Ontem nós estávamos nos jardins do Castelo de Abrantes. Bukowski e eu íamos à frente quando Henry Miller e Céline pararam. O rapaz que cuida das flores nos olhava como se fôssemos assombrações. Eu esperava que falassem muito, mas não podia forçar nada. Eles são senhores muito educados e era como se estivesse com os velhotes mais mansos do asilo. Todas as conversas foram pueris, e eles mostraram-se mais preocupados em conhecer histórias sobre a cidade. Céline parou e começou a explicar as propriedades de uma planta ao Henry que apertava os olhos para ver melhor, e quando Henry disse algo Céline não entendeu, pois está um pouco surdo. Bukowski sempre muito calado com o mesmo sorriso em seu rosto enorme. Uma miúda que nos observava disse à mãe: "Mamãe, esses velhotes fedem como livros velhos cheios de poeira." A mãe a sorrir pediu desculpas e puxou a filha para o lado. Aproveitei para ir à casa de banho, ao voltar perguntei ao jardineiro: "O senhor viu aqueles velhotes que estavam comigo?" Ele respondeu: "Não vi velhote nenhum..." Corri atrás deles, ah velhotes!
sexta-feira, 14 de janeiro de 2022
A última do Tio do ZAP
Nem Jesus tira o demônio da ignorância do corpo das pessoas. A NASA precisa realmente estudar o povo brasileiro. Cinco ou seis brasileiros estão preocupados com a COVID e com a gripe, o resto da população quer mais é que se exploda. Morre o pai, a mãe, e o filho, e no enterro dos três o cara vira para um coveiro horrorizado e pergunta: "Vai ter carnaval?" Dá vontade de sentar na calçada e chorar. Agora o Tio do ZAP está espalhando que os médicos querem matar os aposentados para que alguém fique com os seus benefícios. Os médicos que são os portadores de notícias ruins, e não os seus criadores, agora viraram os inimigos. E muitos já foram agredidos. O mundo não quer aceitar a fatalidade. Os dinossauros foram extintos e aconteceram eras glaciais e governos e laboratórios não tiveram nada com isso. Sem chance da educação brasileira melhorar com essas gerações de políticos que aí estão. Quem tem fé, reza. Quem não tem, chora.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2022
A Burrice e o seu charme
Voz Interior
Eu Mesmo - A neurocientista
disse que nem todo mundo pensa com palavras.
Voz Interior - Como assim? Esses caras não escutam esta tagarela o tempo todo na cabeça?
Eu Mesmo - A mulher disse que muitos pensam com imagens. Então ao invés do cara ouvir a frase na mente: "Que chefe merda!" Ele vê uma selfie que o patrão postou no Facebook na praia de férias?
Voz Interior - E ela ainda disse que muitos nem um nem outro. Porra... então esses caras devem ter tudo a cabeça-oca!
Eu Mesmo - Essa gosta muito!
Voz Interior - Lá vem o 71 com estorinha a essa hora!
Eu Mesmo - O corno anda de peito estufado, todo malandrão...
Voz Interior - Ai, me viu.
Eu Mesmo - Oi, tudo bem?
Sorriso simpático.
O fetiche à liberdade
Nos anos sessenta do século passado, as proibições davam no saco, e a juventude era a vanguarda. Hoje existe mais liberdade, e o discurso dos jovens de direita combina com o dos jovens de esquerda; uns querem liberar o que não é possível, e outros querem proibir o que não se deve. No Japão as pessoas sempre usaram máscaras voluntariamente. Na China tem Lockdown até hoje. Singapura é supervigiada e o governo obriga que diferentes culturas aprendam a lidar umas com as outras, pois é ele quem escolhe quem vai morar perto de quem nos conjuntos habitacionais. Enquanto parte da juventude ocidental, como nas antigas ditaduras, desejam proibir palavras e censuram artistas. Os ocidentais terão de aprender a lidar com a sua liberdade fetichista. Pois os malucos estão cada vez mais unidos, basta ver a bizarrice do Q-Anon. A internet precisa de leis mais severas, e os governantes terão de se indispor com as suas populações, senão algum dia esses doidos irão explodir o mundo. Talvez esteja na hora do mundo hipervigilante das ficções científicas, não por opressão, mas sim por necessidade.
A Revolta da Vacina
Em mil 1904 aconteceu a Revolta da Vacina. O Rio era conhecido como A Cidade da Morte. As pessoas caíam mortas com varíola aos montes, e os gringos que iam para Buenos Aires não queriam nem ouvir falar da cidade. O povo não queria tomar a vacina porque dizia ser invasivo e não acreditava que o vírus inoculado pudesse curar. Alguns políticos se aproveitaram da situação. Pessoas como Rui Barbosa, tido até hoje por muitos brasileiros, como o supra-sumo do saber também foi contra a vacina. No fim todo mundo percebeu que a vacina funcionava e mansamente foi tomar a sua. Mas, apesar deles serem toscos, naquele tempo não existia internet para alimentar as suas teorias da conspiração.