Ele disse: "Eles adoram contar as suas histórias daquela época..." "Eu gosto. Fico rindo. Mas não lembro de nada da minha adolescência, nem da minha vida adulta... a única cena que eu lembro é daquele menino sendo puxado por sua mãe tímida e calada." Mas dentro de um supermercado um dia desses eu tive um flashback e precisei ficar encolhido num canto até que passasse. Eu vi a explosão de luzes coloridas e as inúmeras risadas umas por cima das outras. As conversas inteligíveis. A minha roupa cheirava à fumaça de cigarro do lugar. Lembro de uma frase: "Ele é muito doido..." Enquanto me afastava e a música ficava para trás eu mergulhava no inferno onde estive diversas vezes. O pior dele é a solidão. Ela é uma tonelada no estômago. Eu não conseguia ligar. A rua estava vazia, mas surgiu esse rapaz do nada. Ele tinha um rosto lívido e sereno, me apoiou em seu ombro, e ligou. Veio aquele carro com o homem e a mulher silenciosos, eu não os conhecia. Deitei no banco de trás chorando e com vergonha. Ainda hoje sinto vontade de dar um abraço naquele rapaz que sumiu de repente.
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