acorda no escuro. beija
a mulher que diz: quero dormir! beija o bebê que produz o som de quem não quer
ser incomodado. na sala vê a luz do aparelho do filho adolescente que cobre a
cabeça com um lençol. sons de teclas. diz: bom dia... o filho não escuta. na
rua da favela diz a um policial: bom dia... fica no vácuo de novo. o cara da
plataforma diz: pô... tá foda esse trem atrasando todo dia... encontra o amigo
de infância. por educação, pergunta: e aí? o amigo responde: tá foda... e
começa a falar mal do trabalho. da mulher. de toda a família. do time. do
governo. chega ao supermercado. encontra o colega na escada. com o aparelho em
uma das mãos, antes dele abrir a boca, sem tirar os olhos do aparelho, o colega
diz: hoje tá foda... ele irritado responde: tá foda pra todo mundo! e pensa,
será que eu sou o único norueguês que vê isso!
sábado, 5 de outubro de 2013
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Em Frente ao Buraco!
o segurança em frente a loja. o camelô desmonta a barraca de CDs e DVDs originais. ela olha para o meu black. para o meu casaco que parece ter saído de dentro de uma garrafa. pra minha cara de chapado. pros meus olhos vermelhos e gigantes como os do Lobo Mau, e me pergunta sobre o papelão em frente ao banco. fico em silêncio. ela estala a língua irritada, e diz para o menino: eu, hein... parece um retardado! eles desistem, e vão embora. graças a Deus. eu penso, quem me dera fosse um catador de papelão nesta cidade! um carro passa tocando funk. outro policial me pergunta: ocupação? e respondo: se disser escritor o senhor vai acreditar? ele me olha com pena, e me libera. acho que eles temem mais os terroristas. eu espero por minha mina em frente ao buraco de uma das estações do metrô de Nova Iorque. e o cara do transporte alternativo berra em nossas orelhas: Brooklyn, Bronx, Manhattan, Harlem!
domingo, 29 de setembro de 2013
O Julgamento...
mete a mão no bolso.
gesto rápido. frio. cara suja. cabelo ensebado. alguém faz cara de nojo. dá um
empurrão. perco o rastro. aperto o passo. vai tudo que cabe em seu trapo. a
multidão fica hipnotizada com o espetáculo. seguro o seu punho. ela se desvencilha,
e diz: eu quero assistir até ao final! eu olho ao nosso redor, e respondo: por
hoje é o suficiente! longe dali ela me mostra. olha o quê eu trouxe para o
vovô! e me exibe feliz um pedaço de pão. sussurro: esconde isso! ela me diz com
pesar... o ladrão vai ser executado...
sábado, 28 de setembro de 2013
Sem Anestesia, Michael Jackson!
sem anestesia fica difícil Michael Jackson. encarar o mundo assim. frente a frente. cara a cara. botar a cara. bater de frente. sem religião. sem grana. sem ideologia. sem nada. no puro. no duro. careta. sem tomar um remedinho. sem beber um negocinho. sem fumar um Hollywood. botam na gente sem vaselina. a gente enlouquece. no pelo. liso. sem preservativo. sem uma musiquinha romântica. num vê essas passeatas que criaram toda essa expectativa e não deram em nada. vou ter que desligar, Michael Jackson da Silva! lá vem o carcereiro! pego o celular e coloco na entoca. onde alguém me disse que era melhor para alguém não ver.
sexta-feira, 27 de setembro de 2013
O Fim da Privacidade...
fotografa. grampeado. leitura labial. pede a Deus uma namorada. tapa a boca. escuta. sendo filmado sorria. cinco contra um. descasca a banana. ela também. mão direita. mão esquerda. na batida do funk. no ritmo do axé. tira a meleca. põe a mãozinha na boca. cospe a bebida. coça o saco. traje de banho. praia de nudismo. clube das mulheres. termas. em plenas sanitas. assistindo filmes impróprios para menores. sem as peças íntimas. com as peças íntimas. lendo contos proibidos. entrando em hotel. saindo de hotel. dançando sem roupa. medalha no bolso. malote na cueca. fuzil na mão. posa com bandido. vai na festa. mulher de silicone. mulher maravilha tecnológica. no flagra chama o outro pra fumar. choque. cacetada. tiro. gás. mata. esfola. pisoteia. corrompe. é corrompido. rouba. é roubado. preso na chaminé. ela é interrompida no meio da cópula em que perdia o velcro. enquanto produzia um ser mutante num coito avançado. uma espécie de ciborgue. talvez um ser alterado geneticamente. descendente. dependente químico. tóxicos. agro-tóxicos. agronegócios. agro-indústria. drogaria. farmácia. boteco. boca da estagiária da casa rosa no estacionamento.
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Um Mergulho na Noite Chinesa...
ele balança o bebê que
parece um embrulho que sorri. eu digo: posso segurá-lo um pouco? ele me passa o
bebê que entorta os lábios, e chora como quem vê uma assombração. ele tem olhos
grandes e luminosos. eu me viro e digo a sua mãe: acho que se assustou
comigo... o moleque não gosta de mim! ela diz: ela não tem do que gostar... e o
pega e me passa. é manhã. ele quer é farra... balança ele! balanço o bebê que
volta a sorrir. olho o seu rosto e penso, meu Deus, parece um homem da minha
família! pela primeira vez vejo os passos do outro. e grito em êxtase a sua
mãe: ele anda igual ao pai dele! a mãe responde num muxoxo: todo mundo fala
isso... fico assustado com a herança genética. o outro me puxa pela perna como
quem diz querer participar da festa. e vejo o seu sorriso lindo de banho de
chuva. o outro diz: o meu pai só que andar de táxi! o meu pai quer andar de
táxi o dia inteiro.... só porque recebeu hoje! então todo mundo para no ponto
de ônibus. eu me lembro da Pais e Filhos da Legião Urbana, e da All You Need Is
Love dos Beatles... e beijo cada cabeça e digo. inclusive para o embrulho que
dorme. te amo. o meu coração palpita ao caminhar para casa e saber que ela está
me esperando. desço a ruazinha que termina com o muro. e dou um mergulho na
noite chinesa...
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
Máquina de Escrever...
ela fuma, e diz: tem aquela festa! ele fuma, e diz: vai rolar aquele evento... ela fuma, e diz: aquele lançamento! ela fuma, e diz: e mais o sarau... ele fuma, e diz: vai tá todo mundo lá! ela fuma, e diz: vamu fazê muito contato... ele fuma, e diz: ainda tem a reunião... ele me pergunta: e você vai? do canto da sala eu berro até sufocar o som do aparelho. vou continuar escrevendo... e peço: tranquem a porta por favor! eles saem... e ao fechar a porta me atrapalham. penso, foda-se. batuco nas teclas da máquina. desligo o som. a pior coisa que existe para um escritor é o silêncio.
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