ela era a cara da Brigitte Bardot. eu esperava dentro do carro. tinha certeza de que aquela seria a noite mais maravilhosa da minha vida. estava mais cheiroso que filho de barbeiro. levantei para pegar um ar, e fumar um cigarro. e também para não amassar o meu terno cheirando a lavanderia. trouxe todos os mimos. o chocolate. as flores. uma joia, uma correntinha de nossa senhora... e aconselhado por uma vendedora atenciosa, que me perguntou tudo sobre ela, trouxe uma blusinha de seda. disse a vendedora. ela se parece com a Brigitte Bardot. a vendedora fez cara de quem ouve isso todo dia. reafirmei, ela é a cara da Brigitte Bardot... bato com o sapato bicolor e engraxado na calçada. nunca saio sem dar um brilho no pisante. e hoje fiz questão de chamar o melhor barbeiro da família. estou com o meu melhor terno. não amassei as flores. o hálito está em dia com e trago a bombinha de própolis, caso exista alguma emergência. o cabelo engomado. ela surge vinda da porta. cambaleando. vejo a meia calça branca. ela não sabe andar de salto alto. parece bêbada. traz um casaco no braço. desligo a fita do Charles Aznavour. ela diz: matei o meu marido! e mostra a arma. o sangue espirra no meu terno novo. que droga. parte do sangue do marido dela espirra no meu terno novo. não gosto de ir à festa nenhuma de terno sujo. ainda mais com mancha de sangue. depois para sair é uma merda. tudo porque ela se parece com a Brigitte Bardot. tudo por causa da droga da Brigitte Bardot. ela bate o pó na mão. cheira. e muda para uma estação que toca música clássica.
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