Um vira-lata não valia nada. Ele ficava ali no meio da rua junto de geral. Na Penha existiram vira-latas famosos como as gerações de Bisnagas. O vira-lata fazia parte da correria do dia a dia. Não existia esse pessoal cheio de problemas e que odeiam gente para cuidarem deles. Ele precisava se virar, revirar os lixos, daí vem a classificação. O vira-lata serelepe tinha que abocanhar veloz o pedaço de carne que caía no chão na hora do churrasco. Às vezes aparecia uma senhora generosa ou um dono de armazém. Enquanto os menores levavam cascudos e mocas ao vacilarem, se um vira-lata comesse um chinelo ou furasse uma bola ele era chutado para escanteio. O vira-lata latia para os carros e os motoqueiros precisavam acelerar fugindo de uma dentada. O estranho com medo do rosnado perguntava:"De quem é este cachorro?", o garoto com a linha na mão respondia: "Da rua. Nosso segurança. Cala a boca Rin-Tin-Tin." Estragaram até os cachorros. Eles não mordem mais. O vira-lata dorme na cama, toma banho quentinho, e pensa... "Se eu morder um mequetrefe desses posso pegar uma infecção na boca." Você dá bom dia para o dono que não responde. Se brinca com o cachorro ele também vira a cara para o outro lado. Não fala mais com pobre. Você não encontra um vira-lata no meio da rua... mas criança em orfanato com o rosto triste colado na grade ou em situação de rua nas metrópoles dos países sempre em desenvolvimento... "Mas é que os animais precisam de nós." Coitados dos leões sozinhos naquelas selvas perigosas.. "As crianças são culpa dos pais!" Você sabia que vira-lata também tem família? A imagem que fica na minha cabeça é a do menino triste na rua sentado em cima da bola e o vira-lata ao seu lado fazendo companhia.
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