Digo como me sinto. A mulher no telefone diz que precisa mandar uma ambulância. Não quero causar transtorno. Ela insiste que é o seu trabalho. Os enfermeiros chegam e eu repito a mesma cantilena que vou repetir na triagem, e depois com a médica. Fui parar na urgência umas quatro ou cinco vezes num período de meses. Tomo tantos remédios que o meu corpo parece uma farmácia ambulante. A doutora diz que a única coisa que pode fazer por mim é ajustar os medicamentos. Mas, de novo? Ela me pergunta como pode me ajudar. Não sei. As religiões, a filosofia, os vícios, e os grupos de autoajuda também tentaram. Eu torço para que a medicina evolua. Existem boatos sobre novas drogas e impulsos elétricos milagrosos. Sonho servir de cobaia para algum novo tratamento. Desde criança que vivo neste inferno. Uma vez tentei acabar com esta dor. Não deu certo. Meu problema não é a morte, se é isto que esta doença pensa; é a vida. E não tenho apego a ela, e sim temo pela dor dos que vão ficar. Quanto a mim, desconfio que já vivi os "melhores dias de minha juventude". Necessito expor esta maleita, se ela pensa que pode fazer o que quiser comigo... vou gritar por ajuda até o meu último suspiro! Tombarei lutando. Preciso cumprir com as minhas obrigações. A vida continua. Sei que para a maior parte das pessoas é frescura ou algo irreal. Eu mesmo penso se há alguma enfermidade. Pode não ser... embora seja uma ilusão extremamente palpável.
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