domingo, 18 de agosto de 2013

Tem Cura Para a Compulsão Sexual?

o chileno está no fundo do bar, ouvindo a maquininha de música que toca Raul Seixas pela centésima vez, ele comprou cem fichas. a mesma música, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás. este chileno veio paro o Rio junto de uns peregrinos que vieram atrás do Papa, e acabou ficando por aqui. hoje ele trabalha na pastelaria de um chinês, e aluga um barraco na favela do Mandela. estou num canto do boteco com o meu violão encostado, e vendo a cerveja esquentar a minha frente. o casal ao lado briga por causa de uma revista que está em cima da mesa, e que tem uma matéria sobre um ator que diz ter compulsão sexual. ela diz: não se tem cura para a compulsão sexual. depois balança a cabeça. eles não dormem já faz uns dois dias. a garrafa de Big-Apple jaz na mesa. o namorado sacode o crânio e dá um trago no cigarro como quem diz que não se conforma com a assertiva. a menina com o cabelo tingido de rosa parece inconformada como um torcedor de futebol ao ver a marcação de um pênalti contra o seu time. ela se vira para o rapaz do boteco que passa o pano em cima do balcão, e pergunta: tem cura para a compulsão sexual? ele diz: como é que eu vou saber? eu sou apenas um atendente de boteco! aos poucos o Raul Seixas morre ao fundo.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Aí, Qual Foi Daquele Neguinho?!

se liga, aquele neguinho foi lá na reunião no morro lá, nós recebemo ele bem, certo. porque o amigo tinha dado o papo que o mano era maneiro. então nós recebemo ele bem, porque tu sabe que cum nós num tem esse bagulho de miséria, mesmo. que sempre vai ter um que vai salvar uma carne ou um baseado, que tu sabe que nós gosta de fuma nossa droga mermo, tá ligado? mas aquele mano levou o gringo, e o gringo ficou falando tudo enrolado, e nós num entendendo nada que o gringo tá falando, tá ligado? aí ele começou a falar do amigo. e disse que o amigo era muito fechado e que era isso e aquilo e que o amigo podia tá ganhando dinheiro com isso e com aquilo. mas que o amigo era devagar. aí nós se bolou com ele, e nós falamo, você num pode falar do amigo. porque se você tá aqui agora, desenrolando, trocando essa ideia com nós, é por que foi o amigo que abriu essa brecha pra você tá aqui. e nós já numa de partir pra cima dele, eu disse: o amigo é igual nós. a mesma merda. ele fica aí onde você tá sentado. foi esse papo que eu dei nele, e ainda disse pra ele se adiantar. porque se não a madeira ia cantar pra cima dele. interrompi a história, e disse: não. paz. por favor. ele perguntou: e, qual foi daquele neguinho?! eu disse: deixa ele pra lá. pus as mãos nos bolsos.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Brigitte Bardot...

ela era a cara da Brigitte Bardot. eu esperava dentro do carro. tinha certeza de que aquela seria a noite mais maravilhosa da minha vida. estava mais cheiroso que filho de barbeiro. levantei para pegar um ar, e fumar um cigarro. e também para não amassar o meu terno cheirando a lavanderia. trouxe todos os mimos. o chocolate. as flores. uma joia, uma correntinha de nossa senhora... e aconselhado por uma vendedora atenciosa, que me perguntou tudo sobre ela, trouxe uma blusinha de seda. disse a vendedora. ela se parece com a Brigitte Bardot. a vendedora fez cara de quem ouve isso todo dia. reafirmei, ela é a cara da Brigitte Bardot... bato com o sapato bicolor e engraxado na calçada. nunca saio sem dar um brilho no pisante. e hoje fiz questão de chamar o melhor barbeiro da família. estou com o meu melhor terno. não amassei as flores. o hálito está em dia com e trago a bombinha de própolis, caso exista alguma emergência. o cabelo engomado. ela surge vinda da porta. cambaleando. vejo a meia calça branca. ela não sabe andar de salto alto. parece bêbada. traz um casaco no braço. desligo a fita do Charles Aznavour. ela diz: matei o meu marido! e mostra a arma. o sangue espirra no meu terno novo. que droga. parte do sangue do marido dela espirra no meu terno novo. não gosto de ir à festa nenhuma de terno sujo. ainda mais com mancha de sangue. depois para sair é uma merda. tudo porque ela se parece com a Brigitte Bardot. tudo por causa da droga da Brigitte Bardot. ela bate o pó na mão. cheira. e muda para uma estação que toca música clássica.

A Banana Mecânica...

o Cadelão olhou pelo retrovisor. eu tô a fim de comer uma pizza. pôrra, é isso aí. tô a fim de comer uma pizza. hoje é o meu aniversário! tenho direito, pôrra, tenho direito! eu disse a ele tentando amenizar as coisas, Cadelão, a gente não tem dinheiro pra comprar pizza. o Alexinho disse. a gente pode não ter dinheiro. mas a gente tem uma boceta pra servir de isca, e um ferro. levantou a camisa Hering mostrando o trabuco. olhei pra Emma Bovary que chorava no banco do carona. Cadelão passou os braços em suas costas, e disse: num é, meu amor? pode deixar que hoje você vai chupar, e vai dar pra todo mundo. vai ser currada! vai ser divertido. eu disse ao Cadelão, sabe o que acontece, Cadelão, a gente pode pagar tudo com o meu cartão. eu tô com o meu cartão aqui. ele disse, já fazendo a curva, deixa o cartão pra mais tarde. pro motel. nada de cartão. só pago no cash! eu disse ao Cadelão. vamos liberar a Emma. ele me disse: vai dar pra trás, agora? liberar é o caralho! vai dar uma de escritor lá pras suas negas, filho-da-puta! insisti. Cadelão, ela não tá com vontade! ele entrou no estacionamento de uma pizzaria e ordenou, desce todo mundo. tinha um japonês num balcão. Cadelão disse: eu quero uma pizza portuguesa gigante, e a maior Coca-Cola que existir. o japonês disse: não tem mais. vou fechar. acabou tudo. quando o Cadelão puxou o velho pra fora do balcão pelo cangote. Alexinho me apontou a pistola e disse: se fizer alguma gracinha vai morrer junto! Emma chorava de cabeça baixa num canto, evitando olhar a cena e tentando sufocar o choro. enquanto Cadelão pisoteava o velho que gemia, e espirrava sangue. quando cheguei em casa o sol havia acabado de aparecer. no trajeto de volta viajei encostado na janela, e me arrependi de ter saído de casa naquele dia.

A Cela...

a menina loura que matou o pai está encostada na grade da cela enquanto brinca com um boneco de nome Pequerrucho. ela mesma o confeccionou nas aulas de artesanato. é bonita de perfil. já chegou a conclusão de que não valeu a pena matar o imbecil. mas pensa que a melhor coisa é esquecer tudo o que aconteceu e pensar daqui pra frente. hoje a situação dela é a prisão. a outra loura que picotou o japa também se arrepende de ter matado o infeliz. ela enxerga a cadeia como um lugar por onde se deve passar. um lugar onde algumas pessoas vivem. ela olha a menina, com o boneco, que dá um sorriso. sente ternura por ela. a morena de óculos que foi acusada de matar a enteada empunha a bíblia. em seu desespero ela diz. vamos começar a oração. a menina traz o boneco e brinca com ele como fosse um ventríloquo. ela diz, tia, vamos orar. as três riem. a morena de óculos vê a atriz na capa da revista, e pensa que aquele cabelo curto, e aquele visual louro não combinam com ela.

domingo, 4 de agosto de 2013

Lolita, Stanley Kubrick, Adrian Lyne e Vladimir Nabokov...

o filme de Kubrick se distancia do livro. ele apresenta o Humbert Humbert verdadeiro. sem a máscara social. conta os podres que Humbert Humbert só contaria a si mesmo. extrapola a imagem que Humbert Humbert cria das pessoas. no filme de Kubrick tanto Humbert Humbert quanto a mãe de Lolita são histriônicos. gosto do clima sombrio de thriller psicológico. do nonsense. aquela cena do atropelamento parece Hitchcock. gosto do toque noir. mas o Humbert Humbert de Adryan Line é mais próximo da descrição que o personagem faz de si mesmo. no filme de Kubrick, Petter Sellers impressiona já na primeira cena em que aparece dançando aquela música formidável. assim como Lolita. Peter Sellers tem todo seu ar canastrão. na cena do hotel tortura Humbert-Humbert psicologicamente. vi uma entrevista em que Nabokov evitou falar de Lolita de maneira mais profunda. ou ele não quis se limitar a falar de Lolita. também não sabemos que tipo de constrangimento sofria ao ter de falar de Lolita. o livro parece ter superado o conjunto da obra. Adrian Lyne acerta ao mostrar Annabel - a paixonite adolescente de Humbert Humbert - pois é uma substituta para ela que Humbert Humbert busca em todas as meninas até encontrar Lolita. a Lolita de Kubrick é mais sensual. mais tentadora. como na cena antológica em que toma banho de sol. mas é uma Lolita que não dá a mínima para Humbert Humbert. é uma Lolita cruel. já a Lolita de Adrian Lyne tem uns momentos de ternura com Humbert Humbert. pode até se dizer que rola uma lua de mel entre os dois. talvez isso seja mais próximo do livro. pois de alguma maneira ela alimenta o jogo. não pode ser sempre esnobe. a cena que Humbert Humbert reencontra Lolita é a cena que mais gosto do filme de Kubrick. a noção do fracasso está ali. e novamente a memorável cena do reencontro em que fica explícito toda decadência e desespero de Humbert Humbert. doente de ciúme. É a cena que mais gosto do filme de Adrian Lyne. mas o melhor é ler o livro, assistir aos filmes, e tirar as suas próprias conclusões.

Marilyn e JFK - François Forester

Marilyn Monroe. o sobrenome é do pai substituto. a mãe era maluca. vivia internada tentando se matar. do pai verdadeiro não sabia nada. nem sabia que tinha irmãos. a guarda dela foi dada a uma família, que depois passou a bola para outra família. um dia o patriarca da família bêbado tentou abusar de Marilyn que tinha apenas 11 anos. antes da família se mudar, eles casaram Marilyn com o vizinho que a levava de carona para a escola. onde sempre rolava uns amasso. ele tinha um trabalho. um cara bom que caiu na besteira de ir para guerra. quando voltou, Marilyn sabendo do seu poder de sedução, deu um chute no traseiro do rapaz, e partiu com um cara do exército em troca de umas fotos sensuais e uns trabalhos. começou a sua escalada rumo a fama. sempre o medo de ficar maluca igual a mãe. se entupindo de remédios. uma junkie de farmácia, como diz o autor. Marilyn conseguiu entrar na alta roda prestando serviços sexuais. e dizem as más línguas que era especialista na felação. o Kennedy adorava uma rapidinha. puxou o pai. dane-se o prazer da mulher. Marilyn não quis ficar como o Joe DiMaggio que representa para o Baseball, o que o Maradona representa para o futebol mundial. Joe amava, e respeitava Marilyn, e queria que ela se casasse com ele, e abandonasse toda aquela bajulação, lavasse a sua roupa no tanque, enfim. ele queria tirá-la daquela vida. mas não era isso que ela queria. Marilyn gostava mais da glória do que do dinheiro. tinha a síndrome de Madame Bovary. a matriarca da família Kennedy era uma carola que rezava depois do sexo. uma das filhas seguia o mesmo estilo. a outra retardada passou por uma lobotomia com a autorização do pai. uma delas era casada com um ator medíocre que trabalhava de atravessador de mulheres para Frank Sinatra, e para o próprio cunhado. uma vez Kennedy perguntou ao empregado negro o que os negros queriam. o empregado disse que não sabia. e Kennedy respondeu: eu quero comer todas as mulheres de Hollywood. aprendeu isso com o pai. Kennedy era de uma família de caipiras irlandeses, machistas e antissemitas. mas eles também eram discriminados. o sonho de ser presidente pertencia ao pai, que não conseguiu alcançá-lo, passou a tarefa para o filho mais velho, que infelizmente veio a falecer. Kennedy ficou na rebarba. o seu irmão Robert posando de ministro tentava dar uma de herói e provocou a ira de mafiosos, com os quais o pai tinha rabo preso. Jackie Kennedy era uma menina atrás de grana e fama. uma esposa perfeita com a sua classe e ambição. era um casamento de fachada que o pai Kennedy mantinha aos trancos e barrancos. mas o mais impressionante é saber que Marilyn Monroe não usava tampão higiênico. enquanto homens do mundo inteiro sonhavam casar com ela que não tomava banho direito, um reles mortal abria a braguilha para ela dar uma chupada em troca de um papel melhor num filme. segundo o livro. e saber que a sua casa era suja. que ela era uma acumuladora, e que um amante uma vez ao descer da cama pisou na merda do cachorro. enquanto o povo sonha com os seus heróis, eles se divertem na Casa Branca. Frank Sinatra e Arthur Miller (ex-marido) tomaram pavor de Marilyn. Jackie odiava Frank Sinatra e seus capangas. ele era o braço da máfia entre os artistas, é o que dizem. rolava o troca-troca de casais no poder e o Kennedy era fã dessa fofocada toda. e isso tudo aconteceu numa época em que a espionagem era uma paranóia generalizada. Marilyn e seus surtos de loucura. querendo se tornar uma atriz dramática. troca-troca. até o psicanalista se apaixona por Mariyin. provando que a vida da mulher bonita é um inferno. é difícil acreditar que Kennedy tenha sido assassinado por um maluco. mas tudo acabou. vamos voltar a democracia, e esquecer o tempo em que Marilyn Monroe andava nua dentro de casa tendo surtos de loucura.