quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

A Traça Empoeirada

Ah, a literatura... Esta Akasha visível! Audre Lorde escreveu: "A poesia não é um luxo!" Vargas Llosa disse no Roda Viva que ela tende a se tornar algo exótio. Isso faz com que eu sinta-me estranho como Gregor Samsa que virou uma barata no livro A Metamorfose. Mas, não, eu sou uma traça empoeirada em meio à poeira de Pergunte ao Pó de John Fante.

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

O lugar impossível

Existe um povo que vive do outro lado da ponte. Quem é daqui diz: "O povo do outro lado..." Quem é de lá diz: "O povo do lado de lá." O povo de cá diz que o povo do outro lado da ponte é estranho. O povo do outro lado da ponte diz que o povo do nosso lado é esquisito. Dependendo do lado da ponte em que esteja você estará sempre do outro lado. E o outro lado é o lugar do outro. E o lugar do outro é impossível.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Estou perto

Nós estamos fazendo de tudo para aparecer. Eu vou meter a minha cara ali no meio. Não funciona. Olho no telão e não sou focalizado pelas câmeras. No palco todo mundo empurra o outro. Os velhos, adolescentes e as crianças, também. Ninguém é bobo  Eu viro para o diretor do espetáculo e digo: "Eu prefiro trabalhar nos bastidores." É mentira. Mas, é uma maneira de garantir um lugar perto daquela coisa que eu gosto que é aparecer. É como ser juiz ou goleiro. Ou crítico de artes, editor, produtor, professor de artes. Somos todos artistas frustrados. Eu garanti o meu lugar. Ao menos estou perto.

Fazer e Esperar

Os sonhos de espuma de cevada e os sorrisos abertos e esmaecidos dos dentes amarelados se esvaíram qual fumaça de nicotina. Não sobrou nem o reflexo no espelho do hotel. Das gargalhadas não ficou o tom. Agora é hora do amarelo da cafeína e de contar as horas, e de fazer, e esperar, fazer, e esperar, o trem, o ônibus,  o chefe, a encomenda. Fazer e esperar

Nowdays

 A vida é viver, se divertir, e ser feliz,

dizem atualmente.

Mas talvez a vida seja:

estudar, trabalhar, e resolver problemas.

Senão fizer essas coisas você não come.

E senão comer,..

você não vive.

"Quanto a vida, hoje eu sei que ela não é nem boa nem ruim.” Henry Miller com mais de 80 anos.

domingo, 4 de dezembro de 2022

Uma garota chamada Pós-modernidade

Ela chegou com o seu telemóvel e sentou à janela. Sem ter o que dizer puxou assunto: "Você gosta de quê?", "Eu gosto de me divertir e ser feliz...", "Eu gosto de cozinhar..." ele completou. "Quando estou com fome eu peço uma pizza." Ela disse. Ele: "E o que você lê?", Ela: "Redes Sociais." Ele: "Gosta de música?" Ela:"Só os refrões das novas. As partes são chatas!". Ele: "Qual é o seu nome?" ele tentou a última vez. "Pos-modernidade." Ela respondeu. Ele desestiu, pois assim como o seu nome era estranho demais para aquela garota.

A crônica de domingo para Mario Vargas Llosa

Escrever hoje é como falar sozinho no passado. É coisa de doido. Pois são raros os que cultivam o bom hábito da leitura em meio a um mundo de estímulos visuais onde a diversão a imposição da felicidade veloz e explosiva. Gosto de escrever uma crônica aos domingos, pois isto lembra algumas famílias que reunidas aos domingos tomam o seu “breakfast” de pão com mortadela e café com leite antes da feira com pastel e caldo de cana, e o jornal ao lado na cadeira sempre à mão. Famílias de classe média ou classe média baixa. No jornal jogado estão as críticas das novelas, e os seus resumos. Do teatro, cinema, crônicas futebolísticas, políticas, quadrinhos e reportagens. Eu fazia sempre à ronda do Segundo Caderno. Ia na casa de quem assinava O Globo e perguntava: “Posso ficar com o segundo caderno de ontem?”, “Ah, sim. Eu ia deixar para forrar o lugar do cachorro, mas tem suficiente ali…” Mas eu ia escrever um crônica sobre literatura. Eu gostaria de indicar os livros de um escritor que amo e que acho incrível. Ele é um peruano. Ganhou um prêmio Nobel e tudo. Eu não quero saber sobre as suas opiniões políticas ou com quem ele é casado. Mas, os livros desse homem são de humanismo e sensibilidade. Em seus romances ele também denuncia os mandos e desmandos de regimes totalitários. Vou nomear alguns publicados em português. Livros magníficos: “A Guerra do Fim do Mundo.”, “Conversa na Catedral.”, “A Festa do Bode”, “Lituma nos Andes”, “Tempos Duros”, “O Paraíso em outra esquina”, “Batismo de Sangue”, “Travessuaras de uma menina má”, “O Sonho do Celta”, “A Casa Verde”, “O Elogio da Madrasta.” Só para citar alguns. Lembrei dele pois estou com um livro dele que vai na metade e se chama “A Sociedade do Espetáculo”. Um livro que analisa a sociedade em que vivemos. Bom domingo e boas leituras para todos.