o Cadelão olhou pelo retrovisor. eu tô a fim de comer uma pizza. pôrra, é isso aí. tô a fim de comer uma pizza. hoje é o meu aniversário! tenho direito, pôrra, tenho direito! eu disse a ele tentando amenizar as coisas, Cadelão, a gente não tem dinheiro pra comprar pizza. o Alexinho disse. a gente pode não ter dinheiro. mas a gente tem uma boceta pra servir de isca, e um ferro. levantou a camisa Hering mostrando o trabuco. olhei pra Emma Bovary que chorava no banco do carona. Cadelão passou os braços em suas costas, e disse: num é, meu amor? pode deixar que hoje você vai chupar, e vai dar pra todo mundo. vai ser currada! vai ser divertido. eu disse ao Cadelão, sabe o que acontece, Cadelão, a gente pode pagar tudo com o meu cartão. eu tô com o meu cartão aqui. ele disse, já fazendo a curva, deixa o cartão pra mais tarde. pro motel. nada de cartão. só pago no cash! eu disse ao Cadelão. vamos liberar a Emma. ele me disse: vai dar pra trás, agora? liberar é o caralho! vai dar uma de escritor lá pras suas negas, filho-da-puta! insisti. Cadelão, ela não tá com vontade! ele entrou no estacionamento de uma pizzaria e ordenou, desce todo mundo. tinha um japonês num balcão. Cadelão disse: eu quero uma pizza portuguesa gigante, e a maior Coca-Cola que existir. o japonês disse: não tem mais. vou fechar. acabou tudo. quando o Cadelão puxou o velho pra fora do balcão pelo cangote. Alexinho me apontou a pistola e disse: se fizer alguma gracinha vai morrer junto! Emma chorava de cabeça baixa num canto, evitando olhar a cena e tentando sufocar o choro. enquanto Cadelão pisoteava o velho que gemia, e espirrava sangue. quando cheguei em casa o sol havia acabado de aparecer. no trajeto de volta viajei encostado na janela, e me arrependi de ter saído de casa naquele dia.
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