: "Volte para o Brasil!" Vai ouvir: "Volte você!" Como trumpista não conhece história pouco provável que entenda a piada. Chega!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Meu País

Millôr Fernandes pergunta:
- Que país é este?
Stefan Zweig responde:
- O país do futuro.
Jorge Amado disse:
- O país do carnaval.
Os mexicanos disseram:
- O País do futebol.
Sabotage rima:
- País da fome.
Flávio José canta:
- Com certeza não é o meu país.
O economista observa:
- É um país em desenvolvimento.
Zé das Couves complementa:
- Um pais sempre em desenvolvimento...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

O Vira-Lata

Um vira-lata não valia nada. Ele ficava ali no meio da rua junto de geral. Na Penha existiram vira-latas famosos como as gerações de Bisnagas. O vira-lata fazia parte da correria do dia a dia. Não existia esse pessoal cheio de problemas e que odeiam gente para cuidarem deles. Ele precisava se virar, revirar os lixos, daí vem a classificação. O vira-lata serelepe tinha que abocanhar veloz o pedaço de carne que caía no chão na hora do churrasco. Às vezes aparecia uma senhora generosa ou um dono de armazém. Enquanto os menores levavam cascudos e mocas ao vacilarem, se um vira-lata comesse um chinelo ou furasse uma bola ele era chutado para escanteio. O vira-lata latia para os carros e os motoqueiros precisavam acelerar fugindo de uma dentada. O estranho com medo do rosnado perguntava:"De quem é este cachorro?", o garoto com a linha na mão respondia: "Da rua. Nosso segurança. Cala a boca Rin-Tin-Tin." Estragaram até os cachorros. Eles não mordem mais. O vira-lata dorme na cama, toma banho quentinho, e pensa... "Se eu morder um mequetrefe desses posso pegar uma infecção na boca." Você dá bom dia para o dono que não responde. Se brinca com o cachorro ele também vira a cara para o outro lado. Não fala mais com pobre. Você não encontra um vira-lata no meio da rua... mas criança em orfanato com o rosto triste colado na grade ou em situação de rua nas metrópoles dos países sempre em desenvolvimento... "Mas é que os animais precisam de nós." Coitados dos leões sozinhos naquelas selvas perigosas.. "As crianças são culpa dos pais!" Você sabia que vira-lata também tem família? A imagem que fica na minha cabeça é a do menino triste na rua sentado em cima da bola e o vira-lata ao seu lado fazendo companhia.

As Palavras o Povo e a Opinião Pública

Eu sou fascinado pelo povo. Leia-se povo aquele animal instintivo. Não este ser domesticado fora de seu habitat natural. Falo de gente banguela. Não da opinião pública. Eu me lembro que quando era menino se alguém fazia amor o povo dizia: “Eles estão fazendo saliência.” Ou “Safadeza.” As palavras eram sempre muito feias. Amante era “Piranha”. As próprias mulheres diziam isso. Quem tinha mal hálito tinha “Bafo”. Cheiro ruim debaixo do braço era “Cê-cê”. Quem não tinha um membro era “Aleijado”. Idoso era “Velho”. Gente da minha idade era “Coroa”. Eu tinha manchas na testa chamadas de “Pano-Branco” e na escola o meu apelido era “Manchinha”. As mães gritavam para as crianças mal-educadas: “Vocês parecem uns índios!” Eu usava uma bermuda laranja fluorescente e me diziam: “Você se veste igual um paraíba!” Eu sou negro e vivi inúmeras situações em que ouvi negros chamando uns aos outros de “Macaco” ou de “Crioulo”. Negão estava na ordem do dia. Até o dia de vir embora um amigo feirante da Vila Cruzeiro me chamou de “Mulato”. Homossexual era “Viado” ou “Bicha”. Eu vi muito gay dizer: “Para de viadagem!” O que era um sinônimo de frescura. Lésbica que é uma palavra linda de um mito lindo era “Sapatão.” Mulher bonita era “Gostosa...” a palavra estalava entre os lábios com saliva. O Amante era o “Ricardão”. Homem bonito era “Pintoso”. Obeso era “Gordo”. Magro era “Pau de Virar Tripa” ou estava na “Capa”. É por isso que hoje o Marco que mora no “Cu do Mundo” e trabalha na limpeza, quando vai ao estádio com o seu companheiro, não entende por que o juiz tira ponto do seu time depois da torcida chamar o adversário de “Viado”. Porque o povo vai continuar existindo em seu estado bruto e as palavras não têm “alma”. Nós que damos sentido a elas, em Portugal se diz cu com a maior naturalidade. No Brasil é um escândalo. Violência e preconceito precisam ser combatidos com os mecanismos atuais. Mas também existiu o outro lado. Estude a história de culturas diferentes que você vai conhecer civilizações influenciadas ou dominadas por negros, homossexuais, índios e mulheres. E o seu queixo vai cair com o comportamento sexual de alguns desses povos.