sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Manuel Bandeira Disse...

...ali pelos anos 90 eu ia à Lapa encontrar com o pessoal do hip-hop que ficava na praça em frente aos Arcos no escuro fumando maconha, e conversando. de vez em quando apareciam alguns punks. nessa época conheci um poeta. era um coroa branco, barbudo, e um pouco grisalho. ele fazia alguns eventos na Febarj dia de semana, e colocava a gente pra cantar. não dava ninguém. mas o encontro em si, e a troca  de ideias valiam absurdamente. um dia este poeta me disse: para escrever é preciso maturidade! E completou, Manuel Bandeira me disse isso. enquanto ele limpava a barba, eu perguntei: você conheceu o Manuel Bandeira?! não, ele respondeu. eu li! quando terminei o meu primeiro romance me lembrei do que o poeta me disse. pois desde a minha adolescência todas as tentativas de escrever um livro haviam caído num vazio patético. não que a minha vida seja lá muito emocionante... e tenho consciência de que não sou digno da palavra escritor. O ofício sagrado... mas eu acho que quando o Manuel Bandeira me disse isso, ele estiva se referindo ao exercício da escrita...

Eu Matei Um Homem!

eu viajava num desses bancos altos que ficam próximo a saída. quando esse cara surgiu na minha frente e anunciou o assalto. nem entendi o que ele falou, eu estava viajando, ouvindo uma música do Zé Ramalho num desses aparelhos que fazem tudo. mas eu vi o revólver e a expressão de ódio no rosto dele. aconteceu alguma coisa lá na frente. acredito que um velho não tenha dado o relógio. ou uma menina tenha gritado. ele olhou para o seu comparsa, e numa fração de segundos eu peguei o revolver e atirei. Não dei o tiro com medo da retaliação. hoje em penso que podia ter rendido o cabra. e nem disparei porque queria acabar com a vida dele. E sim porque foi um movimento veloz e instintivo. o comparsa fugiu. ele caiu estatelado, morto. um tiro no meio da barriga. os passageiros comemoravam. quinze minutos antes eu era um dos homens mais felizes do mundo. e quinze minutos depois era um assassino. havia tirado uma vida. e iria carregar aquela morte em minhas costas até o último dos meus dias. não importa que as televisões digam que os passageiros me aprovaram, e que os especialistas em segurança me reprovaram dizendo que esse foi apenas um golpe de sorte. e que não se deve reagir nunca. ou que eu vá a programas de auditório e seja tratado como um salvador da pátria. a única coisa que eu sei, é que eu matei um homem... e não queria ter feito isso!

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Menina Branca Até 3 Anos

É a preferência dos casais que decidem adotar crianças no Brasil.

Destino ou Livre-Arbítrio...

entrou por uma rua diferente ao voltar para casa. na excitação ela decidiu não usar a camisinha diante do homem que dizia amar. o menino foi a igreja. a menina resolveu escolher outra matéria. o rapaz esperou a hora do jogo sentado. ele atravessou a rua minutos antes. o outro decidiu comprar um bilhete de loteria para trocar o dinheiro. a senhora preferiu ir no ônibus que vinha atrás. pois o da frente estava lotado.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Num País Que Ninguém Lê...

o que se lê é a placa dos carros. as pichações nas paredes. a propaganda dos outdoors. as legenda dos filmes. as páginas dos esportes dos jornais de meia hora que custam cinquenta centavos. e que dão um resumo da notícia, com uma bunda na frente, sem maiores detalhes sobre ela. é quase um twitter, se quiser saber mais clica no link aí do lado. e dos notícias populares com seus cadáveres banhados a sangue. se lê o obituário. e o diário oficial com a esperança de que o nome esteja classificado no concurso. assim como sê lê a lista de aprovados no vestibular. se lê propaganda nos muros das estações de trem. se lê notas fiscais. se lê o horóscopo. o resumo das novelas, e as revistas de fofocas sobre a vida dos artistas. se lê as bíblias com interpretações dos devidos sacerdotes. E best-sellers. 

A Literatura...

eu não sei mais o quê é realidade e o que é literatura. às vezes caminhando num dia de sol numa das ruas do meu bairro, tenho a impressão de ser o personagem de um livro que ainda será escrito. e às vezes sentado em meu sofá, lendo, e ouvindo os trens na linha férrea, por alguns segundos me transporto para o seculo retrasado. isso é sinal de que eu estou livre, livre! vocês não conseguiram me acorrentar com as suas ideias... ideias essas, que eu ajudo a compor. sei que não importa o que eu faço, sou um um artista. e sei que sou "mais feliz" (felicidade é um conceito complicado) do que a maioria das pessoas que conheço. por fazer o quê nasci para fazer. embora se pudesse voltar num tempo, anterior a este em que vivemos, provavelmente seguiria outra forma de aprendizado, menos doloroso.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Dez Por Cento de Vida!

toda a sua vida passa por sua cabeça. mas dizem que isso acontece quando a pessoa está para morrer. o filho grita enquanto joga. pai, só estou com dez por cento de vida! desde a infância desgraçada. esse sempre foi o percentual que ele teve para acertar. mesmo naquela peneira com uma porção de meninos. talvez com todo mundo seja assim. ele está próximo de se aposentar. sabe que se acertar esse último tiro, tudo pode mudar tremendamente. todas aquelas pessoas vão fazer com que ele se sinta nas nuvens. talvez em retribuição por elas se sentirem assim. é o último minuto, e o último chute do último jogo. o time adversário tem a vantagem do empate. ele caminha até a bola como num ritual e a fixa no chão. toma distância. se acertar será o herói da nação no dia seguinte. se errar vai passar o resto da noite explicando o que não tem explicação. vai dormir com a cabeça quente. talvez tenha que mudar de cidade e clube de novo. tudo o que não deseja. ele pensava que depois que se tornasse profissional, as coisas seriam mais fáceis. ledo engano. elas parecem mais difíceis. assim como no jogo do filho a cada nova fase o jogo se torna ainda mais complicado. ele chegou até ali por ter aceitado esses desafios. olha para a maior torcida do mundo, no maior estádio do mundo, e vê que ela balança as mãos como se enviasse energias positivas para o seu batedor oficial. corre e chuta. fica olhando o trajeto da bola, que em câmera lenta passa por cima da barreira, e em seu trajeto faz uma curva em direção ao gol. o goleiro se estica todo. por um segundo ele consegue ouvir o silêncio. quando percebe que a bola entra, corre desnorteado. não sabe mais para onde correr... todo mundo corre para todo lado... ele está louco de emoção ao ouvir aquele monte de gente gritando. faz a única coisa que vem em sua cabeça. se joga na grama, como se agora pudesse descansar.