segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

O Estudante

O estudante lê o mesmo parágrafo novamente. Ele está na solidão no silêncio do quarto. Procura o significado de dois conceitos e três palavras. Uma pássaro canta lá fora. Ele se distraí. Lê o mesmo parágrafo novamente. Caí a noite. O mesmo parágrafo novamente…

domingo, 28 de janeiro de 2024

Cidade Nova

A motivação para a escrita veio quando por curiosidade passei a ler sobre a história do samba e cheguei às suas raízes. Desci à Belle Époque com o seu encanto e as suas mazelas. Isso com o apoio de inúmeros autores; entre pesquisadores, jornalistas, cronistas, memorialistas, romancistas, e poetas. Inclusive conversei com guias e malandros vivos. Creio ter escrito do ponto de vista dos pobres; da malandragem, dos capoeiras, dos moradores dos cortiços, dos moradores dos morros, dos artistas, da cidade cosmopolita, das mulheres da vida, e dos boêmios. Além da inclusão de personalidades importantes da época e personagens de sua ficção. Com exceção de alguns autores daquele tempo, não conheço romances produzidos com esse enfoque. Não estou dizendo que não existam. O livro abrange o final do século dezenove e início do século vinte. Mas os acontecimentos nele resgatados nem sempre são fiéis ao tempo histórico. Por isso não pode ser definido como histórico e muito menos jornalístico. Nem era essa a minha intenção. Não sou historiador ou jornalista. A proposta era escrever um livro em que as pessoas pudessem viver por alguns momentos as fantasias e a realidade sombria pouco conhecida daquele tempo do centro da cidade do Rio de Janeiro. Após uma pesquisa de dez anos para Cidade Nova, eu perdi toda a mágoa que sentia por minha cidade ser tão desigual e violenta. Serviu de consolo saber que ela sempre foi assim.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Eu leio Henry Miller escondido

Henry Miller é o escritor no qual eu mais identifico a liberdade; a celebração de viver, e a vontade humana. Extremamente sincero expôs as suas incongruências e as da mente dos outros seres humanos num pensamento verdadeiramente livre e independente de influências externas que cerceassem as suas conclusões. Por ser um escritor completamente honesto durante a sua vida foi censurado e boicotado. Hoje é simplesmente impossível sussurrar seu nome em meio ao apagamento sofrido por artistas sem ouvir as recriminações da falta de diálogo. É uma pena. No meu caso, os seus livros sempre foram um apoio nos momentos mais esdrúxulos em que faltava forças para seguir. Junto de seu ânimo inquebrantável ajudou a me tirar do buraco diversas vezes. Com o avanço da idade se tornou um homem sábio. As suas últimas obras são de uma sabedoria suntuosa. A coleção dos seus livros se foi com a nossa biblioteca quando viemos embora. Mas a minha esposa me presenteou com este Plexus que eu camuflado vou reler em meu bunker.


É melhor falar...

É melhor falar. Sabemos que a maioria não entende ou não está preparada para ouvir. Mas o pouco apoio que se recebe já vale a pena. Fraco é o que se fingindo de forte não se fortalece, e sozinho implode. Não viva sob uma carapaça que não é sua. Ela pode pesar. Aparentar força não é ser forte. Mostrar fraqueza não é ser fraco. Pode vir a ser robustez.

domingo, 21 de janeiro de 2024

Transtorno Bipolar

Digo como me sinto. A mulher no telefone diz que precisa mandar uma ambulância. Não quero causar transtorno. Ela insiste que é o seu trabalho. Os enfermeiros chegam e eu repito a mesma cantilena que vou repetir na triagem, e depois com a médica. Fui parar na urgência umas quatro ou cinco vezes num período de meses. Tomo tantos remédios que o meu corpo parece uma farmácia ambulante. A doutora diz que a única coisa que pode fazer por mim é ajustar os medicamentos. Mas, de novo? Ela me pergunta como pode me ajudar. Não sei. As religiões, a filosofia, os vícios, e os grupos de autoajuda também tentaram. Eu torço para que a medicina evolua. Existem boatos sobre novas drogas e impulsos elétricos milagrosos. Sonho servir de cobaia para algum novo tratamento. Desde criança que vivo neste inferno. Uma vez tentei acabar com esta dor. Não deu certo. Meu problema não é a morte, se é isto que esta doença pensa; é a vida. E não tenho apego a ela, e sim temo pela dor dos que vão ficar. Quanto a mim, desconfio que já vivi os "melhores dias de minha juventude". Necessito expor esta maleita, se ela pensa que pode fazer o que quiser comigo... vou gritar por ajuda até o meu último suspiro! Tombarei lutando. Preciso cumprir com as minhas obrigações. A vida continua. Sei que para a maior parte das pessoas é frescura ou algo irreal. Eu mesmo penso se há alguma enfermidade. Pode não ser... embora seja uma ilusão extremamente palpável.

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Nós somos os privilegiados

Nós somos os privilegiados do mundo ocidental. Vocês vivem em zonas de guerra, miseráveis barracos de madeira, e bolsões de pobreza; nós desfrutamos das nossas casas com aquecimento, planos de saúde, e automóveis. Falamos duas ou três línguas, frequentamos terapia, e tomamos remédios controlados para dormir. Vocês comem  o que tem e cochilam de sobreaviso. Olhem para vocês…  são tão ignorantes que ao dormir não capazes de sonhar. Só porque tal político ou livro diz que sabe o que vocês precisam; nós damos lições de moral nos outros pela Internet. Mas não deixamos de frequentar os cursos e escolas especializadas para que futuramente ocupemos os melhores cargos dentro da sociedade. Sempre teremos uma história triste para contar; de uma vida num subúrbio perigoso ou numa periferia. Até quando somos discriminados fingimos nos preocupar com vocês. Fato é que os nossos filhos estarão bem colocados nas empresas e no serviço público; independente de serem netos de faxineiros ou não. Vocês nunca ouviram a máxima de que conhecimento é poder. Vocês continuarão a viver em meio à desgraça e a fealdade para que nossas vidas se mantenham dentro do expectável. Enquanto debatemos sobre o futuro que para vocês não chegará nunca.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Mesmo não sendo igual você não vai poder ser diferente

Apenas um por cento dos artistas do aplicativo de música que mantém o monopólio da música no mundo obtêm noventa e nove por cento dos lucros. O mesmo acontece com a plataforma de vídeo que abriga praticamente tudo o que é produzido para este meio. Mas os produtores culturais que geram riquezas ainda são burlados em seus ganhos. Da mesma forma as redes sociais se nós acreditarmos que hoje elas são a extensão da divulgação de bens culturais. Quatro ou cinco serviços de streaming corroboram com isto. A cultura ficou à mercê de um punhado de empresas. O domínio da indústria cultural nunca foi tão eficaz. Ou você dança conforme a música do capital, ou você não dança. Se você for pequeno e estiver com sonhos de divulgar a sua arte, simplesmente será irrelevante com os seus poucos cliques, pois os algoritmos são o meio de exclusão mais eficaz criado até hoje. Eles sabem muito bem quem paga e o quanto paga. E não toleram autenticidade, pois o mais do mesmo, de fácil assimilação; é vendido rápido e servido requentado como o prato do dia. Não há como burlar o seu sistema. Tem muita gente pagando muito e recebendo pouco. Pois você pode comprar cliques, mas não a admiração das pessoas. Se você se revolta contra o sistema dos algoritmos não consegue nem fazer cócegas em seus calcanhares; é tão ignorado quanto os que estão dentro. A indústria cultural finalmente conseguiu esmagar os seus inimigos que são aqueles a favor de uma cultura autêntica. Mesmo não sendo igual você não vai poder ser diferente.