sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Feliz Dia Da Independência!

Você está olhando para o seu filho no retrovisor. O moleque é o capeta e ele vai enfiar o Ben 10 nos cornos da menina. Você se antecipa a jogada como um bom atacante de futebol. Ele é igual a você quando batia nas criancinhas, a tua mãe diz. Mas foda-se, você era responsabilidade dela e do seu pai nessa época. Então você grita: não faz isso com a tua irmã! Ele recua. Volta com mais força. A menina abre um bocão que ocupa todo o espelho. Parece que vai te engolir. O seu marido enfiou a cara no jornal, e é como se qualquer coisa que aconteça fora daquelas páginas não seja de sua responsabilidade. O príncipe encantado da sua adolescência não está falando com você. E talvez seja por causa dos filhos, como se  você os tivesse feito, sozinha, ou como se o que existe de errado com eles fosse justamente herança do teu DNA. Você quer perguntar se ele quer dirigir. Mas essa não será uma boa pergunta, já que pelos cálculos dele, os seus vinte minutos de atraso procurando as tralhas das crianças fez toda a diferença. Vinte minutos antes não havia engarrafamento algum. Você não se imaginou com trinta e poucos anos parada num engarrafamento com um príncipe que está virando um sapo com uma barriga enorme de chopp. Não era essa a viagem dos sonhos com o seu carro novo. Ficar parada durante horas junto de uma porção de gente que você não conhece. E depois levar  mais meia hora procurando um local para estacionar. Para chegar numa casa lotada de parentes fofoqueiros, querendo saber quanto você está ganhando e jogando na sua cara o fracasso que você é e que sua prima... bom deixa pra lá. Mas vai ter água salobra. Fila para o banheiro. Falta de silêncio, e de privacidade. Você queria estar em casa comendo aquela pizza caseira e bebendo vinho. Quem sabe baixar um vídeo. Mas toda a família vai! Não podemos fazer desfeita... Você vai abrir a porta e começar a gritar. Feliz Dia da Independência. Mas que nada, vamos tentar de novo. Você não vai fazer isso. Maldito dia da Independência... você diz entredentes.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A Propaganda Eleitoral Gratuita

A propaganda eleitoral apesar de previsível, ainda é a melhor opção da tevê brasileira no gênero comédia. O figurino está impecável. Ainda mais quando surgem os candidatos de partidos radicais que prometem estatizar o país, com seus uniformes de velhos comunistas, com camisas do Che Guevara que fazem sucesso no meio universitário revolucionário que não sabe que essa moda já passou. O figurino do ator principal que faz o papel do prefeito, é no velho estilo almofadinha. A trilha sonora deixa a desejar com sambas batidos por grupos de pagodes que ganham uma bufunfa, e não tem a mínima noção do que estão apoiando, ou que fingem não ter. E os funks exibindo os candidatos, senhores da área nobre da cidade já em idade avançada, tentando se aproximar dos jovens e do povão, também não convence. A fotografia promete, mas não traz nenhuma novidade. Focalizando sempre os canteiros de obras. O roteiro peca nos diálogos dos candidatos que tem menos tempo, e quase não conseguem dizer seus nomes que vem acompanhados de do gás, do churrasquinho, do posto, e por aí vai. Eles se equivocam pensando que são tão conhecidos a ponto de conseguir um trampo melhor. A velha piada da celebridade, do atleta, do comediante, e do pipoqueiro, não funciona mais. É o mesmo que torta na cara e jogar água nos outros. Nem as alianças de partidos que antigamente eram inimigos. O ponto alto do filme é o ator principal com a sua interpretação brilhante. Ele consegue convencer no papel de salvador da pátria. E deixa o público com a sensação de que está em Genebra. O diretor que também é publicitário garante a sua marca. A montagem e edição tem os cortes exatos, que levam o público a acreditar naquilo que o diretor quer passar. O telespectador tem a sensação que viajou realmente naquele mundo de fantasia. O que é bem melhor que ficar assistindo os mesmos pastores engraçados pedindo dinheiro. Os mesmos programas de comédia em que se leva meia hora para se dar uma risada. E os tais dos Stand Up Comedy que em sua maioria não passam de um bando de mauricinhos preconceituosos, e metidos a intelectuais, que só fazem piadas diminuindo as outras pessoas, e se acham a última bolacha do pacote com a sua sabedoria de querer ajudar esse país de ignorantes. Quando eles provavelmente foram beneficiados por nossa ignorância. Em meio a tudo isso, A Propaganda Eleitoral Gratuita ainda é promessa de boas gargalhadas. Divirta-se!

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Billy Paul No Parque Madureira

Um cara de uma dessas revistas alternativas me ligou. Qual é cara, você pode escrever uma matéria sobre o show do Billy Paul que vai ter aí no subúrbio? Eu disse: posso. Ele: mas não vai rolar cachê e nem divulgação. Eu perguntei: mas rola algum dinheiro pra um pastel e uma Coca-Cola? Ele respondeu: qual é cara? nós fazemos tudo pelo poder transformador da arte! Desligou. Vou logo avisando. Não sou crítico musical. Não sei se essa profissão existe. Assim como comentarista de futebol que eu acho uma profissão tão dispensável quanto ascensorista de elevador. Nem conheço o vasto trabalho do Billy Paul. Mas era de graça. Perto de casa. E com o agravante de ser em Madureira, que é a casa da música negra no Rio de Janeiro. A capital cultural do Rio de Janeiro. Então, justo. O cara certo no lugar certo. Eu e minha mina assistimos de camarote. Pendurados nas grades do fundo para poder ver o palco. Billy Paul não grita. Ou melhor, dá um grito de vez em quando, quando necessário. Ele é como aquele meio-campo, ou cabeça de área clássico, que joga para servir o time. Puxa a responsabilidade para si. Não é um show para quem não gosta de música e só está preocupado em balançar a bunda. Ele tem um tempo diferente, e Billy Paul sabe disso, pois deixa o cara das teclas, e o guitarrista solar tranquilamente... Fiquei impressionado com a falta de pressa mesmo quando se tratava dos hits. Assisti a shows clássicos nos últimos tempos. As pessoas vivem se repetindo. Billy Paul, não. Ele toca como se fosse desconhecido. Como se estivesse tocando num bar. Eu vi alguma coisa de verdade nessa noite. Não esses shows plásticos, em que a tecnologia é um componente tão importante que deixa tudo frio. E que você sabe de cor a hora em que o vocalista irá dar boa noite. Se o Prince ouvisse a versão de Purple Rain em Madureira, ele nunca mais cantaria essa música. Assim como acho que o Chico Buarque não deveria mais cantar Samba e Amor depois daquela versão do Caetano só com o violão. As backing vocals eram maravilhosas assim como a banda. De vez em quando em época de eleição acontece alguma coisa interessante no subúrbio.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dois Personagens...

Eles passaram por mim na escada. Não reconheci nenhum dos dois. Um deles estava de cabeça baixa e nem pude perceber a sua fisionomia direito. Mas fiquei com a certeza de que os conhecia. Matutei isso durante um bom tempo. Eu tinha certeza que havia uma intimidade imensa entre a gente. No dia seguinte, durante a manhã, aquela encontro me veio a cabeça novamente. Eu fiz aquela força que se faz com o cérebro quando se quer lembrar da letra de uma canção que não se ouve a muito tempo. E aí sim lembrei quem eles eram. Foi muito rápido. Talvez uma fração de segundos, como esbarrar , dar um encontrão no meio da rua com alguém. Mas eu tive certeza absoluta. Eram eles. Eram eles dois. Os meus dois personagens. Eu havia sonhado com eles. Com os dois.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O Furúnculo

A briga. Eu acabei rolando por cima da cama. Tentei me esconder. Era uma mulher furiosa com TPM, menopausa, ou sei lá o quê mais. Estava disposta a me trucidar. Depois dessa moda de homem ser picotado por mulher, nunca se sabe não é mesmo? Mas eu consegui fugir e me abrigar no banheiro. Eu sabia que havia cometido um crime. Aquilo não iria ficar barato. Mesmo que eu ficasse a noite inteira ali. Uma hora eu teria que sair. E com certeza ela estaria me esperando lá fora. A marca da traição estava no meio das minhas pernas. Ela sabia disso. Era tarde para apagar aquele rastro. Depois de algum tempo resolvi sair. Ela estava deitada na cama fingindo ler um livro, e olhou por sobre o mesmo, e por cima dos óculos. Ela já havia ralhado seriamente comigo antes. Nem que eu inventasse de dar flores ou caixa de bombons, ou carros com tele-mensagens, a essa altura do campeonato não adiantaria. Mas dessa vez eu pisei na bola realmente. Eu já havia espremido espinhas escondido. Mas o prazer dela em colocar aquele carnegão para fora era inestimável. Ela me agarrou sem dizer nada, puxou a minha calça e viu que eu havia espremido o furúnculo sozinho. Sentou na cama e chorou. Você espremeu teu furúnculo sozinho... buá... eu senti pena.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Vício!

Não consigo me controlar. Já foi o meu dinheiro quase todo. Toda vez que estou naquele lugar compro a minha droga. Certamente tenho que ir sem grana. O meu programa de doze passos me diz para evitar lugares e pessoas. Mas eu simplesmente não consigo. Voltei pra casa sem grana nenhuma depois que passou o efeito da viagem. E que viagem! Eu me senti um pinto no lixo, e agora estou jogando no chão, deprimido com o final da festa. E começo a perceber que vício é vício, e não importa qual vício seja, e que um vício sempre vai te levar para o buraco. Seja ele qual for! No começo é sempre assim, você acha que vai ser diferente, e que será aquela pessoa que vai conseguir se controlar. A gente nunca sabe quem vai ser o sorteado. Mas o tempo passa e nada, você é apenas mais um drogado que não come, não dorme, e que vaga pela cidade igual um zumbi, atrás de mais uma dose da maldita. Então que diferença faz ser viciado em cocaína, sexo, ou em qualquer outra droga? Se o processo é sempre o mesmo. O meu psiquiatra diz, o quê é a ansiedade sem a depressão? E qualquer vício sempre vem acompanhado destas duas. Quando percebo que estou duro de novo. E que não fui a praia e que fiquei um dia todo num quarto escuro com um livro na mão, eu percebo que não posso mais frequentar shoppings ou livrarias, e que tenho que manter a distância de sebos e feiras. As minhas costas estão fodidas de tanto ficar sentado escrevendo. Bom, pelo menos, isso é melhor que bebida, não dá ressaca, e quem sabe algum dia eu ganhe alguma coisa.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Sexo!

Eu espero a minha mina na estação. E vejo um grupo de adolescentes. Eles parecem ser de uma igreja dessas. E se revezam na hora de abordar os passageiros. Eu acompanho a cara e o sofrimento de cada um dos “escolhidos”. Sofro junto com eles, que estão vestidos de adultos “almofadinhas”. Três meninos e três meninas, que provavelmente devem ter algo melhor para fazer, do que ficar importunando as pessoas, com aquele papo de que deus vai resolver os problemas que a gente criou. Eu começo a acompanhar os seus gestos e movimentos, e penso que há algo errado no paraíso, como dizem os Paralamas do Sucesso. E pergunto a minha mina, por que eles não estão em outro lugar namorando, ou fazendo coisas que “adolescentes normais” fazem?  Ela me responde: obviamente os pais deles não deixam. E provavelmente eles vão se casar muito cedo por causa disso. Eles têm duas opções, ou ficam com os “irmãos” da igreja, ou ficam com os “irmãos” da igreja. Eu pergunto a ela: por quê? Ela me diz: sei lá, cara! Aí é querer saber demais...