Não vejo carro, não vejo chão
Não vejo hotel, vejo multidão
Não ouço tiro, não ouço apito
Não ouço sussurro, só ouço grito
Aonde está a lanterna? Eu não me lembro!
Só conheço cabeça, tronco e membro
Não jogo nada, nenhum passatempo
Só evito o volante em detrimento
Não sou elétrico ou à gasolina
Não tenho semáforo nem buzina
Não sei aonde fica o complexo
Só tenho reflexos, desconexos
Quando ando por aí, só vejo gente
Não vejo nada, só vejo gente
Não bebo combustível, eu bebo vinho tinto
Não perco bateria, acelera no que sinto
Não consumo nada, dentro do posto
Do que a frentista diz, só fica o rosto
Não me importo com a garagem ou com o usineiro
Tanto quanto me importo com a cara do porteiro
Nem com a multa nem com o cobrador
Só com o meu arranque e seja como for
Não me importo com o travão se abala
Só me importo com a placa, a expressão, e a fala
E não me importo com as placas do lugar
Só desejo a nobreza do exercício do olhar
Pois quando ando por aí, só vejo gente
Não vejo nada, só vejo gente